Imprinting escrita por Ana Flávia Mello


Capítulo 15
Capítulo 8 - Renesmee


Notas iniciais do capítulo

Talvez fosse mesmo você. | Esse capitulo tá grandinho, mas eu adorei. Sério. E acho que vocês iram adorar também... fortes emoções. Boa leitura, não esqueçam de comentar!
P.S: Carriot Academy é uma escola criada por mim, que não existe na vida real. Renesmee estudou lá toda a vida antes de se mudar para a escola quileute.



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Estacionei minha BMW vermelha no estacionamento de cascalho da escola. Olhando para o céu, parecia que o sol não existia, por causa das nuvens roxas que cobriam toda a luminosidade. Neve cobria todos os lugares abertos em volta, o vento frio do inverno passava congelando qualquer um que não estivesse usando uma parca. Dezembro era um mês triste.

Já fazia mais de dois meses desde que eu falara com Riley. Eu ainda o percebia se esgueirando em alguns lugares que eu ia, como antes ele fazia. A diferença é que eu prestava atenção agora. A dor que ele me proporcionava não era mais tão dura, mas toda vez que eu via seu rosto eu sentia como se cutucassem minha barriga com espinhos. Minhas amigas tentaram fazer de tudo para que eu saísse da miséria que estava antes. Jacob nem tanto. Depois daquela tarde na praia – que parecia ter sido anos atrás – ele ficou frio comigo. Quem não era tão observador não percebia isso, mas quem olhava mais a fundo via as estranhas ações dele. Não era mais como era antes. Acho que talvez eu o tenha magoado quando o deixei sozinho na praia, depois de gritar com ele. Não foi certo, e eu não estava bem da cabeça quando fiz aquilo. Eu só queria ficar sozinha. É claro que isso não aconteceu. Quando cheguei em casa naquele dia, fui recebida por uma esfuziante Alice, que me carregou até a garagem para mostrar o meu presente de aniversário: uma BMW zero, cor vermelho sangue. Se eu estivesse num humor melhor naquele dia, poderia ter reagido da maneira que ela esperava que eu agisse quando visse o meu carro. Devo tê-la decepcionado um pouco.

Mike acenou de longe para mim. Ultimamente eu andava mais com Michael e Vivian do que com Jacob, Quil, Seth e Kim. Jacob parecia não gostar disso, mas ele nunca comentara comigo nada a respeito. Eu sentia falta do antigo calor que sua amizade proporcionava. Do antigo Jacob. Claro que era tudo culpa minha.

Saí do carro, abotoando meu casaco cinza que ia até os joelhos. Alice não me deixara vir com a minha parca preta. Dei um aceno tímido a Michael e entrei no corredor principal da escola. Cartazes para o baile de inverno cobriam as paredes. O baile seria amanhã à noite. Hoje era o ultimo dia de aula antes do recesso de inverno para as festas de fim de ano. Eu não estava exatamente animada para o Natal nem o ano novo. Irina, Tanya e Kate (minhas primas) vinham do Alasca para cá, com meus tios Eleazar e Carmen. Deviam chegar hoje ou amanhã pela manhã.

Não estava conseguindo encontrar Kim ou Jacob, ou algum dos meus outros amigos. Eles não podiam estar lá fora, estava congelando. Se não estavam nas salas, só podiam estar no refeitório. Dito e feito. Vi Kim assim que passei pelas portas duplas. Ela estava sentada em cima da mesa, Jacob e Seth nas cadeiras de metal. Quando ela me avistou pulou da mesa, pegou a bolsa, e veio em minha direção.

– Alguém para me salvar! – Ela me abraçou. – Eles estão falando sobre futebol. – Fez uma careta. – Queria tirar Seth de lá, mas parece que ele não liga para a própria namorada. – Kim e Seth tinham começado a namorar havia apenas algumas semanas.

– Eu o tiro de lá – Bati no ombro dela. Quando me aproximei, Seth me deu um sorriso, mas Jacob abaixou a cabeça, parecendo muito interessado num fio solto em seu suéter.

– Seth, que tipo de namorado é você? Vá dar atenção a sua garota! – Baguncei o cabelo. Depois fiz uma expressão séria. – Se você não for agora, convenço Kim a terminar o namoro por você ser uma péssima companhia. Você sabe o quanto ela me escuta...

Seth se levantou rápido, puxou a bolsa e correu na direção que Kim tinha ido. Eu ri. Jacob continuava a mexer no fio solto.

– Ei, Jake. – Puxei uma cadeira do lado dele.

– Oi.

– Não vai me dar atenção? – Reclamei. – Então vou embora. – Fiquei de pé.

