Boomer olha para o pátio real pela fresta da porta, onde os guardas estão se reunindo.

            — Rei Boomer...

 Mason entra na sala do trono, Boomer fecha a porta e fala para Mason:

— Você acha tantos guardas assim necessários? Não vejo tantos reunidos desde o dia em que os reis falsos tentaram conquistar as ilhas vizinhas.

— Tecnicamente não, mas Lanny parece fazer questão de comandar a busca — disse Mason contrariado.

— Então o que veio me dizer?

— Fizemos uma busca, começamos pelo castelo — relata Mason. — Lanny pode estar certo, porque o cruzador real foi roubado.

— Como isso é possível? — pergunta Boomer espantado.

— Os guardas me relataram que sentiram um cheiro estranho e depois desmaiaram — Mason fica em silêncio e depois completa: — Ouvi rumores sobre um mascarado andando pela vila, e que estava em um confronto contra alguns dos maremotos.

— Ai, Mason, isso daí são rumores não se deve acreditar em tudo o que se ouve — diz Boomer intranquilo.

— Isso não é tudo, uma das escovas de cabelo de Mikayla desapareceu — Mason coça o rosto. — Me pergunto se isso não tem relação com aquela carta que o Boz recebeu na semana passada.

— Eu acho que não, qual o problema da família de macacos ter escrito uma carta dizendo para ir visitá-los, isso é extremamente normal.

Neste momento Lanny abre a porta e entra na sala do trono se dirigindo em direção a Boomer.

— Terminei de espalhar os cinco mil cartazes pela cidade. — diz contente.

Boomer pega o cartaz na mão de Lanny, nele está estampado o rosto de Sirocco.

— Não Lanny, você deve ter se enganado eu disse que quero Sirocco vivo e não morto. — corrige Boomer apontando para a palavra; “morto”, em letras maiúsculas no cartaz.

— Ops! — diz Lanny com falso arrependimento. — Eu acho que o escriba deve ter cometido um engano...

— Quer saber tanto faz — diz Boomer dando de ombros. — Irei ao encontro daqui a algumas horas de qualquer forma. E lembrem-se esperem eu dar o sinal até que possam capturá-lo.

— Eu ainda acho isso muito arriscado — diz Mason. — E se você for ferido?

— Pare de desencorajar o rei — diz Lanny irritado. E por fim um sorriso de canto diabólico surge em seu rosto. As possibilidades estavam a seu favor.

***

            A lua brilha no céu noturno.

            A meia-noite se aproxima.

            Sirocco está no centro de uma clareira. A sua frente às arvores se agitam com o vento suave, atrás dele um paredão rochoso onde em seu centro esta a entrada para uma escura caverna.

            Sirocco está inquieto e se move para frente e para trás:

            — Qual é, Boomer onde está você? Aposto que o idiota ainda nem encontrou a mensagem... — diz para os seus botões.

            O mato então começa a se agitar, alguém está se aproximando. Sirocco ergue o pescoço e consegue ver Boomer se aproximando pela selva.

            — Finalmente! — diz Sirocco.

            De repente Lanny ultrapassa Boomer empurrando-o para o lado. Desequilibrado Boomer cai no meio do mato alto.

            — Guardas! Ali está ele, capturem-no! — grita Lanny triunfante.

            Lanny escorrega e os guardas passam por sobre ele.

            Em questão de segundos a clareira enche de guardas todos com seus facões e lanças. Sirocco fica cercado de inimigos. Ele engole em seco e depois diz:

            — Ups! Acho que fui traído.

            Lanny se levanta, ele está todo sujo de lama e folhas:

            — Obrigado, por se preocuparem comigo — ele olha para os guardas ao seu lado, com uma expressão furiosa. Seus olhos então se voltam para Sirocco, que parece surpreso. — Suas últimas palavras? — completa esfregando as mãos.

— Aqui vai iluminação para o caminho de vocês! — Sirocco se abaixa e se levanta com um pote cheio de vagalumes da caverna.

            Ele lança o pote na direção dos guardas, que começam a correr cada um para um lado. Enquanto isso a alguns metros de distancia Boomer consegue se levantar, Mason chega correndo na clareira e acaba derrubando Boomer novamente no meio do mato.

