O caminho para a casa dos Pierce foi silencioso, Brittany dirigia pelas ruas quase automaticamente, já que olhava para a frente muito raramente, Santana tinha a visão perdida no painel do carro, segurando nas mãos a caixa de madeira, apertava seus cantos até os nós dos dedos ficarem brancos, e era isso que preocupava a loira, as unhas batendo na tampa de porcelana, os lábios ressecados pela respiração ofegante... Brittany conhecia aquilo até demais, ela sabia de todos os sinais, como se fosse seu próprio corpo, e aquele sinal... Era de pânico. 

- San, calma, pare com isso, me conte o que aconteceu, por favor? - pediu, quase implorando, tentando não tirar os olhos da estrada. - como assim não é seu pai? Antonio não é seu pai? 

- Brittany... Eu prometo que vou explicar quando chegarmos, ok? - pediu a latina, os olhos levemente lacrimejados, ela ainda sentia como se tivesse levado um soco no estômago, uma dorzinha lá no fundo, como uma fratura ou sangramento interno, seja lá o que isso significasse.

O resto da viagem se passou em um silêncio quase devastador, as duas sentiam como se houvesse um abismo enorme entre elas, Santana passou as unhas pelo cadeado que havia fechado antes de sair, se perguntava silenciosamente se deveria tê-lo aberto para começo de conversa, mas se esse Simon era seu pai, onde ele estava? Por que aquela carta nunca havia chegado até ele? Muitas perguntas rondavam sua cabeça naquele momento. O carro estacionou na frente da garagem da casa azul dos Pierce, as duas desceram, Santana não tinha contato visual com a namorada e Brittany a olhava preocupada, as duas entraram em casa, o primeiro andar estava silencioso, mas um barulho de televisão vinha do andar de cima, as duas subiram e encontraram Theo dormindo com Hannah no sofá enquanto passava "Monstros S.A" na TV de tela plana.

- Vamos para o quarto. - pegou a mão da morena e a puxou pelo corredor até seu quarto, obrigando-a a se sentar na cama. - Vamos lá, eu quero ouvir tudo. Começando por essa caixa. - gesticulou para o artefato que a latina ainda segurava, percebendo que não tinha sido ouvida, se ajoelhou de frente para a garota. - Santana, o que aconteceu? Por favor... Fale comigo... - a garota olhou a namorada com os olhos lacrimejados e começou a falar, ela disse tudo, sobre a carta, as lembranças, os documentos, a caixa e os livros, Brittany apenas ouvia tudo, franzindo o cenho enquanto tentava entender algumas partes, quando a latina terminou, as duas se abraçaram, Brittany apertou o corpo de Santana contra si e beijou seus cabelos escuros, fechou os olhos com força e só desejou um milhão de vezes que Santana não tivesse que passar por isso.

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A água escorria pela porcelana clara e descia pelo ralo de inox prateado, ao mesmo tempo que encharcava os cabelos escuros e respingava na fina cortina com desenho de patinhos amarelos. A garota morena se encolheu, encarando os azulejos azuis, os olhos inchados e os lábios roxos de frio, a loira entrou no banheiro devagar, cautelosamente e de forma cuidadosa, puxou a cortina e viu a latina ali encolhida como uma bola.

- Santy... - ela sussurrou, cautelosa, fazendo a morena erguer os olhos devagar. - eu fiz sanduíche... - falou, sorrindo fracamente. - Aquele de peito de peru com maionese que você adora.

- Pode... Deixar no quarto eu como mais tarde... - ela falou com desinteresse. Brittany crispou os lábios, então desabotoou o short e começou a descê-lo, Santana a olhou, curiosa. - o que está fazendo? 

- Mantendo você aquecida. - afirmou, tirando a blusa e desabotoando o sutiã, ela entrou na banheira e se inclinou sobre o corpo da latina, que apertou seu corpo contra o da loira e escondeu o rosto em seu pescoço, algumas lágrimas começando a descer. - o que você quer fazer? - perguntou, aquela era a primeira vez que perguntava quanto a alguma decisão da parte de Santana.

