Piratas Do Caribe: Um Novo Horizonte escrita por Tenebris


Capítulo 3
Capítulo 3: Luís IX




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Uma calmaria anormal se arrastava sobre o Navio Luís IX, depois de um dia navegando ao sabor das ondas.

Elizabeth acordou de súbito, quase caindo da rede no porão onde estava. Para sua surpresa, ao olhar pelo buraco dos canhões, ainda era noite. Uma noite fria e sem estrelas. Pensou até ter visto algo anormal e grande se mexer na lateral do Navio, mas devia estar sonhando.

Ela desejava perguntar a Jack se ele havia realmente feito algum progresso na busca do Holandês, mas ficou deitada por mais alguns instantes. Pensando, obviamente, no motivo de toda aquela viagem.

E então, um estrépito assombrou o navio.

Um barulho, um baque surdo. Por um momento, tudo tremeu. Como se algo grande o bastante estivesse tentando atacar o Navio por baixo. Com um assombro, Elizabeth lembrou-se do Cracken, mas este tinha sido morto por Lorde Cutler Backett há um tempo.

Entretanto, o ataque assimilava-se muito ao do Cracken.

Elizabeth cerrou os lábios e subiu correndo as escadas que levavam ao convés principal, desviando-se dos canhões que remexiam desgovernados pelo porão.

Ela subiu e avistou a maioria da tripulação debruçada nas laterais, olhando algo no mar. Com a escuridão, isso era quase impossível. Ela também se debruçou e pensou ter visto algo brilhante passando embaixo do Navio. Então, procurou Jack em meio à tripulação.

Ele estava com Senhor Gibbs perto do timão, observando sua bússola girar o ponteiro, desgovernada. Parecia extremamente aflito, porém, tentando parecer controlado.

Elizabeth subiu as escadas para se aproximar do timão, bradando:

- Jack, o que foi isso? Algo... Tem algo embaixo do Navio. – Elizabeth estava desesperada. Ela apontava freneticamente para o Mar, preocupada com a possibilidade de não chegar até o Holandês.

- Não, Elizabeth. Deve ser um recife de corais. É, deve ser um recife, só isso... – Jack jogou a bússola para um Senhor Gibbs desesperado que olhava furtivamente para os lados.

- Jack, pare de convencer a si mesmo! – Elizabeth gritou, olhando para a sua esquerda sobre o timão.

Ela reconhecia aquele lugar.

Não tinha tanta precisão, mas imaginava que eles deviam estar perto de Isla de Muerta. Havia muitos rochedos e pedras enormes, dispostas de maneira desigual, afiadas como uma espada recém forjada, mortais para qualquer navio.

        - Vire a bombordo! – Berrou Jack. – Senhor Gibbs, assuma o timão.

        - Não! Não podem!

        Elizabeth interrompeu. Se virasse à bombordo, estaria indo em direção ao rochedo, onde um navio como o Luís IX não agüentaria por muito tempo.

        - Olhe estes rochedos, Jack. O Navio não vai agüentar. Temos que seguir a estibordo...

        Elizabeth tentava convencer Jack que eles precisavam seguir à direita. Caso contrário, ele os levaria para a morte. Entretanto, por um momento, por um milésimo de segundo, tudo ficou calmo.

        E de repente, um vulto enorme pareceu esticar-se em direção ao navio, pela direita.

        Um monstro que se assemelhava com uma cobra enorme, saltou ainda mais alto, tentando cortar o navio ao meio.

        - Está vendo agora porque não podemos seguir a estibordo? – Berrou Jack, pegando um fuzil antigo de dentro da capa. – O que prefere? Rochas imóveis ou um monstro marinho homicida?

        Elizabeth afastou-se o máximo que pode da parte direita do navio, permanecendo na parte superior. Sua expressão de raiva ia sendo substituída por uma expressão de terror e incredulidade.

        - Rochas. – Ela murmurou. Jack sorriu discretamente e então, desceu pelas escadas até o convés principal em direção a uma corda que pendia do mastro. Elizabeth retomou a cara de fúria, por aquele monstro que adiava a execução de seu plano.      

        Então, tirou sua espada da bainha e desceu as escadas, para ajudar a tripulação que se abatia sobre o monstro.  

        No convés principal, todas as pessoas tentavam lutar. Havia uma multidão tentando se aproximar do monstro para tentar feri-lo e liquidá-lo. Elizabeth não conseguiu encontrar Jack, mas seguiu em frente, se aproximando com os outros até o monstro. Infelizmente, parecia que ele já havia destruído uma boa parte inferior do navio. Elizabeth cravou sua espada em um ponto do corpo longo e curvilíneo do monstro, que se agitou.

        Quando ele se virou para ela, era ainda mais assustador.

        Era uma cobra gigante, tinha as escamas azuladas e brilhantes, sua boca abria e fechava com fúria e estrépito, sibilando frenética e incessantemente.    Em cada mordida que dava no navio, boa parte da madeira se desprendia, e assim, o Navio Luís IX ia sendo devorado pouco a pouco por aquele monstro. De vez em quando, ele também jogava seu corpo grosso e ofídico sobre o navio, provocando rachaduras.

