Indiana Jones e o Mistério do Báltico escrita por Goldfield


Capítulo 10
Capítulo 9




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Capítulo 9

 

Lago Interior. 

 


 

Indiana recobrou os sentidos com um intenso gosto de sal em sua boca. Logo em seguida seus nervos se retraíram devido à baixa temperatura do líquido no qual estava imerso, freando os primeiros movimentos que tentou realizar. Água do mar. Estava dentro dela, e não respirava. Aturdido, abriu os olhos, procurou salvar o pouco oxigênio que sobrara em seu corpo e somar forças para impelir o corpo até a superfície, principalmente ao constatar que afundava mais a cada segundo!

Com o coração batendo a mil e os membros doloridos, o destemido arqueólogo conseguiu nadar vários metros para cima, afastando-se das obscuras profundezas marinhas logo abaixo de seus pés. Pouco antes de conseguir emergir a cabeça para fora d’água, no entanto, seus olhos tiveram terrível visão, tornada ainda mais macabra pela falta de foco natural ao ambiente subaquático: um soldado alemão, morto, trajando seu inconfundível uniforme e tendo boca e olhos bem abertos, era tragado lentamente pelas águas geladas, conduzido numa soturna tranqüilidade até seu destino final no assoalho do oceano. Certamente apenas uma das inúmeras vítimas da provável tragédia que se abatera sobre o U-Boat.

Quase totalmente sem ar, Jones não se deixou deter pelo atroz encontro e prosseguiu nadando até a superfície, lançando o rosto com alívio para fora do mar. Seus pulmões se encheram de oxigênio novamente, fazendo-o tossir por alguns instantes. O frio, apesar de ainda intenso, aos poucos diminuía, devido a seu corpo já estar se acostumando com a água. Parcialmente restabelecido, o norte-americano, mantendo-se emerso, só então parou para examinar o estranho ambiente ao redor de si.

Percebeu primeiro que o local era estranhamente iluminado, possuindo uma claridade quase semelhante à luz do dia que permitia fitar tudo em volta sem a menor dificuldade. Isso era no mínimo pitoresco, considerando-se que Indy ainda se encontrava metros e metros abaixo do nível do mar, e aquela ilusória superfície que atingira estava longe de ser a do oceano. Confuso, passou a analisar a situação com mais calma. Acima de sua cabeça, a uma grande altura, existia uma barreira rochosa que cobria o “lago interno” de Vineta como uma espécie de abóbada natural, mas que o aventureiro sabia possuir tal aspecto apenas na aparência. Afinal, como aquela cobertura suspensa de pedras protegera as ruínas da cidade perdida por tanto tempo sem que a estrutura entrasse em colapso, ainda mais conservando um bolsão de ar e uma área seca junto ao fundo do mar, se não fosse pela intervenção de alguma força sobre-humana?

Ignorando tais questões momentaneamente, Jones estreitou os olhos para tentar mirar melhor o teto da imensa caverna submersa. A fonte de luz provinha do mesmo, de algum tipo de revestimento presente na superfície rochosa. No começo o arqueólogo não conseguiu notar com clareza do que se tratava, mas após algum tempo concluiu se tratar de... Algas. Um vasto forro de algas luminescentes que cobria todo o teto de pedra compondo a redoma preservando o espaço seco que correspondia à área dentro dos antigos muros da cidade. Algas que funcionavam como fortes lâmpadas. Mais uma das nuances fantásticas envolvendo Vineta se manifestava!

Porém, ainda havia outros aspectos do lugar a serem percebidos. A alguma distância a nado da posição na qual Indiana se encontrava, via-se, ao mesmo tempo imponente e destroçada, a ilha sobre a qual fora erigido o núcleo urbano da metrópole medieval. Poucas construções mantinham-se de pé, e estas não podiam ser contempladas em sua totalidade devido aos escombros e ruínas que obstruíam a visão. Blocos e pilares desconexos feitos de concreto se misturavam a vigas e estruturas de madeira desordenadas que no passado haviam composto os lares, estabelecimentos comerciais e templos da Atlântida do Báltico. Caminhar por entre aquele cenário seria tarefa desafiadora, mas o cais cinzento, relativamente intacto, que circundava todo o perímetro da cidade, constituindo o famoso porto capaz de abarcar inúmeros navios descrito nos relatos, parecia convidar os forasteiros a desbravarem os enigmas daquela maravilha arqueológica.

