Chamamento De Sangue escrita por Melanie Blair


Capítulo 21
XX


Notas iniciais do capítulo

Não chegámos aos 100 comentários, mas não ficámos longe XD
Este capítulo será contado por Zero e Ayame, devidamente separados.
Música do capítulo: http://www.youtube.com/watch?v=rozv8KrQ1uM



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Conhecem aquelas dores de cabeça que nos fazem vomitar e duvidar a existência de felicidade? Era assim que eu me sentia. E se conhecem a sensação…tenho pena de vocês!

Deixei a minha memória vaguear, tentando manter a consciência longe das dores. Lembrava-me do “Ichiru” e do plano pouco-original dele: o uso do clorofórmio (se soubessem as vezes que já vi isso nos filmes…).

Mas, esperem lá…tenho uma pequena pergunta: Se isso realmente aconteceu, como vim parar a uma cama confortável?

Sentei-me. Fechei os olhos de modo a parar as tonturas que me abrangeram. “Detesto isto”, pensei, tentando substituir as imagens de vómito que tinha na cabeça, por lindos patos a nadar num lago de um azul penetrante. É pena é que esta seja altura de acasalamento para os patos e, de modo a eles pararam com as suas situações obscenas, abri os olhos.

Só reparei na face pálida ao meu lado quando parei de olhar os ponteiros sujos do relógio pendurado na parede.

 - AHH!- gritei quando a vi. O vulto sorriu, com compreensão. Estávamos num quarto escuro, sem iluminação eléctrica, apenas com a luz proporciona pela lua. Um quarto comum a um ser sobrenatural como ela. A um vampiro, como ela.

- Desculpa, Maria.- pedi à rapariga que ainda me sorria.- O que me aconteceu?

Ela levantou-se e começou a percorrer o seu quarto, desconfortável, como se não se permitisse recordar de algo.

- Encontrei-te nos jardins, desmaiada e pálida.- explicou-me ela.- Parecias um cadáver.

Apanhou uma gota de preocupação e alívio da face.

- Mas o teu coração palpitava com força…- deixou escapar um suspiro dos lábios bem esculpidos.- Deves ter bebido demasiado ponche.

- Ponche?- interroguei, duvidosa.- Mas eu não bebi…!?

Um abrir a porta interrompeu o meu discurso. Um homem de cabelos cinzentos entrou no quarto, cabisbaixo. Os lábios, ao me avistar, curvaram-se num sorriso irónico. Os olhos, fascinados, cortavam o meu corpo, como se eu não fosse mais que um pedaço de carne, crua, sem sentimentos.

- Bom trabalho, Ichiru!- exclamou Maria. Reconheci o nome. Como não o poderia reconhecer? Sem qualquer espaço de tempo racional, levantei-me do colchão e gritei para a minha salvadora:

- Afasta-te dele, Maria. Esse homem é perigoso!

Mas ela não me escutou. E, se de facto me escutou, não obedeceu às minhas recomendações simples. Maria, alegremente, saltitou até chegar ao platinado. Colocou-se de bicos de pés e, sem timidez ou humilhação, beijou-se nos lábios. “Alguma coisa cheira mal aqui”, pensei.

- És mau, querido?- perguntou-lhe ela, inojando-me. Virou-se na minha direcção.- Não, Ayame, este homem não é perigoso. Apenas se limita a cumprir as minhas ordens. Não é perigoso, é leal.

“As ordens dela?”, questionei-me até que a minha mente fez um “Eureka!”. Mas, tenho de admitir, não gostei da conclusão a que tinha chegado. Enquanto pensava numa maneira de eu a inquirir sem ficar magoada (Ichiru parecia frequentar mais vezes o ginásio que eu), o casalzinho dava mais um beijinho molhado. Porém, para bem dos meus olhos, ele afastou-se dela, recusando-se a mais actos íntimos.

- OH,- murmurou Maria.- tinha-me esquecido. Gostas mais quando “eu” te beijo.

Largou o tronco de Ichiru e dirigiu-se a mim.

- Prepara-o!- ordenou. O “cãozinho” curvou solenemente a cabeça e saiu do quarto.

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Zero

Estava farto de remexer os pulsos. Estava farto de tentar encontrar um ponto fraco nas correntes que me prendiam os pulsos. Estava farto de ver sangue, o meu sangue, a pingar o cinzento do chão.

