Indiana Jones e o Mistério do Báltico escrita por Goldfield


Capítulo 4
Capítulo 3




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Capítulo 3


Desencontros e encontros.

 

O trio seguiu em frente ocultado pelas árvores nas proximidades da clareira, o ronco de motores fazendo-se mais uma vez ouvir. Temeram ser oriundo de mais snowmobiles, porém o som agora tinha um quê de diferente, levando a crer que pertencia a outro tipo de veículo. Confirmaram essa impressão logo que se deslocaram mais alguns metros adiante: um pequeno comboio de caminhões, todos adaptados para neve, deixava a área por uma estrada de terra. Nenhum destacamento inimigo ou mero soldado ficara para trás. Kriegüer muito provavelmente era levado embora dali sem que os agentes pudessem fazer nada.

         Droga! – praguejou Jones depois de uma rápida e vã tentativa de correr atrás dos transportes alemães. – Estão fugindo!

         Não há algum jeito de descobrirmos para onde vão? – questionou Sophia.

         Há sim, na verdade! – lembrou Mac. – A Resistência nos forneceu um mapa da região, não? Não podemos saber através dele para onde segue essa estrada?

Toda aquela urgência acabara fazendo com que Indy se esquecesse de tal detalhe. O mapa mencionado pelo parceiro inclusive se encontrava consigo. Tateou a parte de baixo das vestes por um minuto e logo o retirou, desdobrando-o diante do amigo e da ruiva, que chegaram mais perto para poderem examiná-lo melhor. Com certa facilidade encontraram nele o local onde estavam no momento, já que antes o arqueólogo fizera um “X” a caneta indicando o chalé do professor. Em seguida perceberam uma linha pontilhada que se iniciava nas proximidades e se dirigia até o litoral, o trajeto possuindo cerca de três ou quatro quilômetros. Tinham quase certeza de que representava o caminho tomado pelos nazistas.

         De acordo com isto, a estrada termina... – Hapgood pensou em voz alta enquanto um de seus dedos indicadores acompanhava o traçado da linha.

         Numa pequena vila de pescadores! – completou Indiana, erguendo a face. – É provável que a partir dela os alemães sigam por mar... Se corrermos, ainda há chances de os alcançarmos e salvarmos Heinrich antes que deixem a Noruega!

O norte-americano então dobrou de novo o mapa e tornou a guardá-lo, seus passos já se dirigindo por instinto até a via que deveriam percorrer. Sophia e Mac trocaram um olhar de cumplicidade, o britânico dando uma piscadela para a jovem, à qual esta respondeu com um sorriso debochado, e passaram a acompanhar o aventureiro. Ainda tinham pela frente uma longa e arriscada jornada...

 

O singelo povoado de Eksund, habitado por aproximadamente mil pessoas, estava situado à beira do mar, mais precisamente ao final de um dos fiordes que recortavam toda a costa norueguesa. Em meio à paisagem de montanhas, pinheiros e até algumas geleiras, as casas da vila conservavam um aspecto medieval, constituindo-se em sua maioria de sobrados de madeira, suas paredes brancas cortadas por vigas e tábuas marrons e os telhados triangulares compostos por telhas impecavelmente dispostas. Chaminés brotavam ora aqui ora ali, de algumas subindo colunas de fumaça rumo ao céu cinzento.

Os moradores seguiam suas rotinas naquela tarde, a maior parte dos homens ocupados no cais cuidando das embarcações que utilizavam na pesca de bacalhau. Até que, pela estrada que constituía o único acesso por terra ao povoado, algo inusitado surgiu. O comboio de caminhões nazista venceu em alta velocidade as últimas curvas do trajeto e em seguida adentrou triunfante as pequenas ruas da localidade. Sob os olhares curiosos de seus habitantes, os veículos estacionaram diante de um conhecido bar que ali existia, também um sobrado, os soldados alemães então os deixando e se dividindo em dois grupos. O primeiro entrou no estabelecimento e o segundo, muito bem armado, permaneceu de guarda do lado de fora.

