Enquanto o Grande Mestre não descobrir escrita por Myu Kamimura, Madame Chanel, Secret Gemini


Capítulo 6
VI. Travoltear (Parte II)


Notas iniciais do capítulo

Segunda parte da festa.
Graças a Sofia, os Cavaleiros descobrem o porque do atrito entre Fedra e Silene e bolam um plano de retaliação que quase entra pelo cano.



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Leiam as notas finais



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#Aiolos’ POV#

Dentro da casa de Fedra, a coisa era outra. Tudo estava organizado, afinal a morena era rígida em relação a bagunça dentro de sua casa quando dava suas festas. Lembro que, na ultima grande festa que ela deu, um rapaz derramou vinho em um tapete de uma das salas e a garota o puxou pelos cabelos e o fez limpar com a língua. E não foi apenas a sujeira superficial: ela exigiu que o tapete voltasse a cor original:

-É... Quando a chamamos de figura difícil, não estamos de brincadeira. – pensei, enquanto entrava na cozinha. Queria dar um susto no meu fígado, tomando um copo d’água. – Valeu aí, chapa!

Agradeci um dos garçons e voltei a sala principal. Apesar da casa ser enorme, eu a conhecia muito bem e subi as escadas. Sabia que na ultima porta a esquerda se encontrava Sofia, com certeza provando sua décima oitava combinação de vestido e sapato, mas bastava me ver para decidir o que vestir – ou o que tirar, hehe:

-Sofia, minha “lora”... – disse, abrindo a porta – Aiolos está entrando.

Ela estava apenas de sutiã e calcinha, em pé de frente para o espelho, segurando dois vestidos – um em cada mão – e sobrepondo-os no corpo, tentando decidir qual usar. Achei que era uma indecisão passageira, mas quando entrei no quarto, percebi inúmeros vestidos jogados pelo chão e na cama, além de alguns sapatos espalhados:

-Nossa, Aiolos! – exclamou, atirando os dois vestidos que estavam em suas mãos para trás e vindo me abraçar – Como você está...

-Elegante? Ah, eu sei... – respondi, puxando-a pela cintura, encarando seu rosto

-Ia dizer brilhante, mas elegante também serve, meu pão!

 E me beijou terna, do jeito que só ela sabia fazer. Me apertava com paixão contra seu corpo e, apesar de querê-la, segurei as pontas:

-Dendeca... – afastei-a sorrindo, ainda olhando fundo em seus olhos – Apesar de você estar desejável nesses trajes, eu não quero estragar seu penteado e temos que descer para dar apoio a Fedra...

-Como assim apoio? Qualé a bronca lá embaixo?

-Chegaram três garotas que estão tentando botar banca, mora? A Fedra tá tão vara que estou contando os minutos para ela dar chilique.

-Nossa... Mas a Fedra só perde a esportiva quando se trata de-... Não me diga que são...

Pela primeira vez, vi Sofia esboçar raiva. Ela sempre foi a mais calma do trio, geralmente só gritava quando estava bêbada, mas agora estava a ponto de berrar. Tentando evitar isso, falei:

-Silene, Leandra e Ta-...

-Tais...! – completou quase que em um sussurro, trancando os dentes.

Minha garota pode não ter um cosmo desenvolvido, mas como todas as pessoas têm esse pequeno universo dentro de si, eu pude sentir o ódio que nela brotou ao pronunciar o nome da estonteante loira:

-Agora mais do que nunca preciso estar perfeita! – indagou, saindo de meus braços e indo até o closet – Você me ajuda?

-Claro, minha ternurinha... – disse, seguindo-a – Mas me fale porque todo esse ódio.

-Sim...

Enquanto olhava seus vestidos, Sofia me contava a história dos dois trios. Em resumo, Fedra era amiga das garotas até que descobriu que elas zombavam dela pelas costas, em uma atitude covarde e deveras infantil para alunos de faculdade. Depois disso, ela se isolou, entrou em depressão e até ficou acima do peso. Foi quando Agnes entrou na sua vida. A loira, com sua energia, excentricidade e o jeito escrachado tirou a morena da fossa e a transformou em uma das garotas mais cobiçadas da faculdade:

-Foi então que eu entrei na história... – falou, tirando um vestido azul rendado de manga longa de um cabide – Agnes já era minha melhor amiga naquela época e me pediu para ajudar a levantar o astral de Fedra.

