Chamamento De Sangue escrita por Melanie Blair
Notas iniciais do capítulo
Sei que já passou muito tempo. E sei que não há desculpa.
A única coisa certa é que andei, durante todo este tempo, sem inspiração para esta fic.
Mas prometo-vos que vai mudar.
Desculpem-me, mais uma vez.
– Acho que estás enganada, Shizuka!- ouvi uma voz a exclamar. Virei-me a tempo de encarar o meu salvador.
E ali estava ele. Os cabelos prateados esvoaçavam com a corrente vinda da janela aberta. Os lábios, antes imaculados, sangravam. Os olhos, normalmente tão cinzentos, mostravam um semblante vermelho, enfurecido, enraivado. E na sua mão estava a Bloody Rose, apontada na direção da Shizuka/Maria.
– Zero!- gritei.
Shizuka levantou-se e colocou-se à minha frente, escondendo-me:
– Fui burra ao pensar que um derrame de sangue e umas correntes podiam parar-te.- suspirou ela.
Zero avançou.
– Sim, foste.
E apertou o gatilho. Vindo de não sei onde, um semblante colocou-se à frente dela, protegendo-a. Enquanto considerava quem era o idiota que arriscaria a vida por ela, Zero sussurrou:
– Ichiru…
Ichiru era o idiota. O idiota que colocara-se à frente de Shizuka e desviara a bala com uma lâmina. Shizuka, satisfeita com a idiotice deste, acariciou-o e murmulhou-lhe ao ouvido:
– Muito bem, meu amor.
Mirei Zero. Parecia confuso, transtornado, até inconformado.
– Porquê, irmão?- perguntou ele.- Ela matou os nossos pais…
Ichiru ignorou-o. Algo se passava. Zero sabia a razão. E isso enojava-o a ponto de desviar o olhar da sua “presa”… Eu não sabia. Eu não podia ajudar.
– Essa tristeza, Zero…- começou Shizuka.- essa tristeza diz-me que tu queres perdoar o teu irmãozinho. Ela diz-me que queres arranjar uma desculpa para aquilo que ele te fez, que ele fez à tua família. Ela diz-me que ainda o amas.
Acariciou de novo o braço de Ichiru e continuou:
– E o amor é uma fraqueza.
Sem mais demoras, Shizuka tira a espada da mão do seu amante e espeta-a no seu estômago. O tempo pára. E quando recomeça, tudo parece acontecer em câmara lenta. Ichiru arfa, agarra-se ao estômago e cai no chão. Zero deixa de respirar. Shizuka ri-se. Eu continuo petrificada.
– O que fizeste?- gritei.
– Vou dar-te a oportunidade de escolheres, Zero.- anunciou ela.
Eleva a mão direita e, como por magia, Ichiru eleva-se de resistência. Essa magia continua a sobrevoá-lo e leva-o até ao peitoril da janela. A janela que está aberta. A janela que tem uma corrente forte. A janela que está a dois andares de distância do chão.
Zero começa a mexer-se.
– Espera.- comandou Shizuka. Eleva a sua outra mão na minha direção. De repente, sinto uma pressão à volta do meu pescoço. E ela aperta, e aperta. O ar começa-me a escapar, e a minha visão a esfumar-se.
– Adoro o elemento ar.- suspirou ela. E de seguida, sobe o tom de voz.- Aqui está a tua escolha: eu salvas o teu irmão ou salvas esta humana, que nada tem a ver contigo.
– Cabra…- deixei escapar. Ela, ao ouvir-me, aperta mais o seu aperto. Deixo sair um grunhido de dor.
Entre as minhas pupilas prestes a chegaram, consegui avistar Zero. Estava pensativo, como se a deliberar as suas opções. E depois lembrei-me: de um Zero a falar da morte do seu irmão com uma angústia indescritível; um Zero que, como a cabra tinha dito, ainda amava-o, independentemente do que tivesse acontecido entre eles… Isto não podia acabar assim.
De repente, cheguei a uma conclusão. Se Shizuka queria vingança, certamente não iria fazê-la desta maneira. Uma morte sem sofrimento, sem tortura, não era maneira de acabar com um objectivo de vida. Pelo menos, era o que acontecia nos romances policiais do meu pai. Era uma hipótese remota, mas a minha única esperança.
