*Ponto de vista da Lori

Eu havia acabado de chegar no Quebra-Garrafa. Era um bar de beira de estrada, uma verdadeira espelunca - típico lugar que o Adam gostava de frequentar. Uma nuvem de fumaça cobria o ambiente como uma névoa de nicotina. Notei imediatamente que eu era a única mulher em todo o bar e a forma que os homens me encaravam, revelavam uma certa abstinência pelo corpo feminino. Sorri por dentro. Aquilo podia ser divertido.

Caminhei em direção ao balcão trazendo à tona a única coisa que eu não havia abandonado do meu passado como modelo: minha sensualidade. Aproximei-me do balcão, mas não me sentei de imediato. Debrucei-me pela superfície lisa e mal-encerado de madeira, exibindo meu decote sem medo para o velho garçom. Ele estava polindo uma garrafa de vidro transparente e decorada (seu conteúdo também era incolor, mas não me chamou a atenção). O garçom olhou para mim de uma forma entretida, mas não desejosa, o que me incomodou um pouco. Ele mal reparou no meu decote, o que me incomodou mais ainda.

"Eu conheço você." disse ele sem parar de polir a tal garrafa.

"Como disse?" perguntei inclinando a cabeça levemente para o lado deixando meu cabelo escorregar por cima do ombro.

"Eu vi você e o seu namorado arrumando confusão na loja de souvenirs na cidade vizinha semana passada." respondeu ele colocando a garrafa recém polida de volta em seu lugar.

"Ah," disse eu decepcionada. Fiquei ereta e então me sentei em um dos bancos altos.

"Então..." disse ele. "Vai pedir o que?"

"Uma cerveja." pedi sem muitas cerimônias. Eu o vi se afastar e me lembrei então do que ele havia dito. Semana passada eu havia mesmo arrumado confusão numa loja de souvenirs. Na verdade o Adam arrumou confusão, como sempre. Ele bebeu pelo menos três garrafas de cerveja na loja causando certo transtorno, mas não posso dizer que eu não fui cúmplice. E eu confesso que eu adoro essas loucuras do Adam. Fingimos nos render enquanto o lojista chamava a polícia e não sei ao certo quando ele se deu conta, mas não estávamos mais lá. Fugimos de moto com mais três garrafas como se fôssemos os donos do mundo. Talvez sejamos mesmo.

Não demorou muito para que o velho garçom me trouxesse uma garrafa de cerveja bem gelada e também já aberta. Ele pôs sobre o balcão um copo de vidro, mas o ignorei e bebi direto do gargalo, como o Adam havia me ensinado.

De repente um sujeito se sentou ao meu lado. Tinha uma aprência descuidada, sua barba já estava volumosa, mas fora isso ele parecia ser interessante. Ele tinha aquele olhar perigoso e arrogante, o que em alguns casos eu consideraria como sexy. Aparentava ser pelo menos oito anos mais velho que eu. Era charmoso, embora eu tivesse achado que ele deveria ser mais há alguns anos passados.

"Olá, senhorita." disse ele flertando com os olhos. "O que acha de me deixar pagar uma segunda rodada?"

"Por que não paga a primeira?" perguntei dando uma boa golada na minha cerveja barata. "Talvez eu não fique para uma segunda." pisquei.

Ele riu baixo da minha ousadia e chamou o velho garçom com a mão. Enquanto o garçom trazia sua bebida, ele me encarou pousando o cotovelo sobre o balcão enquanto a outra mão se insinuava em minha direção. Aguardei um momento para ter certeza do que ele estava fazendo. Ele começou a alisar minha perna e foi subindo de acordo com sua vontade. Num sobressalto, eu afastei minha perna e lancei para ele um olhar acusador e perplexo. Abri a boca para protestar a precipitação do homem, mas o velho garçom me interrompeu colocando diante do meu assediador sua garrafa e em seguida o copo.

"Se eu fosse você não faria isso." disse o garçom para o meu assediador, o que para mim foi uma surpresa.

"O que?" perguntou o homem confuso, depois compreendeu e perguntou mais baixo, ignorando minha presença. "Por que? Você não faria a mesma coisa?" sorriu maliciosamente me olhando de canto, o que fez um calor nervoso se inflamar em mim.

"Ela é a garota do Adam." disse o garçom com ar sério. Em seguida ele olhou para mim e deu uma piscadela.