Bella havia passado as últimas horas descrevendo com detalhes sobre como ela e Edward se conheceram e os motivos que o levaram a Volterra. Parecia que ela tinha prazer em ressaltar as partes em que Edward demonstrava ser louco por ela. Eu admito que aquilo me incomodou um pouco, trouxe de volta sentimentos há muito tempo esquecidos. Seria ciúmes? Acho que não, o Edward de Bella em muito pouco se parecia com o Edward que eu amava. De qualquer forma, as coisas começavam a fazer sentido para mim. Eu estava só com ela e Edward na sala. Todos agora se ocupavam com outras coisas. Nós tínhamos combinado que eu terminaria o meu relato á noite, para que todos pudessem “descansar” (como se precisassem disso...).

-Eu imagino o quão louco você deve me achar depois de tudo isso... - Edward brincou.

-É claro que não. Eu entendo, de certa forma, tudo isso. Não se esqueça de que eu passei por um drama semelhante quando fui transformada. Eu ainda não sei de onde reuni forças para superar tudo isso. Eu tentei me destruir de muitas formas no início. Mesmo com o apoio de Carlisle eu não conseguia aceitar o fato de nunca mais poder ver o meu Edward. É claro que o meu autocontrole ajudou muito nisso tudo. Eu condicionei a minha mente para suportar a dor imensa que eu sentia. Mas eu ainda não tinha desistido da ideia de suicídio quando reencontrei os Volturi. Eu apenas procurava passar uma imagem de tranquilidade para que Carlisle não sofresse. É claro que depois daquele dia eu tinha uma prioridade acima da minha dor. Salvar Carlisle tinha se tornado a minha obsessão e eu ignorei qualquer sentimento que não fosse útil a minha tarefa. Depois, com o passar dos anos eu acabei aceitando e só então a dor diminuiu.

Enquanto eu falava, Bella começou a me encarar de uma forma estranha, eu não conseguia entender. Era como se tivesse voltado a me olhar como se eu fosse um assassino perigoso. Ai percebi que ela só estava com ciúmes. Ela estava sendo extremamente infantil, beijava Edward a toda hora, retirando a sua atenção. Ela parecia uma criança, tentando manipular a atenção dele. Só faltava ela querer tapar os ouvidos dele, como uma criança mimada faria. Logo que terminei de falar, ela virou-se para mim, cheia de sarcasmo em sua voz, com todo o seu ar de superioridade:

-O que você quis dizer com “a dor diminuiu”? Você ainda o ama?

Eu não podia acreditar no que estava ouvindo. Era uma Bella completamente diferente da que eu conhecia, parecia até Jane falando daquela forma. Edward parecia perplexo.

-Bella, amor, o que é que você esta dizendo?

-O que? Eu só estou curiosa. Desculpe se fui indiscreta.

-Sim, mas parecia que você estava tentando atacá-la! Ela não é sua inimiga, Bella!

-Não faz mal, Edward. Bella esta certa, eu é que estou invadindo o espaço dela.

-Não, Amélia, ela não tem motivos para agir assim! Isso não é uma batalha, nem pouco você é um inimigo a se atacar!

-Está certo, me desculpem por isso. Foi muito infantil da minha parte. Isso não vai se repetir.

Então Edward levantou-se e saiu da sala, com o pretexto de ir ver Renesmee. Eu nem precisava dos meus poderes para entender que era uma deixa de Edward para que eu e Bella pudéssemos conversar. Havia tantas coisas que eu queria dizer a ela... muitas eu nem sei se ela entenderia.

-Amélia, eu queria lhe pedir desculpas pelo modo como tratei você.

-Sem ressentimentos.

-Não, eu realmente lhe devo uma explicação. Você não merecia ter sido tratada daquele jeito, você nunca me fez nada que justificasse minha atitude. Eu não culparia você se me odiasse.

-É claro que eu não odeio você Bella. Não pense nisso nem por um momento!

-Seja franca - Bella disse - você tem todos os motivos do mundo pra me odiar, e eu não a culpo por isso. Mesmo sem saber, eu fiquei com tudo o que devia seu.

-Sinceramente Bella, eu acho que você não entendeu direito o que estou querendo dizer... Você não ficou com nada que devesse ser meu, e eu vou lhe explicar por que.

