A Última Filha escrita por Ariane Rosa


Capítulo 8
Capítulo Oito




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Dias se passaram e Noah nunca mais foi visto comigo. As pessoas pararam de me olhar, e me senti incomodada por isso.

O lugar no almoço onde ele se sentava ficou vazio, e minhas emoções também. Sentia-me péssima pelo o que eu fiz, mas era preciso, era o certo a fazer, mesmo que isso fosse doloroso, não é?

Minha vida agora se resumia em escola e casa. Sem caminhada noturna ou qualquer tipo de interação com o mundo. Passava à noite em meu quarto, só eu e meus pensamentos.

Eu não vivo mais como antes, tudo que eu havia conseguido se transformou em nada. Nossa amizade virou poeira, passado. Eu nunca admiti, mas eu o amava. Eu o amava tanto que tive que afastá-lo. Talvez tudo que tivemos fosse algo novo e especial ou talvez fosse algo no qual estávamos se segurando para não se perder no abismo. Mas o que importa agora? Acabou. Estamos sozinhos agora.

...

Eu estava na mesa olhando para meu prato ainda cheio de comida, quando John disse:

– Precisa comer, Haide.

Eu suspirei e disse sem o olhar:

– Não estou com fome.

Depois de alguns segundos de silêncio Olga perguntou:

– Vai sair hoje, querida?

– Não.

Mais uma pausa.

– Haide? – John me chamou.

Eu o olhei sem interesse algum.

– Já faz duas semanas. – Ele continuou sério.

Eu entendi o que ele quis dizer.

– Não está vivendo. Passa seu tempo no quarto, sabe-se lá fazendo o q...

– Eu... – Eu o interrompi hesitante. – Passo meu tempo estudando.

– Estudando o que? – Ele quis saber.

– Matemática. – Eu disse sendo o mais convincente possível.

Ele me olhou desconfiado e disse:

– Está mentindo.

Eu abaixei meu olhar e perguntei:

– Eu posso sair?

– Claro, querida. – Olga disse hesitante.

Eu me levantei rapidamente e saí.

Um tempo depois que estive olhando para a janela e a parede, escutei um bater abafado na minha porta.

– Entra. – Eu disse alto.

– Acho melhor se você vim abrir a porta pra mim. – Olga disse com a voz abafada.

Eu me levantei e abri a porta. Eu a olhei e vi que estava com duas xícaras na mão, e pelo cheiro parecia chocolate quente.

Eu sorri e disse:

– Entra.

Quando fechei a porta ela me deu a xícara e fui me sentar na cama. Ela se sentou ao meu lado e disse:

– Chocolate faz passar a magoa.

Eu a olhei sem acreditar.

– O que? Acha que eu não conheço um coração quebrado?

Eu olhei para o chão em silêncio.

– É aquele garoto? – Ela quis saber.

Eu balancei a cabeça positivamente.

– Ele magoou você?

– Não. Eu o magoei. – Eu disse ainda olhando para o chão.

– Por quê?

Eu geralmente odiaria perguntas, mas naquele momento eu precisava conversar.

– Porque eu sou o problema.

Olga suspirou e disse:

– Eu sei como se senti. Eu era um pouco deslocada na escola quando tinha sua idade.

Eu a olhei interessada nessa conversa.

– Eu era tímida e o John... Bom, ele tinha tudo. – Ela continuou com os olhos distantes. – John jogava futebol e namorava uma das líderes de torcida. E naquela época eu tinha uma quedinha por ele.

Eu dei um meio sorriso e perguntei:

– E então? O que houve?

Ela suspirou e disse:

– Eu me considerava o problema. Eu não era a garota certa pra ele. Mas então, numa festa, ele subiu no palco depois de uma música e terminou com sua namorada em público. E então ele olhou para multidão me procurando e quando me acho sorriu para mim e disse que me amava. E até hoje ele me prova o quanto me ama. Então, Haide, vale a pena tentar a sorte, se você realmente gosta daquele garoto deixo-o entrar na sua vida, não acho que irá se arrepender.

Eu sorri para e perguntei:

– E se não der certo?

– Por que acha que não vai dar certo? – Ela perguntou indignada.

Eu dei ombros.

Olga suspirou e disse:

– Haide, se tiver esse pensamento nunca dará certo.

Eu a olhei sabendo que era verdade. Para que eu e Noah dermos certos temos que trabalhar duro.

Eu suspirei e disse:

– Obrigada pelo conselho, ajudou muito.

Ela sorriu para mim e disse:

– De nada.

Então ela se levantou e saiu.

...

No outro dia andando pelo corredor da escola senti que algo estava errado, senti que algo iria acontecer, e foi quando que dois garotos grandes me pegaram um cada braço e me levaram rapidamente para uma sala. E quando já estávamos lá dentro, outro entrou com um capuz na cabeça e trancou a porta. Ele ficou ali parado alguns segundo antes de abaixar o capuz e se virar. Eu o reconheci instantaneamente.

Eu levantei a sobrancelha.

- Josh?

Ele me olhava mortalmente.

- O que está fazendo? – Eu perguntei.