        Elizabeth ainda tentava investir contra o monstro, seguida da tripulação, mas ele era rápido e escorregadio. Ela tentou sugerir que se usassem os canhões, mas o bicho se movia com tal rapidez que seria desperdício.

        Quando deu por si mesma, Elizabeth estava quase se recostando na outra borda do navio, pois o monstro havia destruído metade do convés. Muito embora, todos ainda tentassem feri-lo e o monstro tivesse dezenas de furos pelo corpo azulado, ainda parecia incitado a atacar e não a recuar.

        Entretanto, ouviu outro estrépito, igual ao primeiro que ouvira, quando estava no porão dormindo. O Navio tremeu, as rachaduras no meio do convés prolongaram-se, E então, outra parte do monstro apareceu atrás, de modo que ele circundava todo o navio, atacando por duas partes, cercando toda a tripulação.  

        Sem dúvida, o monstro era mais comprido e terrível do que Elizabeth fazia ideia.

        Então, todos bradavam gritos desesperados; a tripulação corria para diferentes lados. Alguns eram atacados e morriam devorados, ou caiam ao mar. Elizabeth esquivou-se da cabeça do monstro, que tentava mordê-la.

        Logo o monstro esticou-se. Parecia ter uns quinze metros. Ele sibilou horrivelmente, como um pedaço de ferro arranhando vidro, cada vez mais alto.

        Elizabeth pensou ter ouvido uma bala de canhão atingi-lo submerso, mas o Luís IX não estava abrindo fogo. Outro estrépito, mas dessa vez diferente. O Navio havia chegado ao rochedo, e agora o fundo do navio era rasgado pelas pedras pontiagudas, tremendo ao baque contra as pedras.

        Elizabeth se segurou em uma corda para não cair na fenda enorme que se estendia a sua frente, e foi quando olhou.

        O monstro conseguiu.

        Havia destruído o Navio, que agora se dividia em duas metades distintas. Não demorou muito, e a outra metade do Navio submergiu entre as pedras, deixando a outra metade, onde Elizabeth e a tripulação se encontravam, encalhada entre as pedras pontudas e negras, elevando a proa do navio, que estava levemente inclinada para cima. Pelo canto do olho, ela observou Senhor Gibbs ao timão e Jack ao seu lado, recarregando o fuzil.

        Ela abriu caminho entre a tripulação, sentindo a metade em que estavam tremer a todo instante: não ficariam inclinados para sempre, encalhados sob as rochas. Logo o Luís IX afundaria.

        Era difícil subir para o convés superior, o navio estava muito inclinado e Elizabeth tinha que se agarrar a tudo que pudesse para não cair no mar. Ela chegou até o timão com dificuldade e perguntou a Jack:

        - O que fazemos? Estamos condenados! O Navio não vai agüentar por muito tempo até submergir! – Elizabeth estava desesperada. Depois de tudo que passou, era extremamente tolo morrer daquele jeito.

        - Calma, Elizabeth. Não vai demorar. O socorro já vem. – Jack parecia sereno. Falou com a voz verdadeiramente controlada e observou mais uma vez sua bússola, que apontava para algum ponto a Oeste, fixa.

        - Você é louco. – Ela disse, agarrando mais uma vez na murada do navio, para não cair. Senhor Gibbs tentava girar o timão, mas este estava emperrado.

        Elizabeth sentou-se ainda encostada na murada, observando Senhor Gibbs agora descer para verificar a tripulação desesperada. Jack sorria ainda segurando a bússola. Ela sentia tontura. Provavelmente tinha batido a cabeça tentando se desviar dos ataques da criatura.

        Então ela caiu no sono, mas ainda estava ciente do que acontecia ao seu redor, embora a concepção de tempo ainda pudesse estar errada, ela imaginou ter passado uma hora depois que o Navio rachou ao meio. E algo dentro dela dizia para que ela acordasse. Para que se levantasse.

        Ela abriu os olhos, sentindo a dor de cabeça piorar drasticamente. Levantou-se e foi até parte atrás do timão, recostada na proa do Navio, olhando a Oeste sem saber direito o porquê. O Navio estava mais inclinado que nunca, a tripulação encolhida no que restara do convés principal estava absorta no sono. Senhor Gibbs ao seu lado dormia e Jack olhava o Leste, de costas para ela.

        O silêncio reinava, mais uma vez.

        Então, recostada na proa, mal podia distinguir o céu enegrecido do mar azul escuro e inquieto.

        De repente, pensou ter ouvido um baque.

        Um baque que permeava em seus sonhos mais profundos.

        Um baque que despertava uma lembrança dentro dela.

        Depois, ouviu água escorrer de algum lugar energicamente, como uma cachoeira interminável. Vinha de algum ponto a sua frente.

        Antes que fosse tragada de volta à realidade, antes que pudesse sequer sorrir de alegria, Jack sussurrou, de repente ao seu lado na proa:

        - Aí está, querida. O Holandês Voador e seu Capitão, William Turner. 


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