O Diário De Uma Semideusa escrita por Freya Tallhart


Capítulo 7
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Notas iniciais do capítulo

"Sonho. Lembrei de meu sonho e achei, por um momento, que aquilo poderia ser uma pista, algum aviso. Nunca tive um sonho tão lúcido como aquele, só poderia ter algum significado."



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Dormi cedo naquela noite, com minha nova arma mágica debaixo do travesseiro de penas de ganso. Foi também a noite em que tive meu primeiro sonho esquisito.

Era um local infinitamente grande, a penumbra tomava conta da área, a não ser por pequenos archotes de mogno pendurados na parede, projetando claridades escassas em um fogo negro. Não havia janelas, o chão era duro e íngreme; meus membros estavam rígidos e cansados. Eu corria desesperada passando por ossos e esqueletos deixados a esmo no solo.

Finalmente cheguei ao meu destino, onde um portão grande feito de ferro. Empurrei com esforço as portas e observei o interior, onde inúmeras figuras encapuzadas e sombrias vagavam pela escuridão, que agora era pouco iluminada por uma luz que encontrava-se longe de mim. Corri para a fonte luminosa, desesperada para fugir do breu que dominava. O suor escorria pela minha face suja e arranhada. Minhas roupas estavam rasgadas e sujas como o rosto, e o cabelo estava solto e desgrenhado. 

Apressei a corrida, quando a luz ficava cada vez mais fraca. Meus pés não suportavam mais o esforço, mas eu permanecia lutando contra a dor que o cansaço causava; estava chegando perto.

Fiquei defronte à uma pessoa bastante familiar. Ela estava ajoelhada, transmitindo a pouca luminosidade que me atraiu e que agora se esgotava rapidamente, provocando ânsias de pavor em mim. Aquela pessoa que eu sabia que conhecia se transformava em uma das figuras encapuzadas e sem rosto. A luz que lhe era sugada seria então sua alma se esvaindo... Ela então estaria morrendo...

Acordei de súbito e percebi que suava frio. Me aliviei ao perceber que ainda estava em meu novo cafofo no chalé 20. Consultei o relógio, eram dez e meia da manhã. A maioria de meus irmãos já despertara e deixara suas camas arrumadas, enquanto eu e alguns outros dorminhocas permanecíamos no quarto.

Levantei-me e tomei meu banho matinal, penteei meu cabelo e o prendi num rabo-de-cavalo negro caído nas costas. Escovei os dentes e fui para o quintal do chalé trajando minha camiseta laranja do acampamento e calças jeans confortáveis; a varinha-espada guardada no bolso traseiro.

O quintal estava em dia de atividade, meus irmãos treinavam mágica e luta uns contra os outros. Eu nunca havia visitado o exterior do chalé onde o quintal ficava, porque também chegara na noite anterior àquela; mas agora que eu visitava pela primeira vez vi que era amplo; o sol ainda fraco iluminava uma película fina que envolvia o quintal -um campo de força quase transparente que impedia objetos de treinamentos ou feitiços indesejados invadissem o acampamento.

Vi Gabe se aproximando de mim com uma espada na mão.

-Olá belezinha mágica! -Ele disse- Veio para praticar um pouco, mana?

-Eeer, não. Ainda não estou pronta e acabei de acordar.

-Ah, qual é! Está com medo de perder um duelo contra o gatão aqui? -Seus olhos faiscavam.

-O quê? Mas é claro qu...

Gabe me pegou no colo antes que eu pudesse questionar, e começou a fazer cócegas em mim. Tive um ataque de risos, mas minha risada não era meiga e delicada como de qualquer garota. Claro, tinha que ser aquela risada que parecia um cavalo acasalando!

-Prometa que vai lutar comigo em outro dia! -Ele gritou, rindo.

-Tudo bem, tudo bem! - Eu gritei esganiçada- Me larga!

-O.k.

Ele me deixou no chão, respirei fundo e esperei que meu sangue descesse do rosto. Pessoalmente, eu nunca fugia de um desafio assim, mas acabara de me lembrar de um compromisso.

-Ai droga! Tenho que ir! -Eu disse.

Saí correndo de volta para o chalé e ouvi Gabe gritar alguma coisa como "Não esqueça do nosso duelo!" ao longe. Disparei pela porta de entrada em direção ao escritório de Quíron. Como pude me esquecer desse compromisso? Será que Nico já me esperava? Deveriam estar irritados com meu desleixo na pontualidade! Merda, merda, merda!

Corria tanto e ao mesmo tempo me distraía com meus pensamentos que me choquei contra um campista e nós dois caímos no chão. Para meuenorme constrangimento, eu caí em cima dele. Mas como se o destino não pudesse reservar apenas um motivo de vergonha extrema para mim, meus lábios tocaram os lábios do garoto com o impacto. Desgrudei instantaneamente minha boca da dele. E vi quem era.