Quando Carlisle me transformou, ele me deixou livre para decidir o que eu iria fazer da minha vida dali por diante. Ele me deu orientação, mas deixou bem claro que a escolha era minha. E eu fiz as minhas escolhas, e não me arrependo delas... é só que... é difícil aceitar que o que sou hoje é resultado das decisões que tomei há tanto tempo atrás.

-Eu acho que não entendi onde quer chegar...

-Veja bem Bella, o que somos é resultado das nossas decisões, e sempre á uma escolha. Quando Edward decidiu que não poderia mais viver longe de você, ele teve a possibilidade de escolher. E ele decidiu que era melhor ficar com você. E eu também tive essa escolha quando eu me tornei imortal. A diferença, é que no seu caso Edward fez o que achava melhor não só para ele, mas para você também. Já se eu o tivesse transformado naquela época, iria ser melhor apenas para mim. Eu estaria destruindo a vida dele e isso não era justo.

-Oh... entendo onde quer chegar. Acontece que Edward também pensava como você, no início. Só que depois do que aconteceu quando ele se afastou de mim, ele percebeu que eu também já não poderia mais viver sem ele.

-Exato. Esse é o ponto. Quando Edward resolveu transformar você, ele estava decidido de que aquele era o caminho mais certo. Porque era a melhor coisa para você também. Ele não estaria destruindo a sua vida, apenas estaria lhe dando uma chance de poderem ficar juntos para sempre.

-Mas eu não entendo. Porque você não o procurou e deixou que ele escolhesse o que achasse melhor? Eu tenho certeza de que se você tivesse dado opções a ele, ele teria escolhido poder ficar com você.

-Aí é que esta, Bella. Você escolheu virar imortal porque você o amava.

-Ele não amava você? - Bella me olhou espantada.

-Não da forma como vocês se amam.

-Mas você disse que achou a sua outra metade no mundo.. e.. vocês estavam noivos!

-Edward realmente é a minha metade. Mas é apenas porque ele foi o único além de Carlisle que já me compreendeu, e eu era o mesmo para ele. Nós tínhamos uma cumplicidade muito grande e só conseguíamos ser sinceros quando estávamos juntos. Antes de conhecê-lo, eu me achava uma aberração e nunca tive coragem de contar para ninguém sobre os meus dons. E acontecia o mesmo com Edward.

-Mas então porque vocês estavam noivos?

-O que você tem que entender, Bella, é que na época em que eu e Edward vivemos a sociedade era extremamente conservadora. Depois que nós nos conhecemos, começamos a passar todo o tempo possível juntos. Quer dizer.. não exatamente juntos. Nós mantínhamos sempre distância um do outro, e na maioria das vezes, nos encontrávamos na biblioteca, um em cada canto, para não levantar suspeitas. Só que a amizade foi crescendo até que atingiu um ponto em que um não podia mais viver sem outro. Então, aconteceu uma coisa que ambos não esperávamos. Os meus pais começaram a procurar por um noivo para mim. Nós ficamos desesperados. Se eu me casasse, nós não poderíamos mais nos ver e isso estava fora de cogitação. Nós ficamos nessa angústia, por dias. Até que um dia Edward não foi à biblioteca como de costume. Eu voltei para casa me sentindo literalmente destruída. Eu achava que ele havia desistido e de me ver e tinha se conformado com o casamento. Naquela mesma noite, os pais de Edward foram a minha casa. Ele tinha os convencido de que queria se casar comigo. Só que ele teve vergonha de me contar o seu plano e medo de que eu não aceitasse também. Por isso ele não foi à biblioteca naquela tarde. Os nossos pais firmaram o compromisso sem o meu consentimento, já que, até prova em contrário, eu não deveria nem ter ideia da conversa que se passava na sala.

Foi assim que ficamos noivos.

-Nossa, eu nunca.... eu não imaginava que... tivesse sido assim.

Eu estava surpresa, eu nunca achei que fosse contar isso um dia para alguém. Era uma coisa só minha e de Edward, como um pacto, um pacto de amizade, e silêncio eterno e eu estava ali, agora contando tudo isso aquela que agora pertencia a ele, ao verdadeiro amor da vida dele.

