Imprinting escrita por Ana Flávia Mello


Capítulo 13
Capítulo 7 - Renesmee


Notas iniciais do capítulo

Corações destroçados não voltam a suas antigas formas. | Eu adorei esse capítulo, principalmente no final. Bem intenso. Espero que gostem, boa leitura! Não esqueça de comentar!



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Triimmm. Triiimmm. TRIIMMM.

Atirei o despertador do outro lado do quarto. Escutei o vidro da tela LED trincar. Que ótimo.

Com muita preguiça, abri os olhos devagar. Uma péssima ideia. A luminosidade do sol vinda da porta da sacada me atingiu e senti meus olhos queimarem. Minha cabeça doía. Meu corpo doía.

Sentei-me na cama me sentindo uma boneca de areia, daquelas que se coloca nos pés de portas para elas não baterem. Margaret roncava no chão do meu quarto, dormindo em um colchão de ar. Pensei que ela fosse escolher ficar em um dos seis quartos de hóspedes que tínhamos. Parece que não. Pelo jeito que ela dormia, parecia que ia ficar ali até o próximo verão.

Uma garrafa de vodca estava solitária e vazia no chão, perto da minha cama. Quem bebera aquela garrafa? Eu? Minha cabeça doía tanto. Minha memória estava fraca. Talvez depois de um bom banho e comida de verdade eu conseguisse lembrar alguma coisa da noite anterior.

Escutei barulhos vindos do andar de baixo. Minha família já devia ter voltado, afinal já eram... que horas eram? Peguei meu celular na mesinha de cabeceira para olhar o relógio. Indicava que eram nove da manhã. Ainda? Que droga. Eu poderia ter dormido mais algumas horas. Eu devia ter dormindo.

Quando me levantei me dei conta de estar vestindo uma camisola de ceda, com renda. Algo que você compra em lojas de lingerie. Tinha um tom vermelho vivo que me dava náuseas. Eu me lembrava vagamente de termos aberto alguns do presentes antes de dormirmos, mas não me lembrava de ter vestido isso. Aliás, quem me daria isso? Só podia ser uma brincadeira.

Caminhei até o banheiro, pulando sobre as coisas do chão para não tropeçar. Quando me olhei no espelho eu tive a impressão de que ele ia trincar ao refletir minha aparência.

Meu cabelo estava cheio de laquê, duro e espetado para todos os cantos. A maquiagem escorria para todos os lados do meu rosto, parecia que eu tinha chorado a noite inteira. Uma marca roxa estava no meu pescoço. Dá onde tinha vindo aquilo? Tinha outra no meu ombro, mas parecia mais com uma mordida.

Depois de encarar muito aquelas manchas as lembranças da noite anterior fluíram até minha mente. Meu Deus, o que eu fizera? Como eu podia ter beijado Riley? Por que eu tinha feito aquilo? Que tipo de pessoa idiota eu sou? Minha vontade era de tacar a cara no espelho até abrir um buraco na minha testa, para eu sangrar até a morte.

Tente ser racional. Respirei fundo. Eu tinha que fazer as coisas pequenas para fazer as grandes. Um bom banho seria um ótimo começo. Tirei a camisola e a sacudi em cima do lixo do banheiro – eu não ia ficar com aquilo. Entrei na banheira com a água extremamente quente, isso me ajudaria a pensar. Mas na verdade, o que eu queria era não pensar. Queria esquecer o que tinha feito. Claro que era impossível.

O pior seria encarar isso. Se eu estava prevendo que Riley não ia me deixar em paz sabendo que eu estava por perto, imagine depois que o beijei. Ele nunca ia me deixar em paz!

Perguntas confusas rodavam minha cabeça: porque eu o tinha beijado? Efeito do álcool? Porque eu queria? Será que ele estava planejando isso quando me seguiu até o quarto? Ele queria isso? Eu queria isso de novo?

Afundei minha cabeça na água escaldante, desejando de novo parar de pensar.

Passei quase uma hora de molho na banheira. Quando eu saí do banheiro Margaret ainda dormia, com a cabeça pendida um pouco para fora. Chutei o colchão dela e ela levantou assustada, olhando para todos os lados. Eu ri.

