A Última Filha escrita por Ariane Rosa
Dias se passaram e Noah nunca mais foi visto comigo. As pessoas pararam de me olhar, e me senti incomodada por isso.
O lugar no almoço onde ele se sentava ficou vazio, e minhas emoções também. Sentia-me péssima pelo o que eu fiz, mas era preciso, era o certo a fazer, mesmo que isso fosse doloroso, não é?
Minha vida agora se resumia em escola e casa. Sem caminhada noturna ou qualquer tipo de interação com o mundo. Passava à noite em meu quarto, só eu e meus pensamentos.
Eu não vivo mais como antes, tudo que eu havia conseguido se transformou em nada. Nossa amizade virou poeira, passado. Eu nunca admiti, mas eu o amava. Eu o amava tanto que tive que afastá-lo. Talvez tudo que tivemos fosse algo novo e especial ou talvez fosse algo no qual estávamos se segurando para não se perder no abismo. Mas o que importa agora? Acabou. Estamos sozinhos agora.
...
Eu estava na mesa olhando para meu prato ainda cheio de comida, quando John disse:
– Precisa comer, Haide.
Eu suspirei e disse sem o olhar:
– Não estou com fome.
Depois de alguns segundos de silêncio Olga perguntou:
– Vai sair hoje, querida?
– Não.
Mais uma pausa.
– Haide? – John me chamou.
Eu o olhei sem interesse algum.
– Já faz duas semanas. – Ele continuou sério.
Eu entendi o que ele quis dizer.
– Não está vivendo. Passa seu tempo no quarto, sabe-se lá fazendo o q...
– Eu... – Eu o interrompi hesitante. – Passo meu tempo estudando.
– Estudando o que? – Ele quis saber.
– Matemática. – Eu disse sendo o mais convincente possível.
Ele me olhou desconfiado e disse:
– Está mentindo.
Eu abaixei meu olhar e perguntei:
– Eu posso sair?
– Claro, querida. – Olga disse hesitante.
Eu me levantei rapidamente e saí.
Um tempo depois que estive olhando para a janela e a parede, escutei um bater abafado na minha porta.
– Entra. – Eu disse alto.
– Acho melhor se você vim abrir a porta pra mim. – Olga disse com a voz abafada.
Eu me levantei e abri a porta. Eu a olhei e vi que estava com duas xícaras na mão, e pelo cheiro parecia chocolate quente.
Eu sorri e disse:
– Entra.
Quando fechei a porta ela me deu a xícara e fui me sentar na cama. Ela se sentou ao meu lado e disse:
– Chocolate faz passar a magoa.
Eu a olhei sem acreditar.
– O que? Acha que eu não conheço um coração quebrado?
Eu olhei para o chão em silêncio.
– É aquele garoto? – Ela quis saber.
Eu balancei a cabeça positivamente.
– Ele magoou você?
– Não. Eu o magoei. – Eu disse ainda olhando para o chão.
– Por quê?
Eu geralmente odiaria perguntas, mas naquele momento eu precisava conversar.
– Porque eu sou o problema.
Olga suspirou e disse:
– Eu sei como se senti. Eu era um pouco deslocada na escola quando tinha sua idade.
Eu a olhei interessada nessa conversa.
– Eu era tímida e o John... Bom, ele tinha tudo. – Ela continuou com os olhos distantes. – John jogava futebol e namorava uma das líderes de torcida. E naquela época eu tinha uma quedinha por ele.
Eu dei um meio sorriso e perguntei:
– E então? O que houve?
Ela suspirou e disse:
– Eu me considerava o problema. Eu não era a garota certa pra ele. Mas então, numa festa, ele subiu no palco depois de uma música e terminou com sua namorada em público. E então ele olhou para multidão me procurando e quando me acho sorriu para mim e disse que me amava. E até hoje ele me prova o quanto me ama. Então, Haide, vale a pena tentar a sorte, se você realmente gosta daquele garoto deixo-o entrar na sua vida, não acho que irá se arrepender.
Eu sorri para e perguntei:
– E se não der certo?
– Por que acha que não vai dar certo? – Ela perguntou indignada.
Eu dei ombros.
Olga suspirou e disse:
– Haide, se tiver esse pensamento nunca dará certo.
Eu a olhei sabendo que era verdade. Para que eu e Noah dermos certos temos que trabalhar duro.
Eu suspirei e disse:
– Obrigada pelo conselho, ajudou muito.
Ela sorriu para mim e disse:
– De nada.
Então ela se levantou e saiu.
...
No outro dia andando pelo corredor da escola senti que algo estava errado, senti que algo iria acontecer, e foi quando que dois garotos grandes me pegaram um cada braço e me levaram rapidamente para uma sala. E quando já estávamos lá dentro, outro entrou com um capuz na cabeça e trancou a porta. Ele ficou ali parado alguns segundo antes de abaixar o capuz e se virar. Eu o reconheci instantaneamente.
Eu levantei a sobrancelha.
- Josh?
Ele me olhava mortalmente.
- O que está fazendo? – Eu perguntei.
- Me vingando. – Ele disse sério.
