Eu não estava me sentindo confortável naquele lugar. Talvez por não conhecer direito ninguém que morava lá, mas principalmente pelo cheiro desconfortável que me invadia quase o tempo todo. Para a minha desgraça, nem Bella e nem a menina Cullen estavam em casa, o que significava que teríamos que esperar, e pior ainda, desfrutando a companhia da loira insuportável e suas insinuações. Mesmo que Rosalie não se dirigisse a mim, era desagradável vê-la insultando o meu melhor amigo daquela forma.

Edward havia levado a filha para um passeio e Bella e Alice foram com a irmã às compras em Seattle. Jake não gostava muito da nova filha do Dr. Carlisle, mas ele nunca me contou de onde ela veio, ou porque estava ali, e eu também nunca perguntei. Pra mim era só mais uma implicância de Jacob.

Edward chegou apenas alguns instantes depois, trazendo Renesmee, que abriu um largo sorriso para o Jake quando o enxergou. Era uma ligação muito bonita que havia entre eles. Eram como dois irmãos. Dava pra ver que ela também tinha muito carinho pelo Jacob. Seu sorriso estava radiante, chegava a contagiar toda a sala. Nessie apenas fez menção com os braços, para que Jake fosse até ela. Depois, ela pôs as duas mãozinhas um pouco acima das orelhas dele. Jacob fechou os olhos, ela sorriu e fechou os olhos também. Certamente estava fazendo um resumo particular do seu dia. Jake disse que ela fazia aquilo todas as vezes que o via.

Foi então que ouvimos o barulho de um carro chegando. Rosalie levantou instantaneamente e gritou para chamar os pais dela

-Carlisle, Esme chegaram!

Estes desceram em dois segundos. Todos eles - a exceção de Jake e Nessie - levantaram-se e ficaram parados na porta de entrada.

Bella entrou primeiro, deu um beijo em Edward ao passar e foi direto até Jacob, me cumprimentando ao passar. Eu apenas respondi educadamente, mas nem me levantei do sofá. Voltei a observar a curiosa cena que se dava junto à porta. Depois entrou Alice, parecia estar dando pulinhos de contentamento.

-Entre Amélia! - ela disse; acho que para a nova Cullen.

Naquele momento, o meu coração deu um sobressalto. Por instantes, o mundo desacelerou. Por uma fração de segundo, que me pareceu uma eternidade, aminha mente ficou totalmente desconexa; eu não reagia aos movimentos. Era como uma onda sem fim, uma força extraordinária que puxava toda a minha atenção para aquilo. Como se nada mais existisse no mundo, tempo ou espaço. Estava diante de mim, a criatura mais extraordinariamente fascinante que eu ja tinha visto. Não haviam palavras para descrever a grandiosidade dos sentimentos e sensações que se passaram na minha cabeça naquela hora.

Amélia Cullen. Ela era linda, em cada parte. Olhos amendoados, nariz bem delineado, longos cílios, lábios delicados. Cabelos pouco acima dos ombros, castanho-avermelhados, com reflexos mais puxados para o vermelho, levemente ondulados, caídos em cascata que ia diminuindo em degradê das extremidades do seu rosto até as costas, harmoniosamente com sua delicada face. Seu sorriso era magnífico, eu senti que poderia ficar olhando-a sorrir por horas. Estava linda naquele vestido de cetim cor-de-rosa, com um delicado laço preto que realçava sua cintura. O caimento do vestido caia da cintura em leves ondulações até pouco acima do joelho. Um decote discreto, mas não havia o que esconder. Ela era perfeita. Magnífica em todos os sentidos. Não tinha jeito de eu parar de olhar para ela. Mas eu tinha que arranjar uma forma de parar. Eles certamente iriam perceber, eu devia estar babando pra cima da menina. Mas o que é que eu estava pensando, ela era um vampiro, eu não devia sequer ter aquele tipo de pensamento. Olhar não tira pedaço, mas eu não sei se seria capaz de me controlar se eu me apaixonasse por ela. Estava fora de cogitação mais essa complicação para a minha vida. Vampiros são nossos inimigos naturais, não haviam formas de isso dar certo. Além do mais o que é que ela iria querer comigo, estava de bom tamanho as decepções que eu já tinha tido aquela altura da minha vida, eu não precisava correr atrás de mais uma. Por mais que eu tentasse me mexer, era impossível afastar o olhar dela, era como se eu estivesse hipnotizado. Pensei, pronto, toda a confusão que foi a minha vida emfim conseguiu me levar a loucura completa, eu sempre soube que o meu destino me levaria ao hospício. Finalmente Jake me dirigiu a palavra, me tirando do transe. Á essa altura a Amélia já estava quase na metade da sala, por sorte eles ainda não haviam parado de olhar para ela e ninguém percebeu o meu momento doente mental.  

-Hey, Matt! Eu vou levar a Nessie para caçar, você quer ir junto, ou vai ficar ai babando?

Eu teria que me lembrar de dar um soco bem dado no Jake por aquele comentário. Mas achei melhor fazer isso quando ninguém mais estivesse por perto, pra não chamar ainda mais atenção.

-Estou logo atrás de você, Jacob – Eu respondi em tom sarcástico.

Eu não ia arriscar olhar mais nenhuma vez para ela, eu talvez não fosse forte o suficiente para deixá-la outra vez, se o fizesse. Sai logo atrás de Jake, pela porta dos fundos na cozinha, para não ter que passar pelo tumulto que se dava na porta de entrada. Assim que já havíamos atingido uma boa distância da casa, mata a dentro, Jake sugeriu que fizéssemos a transformação, para Renesmee era mais fácil caçar se nós nos juntássemos a ela. Segundo Jake era a única maneira de tornar a caça mais interessante para ela, fazendo daquilo uma competição de quem capturava mais presas. Eu estava perdido. Não tinha como dizer não para Jacob sem dar explicações, e ao mesmo tempo, seria a minha ruína se ele pudesse compartilhar o que eu estava pensando. Pior ainda, todos do bando que estavam transformados poderiam também.

-Jake, você se importaria se eu fosse pra casa?

-Não, se você me responder uma coisa. Mas tem que ser sincero, não vale desviar o assunto.

-Manda! - Eu respondi meio inseguro.

-O que realmente aconteceu la na sala? Não adianta fingir que não houve nada. Eu conheço você. Você não pode fugir disso pra sempre, uma hora vai ter que se transformar.

-Eu... não sei explicar, é complicado...

-Sabe que pode falar sobre qualquer coisa comigo. Somos irmãos Matt!

-Sei disso... Mas não é por isso. Eu só não sei se entenderia, e muito menos quero ter que dividir isso com o bando. Agradeceria se você tentasse não pensar nisso enquanto estiver transformado. Pelo menos até eu pensar em uma desculpa.

-Está certo. Vai pra casa Matt, fica tranquilo que eu vou tentar não pensar sobre isso por enquanto.

-Valeu Jake, de verdade. – eu disse enquanto me afastava na direção de La Push.

-Você é doido, sabia?

-Sabia.

-E você ainda me deve uma explicação quando eu voltar! – ele gritou ao longe