– Puta que pariu, sua vagabunda arrombada! – Maggie gritou. Ela atirou um sapato em mim. – Você quer me matar do coração?

Eu gargalhei. Maggie recuperou a postura, mas ainda me encarava com raiva.

– Que horas são? – Perguntou.

– Umas dez da manhã. – Entrei no closet, buscando algo confortável para vestir.

– Dez da manhã? Ainda está de madrugada! Hoje é sábado, por favor! – Ela gemeu. Escutei o som de seu corpo encontrando o colchão de ar com força. – Porra, cara. Eu to morta. De quem é isso?

– Isso o quê? – Pus a cabeça para fora do closet. Maggie segurava no alto a garrafa vazia de vodca. – Uma garrafa de vodca vazia... Sua. Minha. Sua e minha. Não sei.

Margaret passou os dedos no cabelo.

– Sério? Oh, meu deus. – Ela pôs as mãos no rosto. – Se eu chegar nesse estado em casa minha mãe vai me matar.

– Por isso que você só vai para casa amanhã. – Sorri. Pus um vestido de alças estampado com pequenas flores coloridas.

– Jogue isso aqui fora. – Ela colocou a garrafa no chão. – Já tem gente em casa?

Fiz que sim com a cabeça.

Maggie me encarava. Ela franziu os lábios e depois a testa.

– O que aconteceu? Por que você tá assim? – Eu abri a boca para protestar, mas só saiu ar. Ela estalou a língua num sinal de “Viu? Estou certa”. Eu a encarei.

– Bem... – Joguei a toalha em cima da cama. – E se eu dissesse que...

– Que o quê? – Margaret projetou o corpo para frente.

Bufei e contei a ela sobre os beijos, e os abraços e as, bem, hã, coisas que eu tinha feito com Riley durante a madrugada. A boca de Maggie se abriu num O gigante.

– Mas vocês não... vocês não... ? – Ela junto os dedos num sinal bem explícito.

Joguei uma almofada nela.

– É claro que não! Pirou? – Perguntei a ela. – Não teria coragem para fazer isso.

– Nem camisinha. – Ela estalou a língua de novo.

– Sua puta! – Exclamei. – Mas e você? Você e Quil? Eu vi vocês indo ao banheiro ontem...

Maggie ficou com o rosto totalmente vermelho.

– Nós não transamos, sua idiota. Só queríamos privacidade.

– Claaaaaaroooo. – Eu sorri. – A única que não é virgem de nós é Jenna, certo?

Margaret girou os olhos.

– Você devia ter convidado o namorado dela para a festa, ele é legal.

Toc, toc.

– Nessie? – Alice me chamou.

– Oi Tia – Abri a porta. – Que foi?

– Uma amiga deixou isso aqui para você nos recados do telefone ontem. – Ela me entregou um papel dobrado. – Oi, Maggie.

– Diz, Alice – Maggie sorriu.

Alice bateu a porta e eu voltei para o lado de Maggie, sentando no chão. Abri o papel com cuidado. Estava escrito:

Me encontra na campina perto da sua casa. ***

Aquela letra não era de uma amiga. Era de um amigo. Eu conhecia aquela letra como se fosse a minha própria, e os três pontos no fim da frase confirmavam minhas suspeitas.

Eu xinguei em voz baixa. Eu sabia que ia ter de lidar com aquilo alguma hora, mas não sabia que seria tão cedo. Eu não estava pronta para o confronto. Se fosse por mim deixaria pra resolver isso só na próxima vida.

Maggie lia o recado por cima do meu ombro. Ela estalou a língua (isso estava ficando irritante).

– Vá encontrar Riley. Resolva seus problemas. Eu vou ter que me ajeitar mesmo.

– Como você sabe que é Riley? – Cerrei os olhos para ela. Será que ela estava de arrumadinho com ele?

Maggie suspirou.

– Sua idiota, uma vez você me disse que ele tinha a mania de assinar as coisas com três pontos. E faz sentido. Só juntei as pistas. – Ela deu de ombros. – Vá resolver sua vida. Eu não conto a ninguém onde você foi.

