Fuga escrita por Natã Cruz


Capítulo 9
Capítulo 8 - A pior noite de suas vidas




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/311845/chapter/9


Lorel se encolhia consigo mesma no banco carona do conversível. O vento daquela noite a deixava zonza de frio. E pensar que tudo começou com um simples jantar, depois por uma proposta de emprego para sua amiga e logo em seguida um sequestro. Afinal, como e por que?

– Não sei o que seria de mim se você não tivesse me encontrado. – disse enquanto lagrimejava.

Mattew estava atento na estrada, sério e confuso. Teve que sair correndo do grupo pra acudir Lorel, e o que eles devem ter pensado com isso? Jamais veria o grupo de novo, jamais veria Capitão John outra vez. Estava aborrecido também.


– Obrigada. – disse Lorel.

Mattew apenas mexeu a cabeça.

– Pra onde esta indo? – perguntou.

– Centro de Seattle. – disse com a voz grave.

– Vou pra lá perto, você pode me deixar na South McClellan? – perguntou trêmula de frio.

– Sim. – respondeu finalmente olhando nos olhos de Lorel que sentiu um frio na barriga.

Ele voltou os olhos para a estrada, tirou a peruca e os óculos.

Lorel o achou atraente. E a viagem seguiu silenciosa por um tempo.

– Então, como a senhorita foi parar ali? Lembra-se de algo? – Mattew tentou.

Lorel tentou se recordar, mas apenas lembra-se de um homem de preto a agarrar por trás. Não deu tempo de olhar o rosto dele.

– Apenas me lembro de alguém me dopar. – disse.

– Foi por pouco, não? Eram dois. – disse Mattew.

Lorel sentiu um frio na barriga ao lembrar dos dois mortos. Mattew havia os colocado em sacos plásticos e jogado em mar aberto. Já se passava da meia noite.

– Por que você os... matou? – perguntou com um nó na barriga.

Mattew não respondeu imediatamente, esperou um pouco para formular algo lógico. Não mentir, mas dizer algo que explique sem parecer um psicopata.

– Eu não aguento ver garotas serem maltratadas fisicamente, é meio que um trauma de criança. – disse a verdade. Quando era mais novo, seu pai batia tanto na mãe dele, que um dia ela perdeu os dentes de tanta pancada que recebia no maxilar.

– Mas matar...? Você é algum tipo de assassino? – perguntou indignada e com medo.

– Não, eu sou homem. – ele disse isso olhando dessa vez para ela sem os óculos. E aquilo excitou muito Lorel, era algum tipo de sentimento de medo, nojo e atração juntos.

– Não se arrepende? – disse incrédula.

Mattew a olhou com um sorriso no canto da boca.

– Mais do que você imagina. – disse a verdade.


–--------------------------------------------------------------------------

Lion pediu um café na cafeteria do hotel. Ali era um bom lugar para vigiar Cate na piscina com as amiguinhas que tinha feito. Ele sabia que aquilo era importante pra ela se distrair, viver. Ele morreria se acontecesse algo de grave com Cate. Era como uma filha pra ele.

– Sozinho? – disse uma mulher sorridente, usava roupas curtas, bota grande e cinza e um corte de cabelo muito moderno, no qual seus cabelos castanhos eram cortados nas laterais e se alongava na altura das costas. Usava brilho labial forte e um de seus cílios postiço estava torto.

– Não. – respondeu Lion sorrindo. Precisava de uma pessoa pra conversar, nem que seja para jogar conversa fora.


– Bem. – disse a moça alongando a língua e se sentando-se à mesa, logo depois arrumou os cílios. – Acho que no momento posso me sentar com você.

– É prostituta? – perguntou Lion.

Ela deu uma gargalhada.

– Não, meu bem. Eu só queria um lugar mesmo pra se sentar. Achei que um pouquinho de sensualidade não mataria você. – disse mexendo as sobrancelhas.

Lion sorriu desanimado.

– Aquela é sua filha? Vi você muitas vezes olhando pra ela. – perguntou a moça.

– Não, só estou tomando conta. – disse olhando de volta pra Cate na piscina.

– Ela se parece com você. – disse.

Lion olhou pra ela. Era a primeira vez que ouvia isso.

– Tem certeza que não é sua filha? – disse a moça.

– Não, ela não é, tenho certeza.

Ela riu.

– Prazer, sou Rochelle. – disse dando um pirulito para ele.

Lion pegou e enrugou a cabeça.

– Leonard. – falou.

– Que nome sério, Leonard, Leonard... Nardie... Leo...

– O que esta fazendo?

– Tentando achar um apelido pra você.

– Lion.