Eu ri amargamente e perguntei:
- Se vingando me mantendo aqui dentro?
Ele deu um sorri sombrio que fez meu sorriso murchar.
- O que vai fazer? – Eu perguntei séria.
- Fazer o mesmo que você fez comigo, só que vai ser com o seu namorado.
Eu o encarei friamente e disse:
- Se encostar um dedo no Noah, eu juro...
- Você não pode fazer nada. – Ele me interrompeu se aproximando de mim e apertando o meu rosto com uma de suas mãos. – Há muitos lá fora prontos para acabar com ele, e é só um telefonema...
Ele soltou meu rosto. Eu o olhei e disse:
- Mas e se algo acontecer agora? E se eu disser que você está blefando?
- Acha mesmo que eu estou blefando? – Ele perguntou sério.
Eu dei de ombro e fiz com que meu corpo ficasse tenso, e eu sabia que sair dali seria fácil.
- Melhor não brincar comigo. – Ele disse sério.
- Olha, Josh, eu vou te contar o que vai acontecer exatamente aqui dentro. Primeiro, vou acabar com esses dois mais rápido do que você possa dizer seu nome. E segundo, se o Noah não estiver como ele é eu vou te encontrar e te matar, mas isso só vai acontecer se você não me soltar.
Eles começaram a ri e então eu disse baixo:
- Eu avisei.
Eu fiz com que os dois que estavam me segurando batessem um contra o outro, eles caíram no chão e olhei para Josh. Ele me olhou surpreso e então tentou correr, mas eu o peguei pela jaqueta e o joguei contra a mesa. Segurei-o pelo pescoço e disse:
- Eu disse a você que iria te matar se algo acontecer com o Noah, e eu vou cumprir isso.
Eu o soltei e saí da sala. Eu olhei para os lados procurando por ele, mas nada dele. Do nada um dos garotos me pegou por trás e tentou me puxar para dentro da sala novamente. Eu pisei em seu pé, e ele instantaneamente me soltou, eu me virei e lhe dei um chute que o fez cair no chão, deslizar e bater contra uma parede do outro lado da sala. Eu me virei para o corredor e vi que todos me olhavam, então corri no meio da multidão, e torci para Noah estar em seu armário. E eu agradeci quando o vi lá. Eu o peguei pela mão enquanto corria e o puxei, mas ele puxou sua mão da minha violentamente. Eu parei e o olhei envergonhada. Já fazia um tempo desde que nós não nos víamos.
- O que está fazendo? – Ele perguntou sério.
- Não tenho tempo pra explicar, certo? Só venha.
Eu tentei pegar sua mão novamente, mas ele a afastou.
Eu olhei para cima frustrada e disse:
- Pare de brincar, Noah. Não tenho tempo pra isso.
Ele cruzou os braços e continuou a me encarar em silêncio.
- Ah, meu deus! – Eu gritei, mas saiu baixo nos sons dos outros alunos.
Eu suspirei irritada e disse:
- Certo. Noah fui uma idiota. E talvez eu nem mereça desculpas, mas não posso te deixar mais, pois preciso de você.
Ele estreitos os olhos e perguntou:
- Por que não me disse isso antes?
Eu dei ombros e o olhei triste.
Ele ficou em silêncio por alguns segundos e então suspirou e disse:
- Eu te perdoo.
Eu sorri para ele e disse nervosamente:
- Certo. Agora vamos.
Eu peguei sua mão e o puxei novamente, mas ele fez de novo.
- Espera. Você ainda não me disse o que está acontecendo.
Eu o olhei furiosa e antes que eu pudesse dizer alguma coisa, Josh vinha correndo do corredor do outro lado até nós com vários garotos atrás dele.
Então eu apontei para o grupo e disse:
- Aquilo.
Noah seguiu meu dedo com o olhar, e quando voltou a me olhar estava apavorado. E então corremos pelo corredor.
- Como você conseguiu? – Ele perguntou enquanto corríamos.
- Lembra-se daquele dia no beco?
- Lembro.
- E então...
Noah olhou para trás e disse:
- Droga, Haide.
- Desculpa se salvei sua vida. – Retruquei.
Ele me ignorou, então pegou minha mão e viramos o corredor à esquerda. E ali mais a frente havia uma porta escrita Saída, então passamos por ela, saímos de detrás da escola, mas paramos bruscamente no último degrau da escada quando vimos uns garotos lá. Eles broqueavam o caminho, e o único jeito de passar seria lutando. E os outros que estavam vindo pelo corredor atrás de nós até aqui passaram pela porta com sorrisos nos rostos.
Eu olhei para Noah que parecia um pouco preocupado.
- E agora? Consegue me matar? – Josh perguntou com um tom irônico atrás de nós.
Eu o ignorei e disse para Noah:
- Noah, você viu algo naquela noite?
Ele me olhou e balançou a cabeça negativamente.
- Bem, hoje você verá. Pode se afastar um pouco?
Ele me olhou confuso e então deu um passo para o lado. E minhas mãos começaram a pegar fogo e foi quando o inferno começou.
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