-Agora você entende, não é? porque eu disse que você não tinha nada que devesse ser meu.

Bella desviou o assunto.

-Eu fiquei curiosa sobre uma coisa, porque Edward não se lembra de você?

-Oh.. claro...Bem... obviamente, depois que eu descobri até aonde os meus dons tinham evoluído quando me tornei imortal, a primeira coisa que eu fiz foi alterar as memórias das pessoas que eu mais amava. Nem me passava pela cabeça deixá-las sofrendo por minha causa. E não foi diferente com Edward. Eu aproveitei que ainda estavam próximos de Chicago e fiz isso a noite. Eu apaguei as memórias em que eu aparecia para todas as pessoas que haviam tido contato direto comigo. A lista não era muito grande, foi relativamente fácil. O difícil foi estar tão perto deles e ter que deixá-los sabendo que eu não os veria mais...

-Eu imaginei que fosse por isso... - Bella disse mordendo os lábios.

-Bella, eu preciso lhe dizer uma coisa. Ouça bem, é muito importante. Eu estou sendo o mais sincera possivel com você.

Eu não sei te dizer se ainda o amo. Está tudo muito confuso na minha vida. Mas uma coisa eu te dou certeza: você não deve sentir-se ameaçada de forma alguma. A situação é completamente diferente. Mesmo que eu ainda o ame, o meu amor é pelo Edward que conheci. E o seu Edward é completamente diferente disso. Eu o amava porque tínhamos uma história, uma cumplicidade. E eu sei separar esses sentimentos. Para mim é como se eles fossem duas pessoas completamente diferentes. Além disso, vocês sim, tem uma história juntos. Não há competição. Ele te ama mais do que você pode imaginar, nunca esqueça disso.

-Eu... entendo o que quer dizer. Oh, Amélia! - ela disse me abraçando. - Desculpe-me por aquela cena de antes. Eu estou imaginando coisas, foi inaceitável. Eu prometo que não vai se repetir.

Eu percebi que aquela conversa não tinha acabado por ali. Bella ainda não parecia convencida de que podia baixar a guarda. Certamente a minha presença em suas vidas ainda renderia algumas discussões como aquela mais cedo.

-Minha nossa, Amélia, já são quase três da tarde!

-E nem vimos o tempo passar.... Daqui a pouco os outros já estarão de volta!

Nós rimos com a situação.

Então Edward voltou. Parecia que ele estava a par de toda a conversa e tinha escolhido o melhor momento para chegar. Só ai fui me dar conta de que ele sabia mesmo, ele estava ouvindo tudo o que conversáramos.  Eu não estava acostumada a conviver com outros imortais, que não estando muito longe, poderiam ouvir o que falávamos, assim como eu podia. Mas me deixava aliviada que ele não pudesse ouvir aos pensamentos de Bella, ou aos meus. Teria que agradecer Alice pelo conselho.

Ele entrou e foi sentar-se automaticamente ao lado de Bella, beijando-lhe a testa ao passar. Ele estava sorrindo muito. Seu sorriso parecia querer dizer algo mais e aquilo me deixou intrigada.

-Onde esta Renesmee amor? - Bella perguntou a ele.

-Ela esta bem, Bella. Foi caçar com Rosalie e Emmett.

Ele ainda estava sorrindo quando se dirigiu a mim. Deu para notar a mudança de tratamento comigo, só pelo tom de sua voz. Era muito menos acusativa e hostil agora.

-Eu queria pedir desculpas por estar ouvindo. - ele disse meio encabulado - não pude evitar. Eu estava curioso demais. Eu não me acostumo em não saber o que se passa a minha volta. Como se já não bastasse não poder ver a mente de Bella, agora não posso ler a sua também. Isso tudo é muito frustrante... - ele acrescentou ironizando. - Além do mais, eu sabia que estariam falando sobre mim...

-Convencido! - Bella zombou dele

-Você não parece arrependido por ter bisbilhotado! - eu disse, ainda em tom de brincadeira.

-Ele já não se arrepende mais por ser tão intrometido. Virou rotina. - Bella disse mostrando a língua para ele.

