Chamamento De Sangue escrita por Melanie Blair


Capítulo 23
Xxii


Notas iniciais do capítulo

Sei que já passou muito tempo. E sei que não há desculpa.
A única coisa certa é que andei, durante todo este tempo, sem inspiração para esta fic.
Mas prometo-vos que vai mudar.
Desculpem-me, mais uma vez.



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– Acho que estás enganada, Shizuka!- ouvi uma voz a exclamar. Virei-me a tempo de encarar o meu salvador.

E ali estava ele. Os cabelos prateados esvoaçavam com a corrente vinda da janela aberta. Os lábios, antes imaculados, sangravam. Os olhos, normalmente tão cinzentos, mostravam um semblante vermelho, enfurecido, enraivado. E na sua mão estava a Bloody Rose, apontada na direção da Shizuka/Maria.

– Zero!- gritei.

Shizuka levantou-se e colocou-se à minha frente, escondendo-me:

– Fui burra ao pensar que um derrame de sangue e umas correntes podiam parar-te.- suspirou ela.

Zero avançou.

– Sim, foste.

E apertou o gatilho. Vindo de não sei onde, um semblante colocou-se à frente dela, protegendo-a. Enquanto considerava quem era o idiota que arriscaria a vida por ela, Zero sussurrou:

– Ichiru…

Ichiru era o idiota. O idiota que colocara-se à frente de Shizuka e desviara a bala com uma lâmina. Shizuka, satisfeita com a idiotice deste, acariciou-o e murmulhou-lhe ao ouvido:

– Muito bem, meu amor.

Mirei Zero. Parecia confuso, transtornado, até inconformado.

– Porquê, irmão?- perguntou ele.- Ela matou os nossos pais…

Ichiru ignorou-o. Algo se passava. Zero sabia a razão. E isso enojava-o a ponto de desviar o olhar da sua “presa”… Eu não sabia. Eu não podia ajudar.

– Essa tristeza, Zero…- começou Shizuka.- essa tristeza diz-me que tu queres perdoar o teu irmãozinho. Ela diz-me que queres arranjar uma desculpa para aquilo que ele te fez, que ele fez à tua família. Ela diz-me que ainda o amas.

Acariciou de novo o braço de Ichiru e continuou:

– E o amor é uma fraqueza.

Sem mais demoras, Shizuka tira a espada da mão do seu amante e espeta-a no seu estômago. O tempo pára. E quando recomeça, tudo parece acontecer em câmara lenta. Ichiru arfa, agarra-se ao estômago e cai no chão. Zero deixa de respirar. Shizuka ri-se. Eu continuo petrificada.

– O que fizeste?- gritei.

– Vou dar-te a oportunidade de escolheres, Zero.- anunciou ela.

Eleva a mão direita e, como por magia, Ichiru eleva-se de resistência. Essa magia continua a sobrevoá-lo e leva-o até ao peitoril da janela. A janela que está aberta. A janela que tem uma corrente forte. A janela que está a dois andares de distância do chão.

Zero começa a mexer-se.

– Espera.- comandou Shizuka. Eleva a sua outra mão na minha direção. De repente, sinto uma pressão à volta do meu pescoço. E ela aperta, e aperta. O ar começa-me a escapar, e a minha visão a esfumar-se.

– Adoro o elemento ar.- suspirou ela. E de seguida, sobe o tom de voz.- Aqui está a tua escolha: eu salvas o teu irmão ou salvas esta humana, que nada tem a ver contigo.

– Cabra…- deixei escapar. Ela, ao ouvir-me, aperta mais o seu aperto. Deixo sair um grunhido de dor.

Entre as minhas pupilas prestes a chegaram, consegui avistar Zero. Estava pensativo, como se a deliberar as suas opções. E depois lembrei-me: de um Zero a falar da morte do seu irmão com uma angústia indescritível; um Zero que, como a cabra tinha dito, ainda amava-o, independentemente do que tivesse acontecido entre eles… Isto não podia acabar assim.

De repente, cheguei a uma conclusão. Se Shizuka queria vingança, certamente não iria fazê-la desta maneira. Uma morte sem sofrimento, sem tortura, não era maneira de acabar com um objectivo de vida. Pelo menos, era o que acontecia nos romances policiais do meu pai. Era uma hipótese remota, mas a minha única esperança.