O.k, minha melhor amiga queria me mandar para a jaula dos leões. Tudo bem. Pus minha bolsa atravessada no ombro de dei tchau a ela. Consegui sair pelos fundos sem ninguém me ver, e depois de espionar o jardim de trás para ver se tinha alguém, disparei numa corrida até a ponte que dava acesso ao outro lado da floresta. Salva nas árvores, eu andei com o máximo de cautela o possível – quanto mais eu retardasse aquilo era melhor.

Mas é claro que eu não podia impedir a chegada eternamente. Quando eu vi a parede de samambaias que circulava a campina eu tive vontade de me jogar no chão e ir rastejando pela terra até lá.

Não se faça de idiota, disse a mim mesma, você é superior a tudo isso. Só que não muito.

Respirei fundo e passei pelas samambaias.

Riley estava sentado na campina, olhando para as flores. Ele me ouviu chegando, porém não olhou em minha direção. Um pensamento atrasado veio a minha cabeça: como ele soubera da campina? Jacob com certeza não contaria a ele.

– Bom dia – Riley tinha um sorriso sarcástico no rosto. Ele se levantou devagar e foi em minha direção. Antes mesmo que eu pudesse ter uma reação, ele me puxou pela cintura e me beijou. Indignada, dei um empurrão nele.

– Você está louco? – sibilei.

– O que foi? Ontem foi você quem fez isso – sua voz tinha um escárnio natural.

– Eu estava bêbada! Eu não estava pensando direito.

– Até parece que não gostou.

– Foi um erro!

– Uhum, claro. – Ele bufou.

– Você acaba de me reencontrar depois de três anos, e acha que têm algum direito sobre mim?

Riley fechou a cara.

– Eu não acabo de te reencontrar.

– Como assim?

– Eu tenho te visto há mais tempo que essa semana. A primeira vez que eu lhe vi foi na festa que sua tia deu antes das aulas começarem. Eu estava lá. Você não me viu, mas provavelmente viu meu primo e meu tio.

– Quem é seu tio?

– Mike Newton.

Ah, claro. Mike Newton era o antigo amigo de escola da mamãe. Ele engravidara Jessica Stanley no fim do colegial, e eles se casaram. Mike preferiu voltar para sua terra natal, Califórnia, antes do filho nascer. Lembro que há uns quatro anos escutei mamãe falando que ele e Jessica haviam se separado e Jessica estava de volta a Forks, porém o filho ficara morando com o pai. E esse ano eu vi Jessica e mamãe conversando, e Jessica havia dito que o filho voltaria para Forks junto com o pai. Johnny, o filho deles, era bem bonito. Tinha os olhos azuis como os de Mike e os cabelos castanhos encaracolados de Jessica. Eu o tinha visto algumas vezes, quando ele vinha visitar a mãe. Eu nunca ia adivinha que Johnny era primo de Riley.

– Desde então – ele continuou – eu tenho observado você de longe. Algumas vezes quando ia ao centro com seus pais, uma vez quando você estava passeando com suas amigas na rua. – Ele olhou para o teto. – A questão é que, eu sinto sua falta! Mais que tudo. Eu sei que eu fiz merda, mas... Eu realmente gostava de você. E gosto. Nunca te esqueci.

Minha vontade era de socar a cara dele. Passei três anos remoendo a dor por causa daquele cretino, e ele simplesmente chegava e dizia isso para mim? Inacreditável.

– Eu passei três anos sofrendo por você. Três anos com medo de me envolver com meninos, por sua causa! E você simplesmente vem e... – Eu puxei meus cabelos. – Não quero saber! Eu já sofri uma vez.

– Eu aprendi com meu erro. Eu te amo. – Ele estendeu a mão.

– NÃO DIGA ISSO – gritei. Senti que estava perdendo as estribeiras. – Não diga. Você não me ama e nunca me amou. – Riley grunhiu exasperado e me puxou para outro beijo. Eu o empurrei. – Nunca mais faça isso! – Senti meu coração ficando apertado e as lágrimas subindo aos meus olhos. – Não toque em mim. Não quero saber. Você só voltou para minha vida para me fazer sofrer mais. Me deixei em paz.

Eu saí em disparada pela floresta, sem ter certeza em que direção estava indo. Meu coração doía, minha cabeça parecia que ia explodir. As lágrimas escorriam pelo meu rosto e pareciam que não iam acabar mais. Eu estava perdida, e não sabia o que fazer com a minha vida.


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