Scorpius POV:

O barulho do despertador soou forte em meus ouvidos, interrompendo o sonho que já havia fugido da minha cabeça, mas que merda, eu pensava toda vez que o objeto interrompia os meus sonhos, já que eu praticamente nunca conseguia me lembrar de sequer algum deles. Com uma batida forte, apertei o botão que fez o barulho insuportável parar de soar em meus ouvidos e abri meus olhos, o quarto estava escuro como esperado, estivera assim quase todos os dias, já que durante as férias inteiras só resolvia me deitar quando o Sol dava sinal de vida lá fora. Na maior parte do tempo, fiquei jogando meus video-games trouxas, às vezes lia algum livro ou tentava alguma coisa diferente, mas a verdade é que eu odiava as férias, odiava ter que ficar longe de tudo, principalmente dos meus amigos, chegava a ver alguns deles durante as férias, meu melhor amigo Albus sempre me convidava para passar alguns dias em sua casa e às vezes ele até vinha à minha, mas eu continuava sentindo falta de se aventurar com ele pela escola, de fazer coisas de verdade. Hoje era o dia em que tudo isso iria acabar, primeiro de setembro, um dos melhores dias do ano na minha opinião, tudo recomeçava de novo, porém dessa vez eu estava a caminho do meu sétimo e último ano em Hogwarts, o que significava que eu nunca mais pegaria aquele expresso novamente. Ainda tinha que me preocupar com os N.I.E.M's, o que me parecia a pior coisa do mundo, levando em conta que esse era o último ano não só meu, mas de muitas outras pessoas, e se preocupar com testes era provavelmente uma das últimas coisas que todos nós queríamos. Por fim, levantei e me direcionei até as cortinas para deixar o Sol entrar pela janela, olhei para o relógio e ainda era cedo, mesmo assim não queria correr o risco de me atrasar e perder meu último expresso de Hogwarts, abri então a porta do meu quarto e fui atravessando a casa até chegar ao andar de baixo, esperando encontrar meus pais acordados e possivelmente um café da manhã me esperando na mesa.

Rose POV:

– Rose! Acorda! - ouvia uma voz me chamando de volta para a realidade.

– Relaxa Hermione, ainda faltam quatro horas para o trem sair!

– Você não é a melhor pessoa para dizer isso Ronald, levando em conta que já perdeu o trem uma vez.

– Pega leve Hermione, não foi totalmente culpa minha. - a voz de meu pai tentava se defender, quase sem sucesso, dos argumentos de minha mãe.

– Será que nunca vamos ter um minuto de sossego nessa casa? - disse, finalmente abrindo meus olhos e encarando os rostos com expressões indecifráveis de meus pais.

– Olha só quem acordou Ronald, acho que você deveria preparar o café da manhã, sem queimar nada dessa vez. - minha mãe continuou provocando, enquanto pegava pilhas de roupas restantes do meu ármario e jogava dentro de meu malão.

– Rose, você deveria ter terminado de arrumar tudo isso ontem!

– Calma mãe! -disse, me esforçando para levantar da cama com o sol que entrava pela janela, batendo em meu rosto.

– Também não quero levar todo o meu guarda-roupa para a escola. Quase todo, mas não todo. - expliquei, finalmente de pé e com a visão desembaçada. - E então pai, vamos ter café da manhã ou não? - encarei ele, abrindo um leve sorriso e esperando por uma resposta.

– Acho que vou precisar de alguma ajudinha. - ele disse, retribuindo o sorriso enquanto saíamos do quarto em direção a cozinha. Daqui a algumas horas eu iria pegar meu último expresso de Hogwarts e quase não conseguia acreditar nisso. Tudo havia passado tão rápido, era impossível acreditar que a escola estava acabando, sentia que ainda faltava muita coisa para acontecer.

Scorpius POV:

– Bom dia filhão. - meu pai me cumprimentou, enquanto eu tomava meu lugar na mesa para o café da manhã.