O fascínio, no entanto, logo tornou a ceder lugar ao asco na mente do norte-americano, pois este, ao voltar a pousar os olhos na superfície da água, deparou-se com dezenas de cadáveres de combatentes alemães, os quais, boiando ou afundando lentamente, deixavam clara a aura de morte que cercava Vineta e tudo relativo a ela. Além dos corpos, objetos antes no interior do submarino encontravam-se à deriva nas águas geladas, desde armas e equipamentos de uso no U-Boat, passando pelos livros e obras de arte de Vogel, até panelas e outros utensílios de cozinha. Peças da embarcação, separadas da estrutura da mesma quando o que quer que houvesse sido a atingira logo após cruzar o portão, também estavam agora imersas no líquido salgado e frio, fragmentos do destino que pegara a tripulação de surpresa.

No entanto, ainda havia uma dúvida... Onde estariam os restos do submarino? Teriam submergido?

A resposta veio logo depois, quando Jones voltou a cabeça para um lado da redoma rochosa que ainda não fitara, e levantou os olhos...

Brotando do mar como uma árvore do solo, alto e imponente, havia um rochedo grosso e pontiagudo, semelhante à ponta de uma lança ou outra arma afiada, sua extremidade superior tocando a cobertura da caverna e dando a impressão de até perfurá-la. Escura, firme, semelhante a um edifício, as pedras em sua composição parecendo maciças e inabaláveis, a formação possuía, da mesma forma que uma planta, ramificações, protuberâncias rochosas que partiam da estrutura central e se desdobravam em outras pontas, braços... E, sobre várias delas, pendendo muitos metros acima da superfície do lago, havia pedaços de submarinos, seções inteiras de U-Boats partidas dos cascos e que agora se encontravam aninhadas junto à sinistra torre, algumas ameaçando despencar a qualquer instante, vários de seus interiores visíveis devido às aberturas estarem voltadas para Indy e das quais, incessantemente, jorrava água como em cachoeiras.

Diante dos fragmentos dos transportes nazistas, o arqueólogo tentou contar brevemente quantos eles eram, e quais se encaixavam em quais... Concluindo serem no total quatro embarcações: as três primeiras enviadas anteriormente para averiguar a cidade e que desapareçam, mais aquela na qual a insana Vogel arrastara a si e Kriegüer até ali e que há pouco fora feita em retalhos assim como as precedentes. Assim, todos aqueles cadáveres e objetos certamente não pertenciam somente ao U-Boat em que Jones viajara, mas a todos os quatro. E faria bastante sentido, a partir daquele momento, batizar aquele local como “Cemitério de Submarinos”.

Entretanto, o intrépido aventureiro não desejava de forma alguma que ali se tornasse também seu cemitério. Temendo sofrer hipotermia, compreendeu que deveria sair daquela água gélida o quanto antes e movimentar o corpo para, além de aquecer-se, explorar aquelas sombrias e úmidas ruínas. Já que chegara até ali e sobrevivera às “boas-vindas” dadas pelo mar, que, aparentando cada vez mais ter vida própria, parecia ter estripado de propósito o submarino com a extremidade do rochedo, não resistiria ao ímpeto de desbravar os mistérios de Vineta. Mas precisava, antes, encontrar Heinrich e verificar se estava vivo. Se Indiana conseguira escapar quase ileso do ocorrido, talvez o amigo houvesse tido a mesma sorte, sem contar a tenente-coronel e alguns de seus homens...

Decidido, Jones pôs-se a nadar na direção da base do rochedo. Através das protuberâncias em escala ascendente, que pareciam compor uma escada, conseguiria escalar as pedras em direção aos restos do U-Boat que identificara como sendo aquele que o trouxera até ali, suspensos a uma altura não muito grande acima do nível do lago. Além de procurar Kriegüer e algum equipamento intacto que lhe fosse útil, Indy não conseguia deixar de pensar que deveria encontrar o baú contendo o coração pulsante. De alguma forma, ele suspeitava que o soturno tesouro não havia despencado para a água como boa parte da carga das embarcações...

