Chuva torrencial. Um por cima do outro. Rostos a centímetros de distância. Se um de nós fizesse um simples movimento pra frente, nossos lábios se encostariam. E dessa vez eu queria. Muito. E justamente por isso, por eu querer beijá-lo, ele saiu do transe em que se encontrava por olhar fixamente em meus olhos, me empurrou delicadamente para o lado e me pediu desculpas. Sério?! Logo agora?!
- Desculpa! Foi completamente sem querer! - Ele disse com as mãos para o alto, como se em sinal de rendição.
- Ok, sem problemas.- Eu disse calmamente. Até porque dessa vez o problema não era a aproximação, e sim a falta dela. Sério, já tiveram três ou quatro vezes em que a gente quase se beijou desde que a gente se conheceu, e ele sempre queria (não que eu não quisesse em nenhuma das outras vezes, eu só não estava preparada) e eu cortava o clima. Quando eu finalmente estou disposta... A vida vem e me trolla.
- Eu acho melhor a gente ir. Com essa tempestade a gente vai acabar doente.
Assenti e fomos caminhando até em casa, que não era muito longe, pelas partes cobertas da calçada, evitando ao máximo a chuva torrencial. No meio do caminho, recebo uma mensagem da Lou me chamando pra ir dormir na casa dela, eu e a Claire. Respondo que vou.
Andamos o caminho quase todo em um silêncio, mas era um silêncio até que agradável. Chegamos à porta da minha casa e a chuva tinha se transformado em um leve chuvisco. Convidei Will pra entrar.
- Mãe, o Will tá aqui! - Gritei para qualquer canto da casa.
- Mamãe saiu. - Ian disse descendo a escada. Então ele se dirigiu ao Will - Oi, eu sou o Ian, irmão da Jane.
Pois é, eu tenho um irmão mais novo. Ian tem 14 anos, cabelos negros, pele morena e olhos cor de âmbar. Ele é muito bonito, tenho que admitir. Mas é uma peste, um diabinho. Especialista em suborno e chantagem. Mas eu o amo mesmo assim.
- Will. - O próprio disse se apresentado.
- Ah, então você é o famoso Will. Eu já ouvi falar muito de você. - A cobra disse com um sorriso safado no rosto (que meio que já era a sua expressão habitual). - Então você é o namorado dela?
- Não! - Nós dissemos rapidamente. Claro que eu não deixei de pensar "mas bem que poderia ser".... Então peguei uma almofada e joguei no demônio. - Sai daqui!
Ele foi embora rindo satisfeito.
- Então, essa é a peste do meu irmão. - Eu disse e então começamos a conversar. Fomos pra cozinha, lanchamos e conversamos por cerca de 15 minutos. Então lembramos de que ambos estávamos encharcados.
- Muito obrigada pela "aula". - Eu disse encaminhando-o até a porta e fazendo aspas com as mãos.
- Não foi nada. Eu gostei muito da nossa tarde, se quiser repetir...
- Ok. - Fiquei na ponta dos pés para dar um beijo em sua bochecha, mas o beijo acabou sendo no canto da boca. - Até amanhã, então.
- Até. - E com isso ele foi embora. Fechei a porta e subi para o meu quarto. Olhei-me no espelho. Como tinha levado O banho de chuva, o meu sutiã preto estava completamente visível pela minha camisa branca de botões. Meu cabelo estava, não me pergunte como, bonito apesar de toda a chuva. Eu estava sexy. Nahh! Provavelmente eu bati a cabeça com força na hora do tombo. Então eu me lembrei daquele momento, do quanto eu queria que nós tivéssemos nos beijado.
Fui tomar um banho quente, perfeito para pensar. Mas todos os meus pensamentos me levaram a ele: William Charles Beckendorf. Pensei em quando nos conhecemos; quando nos encontramos no colégio; no selinho de Hannah; nas nossas caminhadas no caminho do colégio; na mensagem que ele tinha enviado pra Lou perguntando sobre Tyler; em como ele reagiu de forma estranha por causa de Tyler; no momento no carro dele hoje mais cedo; em quando cantamos Yellow; na história da janela; no tombo; na despedida na porta da minha casa. Percebi que duas das ocasiões de quase beijo envolveram bicicletas e tombos. Mas então descobri outra coisa, uma coisa que preferia não assumir nem para mim mesma, afinal o conhecia havia três dias. Mas não conseguia esconder isso. Precisava falar com Lou e Claire sobre a minha nova descoberta. Então lembrei-me de que tinha marcado de ir dormir na casa de Lou.
Saí do banho e coloquei uma regata florida, um short jeans e as sandálias rasteiras que havia usado hoje mais cedo. Prendi meu cabelo em uma trança espinha de peixe lateral. Estava bem simples, mas bonita. Arrumei minha mala e mandei uma mensagem pra Lou avisando que já estava saindo de casa. Então lembrei de que não tinha avisado à minha mãe que ía dormir fora.