Jacob olhou para mim com uma expressão de culpa.

– Não, sente aqui. – Pediu. Eu sorri.

– Tudo bem?

Jacob olhou para mim. Ele deixara a barba crescer. Será que ele sabia o quanto sexy ficava daquele jeito? Ele me olhou por tanto tempo que senti minha boca secar.

– Sim, e você? Bonito casaco.

– Tudo normal. – Falei. Nossas conversas agora sempre terminavam nisso. Não tinha mais aquele assunto recorrente e divertido.

Jacob voltou a analisar o fio.

– Vai ao baile? – Perguntou distraidamente. Eu ouvi um pouco de petulância na voz dele.

– Não – fiz cara feia –, ninguém me convidou.

Exato. Desde que anunciaram o baile, algumas semanas atrás, eu pensava realmente que Jacob ia me convidar. Eu queria que ele me convidasse. Mas ele parecia ter outros planos. Dias depois ele chegou para falar comigo sobre o baile, eu estava certa de que ia me convidar, até que ele disse que tinha convidado alguém da Carriot Academy. Logo de lá. Nenhuma patricinha daquela escola parecia gostar do estilo de Jacob, muito menos Jacob gostar do estilo de alguma daquelas patricinhas. Posso até dizer que tinha ficado com ciúmes. Não que ninguém tivesse me convidado, Michael me convidou, e outros três garotos também me chamaram. Mas não tinha mais graça, porque eu só queria ir se fosse com Jacob.

O sinal tocou e Jacob se levantou. Ele não fazia mais parte da minha aula de espanhol. Dias depois que eu o deixei sozinho na praia, ele decidiu deixar espanhol para fazer francês. Eu me senti culpada e o perguntei por que tinha feito isso, ele apenas respondeu que não suportava mais ver a cara daquela professora estúpida. Mas no fundo eu sabia que era por minha causa.

As aulas de espanhol não tinham mais graça agora. Jacob sempre deixava tudo mais divertido. Ele tirava sarro da professora, bagunçava durante a explicação e fazia gracinha. Todo mundo ria. Dava até pra perceber que a professora também sentia falta dele. A escola literalmente tinha virado um porre, que ocupava minhas manhãs e tardes. De repente meu pensamento de que o ano seria ótimo estivesse errado.

Na hora do almoço eu estava quase fingindo um desmaio para ir para casa. Estava eu, Mike, Vivan e Kenny. Kenny era uma garota pequena e fofinha, uma antiga amiga de Vivian. Ela não parava de falar durante um segundo.

– Não vai querer ir mesmo ao baile? – Mike se se encostou à cadeira. – Tem certeza?

– Não Mike, sério. Terá de ir com Vivian mesmo.

– Que merda. – Ele chutou a mesa. Vivian lançou um olhar ameaçador a ele.

– Pois é.

Estava caminhando pelo jardim da escola depois do almoço quando me lembrei do trabalho de artes. Que droga! Eu precisava confeccionar algumas pulseiras para uma apresentação hoje, e não tinha feito nada. Valia 70% da nota. Olhei no relógio. Tinha duas horas até a aula começar. Mas onde eu conseguiria arranjar material? Eu nem sabia como fazer. Só se...

Disparei numa corrida de volta para o refeitório, escorregando na neve. Mas Jacob não estava mais lá. Onde esse menino tinha se metido? Que droga! Se ele entrasse na aula agora só poderia sair no fim do horário, daqui a 50 minutos.

Passei voando no corredor, esbarrando em alunos. Qual era a próxima aula dele? Trigonometria? Subi as escadas de quatro em quatro degraus. Já estava soando embaixo daqueles casacos. Quando entrei no corredor da sala de Trigonometria, Jacob já estava a meio caminho.

– Jake! – Tentei gritar, mas eu não tinha fôlego. Respirei fundo. – Jacob!

Ele parou e olhou para trás. Depois de analisar meu estado veio caminhando vagarosamente em minha direção.

– Que é que foi?

Corri tanto para ele ser rude comigo. Quase dei um soco na cara dele.

– Preciso. Da. Sua. Ajuda. – Coloquei a mão no peito, tentando acalmar a respiração.

– Para quê? – Perguntou.

– Lá fora eu explico.

Descemos a escadas juntos e paramos exatamente onde eu estava no jardim minutos antes. Durante o percurso eu tinha explicado o que eu precisava a Jacob, só que ele não tinha respondido ainda. Do jeito que as coisas estavam, era capaz dele simplesmente dizer não e me deixar falando sozinha aqui.