– Bom dia pai, mãe - disse acenando com a cabeça para os dois e estendendo minha mão para alcançar um pedaço de torrada ao longo da mesa.

– Ansioso? - minha mãe perguntou, enquanto os dois olhares, dela e de meu pai, se dirigiam automaticamente para mim.

– Não muito, quero dizer... eu já fiz isso antes, certo? - falei, dirigindo meu olhar de um para o outro.

– Mas esse é seu último ano, é para ser diferente, pelo menos um pouco. De qualquer forma, não se preocupe, não é como se uma guerra fosse acontecer. - meu pai tentou me tranquilizar da forma mais inútil possível.

–Draco! - minha mãe logo o repreendeu. - Vai ser tudo ótimo Scorpius, ignore qualquer coisa que seu pai faça para tentar tranquiliza-lo, se é que essa é a intenção, tente apenas encarar isso como mais um ano, tenho certeza que você ainda vai continuar vendo seus amigos depois que a escola terminar.

– Tudo bem mãe, eu to bem, afinal, nada de muito ruim pode acontecer. Como você disse, isso é só mais um ano de escola, talvez eu deva até ficar um pouco feliz por acabar logo. - disse, mesmo sabendo que isso não era verdade, não queria que a escola acabasse de jeito algum. Terminamos o resto do café conversando sobre as notícias do mundo mágico, como quase sempre, depois resolvi subir para o meu quarto e conferir minhas coisas, dar adeus aos meus video-games e qualquer coisa trouxa que eu não poderia levar para a escola. O tempo acabou passando rápido, e depois de conferir tudo umas duas vezes comecei a arrastar meu malão pela casa, até chegar ao andar de baixo onde meu pai me ajudou a colocar tudo no carro. Voltei até o porão para pegar a minha vassoura, que estava guardada ali fazia um bom tempo, e então subi de volta para onde o carro estava esperando e a coloquei no porta-malas ao lado do meu malão.

Já tinha minha licença para aparatar, porém por incrível que pareça, meu pai preferia ir do jeito que sempre fomos para a plataforma. Tínhamos um portal na mansão com o qual podíamos passar de carro e sair em uma rua trouxa pouco movimentada em Londres, onde a névoa também cobria qualquer rastro de magia que nós provavelmente deixávamos.

Por fim, entrei no banco de trás do carro e meu pai se posicionou no volante, alguns minutos depois minha mãe chegou e sentou no banco da frente. Ouvi o barulho do carro sendo ligado e começamos a seguir o caminho, rumo ao portal, rumo à Hogwarts.

Rose POV:

Eu e meu pai descemos até a cozinha e começamos a preparar um café da manhã simples: ovos e bacon. Mesmo assim, ele parecia se complicar com uma coisa tão simples, sempre fora assim, todos nós já estávamos acostumados, mas isso não era algo que fizesse com que não gostássemos dele, na verdade, eu não poderia desejar um pai melhor que Ronald Weasley.

Com o café quase pronto, meu irmão Hugo também foi acordado por minha mãe, que parecia ainda mais preocupada do que nós dois juntos em chegar atrasada.

– Bom dia Huguinho. - disse para provocar, esse era o meu trabalho como irmã mais velha, ele já estava acostumado eu acho, porque nem se irritava mais, só me dirigiu uma careta, como sempre, enquanto se sentava em uma das cadeiras ao redor da mesa. Me sentei ao lado dele, enquanto meu pai se sentou em frente a mim, e logo depois minha mãe finalmente desceu, tomando o lugar ao lado dele.

– Malas prontas. - ela avisou sorridente, provando seus ovos. - Nada mal Ron.

– Vou levar isso como um elogio. - meu pai disse, esboçando um leve sorriso.

– Será que podemos pular a discussão da comida hoje? -Hugo sugeriu, praticamente devorando seu prato.

– Ótima ideia. - concordei, tentando comer o mais rápido possível.

– Parece bastante ansiosa Rose. - minha mãe comentou, com o olhar fixo em mim.