Foi com espanto que os nativos viram também, sendo empurrado para o interior do recinto, um homem já de certa idade amarrado e amordaçado, ameaçado por, além dos combatentes estrangeiros, uma mulher que parecia comandar todas aquelas tropas a brados nervosos. Logo sumiram dentro do bar, os que presenciaram a cena se perguntando que destino teria aquele provável prisioneiro...

Cruzaram rapidamente o térreo do lugar, passando por várias mesas nas quais pescadores e marinheiros, alguns deles se assemelhando a guerreiros vikings com seus músculos avantajados, barbas compridas e tatuagens nos braços, jogavam conversa fora e se embriagavam sem dar a mínima importância ao que acontecia em volta. Os recém-chegados dirigiram-se até uma escada ao fundo do ambiente, logo ao lado do sujo balcão atrás do qual um corpulento bartender, tendo às costas um armário repleto de bebidas, esfregava de forma monótona uma flanela pela bancada imerso em incomparável ressaca.

Os nazistas e seu refém venceram os degraus rumo ao piso superior, cruzando uma porta destrancada ao término da subida. O andar inteiro parecia se resumir a um amplo depósito; caixas, sacos e barris amontoados por toda parte. No centro do local havia uma velha cadeira de balanço que desmontaria sem grande esforço, sendo nela alojado o prisioneiro, amarras e mordaça removidas. Kriegüer, trêmulo, teve novamente a imagem da cruel oficial loira diante de seus olhos. Ela retirou a viseira e o traje de peles, este sendo imediatamente apanhado por um dos soldados, que o dobrou e permaneceu segurando-o de maneira solícita. O tronco agora lhe era coberto apenas por uma blusa preta de lã, que por sinal definia muito bem seu belo busto. Franzindo as sobrancelhas, o professor julgou finalmente ter reconhecido aquele rosto:

         No começo não conseguia me lembrar, mas agora sua fisionomia foi identificada em minha mente... Você estudou em Leipzig, não estudou? Se bem que, quando deixei a universidade, era ainda apenas uma caloura!

         Isso faz mais de dez anos, herr Kriegüer. Eu agora já estou trabalhando em minha tese de doutorado.

         Doutorado? Pergunto-me a respeito do tema... Mas qual era mesmo seu sobrenome? Ah, lembrei! Vogel, não é? Você é filha de Ernst Vogel, aquele troglodita!

A jovem cerrou os dentes e os punhos, desferindo um soco contra a face de Heinrich. Sentindo os dentes e as gengivas latejarem, concluiu que ela herdara muito bem o defeito paterno que acabara de destacar.

         Quem pensa que é para falar assim do meu pai? Você é apenas um traidor da sua pátria e da sua raça! Ernst Vogel morreu bravamente pela causa ariana, e pretendo morrer, se for preciso, da mesma forma que ele!

E como Kriegüer desejava isso! Bem que poderia ser naquele mesmo momento. Thor não seria capaz da gentileza de enviar um raio fulminante para desintegrar aquela mulher? Tudo que não queria era permanecer ali impotente ouvindo aquele discurso de fanatismo hitlerista!

         Mas, você mencionou a curiosidade em saber do que trata minha tese de doutorado... – continuou a tenente-coronel, os passos de suas botas sobre o assoalho denotando certo entusiasmo. – Há alguns anos, pouco antes do início da guerra, eu me juntei à Ahnenerbe. Participei de diversas expedições ao redor do planeta com o intuito de encontrar indícios da milenar superioridade da raça ariana.

         Por que não organizaram uma equipe para encontrar o Papai Noel? Seria mais fácil e produtivo...

         Apesar de grande progresso, não nos deparamos com provas conclusivas... Até agora, herr Kriegüer!

O sorriso que surgiu no semblante da militar retratava com perfeição suas atuais ambições e anseios.

