Shikihime escrita por Ms Saika


Capítulo 3
II - Éden




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Denhaar



–Está preparado, Heero? – Lune perguntou ao jovem diante de si. Heero trajava sua armadura completa; um protetor peitoral formado em camadas de couro, madeira e metal. O mesmo padrão era seguido nas ombreiras, protetores de braços e pernas. Na altura do peito esquerdo estava gravado um símbolo que representava um leão. Estava vestido para ir à guerra, não sabia que tipo de perigos poderia encontrar.

O rapaz olhou diretamente para Lune e assentiu com a cabeça, apertando os punhos num misto de determinação e nervosismo.


–Me diga o que fazer.


–Me acompanhe, por favor. – Lune pediu-lhe. Este trajava agora, por cima da túnica, uma capa azul-escuro que se arrastava pela grama enquanto andava. Nas mãos, um grande livro e uma caixa de madeira com entalhes peculiares. O sol logo se esconderia por trás dos montes ao longe e seus raios alaranjados tingiam o céu da tarde, que Lune observava de forma atenta enquanto caminhava. Andaram por alguns minutos, passando por jardins naturais, enfiando-se num rico arvoredo, até se depararem com um rio de água cristalina que corria em torno de uma grande árvore. As folhas da larga copa tinham um verde brilhante como esmeralda e dançavam ao sabor do vento. Da brisa que vinha dela, um leve e doce aroma que atingia as narinas e instantaneamente elevavam os sentidos, fazendo com que o corpo parecesse ter suas energias renovadas. Heero suspirou aproveitando daquela boa sensação enquanto observava com admiração a grandiosa árvore.


–A árvore sagrada. – Disse para si mesmo embora em voz alta. Aquela árvore era lendária entre o povo de Mithera. As histórias antigas contavam que os espíritos ancestrais a rondavam e que era possível se comunicar com aqueles que já se foram. Heero não era de crer em tais lendas, mas não podia negar; quando fechava os olhos, o chiado que as folhas faziam enquanto se movimentavam com o vento realmente pareciam milhões de sussurros entrecortados.


–Essa árvore é milenar. As escrituras antigas dizem que foi plantada pelos deuses para que os vivos e os mortos possam se comunicar mutualmente. Antigamente, muitas peregrinações eram feitas de pessoas de todo o mundo até aqui, para encontrar a paz de espírito, se sentirem mais próximas e tecer preces pelas almas de entes queridos que já se foram. Infelizmente, uma tradição que foi se perdendo com o passar dos séculos... Toda essa guerra e disputa pelo poder entre as nações fez com que as pessoas se desligassem do sagrado. – O Sacerdote concluiu com pesar. Heero, embora não fosse religioso, refletia as palavras de Lune e de fato, era impossível negar que havia algo naquele lugar, naquela árvore, que ia muito além da compreensão. Mas o momento de reflexão não durou muito, não tinham tempo a perder.


Lune aproximou-se da árvore e fechou os olhos, baixando a cabeça e ajoelhando-se antes de colocar sobre o chão o livro que trazia. A capa era de madeira tomada de entalhes e ricos adornos com representações simbólicas. Ao centro, estava gravado em destaque o mesmo tipo de cruz que Lune trazia pendurada em seu rosário. Ele o abriu e começou a, delicadamente, folhear as páginas repletas de imagens e manuscritos numa língua que não se distinguia.


–Foi profetizado, anos atrás, que a deusa mãe Shikihime voltaria ao nosso mundo numa forma carnal para trazer de volta o equilíbrio e a paz e assim, acabar com toda a guerra e disputa que fere Mithera há tantos séculos. Mas esse corpo carnal não está entre nós, e sim no mundo oculto. Precisamos ir até lá trazê-lo, não importa sob quais perigos.


–Você já me contou essa história. Mas não é verdade que o mundo oculto é amaldiçoado? – Heero perguntou.


–Eu não sei dizer. – Lune respondeu sem olhá-lo enquanto ainda observava o livro – Mas por que a deusa enviaria a nossa salvação de um lugar maldito? Os desígnios dela estão além da nossa compreensão, mas se ela deixou aos homens essa profecia mesmo depois de a termos decepcionado tanto com nossas ambições humanas, é por que ainda há uma esperança. Lune então parou de folhear o livro e passou uma das mãos sobre uma página na qual havia a imagem da grande árvore na qual se encontrava adiante agora. – Eu tenho treinado e estudado toda a minha vida para o dia que foi profetizado, e assim tem sido com todos os representantes da deusa antes de mim. A profecia diz que no dia que aquela estrela brilhasse no céu... – E apontou acima onde uma grande e brilhante estrela se destacava no meio do céu que àquela hora mesclava tons de laranja e roxo - ...O corpo que receberá o espírito da Deusa estará pronto para ser trazido.