Tenho que admitir que a ideia de me colocarem umas correntes feitas de espinhos não foi má. Eu estava fraco, já que Ichiru tinha-me drenado algum sangue. Mas, com estas correntes, ao tentar libertar-me, perdia mais sangue e tornava-me mais fraco.

Se sangue não me faltasse, eu estaria forte. E se eu estivesse forte, estas correntes não seriam, de todo, um desafio para mim.   

A minha mente não estava muito mais fortalecida. Ichiru tinha saído do quarto com um sorriso irónico, o que não seria muito bom sinal. E eu estava aqui, não sabendo o que se estaria a passar do outro lado da parede. Sentia-me um inútil.

Suspirei. “Que bela porcaria de dia!”.

Enquanto pensava na possibilidade de passar a minha involuntária eternidade ali, percorri o chão de todo o compartimento. Qual foi o meu espanto ao encontrar uma pequena lâmina debaixo de um móvel de gavetas fechadas. De joelhos, percorri o quarto até ao objecto pontiagudo. Não foi fácil retirá-lo do pó escuro do móvel. Com as minhas mãos atadas, tive que empurrar o móvel com o meu tronco, a fim de deixar a lâmina descoberta.

Mas o verdadeiro desafio viria a seguir. Coloquei, com cuidado, o pequeno metal entre os lábios e, devagar (o mais depressa que eu conseguia), estiquei os braços e comecei a cortar as espessas correntes.

“Acho que isto ainda vai demorar um tempinho”, pensei.

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Ayame

Ichiru voltou com um corpo inanimado. Era uma mulher de cabelos pálidos, alta e, claro, linda. Tinha uma expressão serena, como se estivesse num sono profundo. Mas não me dediquei à face dela por muito. O meu olhar percorreu o kimono branco manchado de vermelhos fedorentos. Sangue.

- Este é o meu verdadeiro corpo.- afirmou-me Maria.

- O quê?- perguntei, sem força na voz.

A vampira acariciou a face do “seu” corpo. Ao afagar o “seu” cabelo, sorriu, com adoração.

- O meu verdadeiro nome é Hiõ Shizuka. Sou uma vampira puro-sangue.- algo no nome dela fez com que o meu corpo tremesse.- E como faço parte dos vampiros raros, toda a nossa sociedade sabe o meu nome. Assim, entrar nesta escola com o meu corpo não daria certo. E eu ainda tenho missões a cumprir.

- Que missões?-perguntei, mas ela ignorou-me e continuou com o relato dos seus pensamentos.

- Andava à procura de um corpo. Kurenai Maria estava no sítio errado à hora errada. O semblante dela tinha tudo o que eu precisava: era belo e extremamente inocente, capaz de sensibilizar os mais insensíveis.

Respirou fundo e prosseguiu.

- A transferência de almas era difícil, sempre mo tinham dito. Mas presenciar a dor é totalmente diferente.- sussurrou.- Para transferir a minha alma para o corpo de Maria tem de se difundir grandes quantidades do meu sangue no dela. Essas quantidades de sangue têm de ser colhidas de profundas feridas situadas em locais diferentes do meu corpo. Além disso, não se pode usar qualquer anestesia e eu tenho de permanecer consciente até ao final do trigésimo corte.

Suspirou de novo, como se a tentar fatigar os pensamentos daquele acontecimento. Percorreu as cores vermalhas do kimono, onde estariam as feridas.

- Vem cá!- pediu-me. Eu recusei-me a dar um passo na direcção daquela psicopata.

- Vem cá!- gritou-me. Não me deixei afligir pelo seu tom de voz. Permaneci no mesmo local. Shizuka (no corpo de Maria) cansou-se de esperar por mim e, sem demoras, puxou-me até onde se deitava o “verdadeiro” corpo dela. Manuseou a mão do corpo inanimado até esta me tocar na face.

- Aquele loiro nobre só se mete nos assuntos alheios!- sussurrou, zangada. “Loiro?” “Aidou?”.