Eu percebi que Edward ainda não tinha falado o que realmente queria. A expressão de ansiedade dele ainda permanecia. Ai fiquei dividida. Por um lado, eu estava morrendo de vontade de ver o que Edward estava pensando, mas, por outro, eu queria ser totalmente honesta com eles, e deixar as coisas correrem naturalmente. No fim, achei melhor esperar por uma iniciativa de Edward. Se ele ainda não havia dito nada é porque não estava certo de que queria dividir isso comigo e com Bella, e eu respeitaria.

-Amélia... eu estava pensando.. - ele hesitou, me deixando ainda mais curiosa - Você disse a Bella que alterou a memória de todas as pessoas que conviveram com você, inclusive a aminha, não é?

-Olha... o que você tem que entender...

-Não se preocupe com isso, eu entendi os seus motivos. O que eu queria realmente saber... é se... se você teria como quebrar o meu ponto de restauração, para que eu me lembre do que realmente aconteceu...

-Poder... eu posso Edward. Mas entenda.. eu não sei se devo.

-Como assim?

-A escolha sobre isso é sua, mas eu acho que devo lhe dizer o que penso, antes disso.

-Oh... certo.

-Eu não sei se concorda comigo, mas eu acho que essas memórias.. tudo o que aconteceu, emfim, fazem parte do passado. As coisas estão bem como estão, e eu acho que talvez elas possam vir a causar transtornos que não são necessários. Mas eu repito, eu posso fazê-lo, se você quiser...

-Eu... entendo o que quer dizer. Mas eu realmente acho que seria melhor ter essas memórias de volta, sabe, me ajudaria a entender muitas coisas sobre o meu passado de verdade.

-Você não deve responder agora. Apenas pense sobre isso, ok?

-O que você acha? - ele perguntou a Bella.

-Eu... realmente não sei... por um lado você está certo em querer suas memórias de volta. Mas por outro, os motivos que Amélia expôs... eu acho que você deveria levá-los em consideração na sua decisão, amor.

Nós ficamos em silêncio por o que eu penso ser um longo tempo. Ou poderia ser um tempo relativamente curto, já que eu havia perdido toda a noção de tempo. Eu teria que me reabituar com todas essas mudanças que estavam por acontecer na minha vida.  Edward estava pensativo. Ele desenhava, com as costas dos dedos, o contorno da face de Bella. Admito que aquilo me incomodou um pouco. Eu não conseguia ignorar, mas ao mesmo tempo, não conseguia distinguir meus sentimentos. Era uma sensação muito estranha, que eu não conseguiria descrever. Embora aquele garoto na minha frente fosse um total estranho para mim, alguma coisa nele soava familiar. Era isso que me deixava confusa, ele não se parecia em quase nada com o meu Edward. Nem sua personalidade, ou seu tom de voz, suas atitudes e, nem mesmo, sua aparência. Depois de todos esses anos, eu achei que já tivesse me conformado com a sua morte. O meu bom senso me dizia que eu devia continuar encarando desta forma, era óbvio que ele nunca mais seria o mesmo. Mas havia, inconscientemente, uma parte de mim que queria trazer ele de volta, quebrando seu ponto de restauração. Eu teria que me manter longe desse impulso se quisesse me aproximar deles, isso dificultaria muito a minha convivência com todos, principalmente com Bella. Minha nova meta agora era tentar ficar o maior tempo possivel perto deles antes de eu precisar ir embora novamente. Eu achava que eles apenas me aturavam em respeito à Alice e por gratidão, pela ajuda com o salvamento de Renesmee. Mas era só uma questão de tempo até que eu precisasse ir embora.  

Nos dias que se seguiram, eu não tive problemas em controlar os meus impulsos perto de Edward. Bella estava mais calma em suas atitudes também. Talvez a conversa de alguns dias atrás, ao contrario do que eu pensava, tivesse tido resultados positivos para a nossa convivência. Eu me sentia cada vez mais ligada a eles, a Carlisle e, principalmente, a Renesmee. Mas, sem duvida, depois de Renesmee, Alice ainda era com quem eu melhor me relacionava.  Nessie havia, por muitas vezes, me consentido captar flashes de memória que me permitissem entender as melhor as coisas por ali. Isso me deu uma visão muito particular, do ponto de vista dela, mas mesmo assim, era muito útil me manter situada em suas vidas. Segundo Alice, eu já era o novo membro da familia Cullen. Mesmo assim, eu não sabia se essa opinião era compartilhada por toda a familia. Estava cada vez mais dificil ser honesta com eles, como eu desejava; era muito frustrante não saber o que eles pensavam sobre mim. Porém eu me manteria firme nessa decisão. Leitura de mentes, apenas se fosse extrema necessidade ou se eu fosse permitida a fazê-lo, como com Renesmee.