–Como vou saber quem é ou onde procura-la? – Heero perguntou-lhe.


–Segundo a profecia, você não vai precisar procurar essa pessoa, ela irá até você, e estará pronta para ser trazida. Como já lhe expliquei, eu mesmo poderia ir, mas preciso ficar aqui conjurando a magia que manterá o portal aberto. Ele vai se abrir assim que a estrela desaparecer, e isso acontecerá exatamente ao por do sol, precisamos estar atentos ao céu. O portal se abre e se fecha rapidamente, eu vou reunir toda a minha energia para mantê-lo aberto o máximo de tempo que conseguir, mas isso só te dará alguns instantes a mais.


–E se o portal fechar antes que eu volte? – Heero perguntou receoso pela resposta. Lune, que até então o fitava enquanto falava, desviou o olhar para a grande árvore diante de si e disse em tom grave.


–Então você ficará preso lá. – Lune sentenciou de uma só vez, fazendo o garoto engolir em seco. Era impossível não sentir uma ponta de arrependimento em ter se comprometido com tal missão, mas não tinha escolha. Dependia dele naquele momento trazer o que poderia ser a solução que salvaria todo um mundo, ele não podia fraquejar.

Lune abriu a caixa de madeira que trouxera consigo e de lá tirou uma adaga cuja bainha era trabalhada em gravuras e pequenas pedras preciosas.


–Use isso. Essa adaga é uma relíquia que vem sendo guardada pelo sacerdócio há centenas de anos. Ao menos poderá trazer boa sorte. – O sacerdote entregou a faca a Heero que a olhou cuidadosamente, desembainhando-a. – Quando a estrela desaparecer, você vai perfurar a árvore com ela o mais profundamente que puder, use toda a sua força. Segundo as escrituras antigas, da árvore sagrada que há no mundo oculto é preciso comer algo que dela provenha, como um pedaço de sua casca. A pessoa deverá fazer o mesmo, juntamente com você, entendeu? – Lune disse seriamente e o outro assentiu com a cabeça. – Prepare-se, o sol já vai se por.


Heero segurou firmemente a faca e colocou-se de frente à árvore de forma que poderia ver além a estrela no céu. Tocou de forma respeitosa o tronco áspero para usar de apoio e sentiu como se uma leve onda elétrica percorresse seu corpo arrepiando levemente seus pelos, era como se a árvore tivesse vida própria.


–Lune... – Heero o chamou, fazendo o outro olhá-lo. – E se isso for só uma lenda? Se não existir uma Shikihime ou um jeito de voltar? – Perguntou receoso. Lune suspirou levemente antes de abrir um leve sorriso terno.


–Não se deixe intimidar por um pensamento ruim, Heero. Mentalize o positivo e tenha força nesse pensamento. Acredite nele com cada fibra de seu corpo, e tudo dará certo. – A firmeza com a qual Lune falara fez com que o rapaz se sentisse mais confiante. Ele sorriu e assentiu, antes de novamente voltar-se a fitar a estrela, concentrando-se.

O clima era de suspense no ar, principalmente quando Lune, em voz baixa e de olhos fechados, juntou os punhos cerrados diante do corpo e começou a entoar o que parecia ser algum tipo de mantra. Heero estava tenso, uma gotícula de suor brotou e já escorria pela sua testa enquanto mantinha os olhos fixos na estrela, sequer piscava. O céu segundo a segundo ia ficando mais escuro até que, de repente, a estrela desapareceu.

Nesse momento, Heero deixou de lado sua descrença e entregou-se a atmosfera espiritual do local, naquele exato instante fechou os olhos, deixando que aqueles sussurros inexplicáveis invadissem a sua mente, mentalizando suas mais belas lembranças de infância de uma só vez.


–“Pai, me proteja!” – Clamou em pensamentos, no mesmo momento em que, num brado, cravava a faca com toda a força de seu corpo no tronco da árvore. Uma luz ofuscante emanou imediatamente do corte feito e como por mágica tomou conta do corpo do jovem, que desapareceu no ar.



...



