Half-blood Princess escrita por Clara de Col


Capítulo 26
"Às vezes, perdemos a batalha, mas a farra sempre ganha a guerra" Quem é você, Alasca? - John Green


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas lindas, como vão indo?
Eu sei que sou confusa, eu sei. E obrigada pelas opiniões sobre o assunto que abordei no cap anterior. Bom, eu resolvi que *por enquanto* deixarei as coisas como estão, e vou colocar esse assunto de lado por hora.
Obrigada pelas reviews, e a todo mundo que andou favoritando. Vocês são o máximo, sério.
Esse cap eu gostei muito de escrever (HAHA ai tem) e eu dedico ele para Guyn, ok?
Espero que gostem



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Lucy acordou com fios de luz acariciando seu rosto. Levantou-se rapidamente e observou os raios de sol escaparem pelos furos da cortina azul. Furos? Era impressão, muito sono ou a cortina estava propositalmente furada? Ela olhou para o quarto. As camas dos gêmeos, desarrumadas, porém vazias. De onde estava no chão, podia ver a mesa com as bugigangas e a porta entreaberta. Ela revirou sua mochila. Tirou de lá uma camiseta larga, short jeans e sua escova de dentes. Foi até a porta, um pouco receosa. Não conhecia o lugar, e as lembranças da noite passada apenas floreavam sua mente. Teria sido o licor?

Ela empurrou a porta e pôde escutar o barulho vindo da cozinha, a andares abaixo, ela pode constatar. Ela olhou po um corrimão e percebeu que escadas se entrelaçavam até o hall de entrada que ela conseguia avistar de uma boa altura. Ela respirou fundo e caminhou por aquele andar, abrindo portas até encontrar banheiro. Ela fechou e se trocou ali dentro, escovando os dentes rápido e prendendo o cabelo num rabo de cavalo frouxo. Largou a escova e o pijama em cima do colchão e com cuidado e um pouco de vergonha, começou a descer as várias escadas até a cozinha.

Apesar de se lembrar que a noite passada fora muito agradável e nenhum Weasley tirando Rony (ok, aquilo era muito estranho) e Potter a importunou com alguma pergunta sobre Snape ou qualquer outra coisa desagradável, ela ainda estava com um pouco de vergonha. Era completamente natural, ela tentou se convencer. Quando ela apareceu na cozinha, viu que todos ainda estavam de pijama e definitivamente pensou em subir as escadas.

— Bom dia Lucy! — Molly a saudou, e pares de olhos voltaram-se para ela. — Como dormiu?

Lucy sorriu e sentou na única cadeira que estava vazia, ao lado de Jorge.

— Muito bem, obrigada.

A mesa estava cheia de coisas deliciosas, como na noite passada. Arthur e Carlinhos conversavam freneticamente sobre trabalho, Gui estava tendo um caso com seu café, Rony e Potter conversavam baixo com a boca cheia de comida, Molly ia de um lado para o outro tomando café em intervalos regulares, Gina estava quieta bebendo suco.

Lucy ficou por um momento absorvendo a sensação de estar em um lugar como aquele. Cheio de pessoas que se gostavam mutuamente, comendo café ainda de pijama, conversando, rindo no meio de toda aquela bagunça quente e organizada.

— Lucy? — Jorge a tirou de seu devaneio, — Pode pegar, sabe... A comida.

Lucy piscou.

— Ah, é claro. — ela se moveu com cuidado, pegou algumas torradas e encheu o copo com suco.

— Vamos fazer algo muito massa hoje. — disse Jorge, enfiando um pedaço de bolo de chocolate na boca. — Decidimos ontem.

— Ah é? O que?

— Ensinar você a jogar quadribol. — ele anunciou, orgulhoso. Lucy engasgou com o suco.

— Hoje? — ela procurou Fred. Pera... Onde estava Fred? Ela abriu a boca, depois fechou. — Legal.

Jorge fez uma careta.

— Que empolgação, hein? — ele comentou sarcástico. Lucy passou os olhos pela cozinha, procurando o outro gêmeo.

— Cadê... — ela começou.

— O Fred? — Jorge terminou para ela. Depois adicionou: — É... Ainda não sei.