Naquela manhã, Bella parecia estar de muitíssimo bom humor. Ela entrou na sala, cumprimentado a todos, sorridente. Então ela se dirigiu a mim. Eu estava com Alice, no sofá da sala. Deu-me Bom dia com entusiasmo e foi me puxando pelo braço

-Venha, Mel, quero te mostrar uma coisa!

Sim, porque agora eu tinha até mesmo um apelido. Invenção de Alice.

Alice se intrometeu, advertindo à Bella:

-Bells, eu já tenho planos para a Mel hoje, seja o que for que você queira com ela, entre na fila!

-E que planos são esses que nem eu estou sabendo? - eu disse entre risos.

-Ah, isso é uma surpresa. Nem tente descobrir o que é, do seu modo. Eu tenho prática em esconder os meus pensamentos! - Alice disse, com um ar triunfante.

-Se eu fosse você não contava com isso... Os meus dons não são como os de Edward. Se eu quisesse, poderia saber o que você esta tramando agora mesmo.

-Uwg! Por favor, não faça isso Amélia! Acabaria com toda a graça! - Ela fez uma carinha de cachorro pidão. Ela sabia que eu não iria tentar descobrir.

-Ah não! Agora eu também quero saber o que é, Alice! Eu adoro as surpresas quando elas não são pra mim... - Bella brincou.

-Na hora certa vocês vão saber.

Alice virou-se para Bella e falou baixinho

-Edward sabe do que se trata. A ideia foi minha, mas eu precisava de ajuda para fazê-la. Então apenas peça para ele, sem que Amélia veja, é claro.

Era óbvio que Alice sabia que eu poderia ouvir, mas fez questão de criar um ar de mistério.

-E você, moça –Alice disse, virando-se para mim- Eu aconselharia a ir caçar agora pela manhã. Você terá um longo dia.

-Eu vou com ela! - Bella gritou la da cozinha.

-Não voltem tarde, meninas, Alice ficaria realmente irritada se vocês se atrasassem! - Edward brincou.

-Obrigada, Edward. Eu agradeceria mesmo se vocês não tentassem estragar os meus planos.

-Oh, eu jamais faria isso... - Bella respondeu ironicamente.

-Você... não faria! - Ela disse com um olhar mortal na direção onde Bella e Edward estavam.

-É claro que não Alice, eu só estava brincando! Você deve ter visto que nós vamos chegar em tempo, não é? Fique tranquila.

-Isabella, você realmente não gostaria de me ver irritada, portanto traga-a de volta antes do inicio da tarde!

Bella apenas sinalizou com a cabeça e abriu um largo sorriso, vindo em direção a mim

-Vamos então, Mel?

-Vão ir só vocês duas? - Jasper perguntou, olhando para Edward.

-Claro, porque não? Eu sei me virar! - Bella respondeu tranquilamente.

Eu não havia me dado conta antes, mas talvez Jasper tivesse sentido o clima de hostilidade entre nós alguns dias atrás e estivesse receoso agora. Mas eu não tinha o que temer, Bella parecia inocentemente calma quanto ao nosso passeio.

-Qual o problema Jasper? - Eu resolvi perguntar, para ter certeza.

-Nenhum. É só que... Bella ainda é uma recém nascida, ela não tem muita prática nisso.

-Você é quem pensa! - Bella disparou indignada.

Então era isso. Jasper ainda não havia se conformado com o amadurecer precoce de Bella. Menos mal que fosse apenas isso. Com essa situação nós seríamos capazes de lidar, se fosse preciso. Mas eu já a havia visto caçar antes, nos pensamentos de Renesmee, e ela não parecia ter tido problemas em suas caçadas.

