Full Moon escrita por amelia_cullen


Capítulo 1
Prefácio


Notas iniciais do capítulo

Este é o começo de tudo. Para que vocês se situem, ele começa mais ou menos ao mesmo tempo em que o Edward vai para Volterra em Lua Nova. A idéia era fazer dessa história uma continuação de Breaking Dawn, mas eu não tinha como fazer a Amélia simplesmente cair de para quedas na história, eu precisava situar ela e mostrar onde ela estava enquanto as coisas aconteciam em Forks. A partir do segundo capítulo, a história vai se desenrolar de onde parou em Amanhecer. Espero que gostem!!



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 Naquele momento, era como se eu finalmente tivesse aberto os olhos. Como se eu tivesse levantado de um longo sono. Aí vieram as memórias, como filmes passando muito rapidamente pela minha cabeça; eu mal conseguia acompanhá-los. A preocupação me invadindo, e por instantes o medo de ser pega também. Até aquele momento tudo era escuridão, e eu aceitei isso por todo aquele tempo. Agora a luz me assustava, me invadindo, pouco a pouco, trazendo de volta as lembranças de um tempo distante. Tive que fazer um grande esforço para raciocinar e me mover dali. Eu precisava me esconder para não levantar suspeitas. Todas aquelas pessoas ao meu redor, o dia ensolarado do qual eu tinha que me proteger, e os meus inimigos tão perto.

Encontrei refúgio em uma ruela sombria, sem saída, e deixei os pensamentos fluírem. A agonia agora tomava conta der mim. Quem era aquela mulher? O que ela tinha a ver com o meu pai? Estaria ele seguro? A necessidade de protegê-lo nascia em mim novamente. O medo, a confusão, a curiosidade, era tudo junto assombrando-me como um fantasma, do qual eu não tinha forças para combater. Era estranho me sentir assim, autocontrole sempre fora o meu ponto forte. Eu precisava de tempo para me organizar, e isso definitivamente era uma coisa com a qual eu não poderia contar. Estava decidida a seguir o plano, terminar aquilo que comecei há mais de um século. Não haveria tempo para questionamentos agora, eu teria a eternidade para eles. Concentrei-me, então, na busca pela mente daquela mulher. Onde estaria ela agora? Eu precisava de respostas, precisava saber quem ela era, e como chegar até o meu pai. E eu teria, ao mesmo tempo, que tentar me manter longe do castelo. Mas ela não parecia estar em nenhum lugar dentro daquela multidão. Não me restavam alternativas senão me arriscar, chegando perto do inimigo. Eu teria que ser extremamente cautelosa. Todos esses anos de convivência com os Volturi haviam me ensinado a nunca subestimá-los. Foi quando encontrei o meu alvo. A moça certamente não deveria saber onde estava se metendo, eu temia por ela. Fiz uma análise da sua mente, buscando aquilo que eu precisava. Ela era uma imortal, como eu. Tinha poderes também, ela podia ver o futuro. Foi quando encontrei meu pai, dentro de suas memórias; era difícil de acreditar, mas o meu Carlisle era o pai daquela moça também Não era ele quem estava em perigo, aparentemente era o irmão dela. A imagem de Carlisle que eu antes capturara de sua mente era uma visão do futuro, de como ele se sentiria com a morte do filho, o que estava prestes a acontecer. Então Caio passou correndo pelos corredores, alertando a guarda, organizando um ataque. E eu estava impotente, não podia sair dali, correndo o risco de ser pega. Não ajudaria a minha “irmã” vidente em nada, se Aro me descobrisse. Eu apenas fiquei ali, esperando. Se as coisas passassem do limite eu iria intervir. Observei, de longe, as coisas que aconteciam. Caio estava aflito; aparentemente o jovem irmão da vidente estava tentando provocar os Volturi. Eu nem tinha ideia do motivo disso, e naquele momento era arriscado demais tentar descobrir. Então as coisas começaram a ficar feias: havia uma humana envolvida. Isso certamente tiraria Aro do sério. As coisas não estavam nada boas para o lado daqueles dois. Mas para a sua sorte, parecia que Aro estava extremamente bem humorado. Eu não consegui tomar parte da conversa que se seguiu no escritório da torre. O que sei é que eles saíram, pacificamente, levando junto a humana. Isso me deixou muito confusa. Não era um comportamento nem um pouco comum de Aro perdoar. Especialmente quando envolvia humanos sabendo da nossa existência (disso eu sabia mais do que bem...) Porém, as minhas dúvidas não foram sanadas. Eles saíram apressados de Volterra, levando consigo a humana esquisita. A única coisa que eu pude saber, era que as previsões da vidente mostravam Carlisle em paz, novamente. Mas eu não estava totalmente tranquila quanto a isso. Poderia ser apenas mais uma jogada de Aro para vingar-se mais tarde. Eu já vira muito isso acontecer. Sendo assim, eu decidi que seria mais útil montar guarda em Volterra, do que ir atrás deles. Afinal, se os Volturi decidissem se vingar, eu simplesmente seguiria seus passos e os impediria. Só que agora eu não mais poderia contar com o meu disfarce. Seria mais difícil do que da ultima vez, mas eu estava disposta a tudo para proteger o meu pai.