Mordendo os lábios, o professor logo atingiu uma espécie de pequena praia existente junto aos pés do rochedo pontiagudo e, tomando fôlego, tocou a escorregadia superfície do mesmo para iniciar a subida até a carcaça do submarino alemão...

 

Por sua vez, Sophia, nadando com destreza e temendo que a extensão do tubo de oxigênio ligado ao seu traje logo se esgotasse, o que a deixaria sem ar se o mesmo se desprendesse, atravessava naquele momento a abertura semelhante a um túnel que rapidamente identificou como um grande portão. Iluminando o caminho por meio de uma lanterna que trazia consigo, a ruiva estava bastante impressionada com a imponência da construção e como fora devidamente conservada ao longo dos séculos. Seria mesmo aquela a enigmática Vineta que os nazistas procuravam com tanto afinco?

Passou de repente a pensar em Indy. Não negava sua imensa preocupação em relação ao arqueólogo, e esperava encontrá-lo são e salvo em algum lugar daquelas profundezas. A experiência em Atlântida anos antes a levara a aprender que, tratando-se de lendas envolvendo cidades perdidas no fundo do mar, tudo era possível. E talvez aquela nova povoação submersa em meio ao Báltico oferecesse mais riscos e perigos do que a metrópole dos atlantes jamais possuíra...

Foi o que julgou confirmar assim que sentiu as águas sofrerem algum tipo de agitação.

A impressão de movimento era nítida, intensa, porém Hapgood sentiu dificuldade em determinar de onde provinha. Percebeu uma súbita mudança de fluxo no líquido gelado, a breve aparição de um cardume se afastando... E então ela finalmente notou o que ocorria.

Atrás de si, as duas titânicas porções do portão recém-cruzado se fechavam, sem qualquer explicação plausível. Se Sophia soubesse da existência do mecanismo no alto das duas torres junto à entrada que regulava a abertura e o fechamento do obstáculo, talvez concluísse que depois de certo tempo acionado, o maquinário automaticamente retornasse à sua posição inicial. Mas será que aquele fenômeno tinha sua causa realmente explicada pelas engrenagens e pesos? Ou também era obra de algum tipo de força sobrenatural e implacável?

Felizmente, a moça estava longe o suficiente do portão para que sua obstrução a afetasse fisicamente, apesar de ter havido curto tremor quando o processo se encerrou. Todavia, a mergulhadora logo sentiu uma conseqüência direta do ocorrido: o fato das duas partes da imensa entrada terem se selado rompeu o tubo de ar ligado ao escafandro, cortando seu suprimento de oxigênio. Teria agora de agir rápido para manter-se viva.

Procurando não ceder ao desespero, Sophia passou a tentar retirar o capacete o mais rápido que pudesse. Atrapalhou-se, a peça recusando-se a se desprender de sua cabeça. Aflita, procurava impelir o corpo para cima ao mesmo tempo em que, com ambos os braços, tentava se livrar do equipamento que, se antes garantia sua sobrevivência, passava então a estar prestes a sufocá-la. A situação piorou quando água salgada começou a invadir o interior da roupa, entrando pela extremidade cortada do que restara do tubo de ar e, fluindo através dele, aos poucos preenchendo o espaço dentro do traje. Além de morrer por asfixia, agora a possibilidade de afogar-se sem nem ao menos livrar-se dele ficava tremendamente próxima!

Após instantes de grande aflição, a parte inferior da roupa saiu-lhe de uma vez, suas pernas ganhando maior liberdade para se impulsionarem para cima. A lanterna escapou de suas mãos, afundando rumo às altas profundidades. Mas, como Hapgood logo perceberia, não precisaria mais dela. Mantendo a boca fechada para não engolir água e já com uma reserva de oxigênio bem limitada em seu corpo, a ruiva, com o máximo de força que seus braços poderiam reunir, conseguiu retirar a metade superior do traje e o capacete num só impulso. Aturdida, venceu os últimos metros que a separavam da superfície, da qual provinha estranha claridade semelhante à luz do dia... Ignorando os cadáveres de alemães ao seu redor.