-Porque você?

-Eu fazia curso de moda, mas era a queridinha dos meninos do curso de fotografia... Tanto que essa “adoração” me levou a participar de um concurso de beleza. Com a missão de animar a Fedra, arrastei-a comigo. E é aí que entra aquele Satanás de franja loira... – o olhar de ódio voltou a seu rosto – Me ajuda a fechar o zíper?

-Claro... – me levantei e fui até ela. Enquanto fechava o zíper, perguntei – O que ela te fez?

-Ficamos entre as finalistas... Meu favoritismo era evidente. Como ela não via ameaça na Fedrinha, eu fui o alvo: aquela sirigaita sabotou o meu biquíni com pó de mico.

-HÃ?!

-Sim, Aiolos... No ultimo desfile, que era em trajes de banho, a sua ternurinha aqui acabou de topless no meio da passarela porque não aguentou a coceira! Fui desclassifica, mas tive minha vingança... Uma das concorrentes eliminadas a viu a crocodilagem toda e anunciou aos juízes. Tais também foi desclassificada e Fedra saiu vitoriosa do concurso. – o olhar de ódio sumiu momentaneamente – Então, como estou?

-Chocrível pacas, broto! Nem que a vaca tussa essa Tais é mais gata que você!

-Oun... Obrigada, meu raio de luz.

-Raio de luz?! Qualé a desse apelido?

-Sei lá... Achei sua cara por estar tão... Brilhante... HAHAHA... – ela passou a mão por minha cintura – Vamos descer.

Descemos as escadas e rumamos para a área externa, aonde um grito de “finalmente” nos recepcionou. Enquanto Sofia foi cumprimentar alguns amigos, me prontifiquei para pegar um copo de ponche para ela. Me aproximei da enorme mesa, aonde estava a tigela de ponche. Quando enchia um copo, percebi que também havia alguns salgados em bandejas de plástico com a logomarca da “Il Palazzio”:

- Hm... Não é sempre que se pode comer de graça os quitutes do Carlo – pensei, observando a bandeja com algumas focacciasNada mais justo que eu coma alguns... Além do quê, faz tempo que tô de barriga vazia.

 Peguei um guardanapo e, quando ia pegar o quitute, esbarrei em uma mão, aliás, uma bela mão feminina, com unhas compridas, pintadas de branco:

-Me desculpe. – disse, seguindo o braço com o olhar até chegar ao rosto da moça. Fui surpreendido ao ver que se tratava de Tais.

-Que isso, pão! Pode pegar na minha mão quando quiser... – sorriu, sacando o leque da liga presa a perna e se abanando – Hm... Não só na minha mão, como em qualquer parte do meu corpo.

Foi impossível não ficar com o rosto corado após tal cantada. Atrevida, se aproximou mais de mim e disparou:

-E que tal você me dar esse copo de ponche, hm?

-Pode esquecer, sua panaca metida a besta! Tá achando que é só chegar com esse sorrisinho sonso e esse cabelinho loiro fajuto pra cima de mim que me tira da minha ternurinha? Sinto lhe informar que não vai fazer minha cabeça não, ô Satanás de Franja! Não caio nessa tua milonga! Agora xispa da minha frente que vou levar o ponche da minha Sofia...

-Ah... Então, você é o xaveco da Sofia... – disse, se afastando – Interessante... Mas te deixarei em paz agora, garotão.

E saiu. Quando me virei, Sofia estava atrás de mim, transbordando de ódio. Sem brincadeira, a aura assassina da moça podia ser sentida até da Lua:

-O que esse projeto de vadia fazia conversando com você?

-Eu fui pegar um salgado e esbarrei sem querer na mão dela. – estendi o copo de ponche a ela e continue o relato. – Ela veio com cantadas, mas baixei a bola dela rapidinho.