- Eu preciso achá-lo. - a latina disse, as lágrimas sendo lavadas pela água gelada enquanto ela se agarrava cada vez mais á Brittany, como se quisesse unir seus corpos em um. - eu sinto que preciso... Mesmo que Antonio seja um tirano, ele me criou, me deu comida, um lar e me deu amor... Mas esse... Esse Simon, era quem minha mãe amava... Ele é meu pai... - falou, como se tivesse percebido isso agora. - e eu preciso conhecê-lo, ao menos saber... Onde ele mora, quem ele é. 

- Estarei ao seu lado para o que precisar. - Brittany disse, ela pouco se importava de estar molhada, entendia o que sua Sant deveria estar sentindo agora, passara a vida toda pensando que sua mãe era uma devotada esposa fiel, que vivia pelo marido e pelos filhos e que seu pai era o simpático, porém egocêntrico Dr. Antonio Lopez, agora, descobria que sua falecida mãe tinha traído seu pai e que seu pai nem sequer era seu pai. - Vamos sair dessa água gelada. - pediu, a morena assentiu fracamente e as duas saíram de debaixo da água.

...............

Os resultados para Simon Torres em uma busca no Google deram 128.894 resultados, a maioria muito pouco relevantes, Santana analisava a tela, procurando por alguma coisa. Apagou o que tinha escrito na barra de busca e digitou novamente "Simon Torres Ohio". Esse trouxe resultados mais interessantes, o site da Ohio State University tinha registros de um professor de história chamado Simon Paul Torres. E no site do Lima College também tinha menções na página dos professores, ele havia lecionado história lá entre 1992 e 1994, na época em que Santana nasceu, achou uma foto, um homem de pele morena, olhos escuros e cabelos castanhos um pouco encaracolados, também tinha um site para contato, ele era divorciado e dava aulas em um colégio em Akron, tinha o telefone e endereço, ela imprimiu tudo e saiu da biblioteca rapidamente para encontrar Britt no Lima Bean, ela não iria descansar enquanto não o encontrasse, só não sabia que ele estava mais próximo do que imaginava.

- Hey Sant, achou algo? - perguntou a loira, dando um selinho na latina. 

- Tem um Simon Paul Torres que dá aula na Ohio State University de Akron, a duas horas daqui, tem o telefone, endereço e algumas informações nessa página da internet que eu achei, aqui diz que ele é divorciado duas vezes e tem três filhas. - disse Santana, frenética, as mãos tremendo de nervoso.

- Acha que é ele? - Brittany perguntou, temerosa.

- Acho que sim, ele estava em Ohio no ano que eu nasci... - falou a morena. - eu realmente não queria contatá-lo pelo telefone, mas não sei se teria coragem de ir até Akron sem saber de alguma coisa antes... 

- Então liga para ele, fala com ele, mas não revela tudo, só diz que é sobre Eleanor e pergunta se pode vê-lo amanhã, aí quando encontrá-lo você coloca as cartas na mesa, fala o que você descobriu, entrega a carta e pergunta na lata. - Brittany falava, acariciando a mão da namorada e deslizando o telefone pela mesa de madeira. A latina pegou um telefone e digitou rápido com as mãos trêmulas, uma parte dela queria que ele não atendesse, mas uma voz feminina atendeu depois de dois toques curtos.

- Alô? - perguntou uma mulher.

- Alô, quem fala? - perguntou. - poderia me dizer se o Simon está? 

- Sou a filha dele, Emily, acho que está lá fora, espere um segundo. - falou, Santana respirou fundo, poderia estar falando com sua irmã. Ouvia sussurros do outro lado. - Pai! É uma garota, não, não se identificou. 

- Alô? - dessa vez era uma voz masculina. 

- Alô, é Simon Torres? - Santana tremia tanto que sentia que ia desmaiar, Brittany apertou sua mão por sobre a mesa, lhe passando apoio.

- Ele mesmo. - disse o homem, curioso.

- É sobre Eleanor Lopez. - o homem soltou um gemido confuso e ficou em silêncio por alguns segundos, Santana sentiu que talvez aquele assunto fosse ainda mais delicado para ele. 

- Fale. - pediu por fim.

- Preciso encontrá-lo pessoalmente, estaria livre amanhã ás quatro? - perguntou a latina. 

- Claro. - falou, parecendo um pouco ofegante.

- Até. - avisou Santana e desligou sem se despedir.