– Claro que não Hermione, é só a fome, sei como é isso. - meu pai logo interveio, e com isso minha mãe desviou o olhar para seu café da manhã novamente, continuamos todos em silêncio.

Hugo foi o primeiro a terminar de comer e logo se retirou da mesa. Alguns minutos depois, terminei e fiz o mesmo, subindo de volta para o meu quarto. O relógio indicava que ainda faltavam duas horas para o trem sair, mas era bom eu já ir começando a me preparar. Fechei então meu malão e o deixei perto da porta, olhei mais uma vez pelo meu quarto para ver se não tinha deixado nada para trás, aparentemente não, o fato de que não tinha mais nada para fazer ali indicava que eu estava certa. Deitei em minha cama e fiquei esperando até meu pai aparecer alguns minutos depois e usar um feitiço de levitação para levar minha mala até o carro, segui ele em direção ao mesmo e fiquei esperando no banco de trás.

O tempo estava passando, restava quase apenas uma hora quando minha mãe, meu pai e Hugo apareceram no carro. Com a ajuda de meu avô, meu pai havia enfeitiçado o carro para que ele pudesse voar. Mesmo assim, o caminho era grande até a plataforma. O carro ligou e começamos a voar, quase na metade do caminho Hugo gritou:

– ESQUECI MEU CACHECOL!

– HUGO WEASLEY! - minha mãe já veio gritando em seguida. - QUANTAS VEZES EU DISSE PARA VOCÊ REVISAR SUAS COISAS? QUANTAS VEZES?

– É SÓ UM CACHECOL HUGO, DEIXA PRA LÁ. - agora eu também estava irritada e preocupada em me atrasar.

– VOCÊ NÃO ENTENDE ROSE, EU PRECISO DELE! - ele gritou. - Por favor pai! - começou a implorar, parando apenas quando o maldito Ronald deu a volta no carro e voltou para casa. Até chegarmos lá e Hugo pegar a merda do cachecol, já faltavam apenas meia hora, meu pai acelerou o carro, eu sentia que não íamos chegar agora, mas tínhamos que chegar, eu não podia perder meu último expresso de Hogwarts. O tempo ia passando, 20 minutos, 10 minutos, faltavam só 5 minutos quando finalmente estacionamos em frente a plataforma, meu pai tirou as malas rapidamente do carro.

– Corram, estamos logo atrás de vocês. - ele disse e eu e Hugo disparamos até a barreira da plataforma 9 3/4, eu na frente e ele atrás, era o mínimo que ele podia fazer por ter causado todo o atrasado. Atravessei barreira da plataforma e soube que o trem já estava pronto para partir quando vi o lado de fora praticamente sem nenhum aluno, apenas os pais que esperavam. Junto com Hugo, deixei minhas malas e saltamos para dentro do trem. Ufa, foi tudo o que pensei. Adentramos pelos corredores onde as cabines ficavam e todas pareciam estar lotadas, Hugo rapidamente encontrou seu grupo de amigos e decidiu ficar por uma das primeiras cabines.

– Vou ficar por aqui maninha. - foi só o que disse, forçando um sorriso enquanto fechava a porta da cabine na minha cara. Continuei adentrando o trem, cada vez mais fundo, parecia ser impossível achar minhas amigas, ou qualquer conhecido. Já estava começando a ficar cansada, o pior de tudo é que isso parecia indicar um terrível início de ano letivo. Finalmente me entregando, sentei no chão do corredor sem saber o que fazer, onde diabos todo mundo havia se metido?

Scorpius POV:

A viagem até Londres foi tranquila, quando chegamos até a plataforma ainda faltava cerca de 20 minutos para o trem partir. Me despedi dando um abraço forte em meus pais e por último um beijo no rosto da minha mãe, enfim embarquei no trem e sai procurando uma cabine vazia, a maioria no começo já continha algumas pessoas, mas não demorei para achar uma completamente vazia. Entrei e me sentei em um dos bancos, o mais perto possível da janela, achei meus pais lá fora, acenei para eles uma última vez antes de partir para Hogwarts.

