Santana estava em choque. Ela me olhava como se estivesse vendo um fantasma. Ela estava pálida e boquiaberta. É isso. Acabou tudo.

- Você pode continuar morando aqui se quiser  Santie, mas vou entender se você quiser ir morar em outro lugar, já que aposto que não vai querer distância de mim agora. – Suspirei, desabada. É claro que ela não iria querer me ver. Quem quer ser amiga da garota que tem AIDS? – Por favor, fala alguma coisa. – Encarei-a.

- E..eu preciso de... de um tempo pra pensar. – Ela disse, meio perturbada, e saindo rapidamente do meu quarto.

Pronto. Aconteceu o que eu mais temia. Essa doença estúpida tirando tudo de mim mais uma vez. Primeiro foi a minha mãe, que eu amava tanto... Depois os meus amigos na minha antiga escola, e agora a minha melhor amiga. E provavelmente Finn. Ah meu Deus, Finn não!

Coloquei minha cabeça entre meus joelhos e deixei as lágrimas caírem. Nada mais importa agora. Eu queria tanto prolongar aquela época em que tudo estava indo tão bem. Parece que tem um século, mas ontem mesmo tudo estava bem. O que será de mim agora? Eu não me importo com os sintomas da doença, ou com tomar aquele monte de remédios... eu me importo com as pessoas que essa doença me afastam. Por que? Por que eu tive que nascer com esse fardo?

POV Santana

Minha cabeça tá girando. Sentada aqui na porta da casa da Berry e toda essa informação que ela me deu simplesmente não entra na minha cabeça. Como ela conseguiu esconder uma coisa tão grande dessas por tanto tempo? Eu pensava que o segredo dela fosse algo do tipo: Eu tomo anticoncepcional porque já sou uma garota safada ou algo assim. Jamais pensei que fosse algo tão pesado. Agora eu entendo porque ela não queria me contar.

Eu não entendo basicamente nada sobre essa doença, mas eu sei que ela não tem cura e que a tendência é só piorar com o tempo. Mas se a Berry tem 16 anos e já tem essa doença, ou ela andou fornicando demais ou ela já nasceu com isso. Será o que aconteceu?

Dío mío! A minha pequena hobbit deve estar devastada agora pensando que eu abandonei ela quando ela mais precisou.

POV Rachel

Não vou levantar dessa cama nunca mais. Aqui tá tão quentinho e aconchegante, sem ninguém pra me julgar ou me abandonar... Mas não posso culpar Santana de ter caído fora. Deve ter sido um choque pra ela. É só que... mesmo depois de tanta gente indo embora depos de saber do meu segredo, ainda dói como se fosse a primeira.

Ouvi uma batida na porta. Meu pai deve estar curioso pra saber porque a Santie provavelmente saiu correndo daqui de casa. Tô com a cara inchada e vermelha de tanto chorar, mas não me importo. Meu pai é a única pessoa que nunca me abandonou.

- Pode entrar, papai.

- Na verdade eu ainda não tenho nem idade nem paciência para ser seu pai. – Uma voz familiar soou em meu quarto.

- Santana? – O que diabos ela ainda tá fazendo aqui?

- Olá, hobbit. – Ela me deu um sorriso e eu continuo confusa.

- Olha, eu não sou boa com palavras, então eu vou simplesmente dizer de uma vez, ok? – Assenti. – Eu fiquei sim muito chocada com o que você acabou de me contar, e só saí desse quarto porque precisava de um tempo pra pensar. Isso não significa que vou te abandonar, ok? Você não vai se livrar de mim tão cedo. – Ela sorriu novamente, pegando em minha mão. Eu ainda estava meio perdida. – Depois de tudo que você fez por mim, depois que você ouviu todos os meus choros e me acolheu na sua casa, mesmo me conhecendo por tão pouco tempo, eu JAMAIS iria te abandonar quando você mais precisa de mim.

Não consegui evitar. Caí no choro de novo e envolvi meus braços envolta da minha melhor amiga.

- Mas você não tem, sei lá, nojo de mim?

- Claro que não, Rach! Você é bff, doente ou não. E tem outra coisa. Eu já tive um tio que tinha AIDS e a gente convivia super bem com ele. – Ela sorriu, tentando disfarçar, mas eu consegui entender o verbo no passado: “convivia”. Ele morreu. E infelizmente isso não iria demorar a acontecer comigo.

- Mas hobbit, posso te fazer uma pergunta meio indiscreta?

- Depois de toda a força que você está me dando, pode fazer quantas perguntas quiser. – Eu estava muito feliz por Santana não ter me abandonado, por não deixar a minha doença definir quem eu sou.

- Você já nasceu com essa doença? Como foi?

- Já sim Santie. – O dia foi passando e eu e Santana ficamos sentadas em minha cama e conversando. Expliquei pra ela que a minha mãe me passou essa doença e que ela morreu disso. Expliquei também que não sou filha do meu pai, e sim do desgraçado que passou essa doença pra minha mãe. Quando ela tava grávida de mim, ela conheceu meu pai, que aceitou ela mesmo com essa doença e me assumiu como sua filha legítima.

- Ele é um anjo na minha vida, Santie. Eu amo ele mais que qualquer coisa nesse mundo. Ele me levou aos melhores médicos desde que nasci, sempre teve muito cuidado com a minha saúde, por isso estou viva e saudável até hoje. As pessoas que nascem com essa doença não costumam viver por muito tempo, mas ele fez de tudo pra me dar uma vida o mais normal possível. Tudo que eu tenho eu devo ao meu pai.

- Uau, que história em Berry? E eu que pensava que você era só uma garotinha mimada de Albuquerque. – Nós rimos. – É sério, antes de falar com você, eu até te chamava de Sharpay Evans morena.

- Você tem uma criatividade pra apelidos imensa, Santie.

- Eu sei, é um dom. – Ela jogou o cabelo, toda metida. Nós ficamos rindo por um tempo, mas logo depois a graça foi indo embora, e de repente ficou aquele silêncio estranho.

- O que eu vou fazer agora Santie? Eu gosto tanto do Finn... eu.. eu acho que amo ele, Sant. – Confessei, assustada com o que eu disse. – Tenho certeza que quando ele descobrir, ele vai sair correndo de mim. – Meu coração ficou esmagado só de pensar.

- Calma Berry, uma coisa de cada vez. – Santie me abraçou. – Fica calma, tudo vai dar certo. Se ele realmente gosta de você, não vai ser isso que vai impedir vocês de ficarem juntos, ok?

Apesar das palavras reconfortantes de Santana, lá no fundo, eu sabia que era só uma questão de tempo até tudo desmoronar.