-Fiquem tranquilos, eu acho que não será necessário, mas, se for preciso, eu tenho prática em lidar com recém-nascidos. Eu tomo conta dela.

-Vão logo, então, se querem voltar a tempo! - Edward disse dando um beijo na testa de Bella. - Renesmee está com Rosalie, não se preocupe.

-E onde vamos? - eu incentivei Bella.

-Ah, você vai ver. Quero te mostrar uma coisa! Apenas tente me seguir.

-Isso talvez seja um pouco dificil, Bella.

-Por quê? - ela perguntou espantada.

-Você se esqueceu de que é muito mais rápida do que todos nós, por enquanto?

-Ah! é... isso - ela disse voltando o olhar para cima. - Vamos logo então, eu tento deixar que você me acompanhe, prometo.

-Vocês já sabem... - Alice ressaltou

-Sim, Alice, nós estaremos de volta! - Bella respondeu impaciente.

-Bom passeio, meninas! - Esme gritou do pé da escada.

-E tomem cuidado! - Carlisle acrescentou.

Eu apenas sorri para ele, antes de ser puxada por Bella em direção á porta.

Nós atravessamos o lago, como sempre, com grande facilidade. Era agradável estar na presença de Bella, principalmente com o bom humor dela hoje. Pelo jeito ela iria cumprir sua promessa, já que eu não havia tido nenhuma dificuldade em acompanhá-la. Eu estava do jeito que mais gosto de estar: correndo. Uma sensação de liberdade incrível, e ao mesmo tempo, de poder. As imagens, mesmo àquela velocidade eram muito claras, em cada ponto delas, eu conseguia ver cada detalhe; cada gota de orvalho em cada folha daquela floresta; cada inseto daquele chão de terra fofa. Eu já estava me acostumando com Forks, todo aquele verde, em contraste com o seu céu acinzentado; a umidade do ar, que mesmo eu não precisando, era agradável de se inalar. Era uma imensidão de tons esverdeados, muita vida em toda a sua extensão. Muito diferente da imensidão de prédios acinzentados e casas antigas do centro de Volterra. A minha vida toda eu me senti sufocada, presa em meio àquela multidão de construções imponentes na Itália. E agora eu estava experimentando toda sensação de liberdade possível. O vento úmido correndo pelos meus cabelos, a terra macia sobre os meus pés; tão macia e úmida que eu nem poderia senti-la tocá-los. Era como se eu estivesse flutuando, sobre aquele vasto mar esverdeado.

-Nós vamos um pouco mais longe do que de costume hoje – Bella alertou – eu quero levar você para ver um lugar em especial.

-Você é quem comanda, Bells, apenas mostre-me onde ir, e eu estarei logo atrás de você.

-É maravilhoso, não é? Correr... aqui ... na floresta...

-É tudo com o que tenho sonhado há séculos!

-Literalmente, não é?

A piada de Bella havia acrescentado um tom de leveza á nossa conversa. Para ela estar brincando com a situação, é porque ela estava despreocupada quanto ao rumo da conversa. Nós rimos bastante do comentário.

-Verdade.

-É tudo tão novo para mim, eu digo, essa nova percepção da natureza, sabe? É tão diferente o modo como eu percebo as coisas a minha volta agora. Eu nunca fui uma pessoa muito... coordenada, digamos assim. Esse poder que se sente, com a velocidade e a visão tão extraordinariamente desenvolvidos é tudo tão... incrível.

-Sei exatamente o que quer dizer. É assim para mim também. Não pense que porque sou mais velha do que Edward, eu vivi, de fato, mais do que ele. Para mim é como se a minha vida estivesse começando agora. Eu nunca me deixei levar por esses sentimentos antes. Tudo em Volterra era muito contido, cada movimento muito cuidadoso. A minha vida não tinha espaço para a percepção dessas sensações. O despertar real da manifestação da minha natureza só foi possível agora, que pude ter a minha vida de volta.