-E como você o fez?

-Botei pra quebrar, broto! Você acha mesmo que eu ia dar trela para uma sirigaita como essa?

-Ah, Aiolos... – sussurrou terna, me dando um beijo em seguida. Depois, virou o copo de ponche de uma só vez – Vamos para a pista!

-Hora de travoltear, baby!

 #Tais’ POV#

-Aff, esse mocorongo tá se achando demais! – reclamei, indo para o lado de Silene e Leandra, que bebiam e dançavam em outro ponto da festa.

-O que foi, Tais? – perguntou a andrógina.

-Joguei charme para aquele pão que tá de terno brilhante, mora? Mas além de ter tomado uma esnobada, descobri que ele é o namorado da maldita da Sofia.

-Hm... Isso só soma os pontos, querida. – riu Silene. – Com esse se súbito interesse nele, tudo está incrementado. Você gostou do “brilhante”, Leandra já me confessou que passaria horas mandando brasa com o tal Shura e eu estou louca para ler em braile o corpo do Saga. – a morena sacou uma taça de marguerita da bandeja de um garçom, deu um gole e prossegui – Meninas... Parece que aquele smoking vai explodir!

-Então... Qualé o plano? – questionei.

-Seguinte...

Silene nos contou o plano, que foi comemorado com gargalhadas e um brinde. A risada alta foi notada pelos três rapazes, que nos olharam sérios e atentos. Leandra acendeu um cigarro e o tragou suavemente, devolvendo a encarada, Silene levantou a taça na qual bebia e eu apenas sorri de canto, me abanando com meu leque.

# Saga’s POV#

Aquela risada foi a gota d’água. Se antes eu apenas suspeitava que elas planejavam aprontar algo, agora estava quase convencido disso. Logo tive plena certeza, pois Aiolos me contou em resumo uma conversa que teve com Sofia, enquanto a loira se arrumava:

-Então... Se elas estão aqui hoje, é para prejudicar as nossas dendecas de alguma forma. – falei, após virar mais um copo de cerveja

-Falou e disse, Quadradão – concordou Aiolos – Vamos cortar as asas dessa patota aí!

-Posso saber o que os tremendões conversam? – perguntou Fedra, acompanhada das loiras, nos trazendo mais copos de cerveja.

-Estávamos apenas comentando como nossas ternurinhas estão elegantes...

-Então melhor vocês pararem de lero-lero, mandarem logo essa cerveja pra dentro e nos tirar para dançar! – indagou Agnes, grudando em Shura.

-Falou e disse, Agui! – concordei, virando mais uma vez o copo de cerveja. – Fedrinha... Vamos dançar?

-Hm...

-Vai dar carão mesmo, lindeza?

 -E eu lá sou mulher de dar carão? E já falei para parar com essa história de lindeza, Quadradão!

-Tá,tá bem eu paro! Vão indo na frente que eu e os rapazes vamos terminar um plá aqui e já chegamos...

-OK,OK! MAS CUIDADO COM AS NAJAS, ELAS PODEM MORDER! – passou Fedra, falando alto e olhando fixamente para Silene, Taís e Leandra.

Eu fiquei um pouco constrangido e ouvi a risada dos amigos, eles conheciam do humor ácido de Fedra. Rapidamente nos reunimos e fizemos uma espécie de plano de vingança: Shura, em retaliação a humilhação que Sofia passara no desfile, iria cortar o vestido de Taís com a Excalibur e eu fingiria interesse em Silene apenas para descobrir tudo o que elas pretendiam e, depois, dar-lhe uma esnobada daquelas, acabando com sua reputação de pegadora. Aiolos seria o apoio para o plano dar certo. Com tudo combinado, partimos para a pista de dança.

#Aiolos’ POV#

Já estávamos na pista de dança há certo tempo.  Adorava dançar com Sofia, mas estava meio alheio. Eu tinha que prestar atenção em Saga e Shura, aguardando o sinal deles para executarmos nosso plano. A patota do mal também estava na pista, o que colaborava mais para ficar disperso:

-O que foi, meu Raio de Luz? – Sofia perguntou, acho que percebeu que estava meio distante – Tem algo te grilando?