– Vai…- consigo dizer.
Zero olhou-me, petrificado. Estava relutante, apreensivo. Sorri. Se eu morresse, pelo menos sabia que ele achara esta decisão difícil.
– Ela não me vai matar…- continuei.
Ele percebeu a minha ideia. Pediu-me desculpa e fitou Shizuka.
– Assim seja.- declarou ela e baixou a mão direita. Ichiru, sem outro suporte, caí. A corrente é muito forte e empurra-o para o lado de fora da janela. Zero, com a sua velocidade de vampiro, vai atrás dele. Para o outro lado da janela. E eu fico aqui.
Assim que eles já não estão à nossa vista, o aperto à volta do meu pescoço descontrai-se. Shizuka suspira e senta-se no sofá.
– És mais inteligente do que eu pensava.- declarou.
– Eles vão morrer.- gritei-lhe.- Não te preocupas com isso?
Sorriu.
– Ichiru talvez, mas não Zero.
– E isso não te incomoda? Vocês são tão próximos…
O gargalhar dela, interrompeu-me.
– Ichiru nunca foi mais que um meio para chegar a Zero. Foi sempre o elo mais fraco da sua família de caçadores, o elo mais doente, mais inútil… Só tive que fingir que o compreendia, que o amava…
– És horrível, nojenta!- cuspi-lhe.
– Talvez, mas não me importo.- declarou.- Vou ter tudo aquilo que quero: o teu sofrimento e Zero.
– Ele já sofreu demasiado por tua causa. Porque não o pode deixar em paz.- disse-lhe.- Não vou permitir.
Gargalhou de novo. Mais demoradamente.
– Gostava de te ver tentar.- confessou.- Se tudo correr conforme eu planejo, nem conseguirás mexer-te quanto mais salvar Zero.
– Terei que rezar para que o plano falhe.- disse.
Shizuka levantou-se e fitou-me.
– Enquanto rezas, posso começar com a minha vingança?
Zero Pov-On
Voava. Por baixo de mim, encontrava-se, em plena queda, o meu irmão. Estava ferido, gravemente. Se embatesse no chão, com esta velocidade, saberia que não iria sobreviver… Ele continuava a ser meu irmão. E, mesmo depois de saber a verdade, sentia a necessidade de o salvar. Porque durante estes anos todos tinha-me culpabilizado pela morte dele. Tinha-me culpabilizado por não ter estado com ele naquele momento, no momento em que ele necessitava mais de mim. Porque durante estes anos todos, tinha sentido falta dele. E é verdade que ele tinha pecado, é verdade que ele estava ligado ao diabo (ao diaba)… mas as pessoas podiam mudar. Eu devia-lhe, pelo menos, uma oportunidade. Uma oportunidade para ele escolher redimir-se e viver, a sério.
Sem considerar nada mais, estiquei-me, acelerei a minha descida. Ultrapassei a queda dele e agarrei-o. Assim que embatemos no chão, fui eu que levei com a força do embate e com o peso do meu irmão. Não iria morrer do embate, mas certamente não fui imune à gravidade e à sua intensidade.
Enquanto considerava o quanto me devia mexer, a fim de não perturbar, ainda mais, a ferida de Ichiru, ele mexeu-se. E começou a levantar-se.
– Não te mexas, idiota.- resmunguei-lhe.
Ele ignorou-me. Tentei levantar-me, lentamente. Arfei de dor. Deveria ter uns ossos partidos. A única bênção de tudo isto é saber que daqui a alguns segundos já estarão no sítio.
Um pé no meu peito impediu-me de continuar a mover-me.
– O idiota aqui és tu.- disse-me Ichiru, com uma faca apontada à minha garganta.
Algo estava errado. Fixei-me no seu estômago. Não havia derrame, não havia sangue, não havia ferida. Nada.
– Mas elas esfaqueou-te…
– Ela fingiu esfaquear-me.- explicou-me.- Continuas a ser ingénuo, irmão.
Aproximou mais a faca ao meu pescoço.
– Agora terei que te matar!
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