Sabia que mais uma noite eu iria me afastar de todos. Noite anterior me encontrei com Kikyou, não consigo me afastar dela, sinto-me culpado por sua morte, mas ao mesmo tempo sinto que não preciso dela mais tanto assim. É noite de Lua Nova hoje, mais uma vez estarei como humano e não quero que eles me presenciem assim.

Era fim de tarde e nós chegávamos à casa da velha Kaede, podia ver o sol começando a se por entre as árvores. Esperei que todos entrassem na cabana da velhota para eu seguir em direção a árvore sagrada, era lá que eu iria passar a noite, nos galhos mais altos.

A noite estava fria, eu olhava o horizonte calmamente e o mais atento possível para conseguir escutar qualquer movimentação estranha. Perdido em meus pensamentos, não percebi ser procurado por aquela humana, podia sentir seu cheiro hipnotizante, mas, para mim, era como se fosse um sonho ela estar ali.

Resolvi abrir meus olhos e observar o chão, será que ela estava lá? Não a vi.

– Anda Inuyasha, desça logo daí e venha jantar com a gente - Era ela. Ela estava lá. Meus olhos a procuraram como uma criança que necessita da mãe. Por que ela insistia em me ter por perto quando sabia que eu queria ficar sozinho? Não me viu.

– Inuyasha, onde você está? Dá pra aparecer logo? Está frio. - A vi finalizar a frase enquanto se abraçava. Sorri. A mesma humana de sempre, só sabe reclamar.

– Keh, não quero descer humana idiota - Sorri vitorioso enquanto ela me procurava com os olhos.

– Se você não aparecer pra mim vou falar aquela palavrinha - Engoli em seco, quando ela queria, sabia ser má.

– Não vou descer - Me mantive firme.

– Ótimo! - ela disse calma? - SEEEEEEEEEEEEENTA! - Era bom demais para ser verdade. Meu rosto já se encontrava esteado no chão.

– Sua burra, não sabe que estou em minha forma humana? - Me levantei bravo do chão, seus olhos se encontraram com o meu, ela sorriu, rindo da minha desgraça agora, burra e idiota.

– Desculpa Inuyasha, mas você que não quis falar comigo. - Ela sorria enquanto me encarava.

– Não vejo motivo pra você sorrir tanto - Me emburrei virando o rosto.

– Você fica diferente quando está humano Inuyasha - Os olhos dela brilhavam, ela falando assim me lembra da minha infância.

– Você não precisa dizer, já escutei muito isso quando era criança - praticamente cuspi as palavras, a revolta estava estampada em meu rosto, fechei meus olhos de raiva, não aguentaria mais olhar para ela.

– Não foi isso que eu quis dizer Inuyasha - permaneci do mesmo jeito - É que você... Você... Você fica bonito - ruborizei e abri meus olhos assustados, me deparei com ela tão próxima a mim.

Observei sua mão direita se esticar, a direção era meu rosto, não me movi, acho que eu queria este toque, precisava deste toque. Fechei os olhos enquanto sua mão percorria a distancia que havia até meu rosto, foi então que senti seu calor, aquela mão macia encostava-se levemente contra meu rosto, que carinho gostoso. Meus olhos se mantinham fechados aproveitando o carinho.

Senti sua outra mão seguir em direção ao meu cabelo, ela tocou levemente o topo de minha cabeça e depois deixou sua mão deslizar em direção a minhas costas, percorrendo a extensão do meu cabelo.

O carinho me deixava embriagado. Kagome sempre foi uma grande amiga, mas eu não poderia me envolver com ela, não seria justo, eu a estaria prendendo ao meu mundo e talvez não fosse isso que ela quisesse. Num súbito me separei dela, ela arregalou os olhos pra mim enquanto eu me afastava, subi na árvore novamente e fiquei mudo.

Pude ouvir seu suspiro, sinto desapontá-la, mas não posso prendê-la a mim.

– Não vou desistir de você Inuyasha - seu tom era baixo, mas eu podia ouvi-la - quero que se junte a nós.

Permaneci calado. Ela também. Acho que esperava por minha resposta.

– Anda logo Inuyasha, não há o que esconder - ela continuava a falar, apertava meu coração vê-la triste - Se não descer daí... Eu vou... Eu vou... - Eu já estava preparado para aquela bendita palavra - eu vou aí em cima buscá-lo.

– Essa eu quero ver - Não posso perder a chance de desafiá-la.

– Keh - está igualzinha a mim, sorri - então espere.

Deitei-me no galho para poder olhá-la, meu peito ficou encostado na madeira. Ela começou a subir na árvore, eu ria por dentro, ela caiu sentada no chão, escorregou. Humana idiota. Mas ela não desistiu, vi de novo ela subir no tronco, seus braços já alcançavam o primeiro galho, tanto esforço por mim, acho que agora ela consegue.

Escorregou de novo. Fraca. Sentada no gramado, vi seus lábios se moverem, juro que ela devia estar me xingando. Ela se levantou e seguiu em direção da árvore, e mais uma vez caiu.

– Desisto Inuyasha - essa eu ganhei - não consigo ir até você, vou voltar para a cabana - a vi dar as costas, seus ombros estavam caídos, total sinal de tristeza.

A cada passo que ela dava, eu sentia uma arrependimento, desci a árvore rapidamente e a alcancei, parei em sua frente e segurei suas mãos, estavam geladas por causa do frio.

– Fica aqui - murmurei.

– Você não me quer aqui, não deixa me aproximar de você - ela sussurrava - Está frio, vou para a cabana.

– Fica comigo? - agora eu pedi, ela me encarou assustada, mas aos poucos sua feição mudou para duvidas - Eu preciso de você - finalizei.

Ela permanecia muda me olhando daquele jeito. A abracei. Percebi o susto ao encostar-se a meu corpo, mas logo depois senti o seu carinho, ela retribuiu meu abraço. Afastei-me, tirei meu casaco e entreguei a ela. Ela permanecia calada, mas eu podia ver o sorriso em seus lábios.

Peguei em sua mão para guia - lá em direção a árvore, subimos e eu a coloquei entre minhas pernas, a abracei e encostei meu nariz em seu pescoço. Juro que a vi arrepiar.

Sei que não a quero prender a mim, não quero prende-la a essa era por ela ter sua família, mas eu preciso dela, seu cheiro é tão bom, ela me faz sorrir e não se importa por eu ser humano.

Essa é a minha Kagome.

Sorri.