– Vai…- consigo dizer.

Zero olhou-me, petrificado. Estava relutante, apreensivo. Sorri. Se eu morresse, pelo menos sabia que ele achara esta decisão difícil.

– Ela não me vai matar…- continuei.

Ele percebeu a minha ideia. Pediu-me desculpa e fitou Shizuka.

– Assim seja.- declarou ela e baixou a mão direita. Ichiru, sem outro suporte, caí. A corrente é muito forte e empurra-o para o lado de fora da janela. Zero, com a sua velocidade de vampiro, vai atrás dele. Para o outro lado da janela. E eu fico aqui.

Assim que eles já não estão à nossa vista, o aperto à volta do meu pescoço descontrai-se. Shizuka suspira e senta-se no sofá.

– És mais inteligente do que eu pensava.- declarou.

– Eles vão morrer.- gritei-lhe.- Não te preocupas com isso?

Sorriu.

– Ichiru talvez, mas não Zero.

– E isso não te incomoda? Vocês são tão próximos…

O gargalhar dela, interrompeu-me.

– Ichiru nunca foi mais que um meio para chegar a Zero. Foi sempre o elo mais fraco da sua família de caçadores, o elo mais doente, mais inútil… Só tive que fingir que o compreendia, que o amava…

– És horrível, nojenta!- cuspi-lhe.

– Talvez, mas não me importo.- declarou.- Vou ter tudo aquilo que quero: o teu sofrimento e Zero.

– Ele já sofreu demasiado por tua causa. Porque não o pode deixar em paz.- disse-lhe.- Não vou permitir.

Gargalhou de novo. Mais demoradamente.

– Gostava de te ver tentar.- confessou.- Se tudo correr conforme eu planejo, nem conseguirás mexer-te quanto mais salvar Zero.

– Terei que rezar para que o plano falhe.- disse.

Shizuka levantou-se e fitou-me.

– Enquanto rezas, posso começar com a minha vingança?

Zero Pov-On

Voava. Por baixo de mim, encontrava-se, em plena queda, o meu irmão. Estava ferido, gravemente. Se embatesse no chão, com esta velocidade, saberia que não iria sobreviver… Ele continuava a ser meu irmão. E, mesmo depois de saber a verdade, sentia a necessidade de o salvar. Porque durante estes anos todos tinha-me culpabilizado pela morte dele. Tinha-me culpabilizado por não ter estado com ele naquele momento, no momento em que ele necessitava mais de mim. Porque durante estes anos todos, tinha sentido falta dele. E é verdade que ele tinha pecado, é verdade que ele estava ligado ao diabo (ao diaba)… mas as pessoas podiam mudar. Eu devia-lhe, pelo menos, uma oportunidade. Uma oportunidade para ele escolher redimir-se e viver, a sério.

Sem considerar nada mais, estiquei-me, acelerei a minha descida. Ultrapassei a queda dele e agarrei-o. Assim que embatemos no chão, fui eu que levei com a força do embate e com o peso do meu irmão. Não iria morrer do embate, mas certamente não fui imune à gravidade e à sua intensidade.

Enquanto considerava o quanto me devia mexer, a fim de não perturbar, ainda mais, a ferida de Ichiru, ele mexeu-se. E começou a levantar-se.

– Não te mexas, idiota.- resmunguei-lhe.

Ele ignorou-me. Tentei levantar-me, lentamente. Arfei de dor. Deveria ter uns ossos partidos. A única bênção de tudo isto é saber que daqui a alguns segundos já estarão no sítio.

Um pé no meu peito impediu-me de continuar a mover-me.

– O idiota aqui és tu.- disse-me Ichiru, com uma faca apontada à minha garganta.

Algo estava errado. Fixei-me no seu estômago. Não havia derrame, não havia sangue, não havia ferida. Nada.

– Mas elas esfaqueou-te…

– Ela fingiu esfaquear-me.- explicou-me.- Continuas a ser ingénuo, irmão.

Aproximou mais a faca ao meu pescoço.

– Agora terei que te matar!


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