– Lion? UAU! – disse erguendo sua cabeça para trás e dando risadas. – Gostei! Combina com você, com a sua aparência loira.

Ele retribuiu aquilo com um sorriso. Girava o pirulito que havia ganhado.

– Eu dou pra quem conheço, tenho milhares. É uma cortesia. – disse ela tirando outro da sua pequena bolsa, tirando a embalagem e colocando na boca. – É turista?

Lion pensou bem na situação em que estava com Maddie e riu consigo mesmo.

– Praticamente sim.

– Eu sou. Sou do Canadá, na verdade fui expulsa de casa e agora depois de muito doce, resolvi voltar e abrir minha loja lá.

– Loja de...?

– Sex shop. – disse piscando.

Lion riu.

– Preciso ir. – disse olhando no celular.

– Mas já?

– Sim, preciso fazer uma ligação.

Lion precisa ligar pra Lorel, explicar o seu sumiço e a falta de contato, era sua melhor amiga e queria muito compartilhar com ela o que estava acontecendo.

– Foi um prazer te conhecer, Lion, e nos vemos por aí em breve.

– Foi um prazer também, Rochel...

– Chelly, me chame só de Chelly. – sugeriu a própria.

–-------------------------------------------------------------------------------------

Dorethe já estava de saída.

– Então, amanhã ao meio dia nos vemos, não esqueça de levar seu curriculo! - disse John.

– Claro! - Dorethe estava chateada e confusa. O que tinha acontecido com Lorel? E Mattew? Será que se conheciam? Será que saíram juntos? Ou será que estava apenas imaginando coisas?


Não era a cara da Lorel sair assim. E seu celular estava desligado, não chamava.

Saiu da casa de John e caminhando pela rua deserta e quieta, tentava se lembrar de Mattew, nos teus olhos, em como estava bonito, em como estava sério como sempre o viu. Teve muitas saudades e assim sentiu frios na barriga seguidos, arrepios e sorrisos sem motivo. Sentia saudades e se arrepiava só de lembrar dos sorrisos de Mattew e de seu cheiro forte.

Voltaria com John para vê-lo na hora do almoço e, enfim, conversariam e matariam a saudade.

Dorethe sentou no ponto de ônibus e abriu sua bolsa. Dali tirou uma camisa preta e com um corte, era de Mattew. Dorethe havia pegado no quarto enquanto John estava no chuveiro. Adoraria esperar por Mattew, mas estava tempo demais na casa de John.

Cheirou a camisa e fechou os olhos. Tentou imaginar Mattew ali agora, tentou imaginar o seu corpo grudado naquela peça.

Sentiu o suor e imaginou a respiração ofegante dele no seu pescoço. O desejava mais do que nunca. A saudade matava e seu peito apertava só de pensar no quanto o amava.

– Mattew. - sussurrou enquanto permanecia de olhos fechados cheirando a camisa.

–---------------------------------------------------------


Mattew estacionou o conversível de John logo a frente de casa.





– Bom, chegamos. - disse. Estava mais a vontade com Lorel e menos tenso com o que ocorreu.

– Dorethe não deve mais estar ai, me leve pra rua que pedi. - disse Lorel.


– Ela não deve estar mesmo, mas, não quer ao menos se despedir de John?

– Conhece Dorethe e John? - perguntou ignorando a pergunta de Mattew.

– Sim, ela é uma antiga amiga, por quê?

Então um flash back invadiu a mente de Lorel e ela se recordou do rosto que estava olhando. O de Mattew.

– Você é o cara da cadeira de rodas. - disse sem tirar os olhos dele com os lábios semi abertos.

Ele riu e olhou para baixo.

– Difícil de explicar.

– Por que estava na hora que eu estava sendo atacada? - perguntou com medo.

Houve silêncio, mas Mattew não demorou muito para falar.

– Eu vi os caras te pegando e segui, simplesmente isso.

Lorel olhou firme para os olhos de Mattew, ele mentia.

– Então, a história da cadeira de rodas é uma mentira?

– Sim. - confessou erguendo as sobrancelhas.

– Você é um mentiroso! - disse Lorel abrindo a porta e saindo do carro. Bateu a porta com força. - Fica longe de mim!

– Calma! - disse Mattew saindo do carro e indo até ela.

– Não me toque! Eu vou gritar! - ameaçou andando de costas e logo em seguida caindo de costas e sentada.

– Qual é o seu problema, garota? - perguntou Mattew nervoso e a olhando no chão.

– O problema é que você que tem a ver com isso tudo!

