Não sabia o que falar. Ainda não havia feito sentido as palavras de Rene na minha cabeça.

- A Suzana quer você fora do caminho dela.

- O que eu fiz? – perguntei ainda sem entender.

- Ela sabe que eu te amo, e ela já tentou me seduzir várias vezes enquanto estávamos em Los Angeles. E também naquela noite no restaurante.

- E ela acha que me matando vai fazer você me esquecer? – falei com raiva e me arrependi, porque ele desviou seu olhar de mim e saiu do carro. Depois virou e disse.

- Eu nunca vou deixar de te amar, e se for pra você morrer, ela vai ter que me matar primeiro.

Foi tudo o que ele disse. O vi subindo as escadas até chagar na portaria. Depois ele entrou no prédio.

As palavras que ele havia dito ainda ecoavam na minha cabeça.

“A Suzana quer você fora do caminho dela.”

- Eu preciso dar um jeito nessa maluca. – falei para mim mesma.

Fui para casa. Já tinha me irritado demais. Chegando lá minha mãe via TV.

- Para quem ia na delegacia, você demorou.

- Sem brincadeiras tá? – respondi ainda irritada.

- O que houve Helena? Eu só te fiz uma pergunta.

Acabei descontando minha raiva na minha mãe.

- Ai mãe, desculpa. – sentei no sofá ao lado dela e deitei a cabeça em seu ombro.

- Me conta o que aconteceu? – ela disse tentando ajudar.

- A Suzana, uma amiga ou sei lá o que do Rene,  quer me matar.

Ela riu.

- O que que é? Não estou brincando. O Rene me contou tudo o que ela fez em Los Angeles quando eles se conheceram lá, foi ela que organizou o meu sequestro, e ela tá de “caso” com o Delegado Silveira.

- O Delegado Silveira? – ela me olhou assustada.

- Pois é, cheguei na delegacia e ela estava lá, se “oferecendo” para ele, que por fim nem prestou atenção no que eu havia falado do sequestro, e fez pouco caso da situação.

- Mais Helena, a gente tem que tomar uma providência.

- Fica tranquila mãe, o Rene...

“Ai o Rene” pensei comigo mesma. Eu havia falado o que não devia para ele, e agora ele está chateado comigo. Subi para meu quarto sem falar nada para minha mãe.

- Mais Helena ... – ela ficou falando sozinha enquanto eu subia as escadas.

- Depois a gente se falar. – berrei lá de cima.

Cheguei no meu quarto eu me joguei na cama com meu celular nas mãos. Enviei uma mensagem para ele.

Eu: Rene, me desculpa por hoje, me desculpa pelo o que eu falei dentro do carro.

Ele: Fica tranquila, não precisa pedir desculpas.

Eu: Mais eu fui grossa com você, e pelo visto, te ofendi.

Ele: Helena esquece!! Temos um problema maior para resolver.

Eu: Obrigado por isso. :)

Ele: Tudo bem.

Depois de trocar alguns SMS’s com ele, eu resolvi tomar um banho. Eu estava tensa.

No banheiro, as palavras dele invadiram minha mente.

“Temos um problema maior para resolver.”

- E que problema – repeti para mim.

Havia acabado de tomar banho, me sequei e coloquei uma roupa simples, um vestido curto e florido. Era fresco e leve pois estava muito quente.

Resolvi ficar no meu quarto mesmo, e deitei novamente na cama, mais meu estômago falou mais alto, eu estava morrendo de fome, faziam mais de 6 horas que não comia. Então, desci para a cozinha onde encontrei minha mãe sentada na mesa, chorando.

- Mãe, o que foi? – falei assustada me sentando do lado dela.

- Não é nada. – respondeu secando as lágrimas e disfarçando o choro.

- Mãe.. – implorei

- Helena, você já parou para pensar que toda vez que você se relaciona, tem algum contato ou se envolve com o Rene você corre perigo?

- Essa história de novo não, por favor! – me levantei da cadeira e peguei alguma coisa no armário.

- Mais é verdade.

- Olha mãe, depois que tudo isso se resolver eu não sei o que vai acontecer..

- Provavelmente vão te traficar para outro estado. – ela falou ironicamente, mais senti um pouco de tristeza na voz dela.

Acabei ignorando o que ela havia dito.