        Nos meses que se seguiram, eu permaneci nos arredores da cidade. Vez ou outra voltava ao castelo, sempre ficando o mais longe possível de Aro. No momento ele era a minha única ameaça, o único que poderia ler a minha mente e descobrir a verdade sobre mim. Mas eu podia ter a minha fonte em Marcus. Ele sempre fora o meu “preferido” dos anciãos, se é que posso dizer assim. Era o mais calmo, e o mais íntegro dos três. Era fácil lidar com ele. Através de Marcus, eu pude ter a minha própria visão do ocorrido naquele dia. Mas isso só me deixou mais curiosa, por não poder saber o que Aro viu na mente daquele jovem vampiro. Edward era o nome dele. Aquele nome trazia a tona lembranças extremamente dolorosas. Era o nome da pessoa que mais me entendeu nesse mundo, o responsável por grande parte da dor que eu sentia. Quase cem anos depois e eu ainda o amava com a mesma intensidade. Dor da separação, da culpa, da saudade. Ela tinha diminuído, mas nunca me abandonado. Eu não me arrependia das minhas escolhas no passado, mas inconscientemente, a culpa pelos meus atos parecia me consumir. Ela nunca tinha fim. Eu sempre me culparia por perder a minha família, o meu Edward. Por colocar o meu criador, aquele que eu podia chamar de pai, em perigo. O tempo me ensinou a controlar esses sentimentos. O autocontrole que se intensificara com a minha transformação, assim como a leitura e o controle das mentes, fazia com que isso se tornasse um pouco mais fácil, mas não menos doloroso. Eu me acostumara com o isolamento, e com a vida embasada em mentiras e ilusões, uma existência instável, com um único propósito: corrigir o único erro que eu ainda poderia consertar. A única coisa sobre a qual eu ainda tinha controle. Salvar Carlisle dos Volturi havia se tornado o sentido da minha existência.

Eu tivera muita sorte durante todos esses anos. Nem nos meus pensamentos mais otimistas, eu imaginei que o plano fosse dar tão certo. Eu pude viver infiltrada entre os Volturi, por tempo demais. E agora, finalmente com a minha memória de volta ao normal, eu podia ver o quanto a minha vida tinha perdido o sentido. E isso eu não havia planejado. O perigo passou e eu continuei ali, por décadas, sem nunca ser descoberta. Tive sorte por estar viva, sorte por Carlisle estar salvo, sorte por eles nunca terem desconfiado da minha verdadeira origem, sorte ainda maior que eu mesma nunca desconfiei de onde eu vinha. A minha amnésia proposital, no fim, havia sido o meu maior trunfo. Eu era da alta confiança de Aro, uma posição muito cômoda para os meus propósitos. Parando um pouco para pensar, eu pude levantar alguns questionamentos que latejaram em minha mente na tarde em que eu encontrei a vidente.   Como será que Carlisle viveu durante todos esses anos? Parecia-me que muito bem, aparentemente, ele tinha até uma família agora. Mesmo assim, será que eu deveria contar a verdade a ele, agora que o perigo passou? Passei muito tempo levantando hipóteses para as minhas dúvidas. Carlisle merecia saber a verdade, mas ao mesmo tempo, eu não queria ser uma intrusa em sua vida. Afinal, tudo o que acontecera, fazia parte do passado; se as coisas estavam indo bem desse jeito, porque mudá-las? Porém, não adiantava eu tentar me enganar, eu sentia falta do meu pai. E eu era fraca demais para me permitir viver nessa angústia. Por isso, tomei uma decisão: eu iria descobrir o máximo de coisas possíveis sobre o paradeiro da família de Carlisle. Se eu não descobrisse nada que me ajudasse a encontrá-lo, eu iria alterar a minha memória novamente, para esquecê-lo de vez. Ideia muito simples, na teoria, mas na pratica... eu sabia que não conseguiria conviver com a segunda opção. Fora os questionamentos ligados a Carlisle, um antigo sentimento voltava a me assombrar: a saudade. Ela me fez lembrar de tudo o que eu passara depois da minha transformação. Naquela época eu não achei que fosse forte o suficiente para suportar a minha dor. Ainda lembro-me de todas as tentativas de suicídio que realizei; eu jamais aceitara a separação com a minha família. Era o fim da minha vida, literalmente, eu não tinha forças para seguir em frente.

