Eu não podia acreditar. Melhor, eu não queria acreditar.

O homem que acabou com a vida do meu pai e com a minha vida era o pai daquele garoto que proporcionou meus poucos minutos de paz naquele inferno que minha vida havia se tornado.

Um brinde àquele nome, Norman Boyd. O maldito nome que desgraçou minha vida de todas as formas possíveis.

Passei as mãos pelo meu rosto e para minha surpresa ele ainda estava seco. Ainda.

- E-eu... – Eu não sabia o que dizer. O que eu deveria dizer? Não havia nada a ser dito.

Virei as costas e senti a mão de Garrett apertar meu braço de novo.

- Me deixe ir Gary, por favor... – Não havia mais forças para lutar. Meu corpo inteiro doía.

Aquela não era a pior sensação que já senti. A pior foi ver meu pai morto com um tiro em seu peito.

Por isso doía. Sabia que havia chegado a hora de escolher entre minha vingança ou um sentimento incerto, mas arrebatador.

- Pelo amor de Deus, não me peça para deixá-lo ir. – Seu tom de voz era desesperado. Senti meu corpo se chocar contra o de Garrett e fechei os olhos.

Fechei os olhos e guardei o quão macia sua pele era quando encostava à minha; Fechei os olhos e guardei o cheiro único que sua pele tinha.

O que eu sentia por Garrett estava me matando por dentro, mas aquilo tinha uma cura. E a cura estava ali, me apertando em seus braços.

Por isso não resisti quando ele me pegou no colo e me levou até a outra extremidade do corredor. Por isso não fugi quando ele me colocou no chão para abrir a porta de seu quarto.

Dor. Aquele era o sentimento que passávamos de um corpo para o outro por nossas bocas.

Nossos beijos eram lentos e cheios de sentimentos. Duravam muito, mas sempre queríamos mais e mais.

A mão de Garrett adentrou minha camiseta e eu deixei que seus dedos subissem até a faixa que apertava fortemente meus seios.

Eu era uma maldita egoísta. Estava deixando que Garrett descobrisse meu segredo para não ter que fazer a escolha. Deixaria que a escolha fosse tomada por ele.

Seus lindos olhos verdes se arregalaram. Sorri docemente. Seus dedos ágeis arrancaram o pedaço de pano que cobria meu tronco. Sorri encorajadamente. Puxou a ponta da grossa faixa e a desenrolou calmamente.

A faixa caiu aos meus pés e eu estava exposta à Garrett. Não apenas de corpo, de alma também.

Luxuria brilhou em seus olhos; Adoração.

Naquela noite a lua foi a testemunha. Testemunha da consumação de um ato que já era implícito desde o primeiro dia que nossos olhos se encontraram: Eu pertencia a Garrett.

--

- Te devo uma explicação, certo? – Enterrava meus dedos nos fios de cabelo macios. Observava o contraste de minha pele branca e seu cabelo negro.

- Só se quiser. – Eu precisava.  Ele havia me escolhido.

- Prometa para mim que vai me escutar até o fim. Deixe para me xingar, para fugir ou qualquer coisa do tipo quando eu terminar.

- Prometo. – Minha vingança estava em jogo, mas eu não conseguia me importar. Ele merecia saber a minha verdade.

- Meu nome é Eleanor Katherine Goodwin, eu tenho 17 anos e tenho um irmão gêmeo, Travis Benjamin Goodwin. Meu pai, Graham Goodwin foi assassinado há alguns meses e a polícia tem uma imensa lista de suspeitos, porém tenho apenas um. – Suspirei. Havia chegado a parte mais difícil de contar. – Meu pai vivia se queixando desse cara. Dizia que ele fazia mil e uma coisas para tirar meu pai da presidência de uma empresa que ele construiu. Um dia antes de ser assassinado meu pai disse que aquele cara havia ido longe demais, e que tiraria o mesmo da diretoria da empresa. – As lágrimas já se formavam em meus olhos. – Mas ele foi assassinado naquela noite.

- E quem era esse cara? O que isso tem a ver com a sua vinda para a Dover? – Apertei sua cabeça na curva do meu pescoço quando ele fez menção de levantar-se para me olhar. Já era difícil demais dizer aquilo sem olhar naqueles olhos.

- Eu vim para a Dover porque o suposto assassino do meu pai está aqui. – Tirei minhas mãos de seu cabelo para deixá-lo sair de meus braços quando jogasse a informação sobre ele. – Eu vim para a Dover porque o suposto assassino do meu pai se chama Norman Boyd.

Silêncio é definitivamente um som assustador. E era tudo que escutávamos naquele quarto.

Garrett levantou-se da cama e parou de frente para a parede, de costas para mim. Seu corpo estava coberto apenas pela boxer negra e a luz da lua batia contra sua pele fazendo a mesma brilhar. Seus longos braços abraçavam seu próprio corpo. Olhando de onde eu estava Garrett parecia uma criança. Indefeso; Desarmado daquele sarcasmo protetor.

Levantei-me e vesti a minha camiseta sem me importar em enrolar a faixa em meu corpo novamente.

- Fique. – Sua voz era rouca.

- Você precisa pensar, Gary. – Me abaixei para pegar meu jeans e quando me levantei o mesmo foi arrancado da minha mão e jogado do outro lado do quarto.

Senti meu corpo bater com força contra a parede e um soluço de surpresa escapou dos meus lábios. Antes que pudesse assimilar qualquer coisa senti o corpo de Garrett pressionado contra o meu com força.

Seu rosto escondido na curva do meu pescoço, suas mãos espalmadas em minhas costas me pressionando contra seu corpo. Levei minhas mãos até seu cabelo e as enterrei ali enquanto circulava sua cintura com minhas pernas.

- Eu já pensei. – Gemi baixinho quando senti o hálito quente contra minha orelha. Um beijo foi depositado do meu pescoço e eu apertei mais as pernas em sua cintura. – E eu vou ajudá-la a prender meu pai se ele realmente for o responsável para morte do seu pai.

Confesso que não esperava aquela reação de Garrett. Esperava que ele gritasse comigo, que até me batesse. Que me acusasse de ter me aproximado dele apenas por ele ser um Boyd. Desejava até que ele entendesse, mas jamais que fosse me ajudar a colocar o próprio pai atrás das grades.

E é por isso que estou perdidamente apaixonada por esse garoto.