Angie's POV. 

Ramalho estacionou o carro junto ao meio-fio da calçada e o desligou. Saímos rapidamente, quase correndo em direção à porta. Germán estava desesperado para encontrar Violetta, embora soubesse que nada demais aconteceria com ela.

Pus-me atrás dele e Ramalho ficou ao meu lado. Escutei um estrondo ecoando pela casa e só então me dei conta de que Germán havia chutado a porta com brutalidade.

— Poderia ao menos ter girado a maçaneta. — O repreendi, com dor nos ouvidos por causa do barulho. 

Ele ignorou e adentrou a casa com rapidez. Segui-o em passos lentos, e Ramalho me imitou. Estava preocupada tanto quanto ele, mas temia que Matias ou qualquer outro aparecesse e fizesse alguma coisa. 

— Germán, calma! Em casa você estava mais tranquilo. — disse-lhe. 

Ele bufava a cada instante e uma veia saltava de sua testa, parecia que a qualquer minuto explodiria. 

— É porque há poucos instantes me dei conta da periculosidade da situação. — afirmou, sem tirar os olhos do corredor.

— Bem, explodir não vai resolver nada. 

Mas uma vez, ele me ignorou. Estava completamente dominado pela fúria. Quando se tratava de sua filha, ele enlouquecia.

— Germán, a Angie tem razão. Acalme-se. — Ramalho concordou comigo, de forma condescendente. 

Antes que ele pudesse responder, avistamos um homem loiro no fim do corredor, se dirigindo até a nós. Quando viu o estado de Germán — totalmente endiabrado — deu meia-volta e saiu correndo. 

Germán correu atrás dele. Pelo o amor de Deus, esse homem é louco! 

— GERMÁN, ESPERA! — gritei, temendo o pior. 

Corri atrás dele, deixando Ramalho para trás. O alcancei alguns segundos depois. 

Ele segurava Matias pela gola da camisa. O semblante de Matias esbanjava espanto e medo, e não era pra menos, até eu estava receosa. 

— Cadê minha filha? — perguntou pausadamente, destacando cada palavra.

— Ela... Ela... 

— CADÊ MINHA FILHA? — gritou, seu rosto assumiu um tom vermelho tomate.

— Ela fugiu. — balbuciou, fechando os olhos com força. Provavelmente estava esperando levar um soco ou algo do tipo.

Afaguei de leve o ombro de Germán, tentando tranquilizá-lo. Mas é claro que, como sempre, foi em vão. 

Matias estava há uns 30 centímetros do chão e eu temia que Germán o lançasse para trás. Por mais que ele tenha feito o que fez, eu odiava violência. 

— FUGIU? COMO ASSIM FUGIU? — esbravejou.

— Ela, o namorado e o garoto do boné estavam presos no porão. Quando eu fui lá checar, eles tinham sumido... Não sei para onde eles foram.

Meu noivo o soltou e Matias secou o suor da testa com as mãos, já ficando mais tranquilo. Mas eu sabia que não acabava ali. 

— Por que você os prendeu? — perguntou.

— Eu? Eu... É... — Ele olhava para todas as direções, nervoso. 

— Sim, você. — Ramalho falou, aparecendo atrás de nós de repente. 

Matias ficou olhando para todos os lados, sem saber o que dizer. Nem eu entedia o porquê de Matias ter nos feito de refém. Ele não tinha motivo algum para isso. 

— Eu pedi que ele fizesse isso. — falou uma nova e conhecida voz, vinda de uma porta ao norte. 

Olhamos na direção da porta e uma mulher de cabelos curtos e um salto altíssimo apareceu, encaminhando-se lentamente até nós. 

— Jade. — O nome dela escapou de meus lábios e mal passou de um sussurro. 

Eu já sabia que ela estava envolvida em tudo isso. Entretanto, não sabia que ela viria falar com Germán. Achei que ela não teria coragem de encará-lo.

Sempre fora muito bobinha e ignorante, e é claro, sempre queria se passar por boazinha diante dele. 

— E eu a ajudei. — Agora era uma loira que saía do cômodo. Ludmila. 

— Quem é essa garota? — Germán perguntou, gesticulando para a loira. — E o que você tem contra a Angie? E minha filha? 

— Contra a Angie eu não tenho nada, embora devesse ter simplesmente pelo fato de ser da família da Violettinha. — Ela falou "Violettinha" com desprezo e ironia. — A Jade tem algo contra a Angie. 

— E o que minha filha fez para você? — Germán cruzou os braços e deu uma passo à frente. 

— Existiu. Além de ser a "queridinha" do Studio, conseguiu ganhar o Tommy, o León e todos os outros garotos. Ela é irritante e fez um inferno na minha vida. 

— Ela fez um inferno na sua vida? — questionei, intervindo. — Você fez um inferno na vida dela. E o único motivo disso tudo é inveja. Você não suporta a ideia de ela ser melhor que você. 

— Cuidado com o que fala, Angeles. — Ela me desafiou e deu ênfase no meu verdadeiro nome. 

— Ah é? E o que você vai fazer? — Ergui as sobrancelhas.

— Já chega! — Germán segurou meus ombros, me impedindo de fazer qualquer ato. — E você, Jade, por que fez isso?

— Você me trocou com essa aí. Uma mulher tão sem graça e sem classe. 

— Eu a amo. E você está sendo ridícula por fazer isso. Achava que mantendo a Angie de refém conseguiria me ter de volta?

— Mati, o que é refém? — Jade virou-se para Matias e perguntou. O mesmo rolou os olhos e afundou o rosto nas mãos. 