Era impensável para mim, perder a luz da minha vida, meu companheiro, meu salvador. Edward era para mim como a lua cheia, iluminando tudo o que antes era noite, me tirando da escuridão. Antes de conhecê-lo, minha vida era escura e vazia. Só ele me entendia, só ele conseguia me puxar de volta para a luz. Ele era toda a luz que eu podia ver. Porém ela se apagou. Nem mesmo todo o carinho e a compreensão de Carlisle conseguiram trazê-la de volta. Eu teria que me acostumar com a minha escuridão novamente. Nunca mais vê-lo, era uma tortura. Eu não queria voltar a ser só, sentir-me uma aberração outra vez. Mas eu não era forte o suficiente nem para acabar comigo mesma. Eu não tinha poder para terminar com o meu sofrimento. Eu podia diminuí-lo, mas não era isso que eu queria. Os meses foram passando, sem que eu conseguisse descobrir nada sobre o paradeiro de Carlisle. Eu continuava a fazer parte da guarda. Achei melhor não me desfazer de alguns privilégios. Contanto que eu mantivesse a distância de Aro, eu poderia continuar na minha posição Eu já estava ficando agoniada com toda essa situação.

Foi quando Marcus mandou me chamar. Eu fiquei aflita com a convocação repentina. Será que eles haviam desconfiado de alguma coisa? Ou seriam novas novidades sobre Carlisle? De qualquer forma, eu achei melhor ir até ele e descobrir. Ele estava esperando por mim no escritório da Torre. Para minha sorte, Aro não estava em nenhum lugar por perto. Eu não queria ter que me distanciar dele e levantar suspeitas. Eu conhecia muito bem Aro, era uma mania dele, querer saber de todas as coisas que aconteciam ao seu redor. Uma vez que ele me visse, eu não teria como evitá-lo. E era disso que eu estava fugindo, embora nenhum dos outros membros da guarda houvesse percebido a minha repentina mudança de hábitos. Nem mesmo Caio, que era o mais desconfiado. Talvez eles apenas estivessem ocupados demais com alguma coisa. Nas ultimas semanas, Volterra havia se tornado agitada além do normal. Havia um grande problema com recém nascidos em Seattle e eles estavam decidindo se era necessário ou não intervir. Daí me dei conta de que esse era o assunto tão importante de Marcus. No mínimo era apenas mais uma missão para punição contra aqueles que desrespeitavam as regras. Não era tão comum hoje em dia, mas ainda existiam transgressores no nosso mundo e esse tinha se tornado o principal “trabalho” dos Volturi. Nada que fosse muito dificil de se resolver; em todos esses anos eu nunca havia visto nada que pudesse chegar nem perto de ameaçar o exército dos Volturi. E eu estava mesmo certa. As ordens vieram diretamente de Caio. Eu deveria liderar um pequeno grupo que iria até Seattle, enquanto Jane iria até Forks. Eu não entendi muito bem o propósito da missão. Segundo ele, a luta já teria acabado quando chegássemos lá. Era só mais uma missão para alertar futuros transgressores. Emfim, apenas mais um showzinho de demonsntração de poder; eu detestava essas atitudes. Repentinamente, Aro entrou na sala. Eu me arrependi por não estar com o meu “radar” ligado, eu detestava ser pega de surpresa. Para o meu alívio, ele não tinha nenhuma intenção de ouvir os meus pensamentos. Estava preocupado com alguma coisa, e, sem dúvida, furioso também. Pediu para que todos se retirassem dali, com exceção de mim. Eu gelei com a sua atitude. Mas, no fim, era apenas um simples comunicado. Ele tinha novos planos para mim. No início, eu achei que eles iriam destruir os meus planos, mas depois, percebi que eles cairiam como uma luva para as minhas intenções. Eu deveria ir para Seattle, conforme as ordens de Caio, mas eu não retornaria com o meu grupo. Eu deveria ficar por la, para vigiar a familia de Carlisle Cullen. Para mim, aquela decisão de Aro não poderia ter sido melhor. As instruções que me foram passadas eram de absoluto sigilo. Eu deveria reportar informações somente para Aro, manter segredo da minha missão e não permitir ser reconhecida pelo alvo. Eu iria viver nas proximidades de Forks e voltaria á Volterra uma vez a cada três meses, para passar informações diretamente a ele.