            — Mas o que está acontecendo aqui? — diz Mason ao olhar os guardas correndo, o pote cheio de vagalumes rola até os seus pés. — Oh não.

            Uma chuva de raios começa a atingir a clareira, guardas voam para todos os lados. Aproveitando a bagunça Sirocco corre para a direita em direção a selva.

            Alguns guardas correm atrás dele.

— Ui, uh! — geme Boomer enquanto consegue se levantar mais uma vez quando Sirocco passa diante dele rapidamente retornando para a clareira. — Hey, Para que tanta pressa?! — Boomer olha para trás e vários guardas vindo em sua direção. — AHH!

Boomer é jogado no mato novamente.

            Sirocco continua fugindo pela clareira, e os guardas continuam a segui-lo. Um Mason torrado consegue cobrir o pote de vagalumes e os raios param.

            — Nunca me pegarão! — diz Sirocco rindo, logo em seguida ele acerta o paredão de rochas.

            Sirocco cai no chão e um guarda tenta agarrá-lo, mas Sirocco escapa passando debaixo de suas pernas. Outro guarda tenta se jogar sobre ele mas Sirocco gira para trás ficando de pé e o guarda acerta a cara no chão.

            — Haha! Seu perdedooooooooooor! — Sirocco tropeça em uma pedra e cai dentro da caverna.

            Alguns guardas se juntam diante da caverna tão escura quanto à noite acima deles. Mas nenhuns dos guardas ousam adentrar as trevas. Lanny chamuscado e enlameado passa os guardas e diz meio cambaleante:

            — O que vocês estão esperando? Vão atrás dele!

            Um rugido alto sai de dentro da caverna. Os guardas e Lanny se agarram com medo. Dois faróis se acendem iluminando a caverna.

            — É um tanque! — diz um dos guardas antes de todos começarem a fugir novamente.

            De dentro da caverna salta o cruzador real, todo pintado de preto. O carro ruge enquanto completa um zero na clareira e depois segue em frente.

            Boomer se levanta e vê o cruzador vindo em sua direção. Desta vez Boomer se joga para o mato chorando como um bebê.

            Assim o cruzador começa a cortar a selva seguindo em direção à vila de Kinkow. Quando adentra a vila alguns guardas começam a surgir tentando alcança-lo correndo pelas ruas de terra.

            — Agora o elemento surprise! — diz Sirocco apertando um botão, os faróis do carro então se apagam e o veiculo segue as cegas. — Droga de botão, não consigo ver naaaaaaaaahhhhh!

            O cruzador acerta um monumento no centro da praça e Sirocco é lançado para frente. Ao cair em um monte de lixo do outro lado da vila, ele recobra a lucidez e começa a escalar a casa.

            Os guardas começam a se juntar ao redor da casa e cercá-la. Boomer chega e para ao lado dos guardas arfando, ele vê Sirocco quase atingindo o topo da casa de dois andares. Logo em seguida diz em um walkie-talkie:

            — Ele está subindo. — faz uma careta arfante.

***

            Ao alcançar o telhado da casa Sirocco é surpreendido por uma presença peculiar.

            — Veja só uma admiradora — diz Sirocco ficando de pé e fazendo pose. — Fazer o que, as garotas adoram um fora da lei.

            Mikayla desembainha o facão.

            — Ou não. — completa Sirocco, e tira sua longa e fina espada da bainha. — Também sei brincar mocinha.

            Mikayla  faz um movimento com o facão e a espada é jogada para longe de Sirocco.

            — Ok. Eu ainda não estava preparado então não valeu. — retruca Sirocco levantando o indicador para cima.

            — Brady, porque continua fingindo? Eu e Boomer sabemos quem você é! — diz Mikayla aparentando estar muito irritada.

            — Brady? Que Brady? — diz Sirocco perdendo a compostura e olhando para os lados. — Eu sou Sirocco, e não esse belíssimo rei que desapareceu alguns meses atrás após ter ouvido que era imaturo demais e que não tinha chances com a garota que amava!

            — Jura? E como você sabe dessas coisas? — pergunta Mikayla se aproximando dele.

            — Eu, eu ãh... Leio jornais, é isso!

            Vendo que estava em desvantagem, Sirocco gira um mortal no ar e ao aterrissar ele pega a sua espada novamente. Mikayla se vira e ambos começam a lutar. Os guardas lá embaixo assistem a luta, embora não consigam entender o que está sendo falado.