Ela olhou para ele, incrédula. Como assim?

— Quê? — ela riu nervosa — Não entendi.

Ele bebeu um gole de vai saber o que tinha em seu copo, depois deu de ombros.

— Ele disse que ia dar uma volta, daqui a pouco chega. — disse Jorge, com naturalidade.

Lucy assentiu, se sentindo estranha. Era comum ver Fred sem Jorge, mas não tão comum ver Jorge sem Fred. Estava fazendo diferença? Mas... O quê? Ela nunca pensara daquele jeito. Nem sequer pensara na probabilidade. Nunca comparara Fred e Jorge. Mas agora, não parecia tão absurdo o fazer. Não. Era apenas estranho ver os dois separados, sim. Era isso.

Ela terminou de engolir as torradas, quando Arthur Weasley se dirigiu para ela.

— Então, vai ficar até o ano novo Lucy? — ele perguntou, parecendo feliz. — Vamos chamar alguns amigos e fazer algo pequeno, mas se tudo estiver de acordo pode até ir para Londres conosco para voltar para Hogwarts.

Lucy sorriu, como eram gentis. “Tudo estiver de acordo”. Ela fechou os olhos, estava se referindo a Snape. Só então Lucy se tocou. Eles sabiam que ela estava ali como uma fugitiva? Olhou para Jorge, ele parecia congelado. Obviamente, não tinham pensando no plano a partir dali. Ela procurou uma resposta.

— É muito gentil, mas acho que Snape vai querer me levar a Londres. — disse ela, — Mas não vejo problema em ficar até o ano novo.

Vejo sim, mas que se dane o Snape. Se não me procurou até agora, Lynn estará fazendo um bom trabalho.

— Ótimo. — falou Arthur, voltando sua atenção para o café. Ela novamente voltou os olhos para Jorge, ele sorria.

Ela se inclinou.

— Quando foi que me tornei uma trapaceira mesmo? — ela perguntou para ele, brincando. Ele riu.

— No momento que saiu daquele dormitório no meio da noite.

~~

Depois do café, Jorge subiu para se trocar e os Weasleys foram a suas tarefas. Lucy ficara na mesa, ainda beliscando um bolo. Seria até completamente normal, se Gina Weasley não estivesse na mesa ainda. Lucy mordia a bochecha e se concentrava no bolo. O silêncio começara a ficar chato. Ela levantou a cabeça no mesmo momento que Gina.

— Então...

— Você...

Falaram ao mesmo tempo. Elas riram. Lucy acenou com a cabeça para ela falar primeiro.

— É verdade que você deu uma surra em Tracey? — ela perguntou, parecendo impressionada. Lucy riu, meio surpresa.

— Digamos que sim... — ela ficou meio sem palavras — Mas não sou muito violenta. Ele me insultou.

Gina assentiu como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

— Ele é insuportável. — disse a bruxa, se aproximando e sentando a cadeira em frente a Lucy. Ela colocara os cabelos ruivos atrás da orelha. — Me maltratou uma vez, mas eu o chutei.

Lucy levou um tempo para entender.

— Você, literalmente, o chutou? — ela tapou a boca e Gina erubesceu um pouco.

— Sim. — a garota riu de si mesma — Mas não fale para minha mãe. Ele é um grosso.

Lucy balançou a cabeça.

— E agora, pelo que me falaram, está na maior melação com sua namorada. — disse Gina, olhando para as unhas. Para a Weasley mais nova, até que ela era bem “informada”. Lucy levantou as sobrancelhas.

— Tracey? Com uma namorada? — Lucy gargalhou, coitada da garota. — Quem é esta louca?

No mesmo instante, se arrependeu de perguntar. Um gelo intenso cobriu seu corpo. Gina olhou para os lados.

— Violet-não-sei-das-quantas... — ela confirmou a suspeita de Lucy. — Você deveria a conhecer, ela obviamente é da Sonserina e deve estar na sua sala.

— É. — Lucy olhou para o nada, refletindo. Violet estava namorando Tracey. Ok. Ok. — Eu a conheço sim.

Gina piscou.

— Ah, que nojo. — ela fingiu estremecer. — Vão ficar se desentupindo para tudo quanto é canto.

