Ele estava me olhando. De longe dava para perceber. Tentei ignorá-lo assim que percebi que vinha andando ao meu encontro.

- Bom dia Helena! – ele me olhou nos olhos.

- Bom dia. – respondi desviando novamente o olhar.

- O que você está fazendo aqui? As aulas foram canceladas!

- O que? Canceladas? Como assim? – fiquei confusa.

- Ontem a noite, a Diretora Olívia me ligou e disse que só faltava me avisar sobre uma reforma que está ocorrendo nas salas de aula, e no encanamento, devido a isso os alunos ficarão mais um mês sem aula.

“Um mês? Acho que vou surtar!”

- O que você disse? – ele me olhou confuso.

- Nada! Pensei alto demais. Mas porque ela não me ligou?

- Ela deve ter esquecido, ou algo do tipo.

- Ahm, tudo bem. Vou até a sala dela ver se precisam da minha ajuda para alguma coisa.

- Ela não está aqui. Disse que ia para a academia. Fiquei sem entender quando ela me disse, mais resolvi não perguntar.

Rene narrando ~~

- Academia? – ela perguntou surpresa e logo depois soltou uma gargalhada.

Ri junto com ela.

Tenho que admitir, não sei como havia passado esse fim de semana longe dela. Estar com ela, estar do lado dela me deixa...sem palavras! Mas havia algo nela que estava me incomodando, talvez seja a aparência dela. Sua pele estava pálida, com olheiras profundas no rosto. Ela aparentemente estava muito fraca. Não dava para negar.

- Pois é, para você ver. Quem diria que a diretora da Escola Mundial pratica exercícios físicos. – respondi.

Novamente ela sorriu e depois ficou séria. Caminhou até o banco do pátio, sentou-se. Não sabia se era uma boa ideia tentar me aproximar, mas precisava descobrir o que estava acontecendo com ela. Me dirigi até o banco onde ela estava.

- Posso me sentar?

Ela não respondeu.

- Helena, o que está acontecendo?

Ela virou-se para mim, me deixando com alguma esperança de resposta, mais não houve nenhuma. Pegou o material que havia colocado no banco e foi para a sala dos professores. Resolvi não segui-la. Fui até o portão da escola ver se algum dos decoradores precisavam de ajuda. Mais não. Então voltei para o pátio. Estava ligando para minha mãe quando eu e a Helena nos esbarrando. Os livros e cadernos caíram no chão e me abaixei para pegar.

- Deixa que eu pego – pedi, mais ela já estava abaixada no chão junto comigo.

- Não precisa.

Enquanto eu à ajudava a recolher o material percebi que haviam cortes, ou melhor, algumas recentes cicatrizes em suas mãos.

- Helena, o que é isso nas suas mãos?

- Nada!

- Me diz o que está acontecendo... por favor!

Helena narrando ~~

- Não insista Rene, eu não quero falar sobre isso... de novo.

- Me deixa te ajudar! – ele me olhava, implorando por ouvir o que eu tinha  a dizer.

- Infelizmente não dá.

O deixei sozinho no pátio da escola enquanto fui para o carro. Entrando nele coloquei o material no bando de trás e olhei para minhas mãos.

“Droga!”

Repeti para mim mesma.

“ O que ele queria? Que eu contasse para ele que essas cicatrizes foram feitas assim que ele saiu da minha casa, depois que eu havia brigado com ele. Ou eu até mesmo poderia falar: Ah Rene, é que logo depois que você saiu, me deu um ataque de surtos e raiva de mim mesma, então subi para o meu quarto e comecei a destruir tudo o que tinha pela frente.”

- Ótimo Helena! – falei comigo mesma – além de estar com a própria vida, está acabando com a vida de uma das pessoas que mais te ama.

Chacoalhei a cabeça para me livrar dos pensamentos das noites anteriores. Antes de ligar o carro, resolvi ligar para a Clara.

“Helena: Clarinha, é a Helena”

“Clara: Oi Helena!”

“Helena: Então Clara, será que dá para eu passar ai na sua casa? Queria ver a Maria Joaquina, estou precisando me distrair.. sabe como é.”

“Clara: Pode sim Helena, tenho certeza que ela vai ficar feliz em te ver.”

“Helena: Tudo bem, estou indo.”

Liguei o carro e fui para a casa dela. Chegando lá, foi a empregada que atendeu a porta.

- Oi professora Helena, entre.

- Olá Joana! Estou fora da escola então pode me chamar apenas de Helena.

- Sim senhorita.

- Apenas Helena, Joana.

Ela riu e concordou. Quando ela saia da sala, Clara estava descendo as escadas que davam acesso aos quartos.

- Oi Helena, fico feliz que tenha vindo.

- Oi Clara, precisamos conversar, mais primeiro queria ver a Maria Joaquina.

- Joana, por favor, vá chama-la.

- Sim Senhora!

Enquanto elas não vinham, fiquei conversando com a Clara. Contei sobre o que havia ocorrido agora pouco com o Rene.

- Mais e ai Helena, o que ele disse?

- Que queria saber o motivo disse. – disse mostrando minhas mãos para ela.

- E o que você falou?

- Nada né?

- PROFESSORA HELENA!

Era a Maria Joaquina que descia rapidamente as escadas.

- Oi minha linda! – respondi dando um abraço nela. – como está?

- Estou bem, fiquei sabendo  que vamos ficar mais um mês sem aulas, é verdade?

- É sim minha querida, dei uma passadinha na Escola para ver como estavam as coisas. Estão reformando as salas de aula.

- Que pena, queria ver meus amigos logo!

- Ligue para eles virem aqui filha. – Clara falou num tom suave.

- Posso mesmo mamãe?

- Claro que sim!

- Obrigado! Agora com licença.

Ela me deu mais um abraço e subiu para o quarto.

- Tenho que ir também Clara!

- Nada disso, você vai terminar de me contar a história com o Rene.

- Tenho outra alternativa?

- Não! – ela respondeu rindo.

Ficamos conversando por mais de duas horas, eu já havia contado tudo o que tinha que contar para ela e logo em seguida fui embora para casa.

Continua...