-Não é nada... – respondi, abraçando-a.

-Tem certeza?

De repente, o DJ trocou de disco e começou a tocar Love so Right, uma canção nova dos Bee Gees. Geralmente, não gosto de dançar as românticas, mas Sofia me olhou daquele jeito. Passei minha mão por sua cintura e colamos nossos rostos, embalados pela música:

She came on like the night and she held on tight (Ela surgiu como a noite e se agarrou com força)

And the world was right when she made love to me (E o mundo ficou certo quando ela fez amor comigo)

We were free (Nós éramos livres)

-Ternurinha... – sussurrei em seu ouvido – Eu quero que você saiba de uma coisa... Eu faço qualquer coisa para te ver bem...

-Mas porque você está falando isso? – perguntou confusa

She moved in like a friend, started loving me (Ela chegou como amiga, começou a me amar)

And I thought I'd found my heaven in her arms (E eu pensei que tinha achado meu paraíso nos braços dela)

-Eu apenas quero que você saiba disso...

A abracei e continuei dançando. Foi nesse momento que senti o cosmo de Saga se alterar. Era minha deixa:

-Eu te amo... – sussurrei após um terno beijo. – Lembre-se: tudo para te ver bem, ternurinha...

Soltei-me lentamente dela e saí da pista. Ainda dei uma última olhada e a vi ali, parada na pista em total desatino, olhando eu me afastar.

# Saga’s POV#

O DJ começou a tocar uma música lenta. Logo, apenas os casais estavam na pista, obviamente, as “najas” saíram do local, então era à hora de agir. Mas como Shura, Aiolos e eu deixaríamos as meninas que, com toda a certeza do mundo, queriam dançar uma música romântica? É nessa hora que vale a pena ter os deuses a seu favor:

-Saga, eu adoraria dançar essa música com você, mas tenho que ir ao toalete... – disse, Fedra, olhando para os lados, até achar Agnes e a puxar pelo braço – E você vem comigo!

-Hã? Onde? Pra quê? – confundiu-se a loira, sendo arrastada pela amiga – Ai, Shu... Depois a gente termina esse plá...

-Se vocês verem a Sofi mande-a ir ao meu quarto!

E elas saíram. Shura e eu deixamos a pista e localizamos o trio inimigo. Com isso, usei meu cosmo para alertar Aiolos, que surgiu com uma expressão diferente da normal:

-Qualé a bronca, bicho? – perguntou Shura – Já tá mamado?

-Nem... É a Sofia... Cortou meu coração largá-la na pista com essa música.

-Saquei... – falei – vidrado nela, irmãozinho... Mas relax. Vamo só baixar a bola dessas zinhas aí e depois é só partir pro abraço.

Aiolos e eu sacamos dois copos de bebidas de um dos garçons e fomos até as garotas, que estavam perto da piscina. O plano teve início:

-Com licença, é... Silene. – disse, ao me aproximar – Será que você aceitaria me acompanhar nessa bebida?

-Ah, mas é claro, Saga... – respondeu em sorriso, pegando o copo de minha mão – Mas onde está sua garota?  Se eu fosse ela não te deixava dando sopa por aí... Pode perder fácil... E olha que tenho certeza que foi difícil para ela ter um achado assim, tão divino quanto você...

-Tsc... Que isso... Não vamos falar dela, sim? Quero falar de você... Te achei muito interessante, sabia?

-HUHUHUHAHAHAHA... Mas olha só que sarfanagem! Querendo soltar as pernas na casa da sua garota... Nunca vi tanta audácia vinda de um homem...

Ótimo, ela havia caído na milonga, agora era só manter o disfarce. Shura observava tudo a distância, enquanto Aiolos conversava com Tais e Leandra. De repente, a andrógina saiu, alegando que estava sem fósforo para acender seu cigarro. Foi a deixa para Shura se aproximar e, na velocidade da luz, fazer um corte no vestido de Tais, que conversava freneticamente com Aiolos:

- ...então, eu fui para Paris e lá... EI! Meu rosto está aqui em cima, Aiolos!