         Acho os relatos sobre a cidade de Vineta particularmente fascinantes, professor. A descrição de sua grandeza, seus tesouros... Como conseguiu ser mais esplendorosa até que a magnífica Constantinopla dos césares orientais. As poucas informações a respeito dessa metrópole que chegaram até nós mostram que, por todo o tempo que existiu, foi a mais poderosa cidade do mundo. E onde ela certamente se localizava? Bem na costa alemã, professor, junto às águas tempestuosas do mar Báltico. Na área onde hoje se situa nossa imbatível nação!

         Imbatível? Vá dizer isso aos Aliados!

         Pode zombar, porém sei que é tão obcecado pelo mito de Vineta quanto eu. Inegavelmente é algo que temos em comum. Aliás, mito não, pois estou certa de que a cidade realmente existiu. Há dois meses finalmente recebi aval para organizar uma série de expedições à procura de suas ruínas submersas. Assim que eu as encontrar, poderei concluir minha tese de que os habitantes de Vineta eram arianos, e justamente por isso alcançaram um nível de desenvolvimento tão alto. Comprovarei que foram os ancestrais mais sublimes de nossa raça superior!

Heinrich não se conteve mais e desatou a gargalhar diante de sua algoz. Riu até seus olhos lacrimejarem, pois o ideal dela lhe era totalmente absurdo. Usar Vineta como propaganda dos princípios nazistas? Achava esse intento tão sem cabimento que o escárnio era inevitável. Furiosa, a filha de Ernst Vogel cruzou os braços, porém desta vez não agrediu o prisioneiro. E foi fuzilando-o com um olhar repreensivo que o ouviu falar:

         Comprovar a existência de Vineta para fomentar a eugenia idiota e o nacionalismo doentio de vocês? Acham que é para isso que serve a arqueologia? O passado é estudado para que possamos nos compreender melhor como seres humanos, e não para justificar a pretensa superioridade de um grupo sobre outro!

         Acredita mesmo estar em posição de me dizer para que a arqueologia serve ou não, herr Kriegüer? – indagou a loira em tom ameaçador. – Irá me ajudar a encontrar Vineta por bem ou por mal!

Já ia esticando o braço direito para novamente esbofeteá-lo, mas foi interrompida quando a porta do recinto se abriu de súbito. Voltando a cabeça, observou um dos guardas se encaminhar apressado até si, carregando uma folha de papel dobrada. Saudou-a num rápido “Hail Hitler” erguendo uma das mãos e entregou a ela informando:

         Telegrama urgente de Berlim!

A oficial dispensou-o com um gesto e tratou de ler imediatamente a mensagem, Kriegüer fitando-a intrigado. Aquilo parecia interessá-la, e muito!

 

Ao fim da caminhada, que durara pouco mais de uma hora, o trio de agentes chegou às imediações da vila de Eksund um tanto exausto. Indy apoiou-se numa placa desejando boas-vindas em norueguês para recobrar o fôlego, Mac e Sophia, por sua vez, sentando-se sobre uma pedra próxima. Vozes e outros sons provinham das casas logo à frente. O lugar esbanjava vida, afinal.

         E agora, Jonesinho? – perguntou o britânico, ainda ofegante.

         É simples – respondeu o arqueólogo, já se pondo de novo a andar. – Vamos encontrar o Heinrich!

         Mas será que os nazistas ainda estão por aqui? E se estiverem, como iremos achá-los?

         Acredito que um contingente como aquele não conseguiria ser muito discreto, ainda mais num povoado igual a este! – afirmou Hapgood sacudindo os cabelos. – Não será tão difícil...

Ganharam então as pacatas ruas do lugarejo, os poucos moradores fora de suas residências ou estabelecimentos cumprindo suas tarefas sem nem perceberem os forasteiros, apesar de alguns raros olhares curiosos sobre eles. Tudo era muito calmo e tranqüilo; se não fosse pelo clima frio, os visitantes em missão iriam gostar de passar algumas férias ali.