Assim que emergiu, seus pulmões se enchendo de ar, os olhos de Sophia pararam para admirar o ambiente em torno de si. O rochedo alto e pontiagudo, a cobertura rochosa e luminosa, os destroços de submarinos e a carga destes dispersa pela água, os corpos, as ruínas amontoadas na porção central do que parecia um lago... E, atônita, concluiu ter chegado a seu destino:

–         Vineta! 

 

Indiana subia com cuidado pela lisa e escorregadia parede rochosa, suas mãos agarrando firmemente qualquer saliência ou protuberância na qual pudessem se firmar. Já se encontrava a quinze ou vinte metros acima da base do rochedo, altura que poderia lhe acarretar queda dolorosa, talvez mortal. Evitando olhar para baixo, pensou em como a escalada se tornaria mais fácil com o uso de seu chicote. Infelizmente não estava em posse dele, mas tinha esperanças de ainda encontrá-lo em meio aos objetos intactos nos restos do U-Boat.

Venceu mais uma parte do trajeto, seus dedos cada vez mais molhados e sujos. Temia escorregar a qualquer instante, porém os anos de prática lidando com locais inóspitos como aquele garantiam a Jones relativa vantagem que uma pessoa normal certamente não possuiria. Segurando mais um apoio de pedra com o braço mais alto, o arqueólogo constatou, olhando brevemente ao redor, que teria de efetuar salto um pouco arriscado para a direita a fim de agarrar uma outra reentrância que se encontrava mais afastada. Respirou fundo. As chances de conseguir realizar a proeza sem maiores perigos não eram poucas, mas mesmo assim sentiu um frio na barriga.

Pendurado junto ao paredão, impulsionou o corpo para o lado desejado três ou quatro vezes, tomando também coragem... E, mordendo os lábios, soltou o anteparo, deslocando-se no ar rumo à saliência à qual esperava conseguir se prender. Por um momento achou que o pulo fora mal-calculado e por pouco perderia o ponto de apoio, precipitando-se em direção à água... Porém, felizmente, suas mãos conseguiram segurar a superfície de pedra no último instante, os dedos deslizando alguns centímetros devido à umidade, mas logo se firmando. Recobrou o fôlego. Ainda não chegara sua hora de morrer. E, convicto, já voltou os olhos para cima, observando qual protuberância se encontrava mais próxima de seu alcance, para que assim continuasse o quanto antes a subida.

Como aquela tarefa seria facilitada se ao menos estivesse ainda com seu chicote!

 

Sophia nadava pela superfície da água de uma posição para outra, sem destino definido. Com a cabeça quase sempre erguida, examinava o ambiente e pensava em como ele lembrava assustadoramente Atlântida. Até especulou se Vineta não seria uma colônia ou posto avançado da outra metrópole subaquática, devido às semelhanças entre os sítios e a mesma fatalidade que parecia ter feito ambas sucumbirem. Ignorando o frio e o receio que a envolviam, a ruiva decidiu então rumar para o estranho rochedo que abrigava em suas reentrâncias os destroços de submarinos como se fossem brinquedos espatifados por uma criança birrenta, quando avistou uma figura humana, quase camuflada junto às pedras devido aos trajes cinzentos, escalando o paredão rumo a parte dos restos de uma das embarcações. A distância era grande, mas, estreitando os olhos e dando asas à sua intuição, Hapgood conseguiu deduzir de quem se tratava...

–         Indy? 

 

O norte-americano finalmente chegou a uma saliência mais ampla do rochedo, plana e reta, estendendo-se por cerca de quinze metros junto à íngreme subida. Junto a ela, pendendo ligeiramente para o penhasco numa posição diagonal, encontrava-se a popa do U-Boat no qual Jones e Kriegüer haviam viajado, o casco tendo sido violentamente rompido do resto da estrutura da embarcação, cujo paradeiro era desconhecido, como que por um abridor de latas gigante. Água escorria do interior do fragmento do submarino incessantemente, ainda que não em grande intensidade, e permanecia o mistério a respeito de haver dentro dele algo intacto ou alguém ainda vivo. Seria preciso verificar pessoalmente.