– O que?! - perguntou estressado. Não tinha paciência para voltinhas e debates infantis e que ameaçavam seus planos. Mattew tinha personalidade forte e sentia muito desejo por aquela garota no chão. Apenas desejo. E sabia que ela ainda serviria para alguma coisa. Lorel tinha alguma ligação com suas memórias perdidas, com o motivo esquecido de sua fuga para Seattle.

– Você é um assassino mentiroso! Dorethe corre perigo gostando de alguém assim. - disse se levantando.

Mattew pegou forte no braço de Lorel.

– Não me provoca, garota. Dorethe é uma amiga e você não me conhece pra ditar algo sobre mim.

Lorel se assustou com o tom e com a agressão.

– Ela vai ficar sabendo. - ameaçou.

– Tente e nunca mais vai acordar! - ameaçou.

A garganta de Lorel secou e seu estomago começou a doer, suas mãos começaram a tremer e ficar nervosa.

– Me larga, seu covarde assassino! Vai pagar por isso! - disse aos soluços. Parecia uma menina inofensiva.

– Que meiga você. - brincou.

– Se você ligasse de verdade pra Dorethe, não a deixaria desmaiada do jeito que estava.

– Eu estava lá, mas tive que sair pra salvar a sua vida! - gritou e logo se arrependeu.

Mattew estava furioso e suava frio. Estava se segurando pra não agredir Lorel.

– Obrigado por isso. - Lorel disse como se estivesse jogando alguma coisa na cara de alguém.

Foi então que John apareceu na porta de casa com pijamas. Estreitou seus olhos e viu Lorel e Mattew juntos. Pensou ouvir gritos. Passou a mão em seus cabelos grisalhos e foi até eles.

Mattew riu ao ver John e Lorel mordia seus lábios pra não começar a chorar. Estava em um pesadelo, se sentia humilhada e observada.

– Tudo bem aí? - perguntou John. - Mattew, confesso que você fica melhor andando. - disse dando gargalhadas. Chegou perto, bateu a mão no seu conversível. - Esse é o meu garoto!

Houve silêncio entre os três.

– Não querem entrar? - perguntou John.

–-----------------------------------------------------------------------

Maddie havia adormecido na cama e estava com os olhos molhados de tanto chorar, estava exausta e não tinha sossego. Acordou assustada com o barulho do telefone do quarto tocando. Olhou para os lados e pulou da cama. Estava sempre assim, com medo e aflita.

Olhou para o telefone e suspirou aliviada. O atendeu.

– Alô? - disse e então, ouviu uma respiração assoprar do outro lado da linha. - Alô? - insistiu, mas a respiração ficou mais alta e então desligou o telefone.

Maddie desligou tremendo o telefone. Então ouviu algo batendo forte na porta do quarto. Ela foi até na porta e estava trancada. Tentava abrir mas não conseguia, começou a bater e a gritar.

– Alguém? - berrou com medo.

Foi então que ela sentiu o cheiro de queimado. As cortinas do quarto estavam em chamas.

Maddie começou a correr até o banheiro e abriu a torneira e com um pequeno balde, começa a jogar água sobre o incêndio, mas não adianta e ele começa a se alastrar sobre o tapete.

– Socorro! - começa a gritar.

A fumaça se espalhava muito rápido e fazia Maddie tossir muitas vezes seguidas.

O desespero começou a tomar conta dela que correu pra jogar mais água, mas de nada adiantou. Maddie chutava, batia na porta, mas nada. Então ela começou a pensar em Cate e em Bill, em tudo que ele estava causando, e começou a pensar em Deus, e a chorar, a pedir ajuda, um socorro logo! Não aguentava mais respirar, o fogo já havia chegado na cama. Pensou em Lion, pensou no quanto o amava e o queria ali. Teve até dúvidas pelo o que sentia por ele, mas sentiu muito aperto quando pensou em deixa-lo sozinho naquela situação.

Bill estava matando Maddie. E aquele era o fim dela.

– SOCORRO! - berrou enquanto chorava sem parar. - LEONARD! LEONARD! - gritava sem esperanças. - SOCORRO! - gritava cada vez mais baixo.

–--------------------------------------

Lion usava o telefone público quando tentou ligar para Lorel, mas seu celular só dava fora de área ou desligado. Ligou para a residência dela e nada também.

Ficou preocupado e resolveu ir até o quarto e esperar para retornar a ligar.

–--------------------------------------


– Gente, o que ta acontecendo aqui? - perguntou John com um olhar malicioso para Lorel e Mattew. Ela só aceitou ir conversar para esclarecer as coisas e ir logo para casa, estava exausta e precisava de um banho e pensar um pouco, ver Dorethe.

– Eu salvei a vida de sua amiga. - disse Mattew com um sorriso no canto da boca.

Lorel sentiu nojo daquele rosto.