- Me vingando. – Ele disse sério.

Eu ri amargamente e perguntei:

- Se vingando me mantendo aqui dentro?

Ele deu um sorri sombrio que fez meu sorriso murchar.

- O que vai fazer? – Eu perguntei séria.

- Fazer o mesmo que você fez comigo, só que vai ser com o seu namorado.

Eu o encarei friamente e disse:

- Se encostar um dedo no Noah, eu juro...

- Você não pode fazer nada. – Ele me interrompeu se aproximando de mim e apertando o meu rosto com uma de suas mãos. – Há muitos lá fora prontos para acabar com ele, e é só um telefonema...

Ele soltou meu rosto. Eu o olhei e disse:

- Mas e se algo acontecer agora? E se eu disser que você está blefando?

- Acha mesmo que eu estou blefando? – Ele perguntou sério.

Eu dei de ombro e fiz com que meu corpo ficasse tenso, e eu sabia que sair dali seria fácil.

- Melhor não brincar comigo. – Ele disse sério.

- Olha, Josh, eu vou te contar o que vai acontecer exatamente aqui dentro. Primeiro, vou acabar com esses dois mais rápido do que você possa dizer seu nome. E segundo, se o Noah não estiver como ele é eu vou te encontrar e te matar, mas isso só vai acontecer se você não me soltar.

Eles começaram a ri e então eu disse baixo:

- Eu avisei.

Eu fiz com que os dois que estavam me segurando batessem um contra o outro, eles caíram no chão e olhei para Josh. Ele me olhou surpreso e então tentou correr, mas eu o peguei pela jaqueta e o joguei contra a mesa. Segurei-o pelo pescoço e disse:

- Eu disse a você que iria te matar se algo acontecer com o Noah, e eu vou cumprir isso.

Eu o soltei e saí da sala. Eu olhei para os lados procurando por ele, mas nada dele. Do nada um dos garotos me pegou por trás e tentou me puxar para dentro da sala novamente. Eu pisei em seu pé, e ele instantaneamente me soltou, eu me virei e lhe dei um chute que o fez cair no chão, deslizar e bater contra uma parede do outro lado da sala. Eu me virei para o corredor e vi que todos me olhavam, então corri no meio da multidão, e torci para Noah estar em seu armário. E eu agradeci quando o vi lá. Eu o peguei pela mão enquanto corria e o puxei, mas ele puxou sua mão da minha violentamente. Eu parei e o olhei envergonhada. Já fazia um tempo desde que nós não nos víamos.

- O que está fazendo? – Ele perguntou sério.

- Não tenho tempo pra explicar, certo? Só venha.

Eu tentei pegar sua mão novamente, mas ele a afastou.

Eu olhei para cima frustrada e disse:

- Pare de brincar, Noah. Não tenho tempo pra isso.

Ele cruzou os braços e continuou a me encarar em silêncio.

- Ah, meu deus! – Eu gritei, mas saiu baixo nos sons dos outros alunos.

Eu suspirei irritada e disse:

- Certo. Noah fui uma idiota. E talvez eu nem mereça desculpas, mas não posso te deixar mais, pois preciso de você.

Ele estreitos os olhos e perguntou:

- Por que não me disse isso antes?

Eu dei ombros e o olhei triste.

Ele ficou em silêncio por alguns segundos e então suspirou e disse:

- Eu te perdoo.

Eu sorri para ele e disse nervosamente:

- Certo. Agora vamos.

Eu peguei sua mão e o puxei novamente, mas ele fez de novo.

- Espera. Você ainda não me disse o que está acontecendo.

Eu o olhei furiosa e antes que eu pudesse dizer alguma coisa, Josh vinha correndo do corredor do outro lado até nós com vários garotos atrás dele.

Então eu apontei para o grupo e disse:

- Aquilo.

Noah seguiu meu dedo com o olhar, e quando voltou a me olhar estava apavorado. E então corremos pelo corredor.

 - Como você conseguiu? – Ele perguntou enquanto corríamos.

- Lembra-se daquele dia no beco?

- Lembro.

- E então...

Noah olhou para trás e disse:

- Droga, Haide.

- Desculpa se salvei sua vida. – Retruquei.

Ele me ignorou, então pegou minha mão e viramos o corredor à esquerda. E ali mais a frente havia uma porta escrita Saída, então passamos por ela, saímos de detrás da escola, mas paramos bruscamente no último degrau da escada quando vimos uns garotos lá. Eles broqueavam o caminho, e o único jeito de passar seria lutando. E os outros que estavam vindo pelo corredor atrás de nós até aqui passaram pela porta com sorrisos nos rostos.

Eu olhei para Noah que parecia um pouco preocupado.

- E agora? Consegue me matar? – Josh perguntou com um tom irônico atrás de nós.

Eu o ignorei e disse para Noah:

- Noah, você viu algo naquela noite?

Ele me olhou e balançou a cabeça negativamente.

- Bem, hoje você verá. Pode se afastar um pouco?

Ele me olhou confuso e então deu um passo para o lado. E minhas mãos começaram a pegar fogo e foi quando o inferno começou.


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