– Você quer eu mate aula para ajudar você em um trabalho que você não fez, e que é pra hoje? – Ele colocou a mão no queixo, pensando. Isso era ridículo. Eu estava perdendo tempo aqui, sabendo que ia receber um não. Devia ter me virado sozinha.

Chutei a neve, esperando.

– Tudo bem – disse ele. – Vamos à minha casa.

Minha boca abriu.

– Sério? Ah, Jacob, obrigada! – Abracei-o.

Jacob ficou meio hesitante, mas depois passou os braços em volta de mim. Eu não tinha nem noção de quando fora a última vez que ele me abraçara.

Jacob disse para irmos com o carro dele, mas o meu era mais rápido e eu estava com pressa. Ele disse que ia pegar umas coisas em casa e que depois íamos fazer as pulseiras na garagem dele. Com muito cuidado para não sermos notados, tirei o carro do estacionamento e acelerei na direção da casa dele.

Quando chegamos naquela pequena cabana vermelha, Jacob me mandou descer do carro e ir até a garagem que ficava nos fundos. Tirei as botas que Alice tinha me enfiado hoje de manhã, e fui pulando descalça pela grama coberta de neve. Que frio! Nessas horas eu devia ter um arsenal cheio de All Stars dentro do carro. Quando cheguei dentro da garagem já não sentia mais meus pés nem meus dedos.

A garagem era quente. Um espaço grande coberto com paredes de madeira e um telhado que era parte lona e parte telha preta. Uma moto preta estava em um canto, e várias peças de metal estavam encostadas em outro. Refrigerantes quentes estavam apoiados em cadeiras de dobrar.

– Cheguei – Jacob entrou com uma caixa enorme de madeira e a colocou no chão. – Estão aqui nossos materiais.

– Você também monta motos Jacob? - Perguntei delicadamente. Outra lembrança distante me fez rir.

– Sim... O que foi?

Senti minhas bochechas corarem.

– Uma vez eu fiz algo parecido com Riley... – Parei de falar. Jacob fechou a cara e deu as costas para mim. Ele realmente não gostava de Riley. Às vezes eu me perguntava se ele tinha ficado assim porque soubera que eu o tinha beijado. Que tinha dado a chance a uma pessoa que uma vez arruinara minha vida, como uma estúpida. Mas ninguém, além das minhas melhores amigas, sabia disso. O quarto estava com a porta fechada, e o andar de cima era proibido. É claro que não era isso. Mesmo assim eu evitava tocar no nome de Riley em voz alta.

Jacob esticou um pano no chão e deu um tapinha no lugar ao lado dele.

– Quer que te ensine ou quer que eu faça? – perguntou, mais gentil do que eu me lembrava.

– Eu entrego o material a você e você faz, trabalho em equipe! – Brinquei. – Ainda dá pra descolar uns pontinhos em artes para você também.

– Mas eu não faço artes – ele franziu a boca.

– Er... então não sei. – Sorri.

Jacob segurou minha mão e a encostou em seu rosto.

– Está com frio?

– Não muito. – Comecei a ficar nervosa. Jacob soltou minha mão e puxou seis fios coloridos de dentro da caixa. – Preste bem atenção. – Então começou a trançar os fios com uma habilidade incrível. Eu conseguia apenas prestar atenção em sua expressão concentrada.

Eu tentei fazer também, mas era um desastre. Depois de um tempo eu me cansei e deitei no chão, olhando para o teto e vendo os flocos de neve grudarem na lona transparente.

– Jake? – perguntei.

– O que foi?

– Me desculpe por aquele dia na praia. Eu sinto muito, só que eu não estava bem. Eu sei que por causa daquilo você começou a se distanciar de mim. Eu só não... – Mais lágrimas desceram de meus olhos. Que droga! Parecia que eu estava de TPM infinita.

Jacob limpou as lágrimas de meus olhos.

– Tudo bem. Você não tem culpa em algo que ele fez.

– Claro que tenho! – Me levantei, saindo da garagem. – Eu sou a culpada de tudo.

– Pare de se culpar! – Jacob me seguiu. Suas botas se enterravam na neve, deixando enormes pegadas.

– Não consigo, Jacob. – Falei, limpando os olhos.

– Eu devia ter ficado com você aquela noite. Eu devia ter impedido o que quer que ele tenha feito... Culpa minha.

Bufei.

– Não tem culpa em nada, Jacob.

– Claro que tenho.

– Claro que não.

– Então talvez eu tenha que me culpar por fazer isso.

– Fazer o quê?

Jacob deu três passos longos e me puxou pela cintura, me beijando sem piedade.

Eu me agarrei a seu corpo, me entregando ao beijo. Tudo o que eu queria inconscientemente desde o começo, finalmente, se encaixara.


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