A jovem caminhava a passos rápidos de volta a árvore onde estivera e onde costumava passar bastante tempo ao longo de sua vida. Ordenada pela misteriosa voz que ouvia em sua cabeça, Yuna estava imersa numa infinidade de pensamentos que se entrecortavam. Estava confusa com o que acontecia, e ao mesmo tempo imaginava-se louca por estar ouvindo vozes misteriosas. O fato é que realmente sentia em seu coração que deveria fazer isso, que deveria voltar até lá. E afinal, se não sucedesse nada, poderia simplesmente voltar pra casa e esquecer-se de tudo isso. O que poderia acontecer?

O sol já estava quase se pondo totalmente quando avistou a árvore adiante.


–“Aproxime-se, não tema.” – A voz novamente voltava a lhe sussurrar. Nesse momento, de súbito Yuna sentiu um inexplicável torpor lhe invadir o corpo como se tivesse sido hipnotizada. Cada músculo de seu corpo relaxou de forma tão intensa que era como se fosse desmaiar, mas manteve-se de pé. Havia uma força superior que guiava sua mente e seus movimentos, era como se estivesse em estado de transe.


Foi quando uma luz branca incandescente formou-se diante dela e desse intenso brilho ia se formando a silhueta do rapaz que, como por mágica, materializava-se à sombra da misteriosa árvore.

Era uma sensação que Heero não seria capaz de descrever em palavras. Sentia como se o mais profundo de sua alma estivesse sendo sugado com força e jogado sob a queda de uma violenta cachoeira, mas por mais brutal que parecesse, era uma sensação inexplicavelmente confortável. Sentiu como se suas energias tivessem sido drenadas do corpo, fazendo-o cair ao chão de joelhos, ofegante. Os olhos arregalados fitavam a grama no chão como se não acreditasse no que tinha acabado de acontecer, surpreendia-se por estar vivo. Essa sensação que pareceu arrastar-se por longos minutos não levou mais que alguns instantes, ele logo voltou a si e lembrou-se do por que estava ali. Ergueu a fronte rapidamente na esperança de ver onde se encontrava e qual não foi a sua surpresa ao perceber diante de si a figura feminina esguia, que o olhava numa expressão sublime, nem parecia humana.


–Você é Heero? – Yuna perguntou-lhe. Como sabia o nome dele? Nem ela mesmo conseguia compreender como o chamara com tanta naturalidade, as palavras simplesmente lhe saiam da boca enquanto ela o olhava diretamente nos olhos. Sentia como se já o conhecesse sua vida inteira.


Heero petrificou momentaneamente ao ouví-la dizer o seu nome. Como alguém que ele nunca tinha visto antes poderia lhe conhecer? Estava atônito, era com certeza por todos os motivos o momento mais estranho de toda a sua vida. Ergueu-se lentamente enquanto a fitava. O que eram aqueles olhos? Pareciam enxergar o mais profundo de sua alma, invadir seus pensamentos e entender qualquer inquietação que pudesse existir em seu espírito, uma sensação tão invasiva que conseguia ser incômoda e confortante ao mesmo tempo. Por mais que tentasse negar tal pensamento, no fundo sabia que estava diante de algo sobre-humano.


Yuna aproximou-se dele. Não entendia por que se sentia tão a vontade diante daquela situação, por que seu corpo parecia se mexer sem que ela o comandasse. Quando já bem próxima, ela estirou a mão como se pedisse algo. Heero ainda estava atônito, mas então voltou à realidade, lembrou-se que seu tempo estava acabando e que Lune não conseguiria manter o portal aberto por mais que alguns segundos. Precisava ser rápido. Puxando a adaga que trouxera, cortou um pequeno pedaço da casca da árvore e depois novamente tornou-se à garota. Dividiu-o em dois e entregou-lhe uma das metades, que ela recebeu sem desviar os olhos dos dele por nem um momento sequer. Yuna aproximou-o da boca, sabia o que fazer embora não entendesse como ou o porquê, e então ergueu a outra mão na direção dele, que a olhava num misto de perturbação e bem-estar. Heero repetiu o gesto e segurou a mão dela, apertando-a com firmeza. Ambos sentiram uma leve onda de choque percorrer o corpo a partir daquele toque, como se uma intensa energia se originasse daquele momento.


E juntos, comeram da árvore.



...



Lune sentia-se esgotando aos poucos. Ajoelhado diante da árvore sagrada ele continuava a conjurar palavras incompreensíveis numa concentração inabalável. Algumas gotas de suor já brotavam de sua testa enquanto fazia sua prece, eram tão poucos minutos, mas que pareciam se arrastar horas a fio.

