Piratas Do Caribe: Um Novo Horizonte escrita por Tenebris


Capítulo 4
Capítulo 4: Reencontro




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Elizabeth sorriu.

        Como não sorria há muito tempo.

        Já distinguia os sons que o Holandês produzia ao rasgar as ondas no Oceano, sempre mais veloz, sempre mais perto, embora só pudesse ver algumas partes do Navio por causa da escuridão. Ela agarrou uma corda próxima e subiu na ponta da proa, observando o Navio se aproximar, deslizando como se ele e a água fossem um só.

        Elizabeth deixou aquele som conhecido tomá-la por dentro, consumi-la com a expectativa do que estava prestes a acontecer.

        E então, ela o viu.

        As lembranças tão frescas na memória como se ela voltasse a vivenciá-las simultaneamente. Ali estava William Turner, ao lado do timão do Holandês Voador, seguindo reto em direção aos cacos do Luís IX.

        Elizabeth não reprimiu uma lágrima.

        Deixou-a vagar pelas maçãs do rosto, que estavam vermelhas pela água do mar. Deixou-a ser saboreada pelos seus lábios, com gosto de água salgada. Deixou-a trazer à tona todas as lembranças, todos os momentos que pareciam mais palpáveis e sólidos do que nunca.

        Will estava com uma camiseta vinho, os cabelos presos, a barba em cavanhaque como ela sempre se lembrava. A expressão determinada e obstinada de um jeito sombrio, mas ainda assim pura, transparecendo satisfação. Parecia que o abismo que havia entre eles nunca sequer tivesse existido.

        Quando ele se aproximou, o Navio estava de frente para o que restava do Luís IX. A proa do Holandês alinhando-se com a proa do Luís IX. Will aproximando-se de Elizabeth, frente a frente.

        - Elizabeth? É você?

        Will enroscou-se em uma corda e saltou para a ponta da proa, do mesmo modo como Elizabeth fizera. Agora ela podia vê-lo claramente, apesar da escuridão. Um brilho fraco e pálido os iluminava. Era a lua, liberta pelas nuvens que antes a circundavam.

        - Will!

        Elizabeth podia ver a expressão de felicidade de Will, ele sorria, os dentes brilhando e reluzindo fracamente. Ele também chorava, Elizabeth identificava as os pequenos pontos em seu rosto que a lágrima corria.

        E ela também sentia que estava sorrindo, que estava irradiando felicidade, tal como Will. Um enorme fardo que ela carregava pareceu deixá-la. E o frio que tanto a assombrou pareceu apenas uma brisa morna de verão, quente e acolhedora.

        Agora Elizabeth pôde encarar os olhos de Will, os mesmos olhos castanhos e gentis que Will tivera em seus sonhos.  

        - Elizabeth! Eu... Eu... – Will murmurou, adiantando-se para ela, com o cuidado de não sair do Holandês e abraçá-la.

        E então, Elizabeth pôde tocá-lo. Abraçá-lo. Ela sentia os braços de Will a envolverem como uma fortaleza. Ela colocou sua cabeça em seu peito, estava frio. Muito frio. E no lugar em que ela deveria ouvir o coração dele, estava silencioso como um túmulo. Por baixo da camisa, a cicatriz que ficara onde seu coração foi arrancado, era ainda mais gélida.

        Will tocou seu rosto de leve, levando os dedos a contornarem suas feições. Elizabeth colocou seus braços em volta dele, como que para jamais soltá-lo. Eles se encararam, olhos nos olhos, rosto no rosto.

        E então, ele a beijou.

        Elizabeth tinha certeza do que sentiu, ao mesmo tempo em que não tinha. Ela sentia uma mistura de sensações e sentimentos, enquanto seus lábios tocavam os de Will. Os dois ou três meses de tanto sofrimentos eram uma parte insignificante em sua vida, porque ela agora podia sentir Will. E sabia que ele podia senti-la.

        Foi o beijo mais longo e adorável, pensou ela. Tinha um tempero de saudade e o desejo de dois amantes que se reencontraram. Quando Will a afastou gentilmente, encarando seu rosto com leveza, ela sentia-se decepcionada, mas não demonstrou.

        - O que faz aqui? – Perguntou ele, surpreso de repente, mas sério.

        - Eu não suportaria... Não sou forte o bastante para viver sem você, Will.

        Elizabeth aninhou-se novamente em seu peito, frio como mármore.

        - Eu também não sou forte, Elizabeth. Mas já não vivo, não é mesmo? – Will afagou seus cabelos, a voz marcante e grave ressoando no ouvido de Elizabeth do modo que ela mais gostava.

        - Will, precisamos conversar. Tenho uma ideia. E você precisa me ouvir.

        Elizabeth estendeu-se para Will, que agora descia da proa e ficou ao lado do timão.

        - Acho que sei como podemos conversar melhor.

        Will chamou um de seus servos e pediu algo a ele em seu ouvido, Elizabeth estava tão inquieta que mal se deu ao trabalho de perguntar como eles iriam conversar sem prejudicar Will, que não podia atracar em terra.

        E então, por aquele segundo em que Will a deixou, sentiu novamente uma vertigem. Depois de perder Will tantas vezes, sempre sendo impedida de viver com ele como gostaria, ela simplesmente não podia perdê-lo novamente. Ela não iria perder esse amor, não iria deixar que as profundezas do mar o esmagassem. Ela lutaria por ele.  

        Jack se aproximou da proa, andando despreocupadamente, então, pigarreou:

        - Ora, ora, Willian Turner. Quero que saiba que eu trouxe sua perigosa donzela para te ver. – Jack sorriu, novamente chacoalhando as mãos.

        Will se virou para ele, a expressão confusa.

        Elizabeth sorriu incrédula. Agora, Jack tentava levar os créditos por ter levado Elizabeth ao Holandês Voador.

        - Ele quer ajuda para encontrar o Pérola. – Elizabeth adiantou-se, encarando Will, que ainda estava segurando o timão.

        - Não seja indelicada, Elizabeth. – Jack piscou para ela.

        - Mas quer mesmo.

        - É bem... Certamente ajudaria ter o Pérola de volta.

        Will passou os olhos de Elizabeth para Jack.

        - Vou ver o que posso fazer, mas sabe Jack... Tenho andado ocupado. Não é fácil levar as almas que morrem no mar para o Outro Lado.

        Will adiantou-se um pouco a frente.

        - E não quero ter tentáculos. – Ele pareceu admirado com a própria colocação e então se dirigiu a Elizabeth.

        - Amor, esteja na praia ao amanhecer. Acho que assim podemos conversar melhor do que pendurados na proa.

        - Sim, mas... – Elizabeth ainda queria contestar. Will não podia atracar. E ela não queria colocar a vida dele em risco.

        Porém, Will novamente se enroscou nas cordas, pisou na proa do Holandês Voador e sussurrou para Elizabeth:

        - Confie em mim.

        Elizabeth pulou novamente na proa, mas dessa vez sem se prender às cordas.

        - Sempre confiei.

        E então, todos os problemas se dissiparam. Elizabeth permitiu-se abraçar Will outra vez, permitiu se concentrar somente naquele momento em que eles estavam juntos. Porque, afinal, como Elizabeth podia precisar do mundo, quando tinha Will a beijá-la novamente? 


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