-Eu sei, “lora”... Mas o seu vestido...

-O que tem ele?

-PELAS BARBAS DO PROFETA!! – gritou Shura, atraindo a atenção de todos mais próximos – SEU VESTIDO RASGOU INTEIRINHO!

-Como-... AAAAAAAAARGH!

Foi nessa hora que o vestido caiu e a loira foi vista apenas com uma lingerie muito indiscreta. Com vergonha, pulou na piscina e ficou lá por um tempo, até que Leandra apareceu. Silene também me pediu licença e foi acudir a amiga, que se recusava sair da piscina. Eu já estava pronto para comemorar quando a quizumba se formou:

-Eu quero saber qual é o babado aqui, Shura? – questionou Agnes, em um tom ameno

-O vestido da Tais rasgou e ela se jogou na piscina.

-NÃO TENTE ME ENGANAR! EU VI TUDO! CADÊ A TESOURA, HM?!

-Que tesoura, dendeca?! Pirou de vez?

-Eu te vi atrás dela, Shura! Saquei na hora que foi VOCÊ que cortou o vestido!

-Ah é? Então me revista pra ver se tenho alguma tesoura! Olha o vestido dela para ver se o corte foi feito por tesoura ou se foi tecido vagabundo! Chama a justa logo, já que não confia em mim!

-Falou! Vou conferir isso agora!

Shura se afastou e Agnes foi pisando duro, a fim de pegar o vestido caído no chão, porém o deck estava molhado e a loira escorregou, saiu deslizando e conseguiu derrubar Silene e Leandra na piscina:

-STRIIIIIIIIIKE! – gritou Aiolos. Até eu ri nessa hora.

  -Não fica rindo! – indagou Agnes – Me ajuda aqui!

-Calma, broto... Tô indo!

Quando o sagitariano estendeu a mão para a namorada de Shura, Fedra chegou, acompanhada de Sofia:

#Fedra’s POV#

-Que papagaiada é essa? – gritei ao ver Silene e as demais dentro de minha piscina, além de Agnes caída no chão, sendo amparada por Aiolos e Shura – Se eu soubesse que piranhas iam cair na minha piscina, eu mandaria enchê-la com água salgada!

-ISSO É TUDO SUA CULPA, SIRIGAITA!

Silene gritou, saindo da piscina que nem uma cobra d’água e vindo pra cima de mim. Já me preparava para revidar, porém ela foi segura por Saga:

-Ah! Agora vai defendê-la... MAS MINUTOS ATRÁS ERA COMIGO QUE VOCÊ ESTAVA FLERTANDO, GAROTÃO!

-PFT! Fica sem argumento e vem usar o Saga... Eu deveria esperar isso de uma mocoronga como você...

-O bizu não é fajuto, Fedrinha... – intrometeu-se Agnes. – Eu vi tudo.

-Então... Você tá me dizendo que-... Não, não pode ser verdade...

Fiquei sem chão pela primeira vez. Estava me sentindo poderosa ao enfrentar Silene após tudo que ela me fez, mas a possível traição de Saga havia feito com que minhas forças se esvaíssem. Virei meu rosto e ele estava com um olhar atordoado. Segurava dois copos de Whisky na mão, que foram mandados para dentro seguidamente após nossos olhares se cruzarem. Apesar da vontade de chorar, mantive minha pose e já preparava um tapa, seguido de uma carruagem de insultos, quando Aiolos entrou em minha frente, gritando:    

-CALMA AÍ FEDRINHA! Antes de você esculachar o Saga, saiba que foi tudo um plano de vingança contra essa patota aí!  A Sofi me contou que cês comeram o pão que Hades amassou na faculdade por culpa delas e nós apenas queríamos fazer justiça, sacou?