Tudo teria sido perfeito para mim, não fosse a interferência de Jane. Ela não perdia nada. Obviamente não respeitou a ordem de privacidade. Ela me tratava como um inimigo perigoso e ,de certa forma, eu não deixava de ser. Ela entrou na sala sem dar uma única palavra, foi diretamente até Aro e deixou que ele tocasse suas mãos. Aparentemente ela não queria que eu tomasse conhecimento de sua conversa com ele. Não sei qual foi o argumento dela, mas conseguiu o que queria. Aro ordenou que eu ignorasse suas ultimas palavras. Ele iria mandar que outra pessoa fizesse o trabalho de vigia. Tinha uma missão de maior importância para mim. Eu logo percebi que de importante, a minha nova missão não tinha nada. Fui mandada para um distante vilarejo na Colômbia, na América do Sul. Teria a companhia de Sunseth, que havia se juntado a guarda recentemente. Nós teríamos que permanecer por la para investigar um mistério que rondava aquela localidade. As ordens eram para que permanecêssemos por la pelos próximos oito meses. Aparentemente, era apenas mais um problema com recém nascidos, mas eu não podia questionar, na situação em que eu me encontrava. Depois que resolvêssemos o problema na Colômbia, viajaríamos pela América do Sul, “recrutando”. Era comum que Aro mandasse expedições de Volterra para algum ponto do mundo, em busca de novos talentos que pudessem ser úteis em Volterra. Agora, eu não tinha mais dúvidas de que Jane estava tentando me manter longe. Sunseth e eu não tivemos dificuldades em resolver os problemas na Colômbia. Eu já sabia que seria desta forma, mas resolvi não tirar a empolgação de Sun. Ela era uma boa pessoa. Apenas era ingênua demais. Sunseth havia sido encontrada por Félix, em uma batalha recente, ocorrida no Egito. Ela ainda era muito nova nisso tudo. E era extremamente inocente, não tinha ideia do que os Volturi realmente faziam, ela só executava as ordens que eram passadas a ela. Sun pensava ter tido sorte por ser escolhida pelos Volturi e ficara honrada em ser sua seguidora. Sun tinha um dom muito incomum. Ela podia controlar as emoções das pessoas a sua volta. Era muito conveniente para Aro tê-la por perto em certas situações. Eu não entendia porque ele havia despachado ela junto comigo. Era compreensível que ele quisesse me manter longe, mas ai desperdiçar os serviços dela também... Emfim, eu fiquei feliz por ter como companhia alguém que não tivesse a hipocrisia a que eu estava acostumada pelo convívio com os anciãos e nem a metade da crueldade de Jane. Durante o recrutamento, nós encontramos apenas quatro indivíduos que merecessem atenção, mesmo assim apenas dois deles possuíam poderes que eu achava que valessem à pena. Porém apenas um pareceu manifestar interesse em se juntar aos Volturi. Um deles foi extremamente hostil, inclusive. Por ali os Volturi não eram muito populares, os vampiros sul-americanos tinham uma péssima visão sobre eles, o que me deixou satisfeita. Estávamos quase no fim dos oito meses exigidos por Aro. Viajávamos Sun, eu e os vampiros Guaco e Melissa que haviam aceitado juntar-se a guarda. Embora eu achasse que Melissa não tinha um dom muito útil, Guaco recusava-se a ir sem ela e eu precisaria levar ao menos um novo membro de volta para a Itália. Do jeito que as coisas iam, eu não acreditava que fosse conseguir mais ninguém.