Eu soltei uma risadinha. Não estava mais tão temerosa. Com Germán ali — e Matias morria de medo dele — não poderiam fazer nada conosco. E eu sabia que Violetta estava em segurança, afinal, estava o com namorado e o amigo. E León sabe o que faz.

— Bem, não importa o que é refém! Eu sabia que não teria você de volta, só queria fazer essa loira mal-vestida sofrer. — Jade sorriu ameaçadoramente para mim. 

Rolei os olhos. Não me sentia mais ameaçada, não estava mais tão indefesa quanto antes.

— Ludmila, pode ter a absoluta certeza de que falarei com o Antônio sobre o que você fez. — afirmei, olhando para ela.

— Mas eu não fiz nada. — Ela tentou manter uma fachada inocente, mas eu a conhecia e sabia que era tudo atuação. 

— Você admitiu há pouco. — Lembrei a ela. 

— E vocês vão para a cadeia. — Ramalho falou, dirigindo-se à Jade e Matias.

— Não se conseguirmos fugir primeiro!

Matias pegou a mão de Jade e correu com ela para o fim do corredor, virando à esquerda e indo em direção à porta. Ramalho ficou observando tudo com a expressão mais serena possível.

Germán e eu erguemos as sobrancelhas para ele, sem entender. Ele deixaria os dois fugirem? Era isso mesmo?

Ludmila nos fitava, nervosa, e rapidamente os seguiu. De repente, escutei o som de uma sirene do lado de fora e finalmente entendi. 

— Como a polícia ficou sabendo? — perguntou Germán. 

— Enquanto vocês corriam atrás de Matias, eu liguei e informei o caso. — falou em um tom presunçoso, indo em direção à porta.

Um sorriso aliviado se formou em meus lábios no mesmo instante. Peguei a mão de Germán e seguimos Ramalho. Ele ainda estava estático com tudo e por isso não falara nada.

Quando chegamos, carros de polícia estavam estacionados. Policiais detinham Jade e Matias, e uma mulher loira conversava com Ludmila. Ela parecia estar a repreendendo, então provavelmente era sua mãe. Ramalho não fazia nada pela metade, realmente. 

Soltei uma risadinha satisfeita. 

Conversamos um pouco com a polícia e relatamos o paradeiro de Violetta, León e Maxi. Embora eu não estivesse preocupada, afinal, sabia que eles ficariam bem. León jamais deixaria que algo de ruim acontecesse com Violetta. 

Voltamos para a mansão às 15h43min. Ramalho foi falar com os holandeses e eu me afundei no sofá, cansada. Mas estava feliz por finalmente estar em casa, em segurança. 

Germán sentou-se ao meu lado e acariciou meu rosto de leve. 

— Fico feliz em estar com você. — disse-me com os olhos castanhos brilhando. 

— E eu estou feliz por estar em casa... E estar com você. — Sorri. 

— Acha que Violetta vai ficar bem?

— Tenho certeza que sim, nem precisa se preocupar.

— Para onde você acha que ela foi? — perguntou e seu semblante assumiu uma fachada preocupada.

— Não sei... Mas ela vai ficar bem. E a polícia vai procurá-los. — afaguei seu ombro.

Ele sorriu de leve e se aproximou mais uma vez de mim. Segurou meu queixo com firmeza e puxou meu rosto para mais perto do dele. Seus olhos esbanjavam carinho. 

Selou nossos lábios levemente e, por um minuto, esqueci-me de todos os problemas e preocupações. Antes de eu ter sumido, havíamos brigado e desde então ficamos um tanto "separados" e distantes. 

Agora enfim estávamos bem e eu poderia aproveitar meu tempo ao lado dele. Senti-me no paraíso. 

Era incrível como as coisas tinham mudado tanto. Antes mal nos falávamos, só como empregada e patrão. Gostávamos um do outro mas não admitíamos nossos sentimentos. E depois, tudo mudou. E agora estávamos noivos e felizes. 

Eu tinha que agradecer tudo isso à Violetta e Ramalho, que sempre apoiaram e nos ajudaram a ficar juntos. 

Quando nossos lábios se separaram ele olhou no fundo de meus olhos e murmurou: 

— Eu te amo. 

Dei um sorriso abobalhado e o abracei com a maior ternura que pude.

— Eu também te amo. — respondi em seus braços. 

Aconcheguei-me ali e acabei caindo no sono. Estava exausta com tudo o que aconteceu e já fazia um tempo que eu não dormia. 

Quando acordei estava anoitecendo. Estava deitada no sofá. Germán provavelmente estava no escritório resolvendo coisas de trabalho com Ramalho. Estava impressionada que ele não estivesse surtando com o desaparecimento de Violetta.

Olhei-me no espelho e me dei conta de que estava horrível. Resolvi tomar um banho frio, assim me despertava e ficava um pouco mais apresentável.

Liguei o chuveiro e deixei a água gelada ser despejada sobre minhas costas. Foi um alívio. Fiquei um bom tempo ali. Quando terminei, vesti uma roupa confortável e me dirige até a cozinha, no intuito de ajudar Olga com alguma coisa.

Porém, Olga não estava lá. Germán estava procurando algo na geladeira e quando me viu, abriu um enorme sorriso.

— Dormiu bem? — perguntou. 

— Deu pra descansar. — afirmei me sentando no banquinho em frente à bancada. — Está preocupado?

— Não muito. Sei que ela ficará bem. 

— Estou impressionada! Nunca te vi tão tranquilo quando se trata da Violetta. 

— Você me tranquilizou, como sempre faz. — Ele se pôs ao meu lado e colocou os braços em volta de mim.