- O qu…?- ia perguntar, quando a palma dela aqueceu-me a face de maneira mágica e a minha mente foi percorrida de imagens. Essas imagens consistiam numa sala iluminada onde Zero apontava a “Bloody Rose” à indefesa Maria… Não! Ela não era indefesa! Três palavras gritavam-me o raciocínio: “Sou a tua criadora!”. A magia, finalmente acabou, libertando-me. Recuei um passo. Recuperei o equilíbrio.

- Aidou apagou-te as memórias!- anunciaram os lábios de Maria.- Mas o poder de um nobre não ultrapassa, de modo nenhum, o de um puro-sangue. O meu corpo devolveu-te as memórias.

Shizuka, e não Maria, era a causadora do sofrimento de Zero, a causadora de ele ser o que é: um vampiro destinado a ser um monstro, um vampiro que não conseguirá controlar a sua sede, um Nível E.

- Uma das minhas missões, Ayame- começou ela.- É levar Zero comigo.

- Porque iria ele consigo?- encontrei finalmente voz e coragem para lhe perguntar.

- Ele pertence-me.- exclamou ela.- A marca que ele traz ao pescoço é símbolo disso mesmo.

A marca da mordedura dela. A marca que fazia um desenho preto, até lindo, como se de uma tatuagem se tratasse.

- Mas Zero não irá consigo por causa disso!- exclamei.

- Ele não tem escolha.- elucidou-me.- Enquanto ele estiver comigo a velocidade do processo de transformação em Nível E vai diminuir ou até mesmo cessar.

Se o que ela estava a dizer fosse verdade, então Zero iria com ela, sem pensar duas vezes no assunto. Eu sabia o quanto ele detestava o seu futuro, o quanto ele gostava de ser normal.

- E o que terá a Shizuka a ganhar com isso?- questionei-a.

- Além de eu o amar e querer que ele esteve comigo, eu preciso de Zero.- afirmou ela.

- Para quê?

- Ichiru é leal mas não é suficientemente forte, ao contrário de Zero. Preciso de alguém preparado fisicamente para conseguir controlar os meus filhos.

- Filhos?- como podia ela ter filhos? Uma vampira não consegue ter filhos!

- Não são os “filhos” que estás a pensar.- expilcou-me ela.- Os “filhos” de que estou a falar são humanos mordidos por mim.

Sentou-se num sofá. Eu permaneci de pé, o mais longe dela que podia.

- Na verdade, Ayame- começou.- Eu quero construir um exército.

- Um exército?- questionei.

- Quero começar uma guerra. Esta paz entre humanos e vampiros não me satisfaz. Esta estabilidade consiste nos vampiros esconderem-se, a inexistirem, e os humanos apenas pensarem em vampiros como mitos. Mas eu estou farta disso! Estou farta de me esconder  e apenas poder sair durante a noite. Estou farta de não puder morder humanos sem a permissão da vítuma. Estou farta!

Suspirou e continuou.

- Ao criar um exército de vampiros convocarei uma reunião entre os mais poderosos seres sobrenaturais. Se eles concordarem comigo serão meus aliados. Aqueles que estiverem contra serão chacinados. No final da guerra os meus princípios serão implementados e eu serei a rainha suprema dos dois mundos: o dos humanos e o nosso.

- Muita gente irá morrer…- deixei escapar.

- Não me interessa!- gritou.- Os humanos aprenderão, de uma vez por todas, a temer-nos. Isso é o que me importa.

Deixei-me cair no chão. As dores de cabeça latejavam. O meu coração doía. “Esta guerra”, pensei, “Será o apocalipse!”.

- E no meio disso tudo…- comecei- O que faço aqui?

- Tu fazes parte da minha segunda e última missão. Tu fazes parte da minha vingança.

- Vingança?- perguntei.- Vingança do quê?

- Vingança da tua mãe!- sorriu.

Uma onda percorreu-me o corpo. Estava com medo, com muito medo. Só pensava nos avisos de, parece que foram há tantos anos atrás, Aidou e Zero. Nos avisos que me fizeram acerca de Maria. Nos avisos que eu recusei a ouvir. A minha mente chorava de remorsos.

“Quem me dera tê-los ouvido!”, pensei, enquanto desejava que o tempo voltasse atrás.


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Notas finais do capítulo

Não voltarei a postar até apartir do dia 14. Vou para as Canárias, querem vir comigo?
Até lá!