Capítulo Quatro

Você é lésbica?

“Abandonar uma verdadeira amizade por popularidade é como abrir uma cesta de lixo, jogar parte de sua vida lá dentro e por fim dizer: “Eu aprovo essa tolice”.

(Raquel Menezes)

A minha primeira consulta na psicologa foi hoje e garanto que não pisarei naquele local nunca mais - apenas se meu pai me obrigar novamente, claro. O fato é que essa mulher é tão louca que perguntou algo, dos quais respondi, como:

1 – Você é virgem? Quase que não.

2 – O que você acha de mim? Uma calhorda (provavelmente ela nem sabe o que essa palavra significa)!

3 – É lésbica? Claro que não.

4 – Beijar-me-ia se eu pedisse? Nunca, sou muita areia para o seu caminhão.

Então depois disso ela tentou me agarrar. Isso mesmo que você leu. Pegar-me. Entretanto deveria ter desconfiado ao vê-la ficar me olhando com aquela cara de cadela e piscando para mim incansavelmente. E mesmo que eu fosse homossexual não ficaria com ela – nunca -, até porque seu cabelo é comparado com palha de aço castanha e tem rugas. Isso é inadmissível.

E após me afastar dela ao me esforçar muito mandei “banana para ti” ao sair. Passei na sala do diretor e contei para ele o que ocorreu, mas ele apenas respondeu “você não é a única que diz isso, mas não tenho mais ninguém para pô-la em seu lugar” e eu nada pude fazer.

EU ODEIO O UCHIHA, se não fosse ele não precisava ir para o psicólogo.

Com esse pensamento em mente conversei com Tsunade para que revesse todas as nossas notas e comunicasse quem era o melhor em matemática. Mesmo que eu tenha tirado o seis na ultima prova, ganhei por 37 pontos dele. E por isso eu exigi que fosse a nova tutora do grupo escolar e eles não concordaram, pois ele ajudou muitos alunos.

Porém algo não me saia da cabeça, no sexto e sétimo ano suas notas abaixaram consideravelmente e me perguntava qual foi o motivo para que isso ocorresse. E essa preocupação com o moreno era o que me aterrorizava. Eu não poderia sentir isso em relação a ele, e não é agora que irei experimentá-lo.

Distanciei esse assunto de minha cabeça ao ver que minha irmã me chamava para ir embora. Ela tinha poucos amigos, assim como eu atualmente, e tenho certeza que grande parte é por minha culpa. Até porque Hanabi fazia questão de contar isso para mim todo o dia.

E hoje ela estava acompanhada pelo Lee, que por ter reprovado duas vezes e outra por faltas estudava com a imouto. Ele só queria saber do fogo da juventude, até porque muitos diziam que estava em um caso com o professor de educação física. Mas o pior era quando ficava cantando músicas japonesas em alta voz e fingia estar namorando a Sakura – que nem o notava.

Infelizmente é gay e minha irmã teve a burrice de se apaixonar pelo guri.

_Oneesan, queria te pedir um favor. _sussurrou quando chegou perto de mim.

Seu rosto estava vermelho e ficava mexendo o pé de um lado para o outro, provavelmente era algo grave ou constrangedor que ia pedir.

_O quê? _questionei com os olhos arregalados.

_Você poderia ficar fora de casa essa tarde? Por favor. _implorou.

_Por quê? _perguntei, ainda sem entender.

Droga! Acho que estou virando uma patricinha, completamente.

_É que... _então ela virou para o menino perto do carro ao dizer isso.

Agora entendi. Minha irmã quer ficar sozinha com ele.

O quê? Isso é terrível, se meu pai descobrir a mata.

_Está bem. _respondi, tentando não me importar.

_Não vai dar nenhum sermão? _surpresa.

_A vida é sua, mas eu quero que me deixem na livraria principal antes de irem embora. _dei a condição.

_Claro. Muito obrigada. _finalizou me abraçando.

O mais estranho é que eu gostei desse gesto.

Eu estou pirando.

_De nada. _respondi de forma baixa.

Porém ela ouvira e sinalizou um “paz e amor” enquanto sorria em agradecimento. E isso me fez lembrar-se de como era antes de fazer parte dos populares, até porque Hanabi era muito parecida comigo.