Logo, todavia, algo lhes chamou atenção. Na frente do que parecia ser um bar estavam parados os mesmos caminhões que haviam visto deixando a área perto da cabana de Kriegüer. Além de alguns soldados alemães ainda a bordo deles, uma dupla, armada com rifles StG 44, vigiava a porta do recinto de forma rígida, um de cada lado. Realmente não queriam que ninguém exceto eles entrasse.

         Aquele bar... – murmurou Indy, observando discretamente de uma esquina a fachada.

         Que tem? – indagou Sophia.

         Devem estar mantendo o Heinrich lá dentro... Sabe-se lá Deus fazendo o que com o coitado!

 

A tenente-coronel abaixou bruscamente a mão que segurava o telegrama assim que terminou de lê-lo, estarrecida. A mensagem lhe afetara muito, e não fora de modo positivo. Ignorando a presença de Kriegüer e de outros soldados no depósito, disse a si mesma em meio a um suspiro:

         Mais um submarino desaparecido... É o terceiro. Parece até que algum tipo de força mística contribui para que não consigamos encontrar a cidade!

         Se a lenda de Vineta for mesmo verdadeira, vocês não fazem idéia daquilo com que estão lidando! – afirmou o professor. – Já leu a respeito da suposta forma como ela desapareceu? Engolida pelo mesmo mar que lhe trouxera riqueza!

         Não acredito nessas histórias para dormir...

         Porém seu pai acreditava no Santo Graal, não acreditava? Ou será que ele também só cumpria ordens, como todos vocês marionetes do Führer fazem?

         Traidor insolente, já avisei para não falar assim de meu pai!

E ia golpeá-lo mais uma vez, quando percebeu que era estranho Kriegüer saber tanto a respeito de sua figura paterna. Conteve a raiva e, fitando-o nos olhos, inquiriu sem pestanejar:

         Como sabe que meu pai morreu enquanto procurava o Graal?

         Um amigo na América me contou. Ele também estava atrás do cálice na mesma época. Seu nome é Henry Jones, professor de literatura medieval. E até onde sei, o filho dele já deu muitas dores de cabeça a vocês, não é mesmo?

A filha de Vogel ficou mordida, virando-se e caminhando a passos fortes na direção da porta da sala. Kriegüer abriu um ligeiro sorriso. Apesar de sua petulância, a comandante parecia ter coisas mais importantes a tratar...

 

Indy, acompanhado de Sophia e Mac, contornara o quarteirão do bar e agora se encontrava diante de um pequeno beco que terminava na parte de trás do estabelecimento. Como previra, existia uma saída dos fundos, e para sorte deles os alemães haviam cometido o descuido de não deixarem ninguém a vigiando.

         Ótimo! – constatou o arqueólogo. – Vou entrar!

         Mas como pretende fazer isso com o lugar cheio de nazistas? – Hapgood perguntou intrigada.

O inglês riu diante do diálogo. Aquela mulher definitivamente não conhecia Jonesinho tão bem...

 

O interior do local permanecia o mesmo, com os boêmios do povoado a beber e conversar ao redor das mesas, e o bartender ainda tentando vencer sua ressaca com os míseros movimentos que efetuava com a flanela em cima do balcão. A única diferença – apesar dos demais não a notarem – era que agora cinco combatentes germânicos circulavam pelo recinto portando suas armas, atentos para que ninguém ousasse bisbilhotar o andar superior. Até o momento nada ou ninguém ali era encarado como ameaça... Entretanto, isso mudou quando a porta dos fundos, localizada logo abaixo da escada, foi aberta violentamente num estrondo.

Surpreendidos, os guardas pararam e apontaram imediatamente os rifles na direção do brusco recém-chegado... Deparando-se apenas com um indivíduo no estado mais deplorável que tinham visto aquele dia.

         O-oi, pessoal, hic! – ele exclamou num inglês carregado de fajuto sotaque nórdico.