Definitivamente, a caçula Weasley não era como Lucy imaginava. Ela tinha o que? 12 anos? Sim, estava apenas uma sala abaixo de Lucy. Lucy tivera que atrasar um ano para entrar em Hogwarts.

— Eca. — disse Lucy, refletindo sobre o assunto. Ver Violet beijando Tracey deveria ser... Ai, credo. — Vem cá, Gina.

A Weasley a olhou, alerta com os cabelos ruivos emaranhados.

— Você sabe onde Fred se esconde?

Gina sorriu com malicia. Lucy olhou para os lados, envergonhada. Que tipo de sorriso era aquele? Eu, hein.

— Ele costuma sair para voar perto de uma clareira e fica lá conversando com os sapos do lago. — ela apontou para a janela, em direção a os campos.

Lucy andava pela pradaria, afastando galhos com sua varinha. Depois de um tempo, encontrou a clareira em torno do lago. Fred estava sentado na beira do lago, olhando para a água.

— Então é isso que faz quando está de folga? — ela gritou do outro lado do lago, e ele levantou o rosto sorrindo. — Que entediante.

Ela andou até ele, contornando o pequeno lago.

— Pensei em ficar me admirando aqui. — disse ele, distraído. — É uma ótima maneira de fazer o tempo passar.

— E não tomar café? — Lucy sentou ao lado dele, agarrando seus próprios joelhos.

— Hey Snapezinha, você não é a única que precisa emagrecer aqui.

Lucy riu um pouco e deu um empurrão no ombro de Fred. Então ela parou e olhou para a Toca, a alguns metros dali. O horizonte era uma linha perfeita com as pradarias, e a floresta ao redor era um borrão escuro.

— Às vezes, — sussurrou ela — Fico imaginando onde Jane está.

Fred suspirou ao seu lado. Era um tanto estranho vê-lo quieto, refletindo. Mas ela estava se acostumando. Ela poderia se acostumar.

— E onde ela está? — ele perguntou, atirando uma pedra no lago e rapidamente incentivando aquela coisa de imaginar probabilidades impossíveis para se sentir melhor. Era bom e ruim ao mesmo tempo, era como negar a própria morte. Mas Jane, não estava morta. Não mesmo.

— Está vivendo num moinho, na Itália... — ela imaginou, pensando que aquilo era um tipo ridículo de terapia, mas ela tinha que tentar. — Ela caminha o dia todo por uma bela floresta, ajuda as pessoas num povoado e de tarde vai tomar banho numa cachoeira perto do moinho.

Lucy olhou para as mãos, sentindo a mente desembaraçar. Aquilo era totalmente improvável, e ela sabia que Jane estava sendo perseguida em algum lugar do mundo por comensais da morte, mas... Aquilo era bom. Imaginar que ela realmente vivia em paz, trançava os cabelos negros e dormia olhando para as estrelas.

Ela enrolou uma mecha de cabelo nos dedos.

— Fred... — ela começou, e ele se virou para olhá-la. Sua expressão era serena. E Lucy sentia que poderia explodir de agonia. — Tenho que deixá-la ir.

Ele inclinou a cabeça, ainda quieto.

— Não posso viver com isso. — ela cerrou os punhos — Essa é só uma das coisas que ele me tirou e eu preciso continuar assim. Sem esperança.

— Lucy.

Silêncio. Lucy.

— Você não precisa perder a esperança. — ele dobrou os joelhos, como ela. — Não pode deixar ele tirar isso de você também.

Ela pensou. Pensar em tudo doía. Pensar na sua infância, pensar em Snape a olhando como se ela fosse um nada que não fizesse a mínima diferença. Pensar que sempre teve de ser a pessoa que segurava as pontas com Georgie. Pensar que Jane estava sofrendo, com frio, em algum lugar vazio correndo de assassinos por causa... dele.

— Vamos voltar. — ela se levantou, limpando a roupa cheia de grama morta. Fred a imitou.

— Conheço essa expressão. — ele disse, com vivacidade na voz. — O que quer fazer?

— Alguma loucura provavelmente.

~~

Lucy se sentou no baú em frente a cama de Fred. Ele olhava para ela com expectativa.