De repente um clarão ascendeu-se, suficiente para iluminar todo o campo em que se encontrava, gerando um vento que sacudiu as folhas das árvores e fez dançar as águas do rio enquanto um som tilintante podia ser ouvido. Aos poucos, os espectros de duas pessoas iam se formando até que ficassem completamente visíveis. Eram Heero e Yuna que apareciam de repente, um diante do outro de mãos dadas, mas logo em seguida foram ao chão, esgotados em suas energias. Heero ainda se mantinha acordado à duras penas, ofegante no chão, mas Yuna estava desacordada.


Só então Lune abriu os olhos, soltando um gemido de cansaço e respirando fundo. Quando recuperou o fôlego, sorriu satisfeito ao ver que Heero havia voltado trazendo alguém, um entusiasmo tomava conta de seu olhar de uma forma que o jovem jamais havia visto antes no tão contido e sério Lune. O rapaz fechou os olhos e sorriu levemente, com a sensação de dever cumprido.

O Sacerdote aproximou-se da garota desmaiada no chão e virou-lhe o rosto para observá-lo. Era tão jovem, tão frágil, mas mesmo assim sentiu emanar dela uma energia intensa tal qual jamais havia sentido antes. Sem dúvidas, era ela a escolhida.


–Ela está bem? – Heero perguntou preocupado ao vira-se para o lado e perceber que a jovem jazia inconsciente.


–Ela ficará bem. – Lune disse erguendo-a com facilidade do chão enquanto sorria serenamente. Pôs-se a caminhar lentamente com ela para fora do jardim, sem se preocupar com as coisas que trouxera e agora deixava na grama. – Assim como todos nós também ficaremos.


Heero o observava se afastar enquanto erguia-se para se sentar na grama meditando sobre o que acontecera. Por mais que tentasse não conseguia unir perfeitamente todas as lembranças em sua mente, era como se tentasse lembrar de um sonho. De qualquer forma, o importante era que tinha cumprido o compromisso que firmara com Lune e trouxera a garota, que agora deveria ser mantida segura em Denhaar. Ninguém jamais poderia saber da existência de alguém supostamente ligada a um poder tão forte ou consequências terríveis poderiam ser trazidas. Na mente do rapaz o maior pensamento era o de que estava são e salvo depois do risco que correra indo àquele lugar desconhecido, sentia-se aliviado. Mas logo ponderou sobre o que aconteceria a partir de agora com toda essa mudança, e temeu que perigos muito maiores pudessem estar se aproximando.



...



O Sacerdote subia as escadarias que dariam ao grandioso castelo do reino de Denhaar, morada do soberano e sua prole. No caminho, deparava-se com uma grande barricada guardada por soldados no chão e arqueiros nas torres. Um grande portão de madeira selava a passagem.

–Senhor Lune – Um soldado aproximou-se e reverenciou longa e respeitosamente ao ver a figura do sacerdote. Os demais guardas repetiram o gesto, mas não se furtaram de lançar, numa falha tentativa de discrição, um olhar curioso a garota que ele trazia nos braços. –Perdoe-me a intromissão, mestre, mas... – O rapaz não conseguia encarar o sacerdote, estava encabulado de fazer-lhe perguntas, mas tinha ordens para não deixar nenhum desconhecido passar sem permissão – Eu preciso saber quem é a garota para poder deixa-lo passar... – Disse movido também por uma leve ponta de curiosidade. Lune não demonstrava nenhuma expressão, fosse de alegria ou nervosismo, simplesmente mantinha-se sério, agindo como se nada estivesse acontecendo.


–A partir de hoje, é uma convidada minha. – Lune disse, percebendo a confusão nos olhos dos homens. – É uma garota da cidade que está muito doente e precisa dos meus cuidados. No castelo ela terá mais conforto e terei melhores condições de trata-la. – Mentiu, mas dessa forma os homens pareceram menos intrigados a respeito de Yuna, embora estranhassem a forma como ela estava se vestindo.

O guarda principal deu uma ordem e logo os portões se abriram, dando passagem a Lune que seguiu seu caminho. Quando já próximo do portão principal, avistou a figura de uma garota cujos cachos loiros esvoaçavam ao vento enquanto ela chegava correndo em sua direção. Trajava um vestido longo e branco que em muito lembrava as vestes que o sacerdote costumava usar, mas menos adornado. Igual ao dele, porém, era o rosário que ela trazia pendurado ao pescoço. O rosto jovial não aparentava mais que 15 anos e os olhos eram vivazes, de um azul límpido como o do céu. Bem ao meio da testa, tinha marcada uma lua crescente com um pequeno círculo no centro. Ela sorria animadamente ao ver Lune aproximar-se com uma garota no colo, parecendo já saber do que se tratava.