Tratava-se de Indiana, com as roupas amarrotadas, pernas bambas e o gorro de Mac cobrindo-lhe de forma torta parte da cabeça. A passos trôpegos e movimentos desajeitados, encaminhou-se até o balcão ainda sob a mira dos inimigos, apesar de estes já acharem que o suposto bêbado não era grande coisa. Já os outros homens no bar continuavam alheios por completo à situação.

Sentado em frente ao bartender, Jones, dando seguimento à sua convincente interpretação, estendeu um dos braços para ele, falando de modo todo enrolado:

         E-eu bebi demais, amigo! Hic! Mas ainda assim eu quero... Um uísquezinho!

Os alemães concluíram que o sujeito embriagado não causaria problemas e recomeçaram a andar pelo lugar, um deles, no entanto, encarregando-se agora de vigiar a saída para o beco, posicionando-se próximo à porta, de costas para Indy. Enquanto o mole atendente apanhava uma garrafa de uísque no armário e depositava uma pequena dose da bebida num copo, o aventureiro aproveitou para examinar melhor o ambiente. Olhou para a escada, fitou disfarçadamente os nazistas atrás de si... Como não tinham suspeitas em relação à sua pessoa, poderia agir de maneira a pegá-los totalmente de surpresa se fosse rápido.

O recipiente com o líquido foi colocado diante de Jones, o bartender logo depois retornando à sua inerte rotina envolvendo indisposição e a flanela. Indiana levou o copo à boca, tomando um leve gole. Chegara o momento.

Sem que ninguém percebesse, conduziu sua mão livre até a cintura, apanhando o chicote enfiado embaixo do casaco. Desenrolou-o ainda sem ser notado e, erguendo-se do assento, brandiu-o de imediato na direção do soldado que tomava conta da saída dos fundos. O artefato se enrolou em volta do pescoço deste e, embora tentasse se libertar, Indy, num puxão, conseguiu arrastá-lo para trás, fazendo-o perder o equilíbrio e por fim desmaiar ao bater com a nuca na quina do balcão.

Em seguida Jones saltou por cima do mesmo e abaixou-se atrás dele para escapar dos disparos que vieram em sua direção, as balas explodindo as garrafas na prateleira e assim ocasionando um verdadeiro chafariz de bebida alcoólica. Assustado, o bartender se encolheu choroso num canto. Trocando berros e gestos, os nazistas se dispuseram a eliminar rapidamente o intruso. O norte-americano teria de reagir de forma ainda mais veloz para preservar sua vida.

Sacou a pistola Colt. Possuía apenas mais um pente de munição, não poderia errar os tiros. Levantou-se brevemente do refúgio, abrindo fogo contra um dos quatro guardas remanescentes. Atingido no peito duas vezes, um deles caiu morto sobre uma mesa vazia, tombando-a junto com as cadeiras. Mesmo com toda aquela confusão, os fregueses do bar continuavam tranqüilos em seus lugares, alguns até apontando para os combatentes em luta e apostando no lado que achavam mais provável vencer.

Indiana ainda conservava o chicote na outra mão. Notando que um outro inimigo chegava muito perto do balcão, utilizou-o novamente, agora para arrancar o rifle de suas mãos. A tira de couro conseguiu envolver a arma e arremessou-a para o outro lado do estabelecimento, pousando bem em cima de uma das mesas onde alguns marinheiros brutamontes se divertiam regados a cerveja. As canecas com a bebida se esparramaram pelo móvel e atiraram o líquido sobre suas vestes, porém, apesar de irritados, não reagiram. Músculos eram ineficazes contra balas.

O alemão, desarmado, foi então eliminado por um disparo certeiro de Jones. Os outros dois efetuaram mais rajadas contra o arqueólogo, ainda abrigado atrás do balcão. Num novo revide, Indy derrubou o terceiro oponente, acertando-o em cheio na cabeça. O último nazista gritou raivoso antes de retirar uma faca do cinto, correr na direção do esconderijo do alvo e saltar loucamente na tentativa de cravar nele a lâmina, mas o agente da OSS atingiu-o no ar com um tiro no abdômen, fazendo com que colidisse de costas com o armário de bebidas e caísse inconsciente em meio aos cacos de vidro das garrafas quebradas.