— Você tem certeza? — ele deu um passo para trás, com as sobrancelhas levantadas. Ele parecia animado e temeroso ao mesmo tempo.

— Bem, acho que sim. — ela respondeu, olhando para o espelho que Fred acabara de apoiar na parede. Sentada, com as costas restas, seu cabelo negro tocava seu colo e sua franja ia até os ombros. Se é que aquilo podia ser chamado de franja.

— Acho que sim não é algo muito concreto. — comentou Fred. — Vou chamar Jorge, espere aí...

Ele foi até a porta e sumiu nas escadas, gritando o nome do irmão. Minutos depois, os dois a miravam com uma expressão analisadora.

— Então, isso vai ser divertido. — Jorge praticamente pulou, indo até a mesa e agarrando uma enorme tesoura de costura.

Lucy sentiu um calafrio subir até sua garganta.

— Que... Tesoura enorme. — ela disse, enquanto Jorge se aproximava, ele próprio mirando a tesoura. Ela ficou inquieta. Talvez nem fosse uma ideia tão boa assim...

Ele riram.

— Está com medo da tesoura? — Fred pegou o lençol da cama de Jorge e amarrou-o em Lucy, dando um nó em sua nuca. — Somos profissionais, não se esquente.

Lucy agarrou o colchão com as unhas, e seus pés fincavam no chão. Estava sendo ridícula, é claro. Mas aquilo era como um mantra para Georgie. Ela cuidara por anos para o cabelo de Lucy ficar daquela maneira, negro comprido e perfeito. Era o mimo de sua mãe, e só Merlin sabia o quanto ela já apanhara por pensar em cortar um único fio dele.

Jorge estava se aproximando, abrindo-a e fechando-a, suas laminas prontas para agarrá-la...

Lucy saltou do baú e correu até a extremidade do quarto.

— Snapezinha...Vamos lá. — Fred fez cara de magoado. Jorge ria com a tesoura nas mãos parecendo um psicopata. — Fica relax.

— Eu não sei onde estava com a cabeça quando pensei nisso... — ela segurou o cabelos negro contra seu peito. Mas lá no fundo, uma risada escapava da sua garganta — Péssima ideia, péssima ideia.

Fred avançou até ela do outro lado e ela subiu na cama, agarrando o travesseiro.

— Mais um passo e você morrerá sufocado. — ela usou o travesseiro para se proteger. — Eu. Não. Vou. Fazer. Isso.

— Qual é Snapezinha... — Fred começou com o discurso novamente.

— Sem chance. — ela repetiu. Estava brava consigo mesma por deixar eles pensarem que por um minuto cortariam seu cabelo. E o pior é que há minutos atrás, ela mesma queria. — Nem que Merlin surja aqui na minha frente e peça. De jeito nenhum.

Então, só então pensou se eles sabiam cortar cabelo, oh céus Lucy sua estúpida.

— Ui, ela é difícil. — Jorge estava se aproximando também com a tesoura assassina presa entre os dedos.

— Pode se afastar com essa coisa. — ela apontou para a tesoura e correu sobre a cama, pulando no chão e prendendo as costas na porta do quarto.

— Vai ser legal Lucy... — Jorge abaixou a mão com a tesoura, andando devagar até ela com uma mão levantada como se ela fosse um leão prestes a dar o bote.

— Veja isso como... — hesitou Fred.

— Mudança de ares. — eles completaram o pensamento juntos.

Fred repetiu o movimento do irmão, com um sorriso assassino na boca.

— É... Confiança, lembra?

Injustiça. Isso é baixaria.

— Confiança o escambau, se afasta com essa tesoura assassina. — ela tentou desenrolar o nó do lençol, mas parecia... Desenrolável?

Eles suspiraram.

— Lucy. — Jorge tentou passar confiança. — É só cabelo.

Ela abriu a boca, incrédula.

— SÓ CABELO? — ela gritou, frustrada. O pior de tudo, é que ele tinha razão.

Eles pareceram assustados, mas ainda determinandos.

— Isso mesmo, Snapezinha... — Fred tentou a acalmar — Só cabelo.