-Sabe, Mel, eu tento nem pensar muito em tudo o que você já teve que passar. Eu não sei como foi capaz de aguentar toda essa situação. Eu acho que eu já teria explodido. Quero dizer, você tinha uma vida relativamente boa, você era feliz com o seu noivo e tudo mais, aí, de uma hora para outra, a sua vida é arrancada de você. Você é separada da sua familia, perde o seu noivo; e segue em frente. Aí, você tem que passar por tudo de novo, com o seu novo pai, tudo por culpa dos Volturi. Como se não bastasse você ainda tem que conviver por mais de um século com aqueles que, literalmente, acabaram com a sua vida! Eu admito que não teria sido capaz de enfrentar uma situação nem sequer parecida com essa.

-Wohw! Mas Bella, você já parou para pensar que você já passou as suas poucas e boas também? Não é assim tão diferente. Não quando você tem algo pelo que seguir em frente. Do contrário você não teria passado pela separação com Edward, as batalhas que tiveram que travar até hoje e principalmente, não teria tido a sua filha.

-É, mas eu nunca estive sozinha como você esteve.

-Bem, além de motivação, eu tinha sim mais uma arma com o que contar, que foi o que, de fato, me possibilitou passar ”ilesa”, digamos assim. Você se lembra o que eu comentei sobre os meus dons?

-O que, a parte do autocontrole? É sério, é extensivo á isso também?

-Mas é claro, autocontrole físico e emocional. Sem excesso de sede, sem excesso de pessimismo, de dor.

-U-a-u!

-Calma, não é tão maravilhoso assim. Tudo tem um preço. Além dessa parte positiva do meu dom, com ela vem a parte que mais odeio nisso tudo. As minhas emoções positivas, muitas vezes, também são frustradas. Eu tenho certa incapacidade para manifestar os meus anseios de felicidade. Eu me doutrinei tanto para esconder todos esses sentimentos perto dos Volturi, que acabei deficiente de suas manifestações. Eu terei que aprender novamente a senti-los para poder voltar a expressá-los.

-Tenho certeza de que você vai voltar a senti-los agora que você esta aqui. Você não tem mais que esconder seus sentimentos e muito menos lidar sozinha com eles. Você tem uma família para te ajudar agora.

Eu não podia acreditar em suas palavras. Vindo de Alice, era compreensível, mas eu jamais esperava encontrar todo esse afeto, vindo de Bella. Não quando ela apenas deveria me odiar por tudo o que a minha presença em suas vidas representava naquele momento. Eu estava tão surpresa que as minhas palavras saíram às prestações, eu estava toda atrapalhada, sem saber realmente o que falar.

-Nossa.. eu não... imaginava que você pensasse em mim como.. alguém da família, Bella. Não me entenda mal, eu só... é muito mais do que eu poderia querer, ter uma família é tudo com o que eu sempre sonhei.

-E porque você acha que seria diferente? Eu já vejo você como minha cunhada. Você é parte da família agora.

-Muito obrigada, Bells. Significa muito para mim, vindo de você. Me faz um bem enorme saber que você me quer por perto, é bom saber que não sou uma intrusa na sua vida.

-Mas é claro que você não é. Você é especial para mim, garota. Já é como uma irmã para mim.

-Bella, eu queria te pedir uma coisa.. mas.. eu tenho medo que você me interprete mal.

-Tudo bem, pode perguntar o que quiser.

-Bem.. é sobre Jacob.

-Oh... o que tem o Jake?

-Eu não compreendo o porquê ele é tão... ligado á Renesmee. Tudo bem que vocês são muito amigos e ela sua filha, e tudo, mas...

-Oh, isso.. Bem, ele nunca te explicou sobre a impressão?

-Jacob não costuma falar comigo, Bella.

-Ah, é mesmo. Bem, como é que eu vou te explicar então...

Eu... ainda acho melhor pedir pra que o Jake te explique quando ele vier, mas eu vou te dar só uma idéia sobre isso... Bem, você conhece as histórias sobre a tribo Quileute, não é?

-Edward me contou algumas delas.

-Certo, bem, para os lobos, a impressão é como, como se fosse uma ligação mística. É essa força que os leva a escolher suas parceiras, suas almas gêmeas, digamos assim. Eles têm essa impressão uma vez só na vida. É como amor á primeira vista, e independe da vontade deles escolher quem é. Uma vez que eles tenham a impressão, eles sempre ficarão ligados àquela pessoa.