Então... Quando eu disse que o destino não ficava satisfeito em me dar apenasum motivo de vergonha extrema, eudefinitivamente não estava brincando.

O garoto que estava embaixo de mim disse:

-Puxa! Isso foi legal.

-Ai meus deuses, Nico! Me d-desculpe... Não prestei atenção no caminho!

-É, eu vi. Estava indo te buscar para nossa reunião quando você apareceu que nem uma bala e vinha em minha direção sem cessar.

-Sinto muito, estava distraída.

Apoiei as mãos no chão e levantei-me, ajudando Nico a fazer o mesmo.

-Aliás -ele disse- dormiu mais que a cama, Ellie?

O apelido me causou convulsões de memórias. Ellie era o modo que meu pai me chamava, mas nunca gostei do apelido, não sei por quê. Engoli em seco.

-Sim.-Eu disse- Era muito confortável...-Tentei dizer em ar brincalhão.

Andamos até o escritório de Quíron e lá encontrei Lucy e Pietro assentados em um sofá vermelho. Quíron estava defronte à escrivaninha.

-Vamos começar, não há tempo a perder. -Lucy disse. -Helen deve fazer as escolhas.

-Sim, é verdade. Mas nem sabemos por onde começar... Se ao menos tivéssemos uma pista do lugar, um aviso, um sonho... -Quíron disse.

Sonho. Lembrei de meu sonho e achei, por um momento, que aquilo poderia ser uma pista, algum aviso. Nunca tive um sonho tão lúcido como aquele, só poderia ter algum significado.

-Eu tive um sonho essa noite. -Escapei antes que pudesse impedir.

Todos olharam para mim, esperançosos. Contei o que vi aquela noite em meus devaneios noturnos, e as reações não foram de surpresa.

-Bom- disse Nico- isso quer dizer que o destino da busca é o submundo.

-Com toda a certeza, cara! - Concordou Pietro.

-Quíron, eu me ofereço para partir nessa busca com Helen, eu posso ajudá-la. -Lucy falou.

-Vai ser de grande ajuda, e Nico vai com vocês também, podem escolher então mais dois heróis, como a profecia diz cinco.

-Eu estou dentro, é claro! -Pietro gritou, parecendo ofendido.

-Hmm, então tudo bem, podem selecionar mais um. -Disse Quíron.

-Vamos levar Kimberly. Confio nela e sei que ela é boa com facas. -Lucy disse. 

-Se vocês todos concordam, então está tudo certo. Os semideuses escolhidos da profecia são Helen, Nico, Pietro, Lucy e Kimberly. 

-Por mim tudo bem.- Eu disse.

-Idem!- Pietro e Nico disseram juntos.

-Alguém pode chamar Kim? - Lucy falou.

-Pode deixar que eu vou, amor. -Pietro respondeu.

E saiu do escritório. Ficamos todos em silêncio por uns minutos, até que Quíron rompeu a terrível falta de som.

-O que acha Nico? Pode guiar todos até o Mundo Inferior?

-Não vai ser problemas achar o caminho, mas teremos que ir ao modo comum, não poderei transportar tantos semideuses juntos em uma viagem instantânea...

-Vocês terão um percurso meio complicado, mas vão conseguir se virar. Se importam de nos dar licença um minuto? Preciso conversar com Lucy.

-O.k. -Nico disse, e eu concordei com a cabeça.

Nico me puxou pela mão até o exterior do escritório, ao mesmo tempo em que Kim e Pietro chegavam na porta. Saudei-a e voltei a atenção para Nico.

-Aonde vamos? -Perguntei.

-Almoçar, está com fome?

-Claro...

-Escute...- Ele parou abruptamente e se virou para mim, pegando-me de surpresa.- Quero experimentar uma coisa, pela segunda vez... Mas vamos fingir que seria a primeira, o.k. ? A primeira de verdade não foi o que eu imaginava...

-O quê ?Traduz, por favor...

Antes que eu pudesse fazer mais perguntas, ele passou os braços pela minha cintura e tocou minha boca com a sua. 

Sensações de formigamento invadiram meu corpo, agarrei-me àquela sensação maravilhosa com todas as minhas forças. Beijei-o com mais intensidade e deixei que ele me conduzisse.

Foi um beijo perfeito; quente, sexy e carinhoso.

Percebi uma alma indesejada nos observando ao longe, seus olhos mudando de cor, furiosos.

Sorri para Nico e apontei o dedo para Sara, pelas costas dele.


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Notas finais do capítulo

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