O Diário De Uma Semideusa escrita por Freya Tallhart


Capítulo 6
O Legado da Magia


Notas iniciais do capítulo

Era verdade, eu sabia quem era. A deusa que eu menos imaginava que fosse minha mãe! Pelo menos, uma das que eu menos imaginava. Mas mesmo assim, filha de Hécate? A deusa da magia e das bruxarias? Isso queria dizer que eu era uma bruxa? O pensamento me deu arrepios.



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A atenção é familiar para mim, mas não queria me acostumar com ela , embora esta simplesmente me tratasse como uma velha amiga.

Todos me olhavam atordoados. E eu não sabia o que tinha acontecido segundos antes, quando atirei Sara naquela árvore. 

-O-o quê? Filha de Hécate? - consegui perguntar a Quíron.

-Sim, suponho que você saiba quem é. Félix me contou das aulas que seu pai te deu sobre mitologia.

Era verdade, eu sabia quem era. A deusa que eu menos imaginava que fosse minha mãe! Pelo menos, uma das que eu menos imaginava. Mas mesmo assim, filha de Hécate? A deusa da magia e das bruxarias? Isso queria dizer que eu era uma bruxa? O pensamento me deu arrepios.

Alguns filhos de Apolo levaram Sara, ainda inconsciente, para a enfermaria. Lucy e Pietro pegaram minha mão, um de cada lado, e começaram a me conduzir pelo acampamento. Não vi Nico, ele tinha saído logo quando minha mamãe das trevas se revelou.

-Quem diria, hein? Uma filha de Hécate! - Pietro disse, todo sorridente.

-Não entendo por que de toda essa felicidade... - Retruquei.

-Não é nada- Ele piscou e se dirigiu a Lucy- Pode me pagar! Cinco dracmas!

-De jeito nenhum! Você apostou que ela era filha de Afrodite, eu apostei que era de Apolo. Os dois erraram, ninguém paga!

Ele amarrou a cara.

-Ah, o.k. então! Mas acho que Hécate cometeu um engano, ela parece ser mais uma filha de Afrodite.

Lucy fez cara feia para ele, e por um instante achei que eles haviam esquecido que eu estava ali. Resolvi interromper a discussão. 

-Ah, onde estamos indo?  

-Para o seu novo chalé, é claro. O de Hécate é o 20. Nico foi buscar suas coisas. - Lucy respondeu.

Então era isso que ele tinha ido fazer. 

-Chegamos! -Pietro falou

Nem percebi que estávamos já na clareira onde se encontra a fileira em forma de ômega de chalés. De frente para nós estava a minha futura "morada". 

-Bom- Lucy começou- então é adeus, Helen... Até amanhã e boa noite.

-Obrigada Lucy, obrigada Pietro. - Eu disse

-Disponha. -Eles disseram em uníssono e saíram.

Suspirei e me virei para entrar. O chalé de número 20 é feito por pedras escuras e com escritas mágicas por toda a parte. Por dentro magicamente ele parece ser bem maior, grande o suficiente para que cada filho de Hécate tenha seu próprio armário, mesa e uma cama de solteiro king size ao que parecia. No teto havia um grande lustre que iluminava o espaço com uma luz suave. Ao extremo norte havia uma pequena sala, com dois sofás, lareira e um tapete felpudo e aconchegante. Ao lado dessa sala havia uma estante com livros e itens mágicos.

Aquele chalé estranhamente me transmitia uma sensação de paz, e a magia parecia rondar o local como se estivesse tocando minha pele. Eu adorei. Era meu novo lar, eu conseguia reconhecer isso agora.

Fui pega de surpresa quando um garoto me cutucou de leve, para me despertar dos devaneios.

-Olá!

-Ahn, oi. Sou Helen. – Estendi a mão para ele.

-Eu sei –ele abriu um sorriso- sou Gabe para você; Gabriel para o resto do mundo! –Ele riu. –Sou conselheiro-chefe do chalé de Hécate; já escolheu sua cama?

-Ainda não, nem sei quais estão disponíveis.

-Vem comigo. – Ele me conduziu para uma cama rigorosamente arrumada e king size como todas as outras; com um armário satisfatório ao lado. –Essa está vaga, pode ficar aqui.

Eu sorri.

-Obrigada, Gabe.

-Disponha. Se precisar de alguma coisa é só avisar. Espero que goste do chalé.

Ele abriu um sorriso sarcástico. Ele devia saber que era impossível alguém que possuísse sã consciência não gostasse daquele chalé. Ele parecia feito sob medida para o extremo conforto.

Gabe foi para a varanda do chalé e eu fiquei sozinha. Sentei na cama e imaginei o que teria naquela varanda; a maioria dos meus meio-irmãos parecia estar lá. Levei um susto quando uma coisa bizarra aconteceu. Sob meu travesseiro mega confortável, surgiu um pergaminho escrito com tinta e letras cursivas, dizendo o seguinte:

“Olá filha, sei que tem tantas perguntas sobre mim e sobre essa sua nova vida, mas mal poderei respondê-las, terá de ser forte o suficiente para buscá-las por si própria. Estude a magia com afinco, pois sem a sabedoria necessária ela poderá fazer o mal quando queres o bem, ou o contrário. Não tenha medo do obscuro, o domine.”

