Chamamento De Sangue escrita por Melanie Blair


Capítulo 12
XII


Notas iniciais do capítulo

Escrevi-o todo hoje, por isso se houver qualquer erro agradeço que me desculpem e me digam.



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Sentei-me na cadeira situada mais longe dos dois adultos. Tinha a sensação que não ia gostar minimamente daquilo. Zero decidiu permanecer em pé, perto de mim, para o caso de eu me passar e precisar de uma “carrada de porrada”, como o meu pai costuma dizer. A sua expressão continuava a avisar-me: “Não te enerves!”.

Inspirei e expirei. Olhei Kaien e Atsushi.

- Elucidem-me.- pedi, delicadamente.

Ambos deslocaram a cadeira na minha direcção e repetiram o meu ciclo respiratório.

- Como é que…?- começou Atsushi a questionar-me.

- Ninguém precisa de saber como é que eu sei. Só têm de me explicar o que aconteceu.- respondi-lhe.

Zero, ao ver-me ficar exaltada, apertou-me o ombro, avisando-me. Coloquei-me direita. Voltei a respirar.

- O teu pai adoptivo contou-te.- informou Kaien, ignorando a minha resposta.

O meu pai adoptivo? Como é que ele sabia? Algo me dizia que ele sabia mais do que lhe era permitido (sendo director e tal), talvez soubesse mais do que eu…

- Sim.- respondi à sua ausente pergunta.- Mas nada do que o meu pai me contou pode explicar este X que cobre a fotografia…

- Bem,- começou Atsushi- Talvez o teu pai, como tu ainda o denominas, não sabia a verdadeira história.

Aquilo não estava realmente a fazer grande sentido! Como poderia o meu pai não saber a verdade?

- Se, como acabou de dizer, o meu pai não sabe de nada… então porque haveriam vocês de saber?

Não hesitaram na resposta.

- Porque é o nosso trabalho.- responderam ambos.

- Temo que não vos esteja a perceber.- confessei.

Atsushi olhou-me com uns olhos que me gritavam “Mas é tão fácil! Será que não pensas rapariguita?”.

Como poderia eu saber? Só há dois dias tinham-me informado da minha verdadeira descendência… Que estupidez!

“Comecemos então a pensar.”, pensei, “Coloca o teu encéfalo a pensar, Ayame! Mas afinal quando é que lhe vais dar algum uso?”  

Isolei-me do mundo, das vozes, da cor, dos cheiros, das respirações. Queria pensar! Fechei os olhos.

O livro que não tinha título, trazia uma foto da família que considero minha, a família do meu pesadelo. Mas este livro estará aqui por que razão? E ainda por cima riscada daquela maneira…

“É o nosso trabalho”, relembrei. Para eles terem tais informações…seriam eles espiões ou algo do género? Tirei essa ideia absurda da cabeça. Estava algo a escapar-me. Lembrei-me de todas as falas de todas as pessoas até chegar a um comentário de Zero- “Isto é uma associação de caçadores de vampiros.

Depois fez-se luz. Mas não poderia ser aquilo. Não, não, não posso acreditar.

- Já chegaste a alguma conclusão, rapariguita?

Será que o X representava algo como “executados” ou talvez “assassinados”? Se assim fosse então… a minha família era constituída por vampiros!

Fitei todas as pessoas da sala e parei o olhar em Kaien.

- Como é que…?- a fala faltou-me. Estava chocada!

Voltei a olhar Zero, que parecia tão chocado (e até mesmo enojado) do que eu. Ao recuperar os sentidos, lentamente, retirou a mão dos meus ombros. E acho que o vi a sacudir a mão nas calças.

Atsushi começou:

- O teu pai era um engenheiro famoso e a tua mãe era uma actriz galardoada por diversas vezes. O teu pai conheceu a tua mãe e bem tu sabes…

-… Apaixonaram-se?- tentei.

- Sim isso, apaixonaram-se. Casaram-se e entretanto a tua mãe descobriu a sua verdadeira natureza- que ele era um vampiro.

- E ele obrigou-a a transformar-se?- perguntei.

- Não, nada disso.- tentou Kaien.- Bem o que aconteceu foi a tua existência.

- A minha existência?

- Bem, sim. Normalmente vampiros não têm de se preocupar com contraceptivos porque…

- Contraceptivos são preservativos.- interrompeu Atsushi e fitou-me, como se pensasse que eu era burra ao extremo de não saber o que um preservativo é.