Saí do meu quarto e percebi que ela ainda não havia chegado do trabalho. Liguei pro celular dela e conseguir avisá-la. Ela deixou, mas disse que qualquer coisa eu fosse pra casa da minha avó que mora perto de Lou.
Estava saíndo de casa quando fui interceptada por Ian.
- Tá indo aonde, mana?
- Na casa da Lou, vou dormir lá.
- A mamãe vai demorar pra chegar em casa?
- Não sei. Por quê? O que você tá aprontando? - Perguntei desconfiada
- Nossa , que juízo você faz de mim, maninha... - Ele fingiu-se ofendido.
- Desembucha logo.
Ele suspirou pesadamente e então falou:
- Sabe a Amy?
- A menina que você gosta?
- É. Então, eu fiz uma burrada gigante com ela e eu preciso consertar. E eu preciso da sua ajuda. Ele parecia estar falando sério.
- O que você fez?
- Isso não importa agora. Eu só preciso que você concorde que vai me ajudar amanhã. Por favor, ela é muito importante pra mim.
Eu juro que eu estava perplexa. Nunca tinha visto o Ian assim.
- Você tem a minha ajuda. - Eu disse por fim. E o sorriso de alívio que ele deu por fim foi completamente satisfatório.
- Valeu, mana. - Ele disse e me deu um abraço rápido de lado. - Boa noite. - Ele disse e subiu as escadas. Nós brigávamos, é verdade, mas Ian e eu tínhamos uma relação de cumplicidade muito grande, dividíamos tudo. E eu gostava disso.
Saí de casa e o taxi que eu havia chamado estava na porta. Entrei e percebi que o carro do Will não estava por lá. Cheguei na casa da Lou por volta das 17:40. Toquei a campainha e mãe dela, Anne, abriu a porta.
- Oi querida! A Lou tá no quarto com o Will, pode entrar lá.
- Obrigada, tia.
Quer dizer que o Will tava aqui...
Cheguei no quarto e a porta estava entreaberta. Estava prestes a bater na porta quando ouvi Will dizendo o meu nome. Então fiquei escutando a conversa. Sei que é errado, tudo e tal, mas eu não resisti.
- Eu passei a tarde com ela hoje. - Will disse.
- E aí? - Louise insistiu para ele continuar a falar.
- A gente quase se beijou de novo. - A cara de Lou estava :D - Mas dessa vez foi completamente sem querer. A gente escorregou e ela caiu por cima de mim, mas eu me afastei.
- POR QUÊ?! - Lou estava BEM animada.
- Porque em todas as outras vezes ela se afastou. A gente se conheceu há três dias. Ela não quer nada comigo...
- E você? Quer alguma coisa com ela?
Eu mal podia esperar pra ouvir a resposta. Quando ele estava prestes a dizer... A vida me trollou de novo e Taylor Swift começou a cantar Red a toda altura no meu celular. Então eles perceberam que eu estava ali. Fingi que tinha acabado de chegar, dei um oi rápido e atendi o celular. Minha avó.
- Oi, vó.- Disse meio desanimada, afinal queria saber a resposta dele para a pergunta de Lou.
- Oi, querida - A voz inabalável da minha avó Grace veio do outro lado da linha. Sua mãe me disse que você vai dormir na casa da sua amiga Louise. Só quero te avisar que, qualquer coisa, é só vir aqui. Ouviu bem, querida?
- Certo, vó.- Respondi. - Eu vou ter que desligar agora, ok? Beijo.
- Pra você também.
Então eu deixei de ouvir a resposta pra ouvir minha avó falando algo que minha mãe já tinha me dito. Tipo, vó, eu te amo, mas PÉSSIMA HORA!
- Oi, Jane! - Lou se levantou e me abraçou.- Faz muito tempo que você tá aqui? - Claro que ela perguntou isso por causa de Will.
- Não, quando eu ía bater na porta, meu celular tocou. - Mentirinha branca.- Oi, Will.- Ele se levantou e me abraçou.
- Oi. Desculpa gente, mas eu tenho que ir agora. - Quando ele disse isso, eu me virei para colocar minha mochila na poltrona do quarto, que ficava perto do espelho, Pude ver pelo mesmo o símbolo de "depois a gente continua" que Will fez pra Lou. - Minha mãe deve estar preocupada.
- Tchau. - Eu e Lou dissemos juntas. Quando ele abriu a porta do quarto, ele esbarrou em Claire. Os dois se cumprimentaram rapidamente e Will foi embora. Claire entrou no quarto, colocou as coisas dela no canto e então nós sentamos na cama de Lou.
- Então, vamos falar sobre o que? - Claire perguntou.
- Eu preciso contar uma coisa pra vocês.- Eu disse. - Eu descobri isso hoje de tarde, não tenho certeza se é verdade ou não...
- Desembucha logo!- Claire disse me dando um tapinha leve no braço.
Dei um longo suspiro e então falei:
- Eu acho que eu tô gostando do Will.