– ACHEI QUE NUNCA IA ENCONTRAR VOCÊ MALFOY! - ouvi o grito de um rosto conhecido na porta da cabine, e levei um susto.

– Puta merda Albus, você quase me matou. - disse, me levantando.

– Essa era a intenção. - ele riu e me cumprimentou com um rápido abraço. - Então Malfoy, como foram o resto das suas férias?

– Normais. -respondi, sentando novamente no banco.

– Sentiu minha falta, certo? - Albus riu mais uma vez e se sentou no banco em minha frente.

– Errado Potter, errado. -respondi, rindo junto, mesmo sabendo que havia sentido falta do amigo. Ficamos ali conversando sobre as férias e começando a falar sobre o último ano na escola até o trem começar a andar.

–Ei Malfoy, por que não vai procurar o carrinho de doces no corredor e traz alguma coisa para a gente? - Albus sugeriu.

– Talvez porque eu esteja com preguiça de me levantar e sair por ai. -respondi, em seguida refletindo e concluindo que havia passado quase todos os dias de minhas férias em casa, e que deveria começar a fazer as coisas de sempre, incluindo deixar a preguiça de lado. -Ok, eu vou. - disse, por fim me levantando e saindo para fora da cabine. Antes de dar sequer dez passos de distância, a primeira coisa com a qual me deparei foi o rosto que eu menos, ou mais, queria encontrar, Rose Weasley.

Desde o primeiro ano aquela garota havia me deixado louco, não conseguia passar mais de alguns minutos sem começar a agir diferente com ela. Tudo nela era perfeito, os cabelos ruivos, os olhos, os lábios, todos os detalhes que imensas vezes havia parado para reparar. Ela estava ali sozinha, sentada no chão do corredor, o que me deixou extremamente curioso, mas mesmo assim ainda dava tempo para me direcionar para o outro lado e fingir que não tinha visto ninguém, foi ai que a maldita ruiva resolveu virar o olhar e me encarar.

– Rose. - eu disse esboçando um sorriso no rosto, sem saber o que fazer.

– Scorpius. - ela disse sorrindo. Por que precisava sorrir? Isso só piorava tudo. - Como foi de férias? - me perguntou, ainda com um sorriso formado em seus lábios.

– Muito bem. - respondi. - E você?

– Muito bem também, obrigada. - ela disse com uma leve risada.

– Hã... algum motivo especial para estar ai sentada no chão? - perguntei, me sentindo um extremo idiota, não sabia o que falar, mas não queria estragar aquela conversa.

– Na verdade não, só que todas as cabines estão lotadas e não consigo encontrar nenhuma das minhas amigas. - ela disse, soltando outra risada curta.

– Acho que o Albus não se importaria se você ficasse na nossa cabine. -disse rindo no mesmo tom.

– E você, se importaria? - merda, por que ela tinha que perguntar isso? Comecei a sentir que eu poderia começar a suar a qualquer momento, estava ficando nervoso, por que diabos eu estava ficando nervoso? Não tenho nenhum motivo para ficar nervoso, ela é só uma garota, comecei a pensar comigo mesmo.

– Eu? Claro que não, somos amigos, não é? - foi a melhor coisa que consegui dizer, e me arrependi no mesmo momento.

– É, claro. - ela concordou.

– E aí, você vem? - tomei estupidamente coragem e estendi minha mão para Rose. Ela não respondeu minha pergunta, apenas segurou minha mão e se levantou sorrindo.

Comecei a caminhar pelo corredor apertado do trem, voltando para a cabine, com Rose logo atrás de mim, sem soltar minha mão! Infelizmente, chegamos rápido à cabine, abri então a porta e entrei, seguido pela ruiva.

– Quando disse para você trazer doces, não quis dizer minha prima. - Albus brincou, enquanto eu e Rose nos sentávamos lado a lado, em frente a ele. Eu apenas sorri. - Tudo bem, podemos esperar pelo carrinho. - ele completou indiferente.