Assim que terminei de ler o pergaminho, este se desfez em uma fumaça vermelha e escura. Repousei minha cabeça no travesseiro e comecei a formular questões.

Eu não entendo nada de magia, então como irei estudá-la?

Certo, eu era como uma bomba-relógio; ninguém poderia estar próximo a mim sem esperar que eu faça o mal, mesmo querendo o bem.

Ouvi batidas na porta e corri para atender. Era Nico, e estava com as coisas que ele pegou na loja de souvenir para mim, no dia em que cheguei. Era basicamente um kit higiênico, e uma muda de roupas extras.

-Ah, Helen, trouxe suas coisas.

-Hum, obrigada...

-Podemos conversar?

-Claro, entra aí.

Ele atravessou a porta e sentou-se em uma das poltronas.

-É bem confortável aqui, não?

-É sim. O que queria me dizer?

Ele apontou para a poltrona em sua frente e me sentei nela.

-Quíron me pediu para conversar com você sobre isso. É, bem... Uma coisa que todos os campistas esperam para ter a chance.

Eu não estava gostando daquele tom de mistério.

-E...?

-E você sabe, com base nas histórias reais que Quíron te relatou, que você é um Legado. Do tipo de semideusa que vem de outra geração. Mas também é filha da deusa Hécate.

-Sim, o que é que tem?

Desembucha logo, pensei.

-Tudo bem, você se lembra da profecia? Para ser mais direto, os dois últimos versos.

Tentei me lembrar, sabia que tinha algo a ver com uma busca, ou sei lá o quê.

-Não. –Admiti.

-“E liderada pelo Legado da Magia...”.

-A espinhosa busca se inicia. –Lembrei

Ele assentiu.

-Helen, hoje vimos que você é a filha de Hécate, da deusa da magia, entre outras representações. Helen, você é a marca dela de outra geração. Você é o Legado da Magia.

Lutei para reprimir sentimentos conflitantes que rondavam meu cérebro. Confusão, espanto, medo, surpresa...

Engoli em seco.

-Isso q-quer dizer que eu vou liderar a missão? Eu? Tem certeza?

-Absoluta, vamos nos reunir amanhã para selecionar os heróis que irão com você. Claro que eu sou um deles.

-Mas eu não estou preparada! Não aprendi a lutar ainda! – Minha voz saiu tão aguda que pigarreei para fazê-la voltar ao normal. –Não posso liderar essa missão, tem tantos outros semideuses muito melhores do que eu!

-Eles só estão treinando há mais tempo. Mas deve haver um motivo para você ser escolhida para liderar a busca, e se é assim que os deuses querem, é assim que será. Desculpe-me, não podemos interferir no destino; mas não vai acontecer nada a você, eu prometo.

-Não me importo comigo! Importo-me com os outros semideuses! O que serão deles com uma idiota comandando tudo?!

-Você não é uma idiota. Fique tranquila, vou te ajudar em tudo que precisar, o.k.?

Respirei fundo e assenti.

-Tudo bem. –Disse.- Mas vou precisar de uma arma nova.

Me separar da minha adaga de estimação era um assunto bem delicado para mim. Eu treinei com ela minha vida toda, foi um presente do meu pai. Mas por outro lado, eu precisava de algo melhor se iria lutar com monstros.

-Tenho que ir agora, pedirei ao Gabe para lhe dar uma arma favorável para... Bem, para filhos de Hécate.

Ele saiu para a varanda, minutos depois estava de volta com meu meio-irmão Gabe, que estava sorridente de orelha a orelha. Nico saiu do chalé e Gabe ocupou o antigo lugar dele na poltrona.

-Então... Precisa de uma arma, hein?

-É... Sim. Acho que sim.

-Vou pegar uma nos itens mágicos. Sabe, nós não pegamos armas na Arsenal, como a maioria dos campistas; usamos somente nosso estoque aqui, que pessoalmente eu dou preferência.

-Vamos ver o que tem para mim.

Ele me levou até a estante cheia de livros e itens mágicos malucos, e abriu um baú empoeirado e escuro. Para minha surpresa, ele tirou de lá uma varinha.

-Prontinho! Essa vai servir... Ela, bom, ela vira uma espada de bronze celestial quando você diz as palavras “Metamorfus” em voz alta e clara. Mas vai aprender a usá-la com magia também, o que às vezes é bem mais útil. Com magia você pode afetar os humanos; com o bronze celestial, não.

-É bom saber- Olhei admirada para a varinha. Era de um tom caramelado e tinha um suporte resistente; ela se ajustava perfeitamente em minha mão. Resolvi experimentar o “feitiço” para mudar. Empunhei-a e disse com a voz mais clara que pude. – Metamorfus!

Instantaneamente, no lugar da varinha, apareceu uma reluzente espada cor de prata. Fiquei incrédula e deslumbrada. Eu era mesmo, afinal, filha de Hécate. Eu era mesmo, afinal, o Legado da Magia.

 Nem posso imaginar por que isso seria ruim, pensei sarcástica.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem ! Deixem reviews s2