            Mikayla então acerta a parte cega do facão no pulso de Sirocco que deixa a espada cair. A mão vazia de Mikayla atravessa o ar e atinge em cheio o estomago de Sirocco. Enquanto se dobra de dor, Mikayla o pega pelo colarinho.

            — Isso foi por ter abandonado Boomer! — diz entre dentes. Depois ela aproxima o rosto de Sirocco do dela, a ponto de um sentir a respiração do outro. — E isto é pela culpa que me fez sentir.

            A mão livre de Mikayla pega-o pela nuca aproximando ainda mais o rosto de Sirocco do dela. Sirocco por sua vez fica com o corpo mole e consegue sussurrar:

            — Não poderia ter me beijado antes de me dar a surra? Talvez agora eu não sentisse as dores... — a voz que veio dele saiu mais como a de Brady do que a do fora da lei.

            Antes que os lábios dos dois se tocasse, Mikayla acabou pondo os dedos na máscara, e um mini raio atingiu sua mão.

            — AI! — diz Mikayla se retraindo, e logo em seguida chupando um dos dedos queimados. Em seus olhos um misto de dor e tristeza.

            Sirocco também dá alguns passos para trás como se acordasse de um transe e diz:

            — Essência de vagalume das cavernas, percebi que precisava disso depois da facilidade com a qual tirou minha máscara da última vez que nos encontramos...

            — A rá! — diz Mikayla apontando um dedo chamuscado em direção a Sirocco. — Da última vez que tirei sua máscara era o rei Brady que estava embaixo dela!

            — Ups! — diz Sirocco desconcertado. Mas por um instante sua aparência se entristece e ele diz: — Desculpe, mas não sou quem espera que sou debaixo da máscara.

            — O que? — diz Mikayla confusa.

            — Talvez ainda nos encontremos outra vez, mas por hora digo adeus.

            Mikayla tenta segurá-lo mais ele rapidamente se joga em direção a uma viga que ligava a casa com a do vizinho, abaixo um beco escuro. Porém Sirocco erra o alvo e acerta o meio das pernas em uma tora, com os olhos vesgos ele escorrega e cai no beco, após o barulho de um gato rabugento e coisas se partindo, Sirocco desaparece de vista.

***

            Ao descer Boomer  corre em direção a Mikayla:

            — Cadê o Sirocco? — Mikayla da de ombros. — Ao menos conseguiu descobrir se é você-sabe-quem?

            — Não sei... Ele fugiu.

            — Mas como assim? Você é a melhor lutadora de Kinkow — Boomer se aproxima do ouvido de Mikayla e cochicha. — Viu só. Não pode ser o Brady, ele não ganhava nem do Yamacochi em uma luta, e olha que o peixe nem tem membros.

            — Eu tinha quase certeza que era ele — diz Mikayla um pouco triste. — Eu devia ter batido mais nele... Mas agora ele fugiu.

            — Não tenha tanta certeza, meu bebê. — diz Mason atrás dela, ele esta segurando um Sirocco pelo cangote: — Peguei esse espertinho tentando fugir.

            Os guardas aplaudem o feito de Mason e Lanny aparece, todo arrebentado:

            — Então vejamos quem é esse espertinho afinal — ele tira a máscara do Sirocco.

            O rosto que surge é de um dos maremotos. Todos fazem Oh!

            — Me soltem eu não fiz nada de errado! Pelo menos não recentemente.

            — Não é o que parece — diz Mason. — Invadir o castelo do rei, roubar o cruzador real, e ameaçar o rei com uma mensagem, rapaz espero que goste de sua cela na masmorra porque é lá que vai passar por um bom tempo.

            Todos então começam a se dirigir para o castelo. Boomer e Mikayla ficam para trás.

            — Viu só aquele não é o Brady — diz Boomer para Mikayla. — Mas eu também gostaria que fosse ele. — sua voz soara um pouco falsa, como se estivesse escondendo a verdade para si.

            Ele coloca uma mão no ombro de Mikayla solidário.

            — Talvez você tenha razão, o Brady que eu conheci jamais fugiria da oportunidade de um beijo. — diz Mikayla fingindo estar melhor, porém ainda abatida por dentro.