Ela abriu uma carranca e cruzou os braços. Eles se entreolharam, parecendo cansados. Mas logo em seguida, Fred sorriu.

— Vou ter que apelar Jorge... — disse ele.

O outro gêmeo deu de ombros, o sorriso assassino reaparecendo.

— Vá em frente Fred!

Ele posicionou as mãos na cintura e começou a imitar uma galinha.

— Pó pó pó PÓ...

Lucy queria rir, mas não perderia a luta. Não mesmo.

— Para com isso Weasley.

— PÓ PÓ PÓ PÓ — ele continuou — Acho que estou escutando uma mijona aqui...

— Eu estou avisando... — ela abaixou os braços, irritada.

— PÓ PÓ PÓ PÓ, PÓ PÓ ÓÓÓÓÓ!

Jorge começou a imitar o irmão. Lucy tapou os ouvidos, furiosa. Eles eram incontroláveis.

— AAH CARAMBA PAREM COM ISSO — ela gritou — CORTEM ESSA MERDA LOGO!

Eles pararam e Jorge deu um pulinho de vitória.

— É assim que se fala! — ele gritou e colocou uma cadeira em frente ao espelho — Pontoo para Snaaaaaaaaape....

— OK, chega, para. To indo. — ela respirou fundo e se sentou na cadeira, mordendo a língua.

Ela pegou as mechas de seu longo cabelo negro e se lembrou de cada momento que fizera uma besteira. Uma vez, quando criança, pegara a tesoura de cozinha de Georgie e cortara grande parte do cabelo. Nunca recebera bronca tão grande.

Eles olharam para ela no espelho. Ela soltou o cabelo e fechou os olhos.

— Vão em frente.

Jorge separou seu cabelo em várias partes e começou. Lucy continuava com os olhos bem fechados e o único som do quarto era o das lâminas fechando, abrindo, cortando e seu cabelo caindo no chão. Demorou alguns minutos até ele terminar a parte de trás. Lucy se sentia pelada. Mas ainda sobrou sua franja. Ela escutou eles discutirem. Ah meu Merlin. Então chegaram a um acordo e Jorge passou a tesoura na sua franja, praticamente a exterminando até Lucy apenas senti-la batendo em sua testa.

— Pode abrir os olhos Snapezinha. — disse Fred, desamarrando o nó e tirando alguns cabelos de seu corpo.

Lucy abriu os olhos com um pouco de medo, e encarou a pessoa no espelho. Se parecia com ela, mas ela se recusava a acreditar. Seu cabelo batia nos ombros. NOS OMBROS, e Jorge o cortara para ficar reto mas com algumas ondas. Ela passou os dedos pela franjinha repicada, cobrindo sua testa e terminando antes de atingir seus olhos. Ela levantou a mão e mexeu no novo cabelo, se conformando. Não, não estava ruim.

Ela olhou para o chão e viu mechas de seu longo cabelo negro esparramadas, mortas.

— Gostou? — Jorge perguntou, ainda com a tesoura na mão.

E de repente era como se todas as más lembranças se fossem com seu cabelo, e estivessem lá no chão. Tudo no chão. Existiria em algum lugar, mas a partir dali, estaria tudo sempre no chão. Era só pisar em cima.

— Eu adorei. — um sussurro escapou de seus lábios. Ele sorriram, e ela sorriu também. Não sabia em que momento aceitara que aquilo funcionava, mas funcionava. O cabelo cortado, no chão. Eles ali, do seu lado a ajudando a pular as janelas da sua solidão, todas aquelas risadas e ataques de raiva e lágrimas e todo aquele humor que simplificava tudo, reduzia tudo a algo distante, guardado numa gaveta. Ela sentiu, por alguns minutos, que nada poderia a atingir. Em algum momento, os problemas voltariam. O frio voltaria e as punições viriam também. Então ela se lembrou vagamente de um trecho de um livro trouxa que lera uma vez: “Às vezes, perdemos a batalha, mas a farra sempre ganha a guerra.”


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Notas finais do capítulo

Gostei muito de conversar com o Ju Ferrer no Facebook, então quem quiser, me adicione para batermos um papo!
https://www.facebook.com/clara.decol.9

Beijos

Clara