– Sério? - perguntou John sério vendo que o assunto era delicado. - e o que houve?

– Conte pra ele, Lorel. - disse Mattew olhando para ela com um olhar natural e sorridente.

Ela sentiu vontade de sair dali e voltar para onde não aceitaria o convite de Dorethe para ir ali. Estava absurdamente assustada com o andamento daquela noite, com todo esse acontecimento. Foi rápido e confuso.

– Dois caras... Dois caras tentaram me violentar, mas Mattew chegou e me ajudou. - disse fria e com expressões de alguém abatido.

– Nossa, e onde foi isso? - perguntou.

– Na praia. - disse Mattew.

John olhou para ele sério.

– Como a encontrou lá? - perguntou desconfiado.

– Eu vi os caras a pegando e corri pra atrás.

John já iria dizer algo, mas seu telefone toca.

John fica pálido e começa a por a mão na cabeça.

– Ok, já estou indo. - disse desligando o telefone. - O médico do meu filho quer me ver. - disse com um aperto na garganta.

– Quer que eu acompanhe? - perguntou Mattew.

– Não. Vou pra lá agora, quer uma carona Lorel? - perguntou enquanto vestia seu casaco.

– Sim, claro. - disse levantando com tonturas e dores de cabeça.

Os dois saiam, então Mattew segurou no braço de Lorel enquanto John já estava entrando em seu carro.

– Tenha uma boa noite. - disse e logo depois a beijou a força. Lorel sentiu um fogo no seu peito e logo em seguida nojo, o empurrou e depois ele a largou.

– Essa é a pior noite da minha vida! - disse se limpando e saindo apresada atrás de John. Seu braço latejava de dor.

– Você mora onde? - perguntou John entrando no carro e colocando seu cinto.

– Não, tudo bem, pode ir para o hospital, eu espero. - disse sincera.

– Ok, lá vamos nós. - disse meio pálido e tentando manter a calma.

A viagem seguiu silenciosa, Lorel ouviu a respiração um pouco agitada de John e tentou puxar assunto.

– Seu filho esta internado a muito tempo?

– Sim, ele quebrou o pescoço. - disse mexendo a cabeça com os olhos lagrimejando. Não estava sozinho no seu escritório, agora John estava em um carro com uma garota doce e que parecia honesta demais, alguém perfeito para chorar e para abraçar. Achou que tinha enlouquecido pelos seus pensamentos e tentou pensar em Bob naquela cama de hospital.

– Eu sinto muito. - disse Lorel.

– Tenho certeza, parece ser uma boa pessoa. - disse sorrindo.

Lorel viu sinceridade na voz dele, gostou daquilo e sua cabeça não parava de latejar.

Depois de um tempo, eles chegaram no hospital dando passos apresados.

E lá estava a cama de Bob vazia na frente da vidraça.

– Onde esta Bob? - sussurrou John sozinho.

– Trouxe companhia? - disse Becca, usando a mesma roupa do dia que tinham se encontrado. Ela fumava ali sentada á espera de John.

– Onde esta Bob?

Becca tragou e soltou a fumaça lentamente.

– Os médicos o transferiram mas não sei pra onde. - disse com os lábios tremendo. - eu decidi te esperar para o médico dizer o que aconteceu.

Lorel olhou para ela e sentiu uma presença ruim ali, algum tipo de energia triste misturado com tensão. Se imaginou no lugar dos dois e sentiu vontade de chorar.

Os três foram para a sala do médico e lá estava ele, sério e ranzinza. Tudo que ele falava passava despercebido por John, toda lorota, toda encheção de linguiça, tudo se passava, John apenas ofegava e sofria com seus pensamentos. A única frase que ele ouviu foi:

– Bob foi transferido para a UTI, teve hemorragia e agora se encontra em coma.

John se desmoronou no colo de Lorel. Sentiu tudo cair em sua testa, sentiu ardência na barriga e algo apertar teu peito.

Era o fim!

Lorel começou a chorar e a passar a mão na cabeça de John em seu colo, sentiu o quanto era doce e o quanto sofria com aquela situação. Não aguentou ver aquele pai desesperado.

– Ouviu, John? Seu assassino! É culpa sua! - berrava Becca no choro também.

Então houve uma queda de iluminação, as luzes se desligaram. Todos se calaram, mas John apenas chorava, não estava nem aí para as coisas, apenas sentia o colo de Lorel e a apertava feito uma mãe.

John sofria.

–-----------------------------------------------


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não esqueça de deixar sua opinião, seu comentário! Abraços e até a próxima!
Previsão para próximo capítulo: 19/2/2013 - 20/2/2013



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Fuga" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.