Fiquei encarando-o. Ergui minha mão. Achando que ia receber um tapa, o garoto fechou os olhos com força e se encolheu todo. É claro que tomou um susto quando minha mão pousou sobre seu ombro esquerdo e eu comecei a rir:

-HAHAHAHAHAHA... Então era isso? Garotões... Agradeço a intenção de vocês, mas esse assunto só pode ser resolvido entre divas e recalcadas! Afastem-se que agora é entre a Silene e eu...

A morena me encarava com ódio. Leandra havia saído da piscina, estava sem a boina, exibindo os curtos cabelos rosados, e me olhava da mesma forma. A roupa de ambas estava colada no corpo. Taís continuava na piscina, pois se recusava a sair de lingerie:

-E então...? – manifestou-se Silene – Vamos logo entrar no pau ou essa escovação de urubu vai durar a noite toda?

-Eu não estou escovando teu cabelo seboso, querida... Tampouco sou mulher de entrar no pau com ninguém... Tenho classe. Isso é uma batalha que será resolvida de forma justa.

-E o que propõe?

-Em honra aos velhos tempos: Três contra três... Na pista de dança!

-ME ESQUEÇAM! – berrou Tais – Eu só saio dessa piscina amanhã!

-Mas nem pensar! – Leandra, que até então apenas ouvia, resolveu falar – Não se esqueça que, na primeira vez que fizemos essa papagaiada, vocês me obrigaram a participar. Agora larga de ser cagona, sai dessa piscina e vamos pro desafio!

-MAS EU ESTOU NUA!!

-Eu tenho princípios dentro de minha casa... – falei – Agui, pegue um dos vestidos que tirei para a caridade e traga para Tais vestir. Depois, decidimos o que valerá esse desafio.

-DA CARIDADE? – retrucou o Satanás de franja.

-Cale a boca! Se reclamar mais, eu faço mangas em um saco de lixo e dou para você vestir.

-Ah, tá bom... Me dá logo esse vestido!

-Fedra... Acho que não vou poder pegar o vestido e nem participar do desafio... – respondeu Agnes, apoiada em Shura – Eu acho que torci o pé na hora que caí... Sem contar que só faria isso para te dar apoio.

-Então que tal nós resolvemos isso apenas entre nós, irmãzinha? – indagou Silene, vindo para meu lado e acendendo um cigarro. – Se você ganhar, saio de sua casa tranquilamente e nunca mais saberá de mim... Agora se eu ganhar...

-Se você ganhar...?

-Eu quero uma noite com o Saga.

# Saga’s POV#

-COF, COF, COF... – engasguei novamente com a bebida. Havia virado o motivo da aposta – COMO É QUE É?!

-Falou e disse!

-FALOU E DISSE?! CÊ PIROU, LINDEZA?!

-Relax, gatinho... – Piscou para mim – Eu não vou perder.

-Acho bom mesmo... – falei, enquanto pensava – Afinal, a única tetéia com a qual quero passar a noite é você...

Sofia acabou buscando um vestido para Tais. Obvio que a namorada de Aiolos pegou o mais desgastado e jogou na piscina para que a rival vestisse. Depois todos foram para a pista de dança, aonde o duelo teve início:

-Não sei por que escolheu esse desafio, Fedrinha – debochou Silene, rasgando o vestido a fim de fazer uma fenda na perna, a fim de se mexer melhor, já que o vestido molhado dificultava seus movimentos. – Tá mesmo a fim de perder o pão do Saga, né querida?  

-Pare de falar asneira! Apenas dance!

E começaram a dançar. Na minha visão, as duas estavam em pé de igualdade, mas acho que o vestido molhado de Silene lhe dava uma, digamos que, sensual vantagem. Obviamente, a macharada de plantão pendeu para seu lado e isso me deixou preocupado. De repente, reparei em um garçom em pé, assistindo aos duelos. Cheguei atrás dele e peguei dois copos de sua bandeja. Bebi o conteúdo de uma só vez, mas aquilo não era o suficiente:

-Se eu vou para a cama com essa sirigaita, preciso pelo menos apagar minha memória. – pensei, enquanto me aproximava do garçom e roubava sua bandeja. – Foi mal aí, chapa, mas eu preciso mais dela do que você.   