O aventureiro ergueu-se do chão aturdido e avançou de volta à porta dos fundos, realizando um sinal com as mãos para o beco. Sophia e Mac já poderiam entrar também. Os companheiros de Indiana vieram imediatamente, assustando-se com a desordem na qual encontraram o interior do bar.

         Um tornado passou por aqui? – indagou Hapgood.

         Mais ou menos... – Jones replicou evasivo.

Observando os freqüentadores que agiam com naturalidade nas mesas, o britânico constatou que em uma delas um grupo de quatro pescadores disputava animadamente uma partida de poker. A emoção proporcionada pelo jogo, o fascínio que as cartas lhe causavam... Mais que um passatempo, para ele aquilo constituía verdadeiro vício. No entanto, não poderia se distrair com isso no momento. A missão tinha de ser concluída.

         Fiquem aqui embaixo, mais soldados podem aparecer! – falou Indy. – Vou subir para procurar o Kriegüer!

         OK, Jonesinho – assentiu Mac. – Cuidado para não se machucar!

Jones percorreu os degraus e assim ganhou o piso superior. A porta se encontrava aberta. Cruzou-a devagar, Colt em punho... Não viu ninguém no local que se assemelhava a um depósito... A não ser um senhor de cabelos um pouco grisalhos, bochechas um tanto grandes e óculos redondos, trajando uma blusa de lã azul, calças marrons e sapatos pretos. Estava preso a uma velha cadeira de balanço.

A descrição física batia perfeitamente com o aspecto do qual Indy se recordava a partir das fotos que o professor alemão tirara junto de seu pai. Aquele era mesmo Kriegüer. Esperançoso, correu até ele e passou a soltá-lo das amarras ao mesmo tempo em que dizia:

         Olá, Heinrich. Vim tirar você daqui!

         Oh, graças aos céus! – o especialista em Vineta falou aliviado. – Espere... Você é Henry Jones Junior, não? Filho do meu grande amigo!

         Prefiro que me chamem de “Indiana”...

         Mas que coincidência! Eu há pouco pensava justamente em seu pai! Muito obrigado por vir me libertar! Nem sei como posso retribuir tamanha generosidade!

         Um dia eu cobrarei o favor... Agora vamos!

Terminando de soltar o prisioneiro, já ia puxando-o para fora dali, quando ouviu o engatilhar de uma arma junto à sua nuca. Acostumado a tais contratempos, Indy soltou sua pistola e, erguendo os braços, voltou-se lentamente para descobrir quem o ameaçava...

 

 

Glossário – Capítulo 3:

 

Fiordes: Entradas de mar em meio a regiões montanhosas decorrentes do derretimento de geleiras. Muito freqüentes nos países da Escandinávia e outras regiões próximas ao Ártico.

 

Thor: Deus nórdico do trovão, o qual provoca através de seu martelo Mjolnir. Usa também um cinto chamado Megingjord, sem o qual é fraco. Ao contrário da forma como muitas vezes é representado, ele é ruivo e barbado. Seu nome faz parte da origem de um dos dias da semana em inglês, “Thursday”, que vem de “Thor’s Day”, “Dia de Thor”. Em português, quinta-feira.

 

Ahnenerbe: Organização da Alemanha nazista fundada em 1935 com o objetivo de estudar a história da raça ariana e provar que a cultura nórdica teria no passado sido predominante no mundo. Realizou inúmeras expedições ao redor do planeta nos anos seguintes buscando indícios de tais teorias. Durante a Segunda Guerra Mundial, ficou responsável também pelos experimentos médicos nos campos de concentração que posteriormente levaram seus membros a julgamento pelos Aliados. A Ahnenerbe serviu de inspiração para os enredos dos filmes de Indiana Jones.

 

Continua...


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