- Continuando, eu não sei o que vai acontecer, mais isso tudo vai mudar. Eu estou pensando em comprar uma casa no Rio para gente. Ai tudo vai mudar. – dei um beijo na sua bochecha e subi para o quarto.

Sentei na minha escrivaninha e comecei a olhar alguns desenhos dos meus alunos quando ouvi meu celular vibrando em cima da cama. Era o Rene.

Ele: A gente precisa se ver, eu descobri uma coisa que pode desmascarar a Suzana. Ou melhor, que vai desmascará-la.

Eu: É melhor mesmo. Minha mãe já está surtando aqui, colocando a culpa em você de novo.

Ele: Talvez seja. :(

Eu: Ah não Rene, até você? Eu não quero falar sobre isso.

Ele: Tudo bem, eu estou passando na sua casa pra te pegar e depois vamos no Starbucks para conversarmos.

Eu: Ok!!

Já que eu estava com o vestido não vi motivos para trocá-lo. Fiquei com ele mesmo, só coloquei a mesma rasteirinha que havia usado para ir a delegacia. Passei um perfume que costumo passar sempre, arrumei o cabelo e fiquei esperando ele chegar. Não demorou nem 5 minutos e meu celular vibrava de novo.

Ele: Estou aqui na porta da sua casa. Nem vou entrar, sua mãe deve estar chateada comigo.

Nem respondi. Apenas joguei o celular dentro da bolsa e desci para a sala.

- Mãe vou sair.

- Onde você vai?

- Starbucks! – respondi rápido.

- Com quem?

- Rene. – não deu tempo dela responder, eu já havia batido a porta.

O carro dele estava parado na frente de casa.

- Devia ter entrado. – disse entrando no carro.

- Está cheirosa. – ele me olhava.

Ignorei seu comentário.

- Vamos? – perguntei.

- Vamos!

Não demorou muito para chegarmos lá, o Starbucks ficava a 3 quadras da minha casa.

Ficamos em silêncio no caminho todo. Chegamos lá e sentamos numa mesa.

- Então, o que você descobriu?

- É mais pelo o que vamos fazer. – ele me olhava satisfeito com sua ideia.

- O que?

- Hoje a noite a Suzana vai ter um encontro com o Delegado Silveira e com os “capangas” que te sequestraram. É a única chance que temos de desmascará-los e provar que eles estão por trás do seu sequestro.

- E o que eu vou fazer? O que vamos fazer?

- Eu estava pensando: eu sei em qual flat a Suzana está, e sua mãe sabe onde o Delegado mora, então..

- Rene você não está pensando em ...

- HELENA! – ele berrou – claro que não.

- Continua – respondi satisfeita.

- Então, eu comprei essas “mini câmeras” , são totalmente invisíveis, você só precisa coloca-la no Delegado, e eu na Suzana, assim gravaremos tudo o que eles conversarem, e com certeza vão falar sobre seu sequestro e como você fugiu dos caras.

- No Delegado é fácil, e você? Como vai colocar isso na Suzana? – perguntei um pouco alterada.

- Eu tenho meus jeitos.

- Hum – fiz bico.

- Ai que linda, ficou com ciúmes.

- Não fiquei! – me levantei da mesa e fui pagar meu café, tinham 2 pessoas na minha frente na fila. Encostei na parede e tive que admitir que havia ficado com ciúmes do que ele poderia fazer para colocar aquela câmera na Suzana.

Ele foi atrás de mim.

- Eu estava brincando. E não veja coisas onde não tem que ver. Eu não vou fazer nada com a Suzana, você sabe que é você que eu amo.

- Me dê a câmera que eu vou fazer minha parte logo. – mudei de assunto, porque querendo ou não, ele ainda mexia comigo.

- Está no carro. Vamos.

Deixei o dinheiro no balcão e entramos no carro. Ele me deu a câmera.

- Me deixe na casa do delegado. – falei determinada a acabar logo com isso.

- Está aqui. – ele disse entregando-a em minha mão.

- O Delegado moro no “Prédio Cortez” aquele em frente a praia.

- E você sabe qual o apartamento dele? – senti um pouco de ciúmes na voz dele.

- Sei!

Ele não respondeu apenas ligou o carro e seguiu até o prédio do Delegado.

Continua ...