As palavras de Bella estavam me assustando. Ou eu não tinha entendido direito, ou Jacob havia tido a sua impressão com Renesmee. Como ele poderia amar Renesmee dessa forma? Ela era apenas uma criança. E pior ainda, como Bella e Edward permitiam isso? Bella percebeu o meu olhar de perplexidade e confusão, tanto que nem esperou que eu perguntasse:

-Você deve estar pensando, em como nós permitimos que ele fique perto de Renesmee, não é mesmo?

-Bem...

-Não, tudo bem. Eu também pensei assim, logo que eu fiquei sabendo. Mas acontece que toda essa coisa de impressão, não se restringe apenas á amor entre um casal. Jacob é ligado a ela, como se ela fosse irmã dele. É dessa forma que ele a ama, e ele precisa estar perto dela e protegê-la por causa disso.

-Oh... agora sim eu compreendo. Você já estava me deixando assustada. Tudo bem que eu achava mesmo que houvesse uma ligação especial entre eles, mas do jeito que você estava explicando... Mas tudo bem, agora eu entendi o que você quis dizer.

-Eu peço pro Jake pra ele te explicar sobre isso, quando ele vier amanhã. Está certo?

-Certo... Obrigada Bells.

-Por nada.

Nós continuamos correndo por um longo tempo, em silêncio. Apenas a vasta imensidão cor de jade á minha frente. O canto dos pássaros ao longe, o cheiro da primavera, recém aflorando. Pequenas gotículas de gelo, resquícios do inverno que chegava ao fim.

Subitamente, ela parou. Nós estávamos em uma parte isolada da floresta em uma deslumbrante clareira. Eu não podia acreditar no que os meus olhos estavam vendo. Era o lugar mais inacreditavelmente lindo em que eu já havia estado. Tudo naquele lugar parecia esculpido, em cada detalhe pelas mãos de um artista. Era como uma pintura, de tão surreal. Ela era perfeitamente circular, como se tivesse sido projetada milimétricamente para isso. O ângulo e a intensidade do sol batendo nas folhas de cada árvore exuberante; a luz que ia diminuindo em um degradê perfeito desde as folhas mais próximas ao topo até chegar ao incrível tom amarelado que banhava as folhas mais próximas do chão. Cada flor, com suas cores vivas e luminosas. A brisa leve, concedendo um movimento sincronizado das folhas dos galhos e do chão. O som tranquilo de um riacho próximo dali. Tudo naquela clareira dava ao lugar um clima nostálgico. Era como estar em um sonho. Eu não tinha palavras para expressar o que eu estava sentindo. Bella ficou de pé ao meu lado, observando a minha reação.

-E então, Mel? O que achou?

-É... M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-O ! Eu... não tenho palavras. Eu nunca vi nada parecido. É tão... nostálgico!

-Concordo com você. É realmente... nostálgico! - ela completou rindo.

Bella limpou a garganta, e adquiriu um tom mais sério, antes de tornar a falar.

-Eu demorei muito tempo para reencontrar esse lugar. Eu vim aqui apenas duas vezes até hoje. E em situações muito adversas, admito. Eu queria ter vindo aqui há muito tempo, ainda quando descobri como encontrá-la. Mas eu queria que fosse com alguém especial, como em todas as outras vezes. Ela tem um significado muito especial para a minha vida. Eu não sei se conseguiria demonstrar para você, tudo o que esse lugar representa para mim. Por isso, eu queria tentar uma coisa com você. Alice já te contou sobre o meu escudo, não é?

-Ela já comentou, brevemente sobre isso.

-Oh, bem ela já comentou alguma vez, que eu posso... mostrar a você o que estou pensando, se você estiver dentro do escudo?

-Bem, Edward já me falou sobre isso.

-Ótimo. Bem, eu acho que esta é a melhor forma de contar para você, com detalhes, as duas vezes em que eu estive aqui. Você entendeu o que eu quero tentar fazer, certo?

-Hum hum. Basta que você me diga o que eu tenho que fazer.

-Bem, primeiro, você se concentra em ler os meus pensamentos. Então eu vou estender o meu escudo até que você esteja inclusa nele também. Apenas me diga quando você estiver ouvindo o que eu estou pensando, ok?

-Pode fixar o escudo. Eu já estou dentro.