 Foi quando aconteceu algo realmente inesperado. Nós estávamos na região da Amazônia, não sei dizer exatamente onde. Então eu a vi. Era a mesmíssima garota de quase dois anos atrás. A vidente, filha de Carlisle. Acho que se eu não tivesse poder de controlar as minhas emoções, eu teria me denunciado em minhas atitudes e Sun certamente teria percebido. Meu coração começou a bater disparado. Ao mesmo tempo em que eu estava eufórica com tamanha impossibilidade da situação, eu estava confusa. Por que razão ela estaria aqui? Eu não esperei para saber, na mesma hora, tratei de despistar Sun e os outros para poder segui-la e descobrir.

Eu já estava cheia da minha curiosidade. Decidi que iria tentar descobrir tudo o que eu precisava de uma vez só. E só havia uma maneira de fazer isso. Eu teria que ocupar a parte do meu dom que eu mais detestava. Eu me sentia parecida demais com Aro quando usava-a, mas era a única forma de me manter informada. Concentrei-me então em aumentar a persuasão de leitura da mente da vidente. Eu iria tentar pegar tudo o que pudesse e depois assimilaria apenas o que eu precisava. Nem foi tão difícil quanto eu esperei que fosse. Eu vasculhei cada recordação contida em sua memória e deixei para assimilá-las mais tarde. Primeiro eu precisava me apressar para acompanhar o bando. Eu não devia me distanciar muito deles, para não causar questionamentos posteriores. O caminho até encontrá-los foi torturante, a minha curiosidade em saber o que o eu tinha descoberto era quase insuportável. Melissa e Guaco tinham ido até o vilarejo para caçar. Sun ficara me esperando para que eu fosse com ela. Ela não tinha muita prática com isso e sentia-se mais confiante se eu estivesse por perto. Mais uma vez eu tive que inventar uma desculpa para não acompanhá-la. Ela já estava acostumada. A minha desculpa de sempre era escapulir por algum tempo e caçar sozinha. Tenho certeza de que ela não entenderia os meus “hábitos alimentares”. Sunseth foi sozinha até o vilarejo, me deixando em paz com os meus pensamentos; nem preciso dizer o quão oportuno isso foi para mim. Eu teria tempo de sobra agora para organizar as ideias.

Tentei começar revendo as memórias dela do fim para o início. Achei que seria mais fácil de entender, mas estava errada. A mente dela era extremamente complicada de se entender, nesse ponto ela se parecia muito com a de Aro. Aos poucos eu fui descobrindo pequenas coisas, algumas um tanto inúteis, mas algumas realmente surpreendentes. Eu estava fascinada em descobrir sobre a vida do meu pai. Carlisle tinha arrumado até uma companheira agora. Seu nome era Esme. Ele tinha uma família grande e pelo jeito não se desfizera dos antigos hábitos. À medida que eu ia descobrindo coisas sobre eles, fui ficando cada vez mais intrigada com uma coisa. Edward, o garoto que eu havia visto em Volterra aparecia em muitas de suas lembranças. O que me deixou mais alarmada era a sua semelhança com o meu Edward. Eu devia mesmo estar enlouquecendo. Afinal, não havia nenhuma possibilidade deles serem a mesma pessoa, havia? Eu tentei buscar, nas minhas embaçadas lembranças humanas, tudo o que eu sabia sobre o meu Edward. Até onde eu sabia, depois que eu apaguei a mim mesma de suas memórias, ele havia terminado o colegial. Eu realmente não tive notícias dele depois disso. Pensando bem, ainda por cima, o seu túmulo havia sido o único que eu não encontrara, quando voltei á Chicago, anos antes. Mas isso não significa que ele pudesse ter acabado da mesma forma que eu, ou será que significava? Resolvi deixar as minhas suposições bobas de lado, e seguir em frente. O Edward de Carlisle era casado e tinha até uma filha, quem diria. Foi ai que cheguei ao ponto que eu queria da minha memória. O motivo que trouxera Alice ao Brasil. Os Volturi os estavam ameaçando, mais uma vez. Desta vez, a causa era uma possível quebra de regras. A filha de Edward era uma mestiça, se é que assim posso dizer. Meio humana, meio imortal. Eu nem fazia ideia de que isso era possível até aquele momento, mas suas lembranças me convenceram de que realmente era. A regra que eles estavam sendo acusados de quebrar, era uma antiga lei do nosso mundo, que impedia a criação de crianças imortais, que eram nada além de crianças que após a transformação congelavam em idade e mentalidade, impedindo assim seu desenvolvimento. Obviamente, se elas não se desenvolviam não poderiam entender ou respeitar as regras do nosso mundo e isso era um risco muito grande a se correr. Mas eu logo vi que Aro estava enganado desta vez. A menina, filha de Edward, em muito pouco se parecia com uma criança imortal. Prova disso era que ela podia crescer e se desenvolver, muito rapidamente, aliás. Eles estavam tentando encontrar maneiras de mostrar isso aos Volturi. Alice estava ali procurando por outro caso como o de sua sobrinha, na tentativa de provar que não estavam transgredindo lei alguma. Porém, conhecendo Aro como eu conhecia, mesmo que eles conseguissem provar de alguma forma, dificilmente ele voltaria atrás em sua decisão. E eu não acreditava mesmo que essa fosse a real motivação. De qualquer forma, Carlisle estava em perigo novamente. Eu nem pensei duas vezes depois disso, eu estava nessa para salva-lo mais uma vez. Eu passei instruções para que Sun concluísse a missão até a Itália e alertei-a de que eu não retornaria com eles. Eu não estava mais preocupada com o que os Volturi pensariam disto. Eu estava mostrando agora quem eu realmente era, e de que lado eu estava.