Sentei em uma mesa – a única que havia no local da pista de dança – e mandei para dentro seis dos sete copos que estavam na bandeja. O ultimo eu guardei para quando o veredito fosse dado. Só que eu, mais uma vez, não contava com a astúcia de Fedra:

-APLAUDAM! – exclamou, enquanto remexia os quadris lentamente, com os braços abertos e agitando as mãos, pedindo mais – Podem aplaudir o número de entrada... QUE AGORA VEM O PRINCIPAL!

Apesar de já estar pra lá de Marrakech, pude perceber ela fazendo um sinal para o DJ, que trocou o disco por um da Donna Summer. A música que começou a rolar foi Love to Love You Baby, que fez um arrepio percorrer meu corpo. Arrepio que se tornou uma febre quando Fedra subiu em cima da mesa que estava sentado, pegou uma jarra cheia d’água, jogou sobre o vestido e começou a dançar sensualmente ao som da música. Com essa atitude, queixos caíram no chão e, passado o choque, gritos e aplausos muito mais estridentes que os que foram direcionados a Silene ecoavam. O único que ficou imóvel fui eu, que estava com a perfeita visão do que havia por baixo do vestido da morena, por isso preferi permanecer sentado:

-E então, Sisi?! – debochou Fedra, ainda em cima da mesa – Já sacou quem é o broto quente do pedaço?

 -HUNF! – ela virou o rosto e estalou os dedos. Tais e Leandra surgiram atrás dela – Eu tenho palavra. Até a vista, Fedra.

E as três sumiram de minha turva visão. Minha morena começou a comemorar com as meninas, Shura e Aiolos. Até que gritou:

-HEY! Cadê o Quadradão?

-IXSTOU AQUI... – falei, ou tentei falar, me levantando e pegando o sétimo copo. Depois passei o braço pela cintura de Fedra e sai puxando-a.

-Bicho... Mamado é pouco pra esse aí! – alguém falou. Acho que foi o Shura – Melhor nós enfiarmos ele numa ducha fria.

-IXSQUECE QUE NUM TÔ MAMADO PORRA NENHUMA! Só tô com um pilequinho leve. Biiicho... Manda um garçom levar champanhe e gelo na suíte da minha dendeca daqui a pouco.

-Como assim na minha suíte? O que você está pensando?

-A gente tem um assunto inacabado, capito (entendeu)?

-Que assunto?

- vai querer mexsmo que eu fale alto? Hehe... – por fim virei o sétimo copo, o joguei no chão, peguei Fedra no colo, joguei-a em meus ombros e saí cantando – When you're laying so close to me there's no place I'd rather you be than with me here (Quando você está deitado perto de mim não há lugar que você esteja do que aqui comigo)

#Shura’s POV#

Fiquei olhando aquele boboca se afastar cantando, enquanto carregava Fedra, que sacolejava os pés e as mãos, mas creio que Saga já estava tão calibrado que sequer sentia os golpes. Vendo essa cena, acabei por dar uma risada:

-Que foi, Shu? – perguntou Agnes, ainda apoiada em meu ombro. – Por que deu essa risada?

-É que o Saga sempre foi o mais certinho de nós. Ele mal bebe cerveja... Mas enfim, broto... Como tá seu pé?

-Ah... Tá tudo bem... – ela respondeu, soltando de meu ombro – eu já consigo até pis-... AAAAAAAAAI!

E se sentou no chão, segurando o pé torcido. Rapidamente, me agachei no chão e fui verificar o estado do ferimento:

-Está inchado... – falei, rasgando uma manga de minha camisa e improvisando uma atadura – Broto... Isso vai doer... Eu vou contar até três, tá?

-Sim...

-Um... Dois... Três. – Lhe dei um beijo, ao mesmo tempo em que amarrei a faixa. – Doeu muito?

-Sim... Mas, graças a sua atitude, não senti a dor direito.