–Mestre Lune! – Ela o saudou esquecendo-se das formalidades para com o seu superior, tão entusiasmada que estava. – Graças aos deuses o senhor voltou, eu estava tão nervosa! Rezei pelo sucesso da missão durante toda a tarde e vejo que fui atendida! – Lune lhe dispensou um leve sorriso, o jeito sempre animado dela o fazia sentir-se mais alegre, e ainda mais naquele momento em que estava tão aliviado. A outra por sua vez acariciava os cabelos de Yuna, ainda inconsciente, olhando-a num misto de alegria e preocupação. – Quando ela vai acordar?


–Paciência, Niccolai. A viagem do outro mundo para cá a enfraqueceu muito, ela precisa descansar. Por mais que seja o espírito de uma deusa, esse corpo é tão humano quanto o nosso. – Ele explicou-lhe calmamente, retomando a sua subida enquanto era seguido pela jovem. Adentraram o castelo e então se encontravam no salão principal que no momento estava vazio, podendo dar a quem chegava a visão total de sua grandiosidade e riqueza. Os azulejos do chão formavam algo como uma estrela que se estendia por todo o recinto, e sobre os recém-chegados, um belíssimo vitral no teto permitia que o céu noturno e seus astros pudessem ser apreciados. Adiante, um enorme corredor levaria a demais salões e quartos que davam continuidade a extensão da morada e nos dois lados, grandes escadarias de pedra se formavam e subiam em curva até encontrarem-se mais acima. O desenho se repetia até o topo.


Lune, seguido por Niccolai, tomou uma dessas escadarias e chegando ao topo, seguiu por um longo corredor com várias portas. Entrou por uma delas e estava agora num quarto. Na grande cama, depositou Yuna com cuidado.


–É assim que se vestem no mundo oculto? – A garota perguntou-se em voz alta, olhando com estranheza o uniforme colegial que a outra trajava, especialmente as pernas desnudas. Então, tomando do lençol, cobriu o corpo de Yuna e sentou-se ao lado dela na cama. – Eu não imaginava que a deusa fosse escolher um corpo tão... Jovem. – Ela comentou um tanto confusa.


–Na verdade, eu também não. Mas se ela a escolheu, com certeza essa menina deve ser alguém muito especial... – Lune concluiu. – Niccolai, por favor, a acompanhe esta noite. Ela pode acordar a qualquer momento, será bom que tenha companhia caso precise de algo.


–Sim, senhor. – A loira respondeu-lhe sorrindo. – E Heero, onde está?


–Eu o deixei no jardim da árvore sagrada. Ele também estava exausto, mas achei que seria bom para ele passar algum tempo sozinho naquele lugar. Quem sabe possa ajudar o rapaz a encontrar um pouco de paz de espírito...



...



Heero estava sentado diante da árvore sagrada, apoiava o queixo sobre o braço que circundava um dos joelhos dobrados enquanto observava pensativo. No tronco, da marca que fez ao perfura-lo, escorria uma seiva espessa que parecia até levemente cintilante sob a luz da lua.

Não era a primeira vez que visitava aquele lugar, mas nunca fora capaz de sentir verdadeiramente algo além estando ali, a grandeza que era contada nas lendas. Mas hoje ele vira e sentira coisas que despertaram algo que ele nunca tinha experimentado antes, uma sensação forte como nenhuma outra, um misto de paz e temor que era impossível de ser colocado em palavras. E havia algo de místico nos olhos daquela garota, algo que o fizeram se sentir mais próximo de qualquer coisa divina, além da compreensão humana. Não conseguia afastar esses pensamentos de sua cabeça, então permaneceu ali, desfrutando da sensação boa que aquele lugar lhe proporcionava. Ao mesmo tempo, sua cabeça estava cheia de dúvidas sobre o que acreditar ou não. Pouco a pouco sentia as energias que havia perdido ao atravessar os portais voltarem a seu corpo, revigorando-o, então permaneceu ali, enquanto a noite caminhava confortável. A única coisa que tinha certeza era que, a partir de agora, muita coisa estava para mudar.





C.O.N.T.I.N.U.A...


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