Segui direto para Forks, eu pensaria em como agir no caminho até lá.

 

A velocidade foi diminuindo, e eu fui ficando cada vez mais nervosa. O avião já estava quase pousando, eu já não tinha mais escapatória. O reencontro com Carlisle agora era inevitável. A longa viagem me dera muito tempo para pensar, mas eu percebi que jamais estaria psicologicamente pronta para isso. A aeromoça então noticiou pelos alto-falantes a proximidade com a pista de pouso, estávamos chegando a Seattle. Era um alivio saber que o próximo seria o ultimo vôo que eu teria que pegar. Já estava cheia disso tudo. Eu me sentia presa demais àquela situação e dois longos vôos seguidos haviam acabado com toda a minha paciência. Ainda bem que eu havia caçado o suficiente recentemente. A sede não me incomodaria por um bom tempo agora. Depois de Port Angeles seriam apenas mais alguns minutos de carro até La Push. É claro que em condições “normais” demoraria pelo menos uma hora até Forks, mas o meu modo de dirigir era bem diferente do normal.

 

Já no aeroporto, eu estava procurando o balcão de embarque para o próximo vôo, enquanto os outros passageiros cuidavam de suas bagagens. Logicamente eu não possuía bagagem alguma. Usei o meu dom para procurar, na mente das pessoas que passavam, a direção certa. Admito que mesmo não gostando, era uma forma muito mais prática conseguir o que se quer. Notei uma garota, que devia estar me olhando de cima a baixo, porque estava criticando a minha aparência, mentalmente. Dei-me conta de que eu devia estar horrível, de fato. Tanto tempo convivendo entre os Volturi, tirara toda a minha noção do que vestir. Afinal, la eu usava sempre o mesmo tipo de capa e roupas escuras. Eu tivera que ir as compras na parada no aeroporto do Rio, pois as roupas curtas que eu usara no Brasil estavam completamente inapropriadas para a situação. Mas acho que nem as novas estavam muito boas, eu tinha as escolhido excessivamente apressada. Acabei me entretendo com pensamentos sobre o que deveria vestir e nem me dei conta de quem era a garota la atrás. Era Alice mais uma vez. Estavam com ela Jasper e outras duas pessoas que deviam ser os brasileiros que ela fora procurar. Deparei-me com o conflito interno sobre me comunicar ou não com ela. Eu nem bem havia me decidido por contar a verdade, quando ela virou-se e começou a andar na minha direção. A essa altura ela já devia ter previsto a nossa conversa. Isso facilitaria muito as coisas. Jasper e os brasileiros seguiram-na, confusos.

