POV Thales

Era o primeiro dia de aula. Eu tinha acabado de entrar no banco do passageiro e ao meu lado estava meu pai, que ia trabalhar após me levar à escola. Minha mãe, que era dona de casa, estava acenando para nós dois, com um sorriso no rosto. Ela estava orgulhosa de mim, pois, como ela se gabava, passei com notas excelentes para o 2º do ensino médio.

– E, então, Thales...
– O quê? - Empurrei, com a ponta do dedo indicador, meus óculos.
– Tá ansioso pra ir pra escola?
– Tô normal, pai. - Eu respondi, indiferente.
Logo, peguei meu celular e chequei meu facebook, twitter, etc.

POV Eduarda

Eu, que estou, agora, no 1º ano do ensino médio, estava indo para minha nova escola. Eu estava no banco traseiro, minha mãe ocupava o banco do passageiro e meu pai estava dirigindo. Meus pais trabalhavam no mesmo local. Eles não davam muita atenção para mim, mas sei que eles tentam.
– Chegamos. - Meu pai parou o carro.
– Tchau, filha. Qualquer coisa, manda mensagem. - Minha mãe disse.
– Está bem. - Coloquei a cabeça entre os bancos e eles beijaram minhas bochechas.
– Vai com Deus, meu anjo. - Meu pai disse.
Sai do carro e entrei na escola.
Eu não queria conversar muito com qualquer pessoa, então fui ver a lista para ver em que sala fui parar.
– Me desculpe. - Um menino disse, depois de esbarrar em mim.
– Tudo bem. - Eu sorri, afinal, foi sem querer.
Fui indiferente, assim como ele, e continuei procurando a lista das salas. Eu estava com muita dificuldade para achar meu nome.
– Será que você pode me ajudar a achar a lista da minha sala? - Eu disse para o menino que esbarrou em mim.
– E como eu vou saber?
– Não sei. Eu só pedi. - Olhei estranho para ele.
– Sei... - Ele olhou desconfiado(?) - Pelo menos sabe qual é a sua sala?
– É... Bem... Não...
– Então, como quer que eu te ajude?
– Olha só, não precisa. - Fui me afastando aos poucos. - Seu grosso. - Sussurrei.
– Desinformada.
– O quê? - Virei meu rosto e vi ele olhando para o celular com o corpo apoiado na parede.
– Desinformada! - Ele disse, pausadamente, com os olhos em mim, desta vez.

– Eu vou te mostrar quem é a desinformada!

POV Thales

Ela estava prestes a me dar um soco. Fiquei apenas parado. Esperando. Destemido.

– Ei! - Minha irmã segurou a mão dela. - Não bata nele.

A menina me encarou. O sinal bateu e ela saiu andando.

– Por que você saiu mais cedo de casa, Fernanda?

– Por nada, Thales. - Ela ia andando, até que segurei seu braço.

– Se você estiver se encontrando com o Pedro, eu conto pros nossos pais! - Sussurrei.

– Se eu estiver saindo com ele ou não, o problema é meu! - Ela tirou o braço dela da minha mão, com brutalidade.

Ela subiu para a sala de aula dela e eu fui subindo para a minha. Entrei na sala e avistei alguns alunos diferentes e, entre estes, a menina que queria me bater.

– O que esses idiotas estão fazendo aqui? - Pedro disse, depois de chegar na sala, logo atrás de mim.

– Está se incluindo entre estes idiotas, certo? - A menina, que estava na primeira cadeira da fileira do canto da janela, que quase me bateu disse. Todos riram e Pedro ficou sem graça. Acho que era a primeira vez que isso acontecia com ele. Ninguém tinha essa audácia a ponto de desafiá-lo. Pedro apenas silenciou.

– Não deve falar assim, Pedro.

Pedro era meu amigo. Ele era uma pessoa boa, mas se envolveu com más companhias e anda assaltando alguns comércios. Ele já me chamou para fazer parte disto, mas não tenho coragem. E não tenho vergonha de dizer sobre a minha "falta de coragem" a ele, que ri sempre que toco nesse assunto.

– Vai defendê-los, agora, Thales? - Ele disse, gritando.

– Como assim? Defendê-los, agora? - Pedro abaixou a cabeça. - Do que você tá falando?

– Nada, nada! - Ele disse, com ignorância. - Será que você pode pelo menos me deixar sentar aí? - Ele disse para a menina.

– Por quê? - Ela disse, com expressão irônica.

POV Eduarda

– Não me venha com outra resposta! Me deixe sentar aí porque não estou disposto a aguentar brincadeiras daqueles idiotas lá do fundo. - Ele se abaixou pra falar isso, sussurrando.

– Está bem. - Ergui as mãos na altura da cabeça. Peguei minha mochila e sentei na última cadeira.

– E agora você vem e senta do meu lado? - Era o menino que eu quase dei um soco lá no pátio. Ele estava com a expressão séria. Séria até demais para eu acreditar que era mesmo sério, até que ele sorriu. - Posso saber pelo menos o seu nome?