Aquele beijo foi simplesmente perfeito. Tudo ajudou, mas principalmente a chuva. Na próxima semana estávamos com resfriado, mas nada com o que se importar.

                Resolvemos manter toda aquela situação em segredo, por mais que a gente se amasse, falar a notícia agora só iria estragar as coisas. O problema era que Felipe tinha uma ex-namorada que podemos classificar como EXTREMAMENTE CIÚMENTA. Desde que eles terminaram, há um ano, ela faz de tudo para estragar o relacionamento que ele possa ter com qualquer outra.

                Nem Eloisa nem Peter nem Daniel podia saber no momento, mas a gente tinha certeza que em algum momento acabaria contando sem querer.

                No dia seguinte fomos para escola e, a não serem as trocas de olhares, os bilhetes e as mensagens de texto, tudo estava normal.

                Em uma tarde fui para casa de Eloisa, ela disse que tinha uma coisa muito importante para falar e como eu não estava muito afim de ficar em casa falei que dormiria na casa dela. Ela, claro, permitiu e ainda teve a brilhante ideia de fazer uma festa do pijama. Eu, ela e Bia. Bia era o apelido de Beatriz. Nós três erámos muito próximas, como irmãs. Ela era uma menina muito bonita, tinha cabelos ruivos lisos e com alguns pequenos cachos nas pontas, tinha as sardinhas que eu tanto amava e olhos azuis bem vivos.

                Estava de noite e Eloisa estava contando animadamente sobre noite que tivera com Daniel, ela enfim teve sua primeira relação sexual, a primeira entre nós. Ela falava de todos os carinhos que ele deu, a atenção que teve em perguntar se queria que parasse ou mesmo se estava machucando. Ela deu vários detalhes, algo que naquele momento achei desnecessário. Eu realmente não precisava ter a imagem dos dois nessa situação na minha cabeça.

- Depois de jantar, nós fomos para casa dele. Estava vazia, já que os pais dele viajaram. – ela falou com um sorriso malicioso fazendo com que eu e Bia começássemos a rir na hora – Nós fomos para o quarto dele e ele começou a me beijar. Ele descia com beijos no pescoço e voltava para a boca. Aquilo era tão bom...

                Admito que não estava prestando atenção no que ela dizia. Como toda boba apaixonada eu tinha meus pensamentos apenas em uma pessoa, Felipe. Clichê, né? Eu sei, mas não me importo. Eu ainda não acreditava que estava com ele. É claro, a gente ainda não estava namorando sério, mas quem liga?

- Eu estou ficando com o Felipe! – eu falei alto e rápido interrompendo Eloisa. As meninas me encararam na hora, sem entender e eu preferi repetir – EU ESTOU FICANDO COM O FELIPE!

                Eu sabia que estava quebrando a nossa promessa, mas sabia que a esse ponto ele já devia estar fazendo o mesmo. Já tinha se passado duas semanas desde nosso primeiro beijo e eu sabia que enquanto eu estava ali, na casa de Eloisa, ele estava na casa de Peter com Daniel. Eles passariam a noite lá, provavelmente jogando vídeo games, conversando sobre carros, futebol e mulheres.

                As meninas estavam me bombardeando de perguntas do tipo, quando? Onde? Como? Vocês estão namorando? E eu não pude deixar de rir com a situação das duas e suas caretas de curiosas. Eu contei tudo o que tinha acontecido para as duas, desde o momento em que saí da casa de Elo até o nosso beijo na chuva.

                Elas ficaram super felizes e ainda tinha que ouvir comentários como “owwnnn” e “que fofo”. Quem me conhece muito bem sabe que eu não sou muito do tipo de fofuras assim, eu era mais fria. Mas desde que estava junto com Felipe isso mudou, ele me fazia sentir especial e eu não tinha medo disso.

                Avisei com as meninas que era um total segredo e que ninguém poderia saber. Mas como o peso na minha consciência falava mais alto, resolvi ligar para ele para contar o que eu tinha feito. Pedi licença para as duas, peguei meu celular, fui para a varanda e comecei a ligar. Alguém atendeu.

- Oi pequena! – como a gente se falava todas as noites, esse virou um modo bem comum em atender o celular. Fofo não?!?!

- Oi bebê – eu não sei por que, mas eu fiquei quieta nesse momento.

- O que você quer? Ligou por algum motivo em especial?

- Sim, é que, não fica bravo comigo, mas eu contei para a Elo e para a Bia sobre a gente! – falei com certo tom de preocupação na voz, mas que logo foi acalmada.

- Fica calma amor, eu ia falar com você que eu também contei para o Peter e para o Daniel, acabei de contar... – nós dois começamos a rir com a coincidência das coisas. Assim que paramos de rir, ele resolveu continuar – To com saudade de você! – e ele falou com a voz mais fofa que alguém poderia falar. E lá se vão meus ovários... BUUMM!!

- Também to com saudade, o que vocês estão fazendo ai?

- A gente ta vendo um monte de vídeo pornô e daqui a pouco vamos chamar uma meninas para beber com a gente – ele falou calmo, mas me zoando, bem pelo menos eu acho que estava – Eu to zoando bebê, eu nunca faria isso com você!

- Bom mesmo!

- Tá com ciúmes é?!?! – ele disse rindo

- Eu não! – minha tentativa de negar falhou completamente, minha voz saiu com o ciúme muito nítido e ele apenas riu – É você fica rindo né, quero ver se fosse o contrário – e de novo. Ciúmes, ciúmes e ciúmes.

- Olha que bebê ciumenta, mas enfim, você lembra que sexta completa três semanas que estamos juntos, né?!?!

- Claro, como eu poderia esquecer...

- Então, eu estava pensando em te levar para sair...

- Claro! Mas vamos aonde?

- Vai ter um espetáculo de comédia, você quer ir? Aí, depois a gente sairia para jantar.

- Uhum... Pode ser! Amanhã é que dia da semana mesmo?

- É terça sua lerda – ele respondeu dando uma risadinha – E é amanhã então que eu vou comprar nossos ingressos, antes que acabem!

- Claro! Você quer que eu vá com você?

- Não precisa ir não...

- Okay então, eu tenho que ir. Beijos bebê

- Beijos minha princesa.

                A ligação foi terminada. Eu voltei para perto das meninas, que me olharam assustadas, só então que eu descobri que tinha passado uma hora no telefone com ele. Contei para as meninas que iria sair sexta e fiz come que elas prometessem ir à minha casa me ajudar a colocar algo descente para a ocasião.

Um teatro era algo que, geralmente as pessoas andam mais arrumadas e como eu não sabia onde iríamos jantar depois, resolvi não sair da regra. Eu queria estar muito bonita para ele, aliás estávamos três semanas juntos já.

Continuamos nossa noite das meninas, falamos de tudo, vimos filmes e pedimos uma pizza. Não me lembro de como, mas de repente a gente estava em uma guerra de travesseiros. Eu não via nada, só escutava as meninas rindo e é claro, eu estava rindo também. Com certeza nós não iríamos dormir cedo aquela noite.