Por um momento, fiquei sem saber até onde eu havia contado a ela em suas previsões, mas, pelo jeito, ela pôde ver até mesmo as suas reações para tudo isso e em que parte eu entraria no plano. Sim, porque sua decisão já estava tomada, ela nem cogitava a ideia de duvidar das minhas palavras. Palavras que nem ao menos foram ditas, só que a situação deles estava tão crítica, que qualquer ajuda de fora, seria bem vinda. Eu deixei para concluir os esclarecimentos mais tarde. O que Alice me viu contando foi apenas parte da verdade, apenas o que importava agora; que eu sabia o que estava acontecendo, que acreditava neles e que estava disposta a qualquer coisa para ajudá-los.

Tudo isso aconteceu enquanto Alice se dirigia até mim. Até aquele ponto ela já havia entendido que eu tinha o poder de ler mentes. Muito provavelmente por sua experiência com Edward, ela já sabia bem como isso funcionava. A velocidade humana me irritava, porém tínhamos que agir discretamente perto de todas aquelas pessoas. O tempo que ela levou para atravessar o saguão me pareceu uma eternidade. Eu fiquei imaginando o tamanho da confusão na cabeça de Jasper, ele não estava entendendo absolutamente nada do que se passava. Nenhuma palavra foi dita, não havia tempo o suficiente, o vôo já estava partindo. Fomos juntos até o portão de embarque, já que o vôo seria o mesmo. Teríamos tempo durante a viagem para esquematizar um plano.

Á caminho de Port Angeles, conseguimos nos entender e explicar tudo a Jasper. Em dado momento, Alice teve uma visão da conversa que eu pretendia ter com eles, quando a confusão passasse. Eu sabia que isso uma hora iria acontecer, mas, mesmo assim, preferia adiar aquela conversa. Eu precisava achar uma maneira gentil de dizer a ela que esquecesse aquilo por um tempo. Nem foi preciso, ela, na mesma hora, pareceu entender. Era tão mais fácil me comunicar com Alice, engraçado como nos entendemos quase que imediatamente. O combinado era que eu me infiltraria entre as “testemunhas” que acompanhavam os Volturi e tentaria convencer, o maior número possível deles, da inocência dos Cullen. Se não houvesse testemunhas o suficiente, Aro não teria como aprovar a sentença como mandava a lei. Isso os obrigaria a mostrar a sua verdadeira face. Se isso não fosse o suficiente, teríamos vantagens em um confronto direto; quanto menos pessoas se juntassem á batalha, maiores seriam as nossas chances de vencer. Caso uma grande quantidade de votos favoráveis os fizesse recuar, quanto mais votos a nosso favor, mais eles os teriam que levar em consideração em sua decisão. Isso nos daria tempo para que provássemos sua inocência. Alice me dera a localização exata em que eles estariam quando eu chegasse até eles e então estava tudo acertado.  Na saída do aeroporto eu desejei toda a sorte possivel a eles e Alice se despediu com a promessa de que quando toda essa confusão passasse, ela me ajudaria á falar com Carlisle. 

Consegui convencer algumas testemunhas antes mesmo de chegarmos até a clareira em que os Cullens estariam nos esperando. Mesmo assim, as testemunhas ainda somavam um grande número quando já estavamos próximos ao destino. Era muito dificil convencer pacificamente àqueles que vieram com o único propósito de assistir a execução das leis, eles desejavam presenciá-la, fosse ela justa ou não. Eu me cansei daquilo e resolvi usar meus poderes para tornar a luta mais justa para mim. Alterei o máximo de mentes que me foi possivel. Mesmo assim, eles eram tantos, e eu apenas poderia lidar com um de cada vez, dois, no máximo, se não exigissem muito.     

 

(...)

 

Os primeiros vestígios de luz no céu já deveriam estar aparecendo no horizonte, mas eu não tinha como saber ao certo. As nuvens características do clima de Forks as estavam encobrindo. Eu estava impaciente. Satisfeita, de certa forma pela sorte que tivemos naquela batalha. Mais uma vez eu havia cumprido os meus objetivos. Minha ajuda desta vez não havia sido de tão grande valia, mas Carlisle estava salvo mais uma vez, ao menos por um tempo. Todo aquele ambiente hostil que havia sido criado pelo conflito, estava se dissipando aos poucos. Alice prometera que me ajudaria a falar com Carlisle, pedira que eu apenas esperasse mais alguns dias para que eles pudessem se recuperar do choque, assim ela poderia tocar no assunto. Eu alugara um quarto em um hotelzinho, onde passei o resto da semana, me preparando e pensando no que eu iria falar a eles. Então eu ouvi baterem à porta. Eu estranhei, eu não conhecia ninguém que pudesse querer vir me visitar, a não ser...