Tomando extremo cuidado para não pisar em falso, Indiana esgueirou-se rumo ao corredor partido do pedaço do U-Boat, ganhando-o numa cambalhota. Temia que seu peso liquidasse o equilíbrio da porção e acabasse lançando-a rochedo abaixo, risco que se tornou ainda mais real quando o metal retorcido começou a ranger; porém, estando já em seu interior, o aventureiro não poderia voltar atrás: seguiu em frente.

Uma lâmpada defeituosa, lançando faíscas em volta, ainda piscava indecisa no teto. Como isso poderia ocorrer Jones não compreendeu, já que, tendo o submarino se esfacelado, a energia conseqüentemente deveria estar cortada. Continuou. Peixes saltavam agonizantes pelo caminho, debatendo-se por não se encontrarem mais em seu ambiente natural. Talvez Indy pudesse dizer o mesmo de si próprio. Chutou uma porta semi-aberta logo adiante, o obstáculo quase se desprendendo devido à já ter sido fragilizado pelo ataque do rochedo. Encontrando do outro lado o compartimento com o equipamento de mergulho, último local onde se lembrava ter estado dentro do U-Boat, o arqueólogo viu de imediato o amigo Heinrich caído junto ao fundo, aparentemente sem ferimentos, apenas inconsciente. Ao menos um bom presságio se manifestava em meio a toda aquela tragédia!

Apressou-se na direção do professor alemão, tentando reanimá-lo com sutis movimentos. Indiana se encheu de alegria e alívio ao ouvir Kriegüer emitir um gemido cansado, abrindo os olhos. Apesar da situação, o ar de serenidade e calma nele predominante jamais se esvaía. Foi num tom baixo que ele indagou ao recém-chegado, confuso:

–         O que houve? 

–         Parece que Njord está mesmo furioso conosco... – replicou Jones. – Talvez por estarmos invadindo as ruínas da cidade que ele ferozmente puniu! 

–         Nós afundamos? 

–         Mais ou menos... Você terá de ver com os próprios olhos! 

Indy ofereceu uma mão para ajudar o colega a se levantar, e este conseguiu fazê-lo sem muito esforço. Suas roupas estavam molhadas e tinha algumas leves escoriações nos membros, mas nada que o impedisse de caminhar. Jones puxou-o para fora dali rapidamente, recordando-se por um momento da figura de seu pai, em relação ao qual Heinrich possuía algumas similaridades. Estavam quase chegando à abertura da porção do submarino, quando os rangidos se intensificaram, o ângulo diagonal da carcaça se acentuando. Não haveria tempo para que deixassem o interior: cairiam junto com a estrutura e teriam de contar com a sorte para chegarem vivos à água.

–         Segure-se! – Jones exclamou ao companheiro. 

–         Nós vamos despencar? – as informações chegavam numa velocidade rápida demais para que Kriegüer pudesse assimilá-las com clareza. 

–         De certa forma... É como andar de trenó! 

O alemão se agarrou a uma barra de ferro presa ao que restara do casco, enquanto o norte-americano se abraçava a uma placa metálica no chão do corredor. Mais rangidos, água respingando-lhes nas nucas... E a popa finalmente despencou, deslizando por poucos metros sobre o rochedo e então entrando em queda livre...

 

Imersa no lago, Sophia acompanhara com os olhos a trajetória de Indy pedras acima, não o chamando por não ter certeza se se tratava mesmo do arqueólogo ou de um soldado nazista. Viu quando ele entrou na carcaça do U-Boat e instantes depois, atônita, assistiu à queda desta rochedo abaixo, o emaranhado de metal partido se chocando com a água como uma pedra, levantando grande quantidade de líquido ao redor. Logo depois passou a imediatamente afundar, indo se juntar às outras peças e pedaços das embarcações que já repousavam no assoalho marinho. A moça temeu mais uma vez por Jones. Teria ele conseguido escapar de mais aquele infortúnio?