No meio do caminho o casal ficava trocando caricias e esta cena foi um baque para mim. Até porque eu pensei que ele era “veado”.

_Você não é gay? _questionei, atrapalhando o beijo.

Ele então me olhou e gargalhou.

_Eu sou bissexual, Hinata-chan. _confessou aos risos.

Realmente estou virando uma patricinha.

_A tá, desculpe-me se te magoei de alguma forma. _envergonhada.

Isso não é possível, eu nunca confessaria meu erro!

_Não me importo com isso, já que essas perguntas são frequentes. _declarou.

Então dei um suspiro de alivio enquanto minha irmã me olhava de maneira assustada, como se fosse outra pessoa. Não a culpo, até eu estou me sentindo desta forma.

_Senhorita Hyuuga, chegamos ao local. _berrou o motorista.

Balbuciei um “obrigada” e me dirigi ao lugar. Hoje estava procurando por um livro de educação física, já que não sabia praticar esportes muito bem. Tirar um sete no boletim nessa matéria não é o suficiente. Peguei então um livro com todas as modalidades que serão aprendidas esse ano.

E orei aos céus por ele sempre dizer isso no começo de suas aulas.

Mas o que não admito é que se não fizer pelo menos dez gols, acertar vários saques não tira nota boa. Ele não entende que somos mulheres? Ou pensa que somos um bando de machos para impor essa condição a todos os alunos? É injusto.

Depois de tanto pensar enquanto tomava meu cappuccino fui em direção a uma mesa enquanto lia o livro. Tentando entender como se faz uma manchete e um gol de bicicleta. Porém algo não me deixava se concentrar na leitura, algo como uma risada debochada, mas grossa e arrepiante.

Olhei para frente e percebi que Sasuke estava ali, rindo de mim, não comigo.

Porém era um tipo de gargalhada diferente, que o deixava menos assustador. E confesso que gostei de vê-lo desta maneira, parecia algo mais espontâneo e não forçado. O Uchiha estava se mostrando mais verdadeiro.

_O que foi? _questionei, sentindo-me um pouco constrangida.

Eu não queria estragar aquele momento.

Que besteira estou pensando? Eu odeio o Uchiha!

_Quem tenta melhorar em educação física lendo um livro e não o praticando? _declarou ao sorrir de lado.

_A mesma que tenta aumentar a nota em artes com o mesmo método. _revidou.

Que raiva! A única reação dele a esse comentário foi rir.

_Você me pegou. _sussurrou para que só eu ouvisse.

Então em um súbito eu tive uma ideia que pode me ajudar, mas ao mesmo tempo fará com que me sacrifique igualmente também.

_E se nós fizéssemos um acordo? _perguntei de forma baixa.

Eu não saberia se ele aceitaria, mas claro que não.

Sou uma FRACASSADA.

_Qual? _revidou, agora sério.

_E se eu te ajudasse em artes em troca de me ensinar a ir bem em educação física? _propus.

Então em seu rosto um pequeno sorriso se formou.

Fiquei transtornada ao me lembrar daquele antigo garoto, que era emo e nunca sorrira, mas que agora o fazia quase sempre. Infelizmente sabia que raramente era verdadeiro.

_E por que eu faria isso? _perguntou.

Cínico. Só isso que digo.

_Porque eu sei que quer ganhar de melhor aluno do colégio esse ano tanto quanto eu. _fui direta.

Este resultado só é relatado no histórico na última fase do ensino médio. E isso seria um passo a menos para entrar na melhor faculdade do país.

_Então aceito seu acordo, porém estarei te vigiando para que não me ensine de maneira errada. _retrucou, pegando seu livro e levando até o caixa.

_Eu também Uchiha, eu também. _sussurrou enquanto estava indo até a saída.

Mas por um momento ele virou, enquanto também efetuava minha compra, proferindo tais palavras:

_Passo as condições por e-mail. _berrou de maneira sátira, mas ainda indiferente.

E quando me recuperei percebi o que fiz.

Agora, além de ter que aguentá-lo na sala e grupo de estudos, terei que conviver com ele fora da escola também.

Só sei de uma coisa: Serei a melhor aluna, custe o que custar.

Espere e se surpreenderá Sasuke.