-Alice!

-Sou eu, Amélia, vim conversar com você. Pode abrir a porta?

-É claro! - E levantei, rapidamente, para abrir a porta para ela. A porta era antiguíssima, e fez um estranho rangido quando eu abri.

Alice estava sorridente e, pelo visto viera sozinha. Eu não pude esconder o meu alívio, não havia me preparado psicologicamente para encontrar o meu pai agora.

-Você esta pronta para vir comigo agora?

-Eu... bem, na verdade não.

-Eu já imaginava. Estou só brincando, não se preocupe. Eu vim apenas para avisar você. Darei um tempo para que você se prepare. E vim para conversar com você também, sobre algumas coisas que me deixaram curiosa.

-Oh... certo, vamos conversar então.

-Bem, eu não pude deixar de ficar sabendo o que você pretende contar a Carlisle amanhã...

-Amanhã ?!

-Ora, vamos! você já esta certa do que vai dizer, por que adiar isso?

-Tem razão... eu disse com um suspiro. Então, o que você queria saber?

-Eu percebi uma coisa, aquele dia no avião, eu tive uma visão do que você contaria para Carlisle. Naquela visão, você contava a ele sobre a sua vida humana, e ela incluía um noivo.

-Alice, isso é... complicado. Eu não gosto muito de lembrar disso.

-Eu compreendo, é que eu não pude deixar de notar as semelhanças do seu noivo com o meu irmão.

-Oh.. eu também percebi isso. Mas não significa nada, quer dizer, não há nenhuma chance de isso ser possivel, Alice.

-Na verdade, há. Tanto existe essa possibilidade, quanto foi exatamente o que aconteceu. Comparando o seu noivo com o passado de Edward, descobri que eles são a mesma pessoa.

Eu não sabia o que dizer, estava em choque. Não me dei conta nem de controlar esses impulsos.

-Mas... Alice, como... como isso foi acontecer? - eu gaguejei.

-Eu não sei explicar exatamente por que. Não há um motivo concreto, é só uma coincidência. Carlisle salvou Edward da morte. Assim como toda a familia, ele estava para morrer com a gripe espanhola. Foi como ele fez com você, não é?

-É... mas... deve haver alguma coisa que liga todos esses fatos. A probabilidade de Carlisle ter voltado para Chicago e ter salvo a vida justamente do meu noivo é quase... é impossível, Alice!

-Garanto que pode ser tudo, menos impossível. Está muito claro, eu não tenho duvidas disso. Apenas, nós talvez nunca entendamos o porquê. A não ser que a memória de Carlisle possa ser restaurada.

-Eu não sei se posso fazer isto...

-Eu sei que não pode. Também sei o porque, não se preocupe. E tente não ficar nervosa. Eles não vão julgar você antes de te ouvir. Eu já expliquei a eles quem você é, e o que vai lhes contar. E lembre-se, eu estou do seu lado, acredito em você. Eu posso provar a eles se for preciso.

-Oh, Alice, você não sabe o quanto eu sou grata por tudo isso.

-Tem uma condição.

-Qualquer coisa!

-Eu quero que bloqueie a sua mente para que Edward não possa lê-la.

-Edward... meu deus, Alice, você estava mesmo falando sério?

-Mas é claro que eu estava! Mas e aí, aceita a minha condição ou não?

-Lógico que aceito, se você me explicar porque.

-É para que ele não saiba das coisas antes do tempo, e tire conclusões precipitadas. É bem típico de Edward. Mas é mais para evitar um constrangimento entre vocês.

-Ohhh.. entendo. Está certo então.

-Até amanhã, então, mana!

-Há! Essa é muito boa!

-O que, nós não somos irmãs afinal?

-Tem razão, é só que isso soa estranho...

-Deixe de bobagens, você é da familia agora.

-Até amanhã então, “mana”

E saiu, dançando, pela porta.

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Não deixem de opinar sobre a história. A colaboração de quem lê é muito importante para o escritor. Comente! E continue conferindo os próximos capítulos!


[CAPA ATUALIZADA];*