A resposta veio quando bolhas começaram a emergir da água, não muito longe de si, seguidas imediatamente pela aparição de Indiana e Heinrich, molhados e aturdidos, ambos cuspindo grande quantidade de substância salgada... Porém estavam bem. Haviam tido sorte.

–         Indy! – gritou Hapgood, agora com a reconfortante certeza de que reencontrara o aventureiro. 

–         Sophia! – ele replicou, ainda se atrapalhando para manter-se na superfície do lago. – Você por aqui? Cadê o Mac? 

–         Lá em cima, num barco! Seguimos o submarino alemão da Noruega até aqui! 

–         Eu sabia que você viria até o fim do mundo atrás de mim, querida. 

Sophia pensou seriamente em brigar com Indiana devido ao comentário, mas aquele não era o momento. Era inegável que ela estava imensamente aliviada por rever o colega de missão que mexia tanto com sua cabeça e com seu coração. Os três nadaram então até uma parte da pequena praia que circundava a ilha central de Vineta, resquício de seu outrora extenso porto. Deixaram o mar quase ineptos a pisarem terra firme, tamanho tempo haviam passado viajando com água por todos os lados. E a chance da cobertura rochosa acima da cidade poder ser rompida a qualquer instante, o que faria o volume do oceano invadir aquele bolsão seco de ar com toda a sua violência, não os deixava muito seguros quanto a confiarem que poderiam passar algum tempo sem se molharem mais.

Jones, que saíra do lago primeiro junto com Kriegüer, levou algum tempo até olhar para trás e fitar Sophia. Quando o fez, não pôde evitar que seu queixo caísse: não mais vestindo o escafandro, a ruiva tinha o corpo coberto apenas por uma espécie de maiô preto, o qual, apesar de cobrir todo o seu tórax e o ventre, delineava muito bem suas formas, principalmente o busto, sem contar que suas lindas pernas estavam à mostra. Sem perceber os olhos admirados de Indy sobre sua pessoa, Hapgood distraidamente arrumava os cabelos, quando o ouviu falar:

–         Sophia, eu nunca tinha visto você... Assim! 

–         Assim como? – retrucou a mulher, cruzando os braços. 

–         Bem, esqueça... 

Explicações não seriam necessárias, apenas aproveitar o momento. E as coisas de repente prometeram melhorar ainda mais, quando um artefato foi visto encalhado junto ao misto de pedrinhas e concreto compondo o cais alagado.

Heinrich foi o primeiro a ir averiguá-lo. Tratava-se de um cofre, aberto, a tranca tendo sido arrebentada devido a algum tipo de impacto ou outra causa misteriosa. Pertencia a Vogel? Provável. O professor abaixou-se para verificar seu conteúdo. Havia alguns papéis, uma pistola Colt... E um chicote. Kriegüer chamou o amigo com o sinal de um dos braços, Indiana conseguindo tirar sua atenção da atraente figura de Sophia em traje de banho e então se dirigindo até o objeto encontrado. Foi com imensa satisfação que recuperou seu fiel chicote e sua arma de fogo, da qual também fora privado pelos inimigos. Já as folhas compunham uma série de documentos, alguns de importância, outros não... E entre eles havia uma fonte histórica transcrita via datilografia. A carta de Giovanni Brazzi referente a Vineta.

–         Não acredito, ela veio parar bem em nossas mãos! – exclamou Heinrich com júbilo, apanhando o relato e passando a lê-lo logo em seguida. 

Era incrível. Enquanto numerosas desgraças e contratempos se colocavam no caminho entre o trio e Vineta, uma outra força misteriosa parecia favorecê-los, impelindo-os a descobrirem a verdade a respeito da cidade perdida nas profundezas do Báltico. Njord? Ou alguma outra divindade? Ficava a questão, ao mesmo tempo em que se viam diante do emaranhado de ruínas da metrópole. Ela os convidava a descobrirem seus segredos... E chegara a hora de fazer isso.

 

 

Glossário – Capítulo 9:

 

Nenhum termo a ser explicado neste capítulo.

 

Continua...

 


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