-Linda... – sorri, enquanto lhe fiz um carinho – Só que, infelizmente, essa faixa não vai ajudar muito. Eu vou te levar até um hospital, tudo bem?

-Contanto que você não saia do meu lado...

-Jamais vou te deixar, broto!

Tomei-a em meus braços e, antes de sairmos, dei as regras:

-Sofia... Já que a dona Fedra se enfio no quarto com Saga... Cuida aí para que ninguém faça zorra além da conta e Aiolos vigie o Quadradão... Ele está perdendo as estribeiras rápido demais.

-Opa! Pode contar comigo, irmãozinho!

#Narrador#

Sofia e Aiolos mantiveram o embalo até a hora em que a vontade de subir pra finalmente ficarem juntos foi maior. Aiolos deu ordens para que os funcionários organizassem a casa e pouco tempo depois a festa foi terminada por Sofia que subiu no palco e, sob os risos do sagitariano que parecia ser o mais sóbrio do grupo, pediu encarecidamente:

-TÁ, BANDO DE BEBUM... ACABOU A FESTA! XISPEM DAQUI!

Agnes e Shura só chegaram do Pronto Socorro no início da manhã, mas não fizeram nenhum alarde. Apenas entraram no quarto da loira, se despiram e ficaram juntos.


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Notas finais do capítulo

Antes das notas finais... O dicionáriozinho para vocês ficarem afiados nas gírias dos anos 70, chapas

Pão = Homem bonito.
segurei as pontas = aguentei
Qualé a bronca = Qual a dificuldade
mora = equivale a "entende"
vara = irritada
dar chilique = se irritar e agredir
escrachado = depravado
crocodilagem = Falsidade, trairagem
Chocrível = chocante + incrível
pacas = muito (usado até hoje na forma "pakas")
broto = mulher bonita (existe a variante "brota", que surgiu nos anos 80)
Nem que a vaca tussa = de maneira nenhuma
panaca metida a besta = equivalente ao "vadia estúpida" de hoje
fajuto = falso
fazer minha cabeça = conquistar, convencer
milonga = conversa fiada
xispa = vai embora, vaza
Botei pra quebrar = tomar uma decisão forte doa a quem doer
dar trela = cair na conversa
mocorongo(a) = pessoa sem atitude
esnobada = humilhada
incrementado = completo
mandando brasa = agir em situações, se divertir, transar, etc.
Seguinte = início de toda explicação
Cortar as asas = acabar com os planos
patota = grupo (geralmente de garotas)
lero-lero = conversa fiada
dar carão = negar-se a dançar com alguém (hoje é outra coisa)
grilando = preocupando, amolando
plá = conversa
mamado = bêbado
Saquei = entendi
Vidrado = apaixonado
baixar a bola = por a pessoa no lugar
Zinha = vadia
partir pro abraço = comemorar
dando sopa = dando mole, fácil
Sarfanagem = safadeza + sacanagem
soltar as pernas = trair
Quizumba = bagunça
qual é o babado = qual é o problema? (hoje babado é fofoca)
justa = polícia
papagaiada = presepada
bizu = informação
entrar no pau = brigar
escovar urubu = não fazer nada
cagona = medrosa
Pra lá de Marrakech = bêbado, chapado, mais louco que o Batman.
Broto quente = garota autêntica, a que manda, poderosa
Calibrado = bêbado

Saga saiu cantando (ou tentando) foi "Love to Love you baby" - Donna Summer.

+++++++
Acho que vamos acabar lançando um CD dessa Fanfic hahaha!
Tivemos uma divulgação na página do Manitroll esse sábado, um reconhecimento bacana... Seria legal se os leitores também dessem com reviews, né? Vocês são muito malvados!!!
Bom, ainda não sabemos se a Silene & cia irão voltar... Fica em aberto essa questão.

Esperamos que tenham gostado desse capítulo e deixem reviews, sim?
Caso não deixem, a Fedra fará vocês limparem molho de pimenta com a língua nos tapetes persas da casa dela HIHIHIHEHEHAHAHAHA

Dulces Besos de Chocolate ;*



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