- Obrigada.- disse-lhe com ironia.- Não sabia.

- Porque…- continuou Kaien,- os vampiros só têm 22 pares de cromossomas. O último, responsável pela distinção entre rapaz/rapariga e pela reprodução, só existe em humanos.

- Então como…?

- Não sabemos.- confessou Kaien.

- Como é que nasci humana?

- Primeiro deves responder à questão “Como é que conseguiste nascer?”. Muitas humanas enamoradas por vampiros, quando e se engravidassem, apenas davam à luz bebés já mortos.

Estremeci.

- Por isso tu és a única que sobreviveu ao veneno mortal dos genes dos vampiros. Não temos justificações lógicas e científicas para a tua existência.

- Apenas sabemos que tiveste sorte em sair aos genes da tua mãe.- afirmou friamente Atsushi.

- Então a minha mãe é humana?

- Era.- disse Atsushi sem se explicar.

- Era?- perguntei.

- Por alguma razão, a nós desconhecida, os casais, normalmente de vampiro e vampira, acham a acção de dar a beber o seu sangue sensual.- Atsushi estremeceu de nojo.

- É considerada uma acção muito intima- corrigiu Kaien.- Talvez ainda mais intima que o acto de fazer amor.

Olhei para Kaien, desconfortável. Ele continuou a história.

- O teu pai alimentou a tua mãe com o seu sangue. No dia seguinte, por coincidência ou não, a tua mãe teve um acidente gravíssimo de automóvel. E como tu já sabes…

- Quem morre com sangue de vampiro torna-se um.- completei.

- Exacto.

- E o meu irmão?- perguntei.

- A tua mãe ainda se estava a transformar numa vampira quando o teve. Dessa vez, já o ADN dela estavam a transformar-se na usual tripla hélice dos vampiros. Assim, o teu irmão já não teve influência humana, apenas vampírica.

- A minha mãe continuou humana até quando? OU melhor, quanto demora a transformação?

- Isso depende de quantas influências vampíricas/humanas tiveres. Quanto mais sangue humana tiveres, mais tempo a transformação demora. Se queres realmente saber… naquela noite ela ainda estava a sofrer da transformação.

Aquela noite…aquele natal. Aquela noite em que os mataram.

- O que aconteceu naquela noite? Porque é que vocês os…?

Momentos de silêncio. Finalmente, Atsushi falou.

- Nós, caçadores de vampiros, tínhamos feito um acordo com os teus pais. Um acordo muito rígido e difícil para eles, mas essencial para nós.

- E qual foi?- perguntou Zero, finalmente.

- Não retirar ou matar nenhuma pessoa. Teriam de arranjar outra maneira de saciarem… a sede.- estremeceu novamente Atsushi.

Aquele estremecer do cicatrizado já me estava a causar arrepios. Já tinha percebido que ele não gostava de vampiros, porque tinha ele de continuar a fazer aquilo?

- E eles não o cumpriram…?- tentei avançar a história.

- Um anonimo informou-nos que eles não estavam a cumprir o acordo…- continuou Kaien até eu o interromper.

- E vocês apenas acreditaram no anonimo?- explodi.

- Não, claro que não Ayame.- explicou ele.- Tivemos que ir verificar por nós mesmos. Depois de confirmarmos que realmente o anonimo estava correto… atacámos.

- Espera aí!- ordenei.- Tivemos? Nós? Atacámos? Tu também o fizeste, Kaien?

- Ele e eu.- explicitou Atsushi, felicíssimo, como se tivesse orgulho do que tinha feito.

- Desculpa.- sussurrou Kaien e calou Atsushi quando este ia dizer “Porque pedes desculpa?”.- Era o nosso dever como caçadores de vampiros tratar de qualquer ameaça para a raça humana.

Calou-se, como se estivesse arrependido, e o cicatrizado continuou o relato pormenorizado, sem deixar de transparecer a diversão que aquilo foi para ele.

- Matámos o teu pai e o teu irmão. Como a tua mãe ainda era semi humana deixámo-la ir apenas com um aviso de que se aquilo continuasse…ela não iria escapar com tanta facilidade.

- E eu?- perguntei.

- Tu fazes parte daquilo que tentamos proteger- os humanos. Nunca iriamos matar-te por causa de seres filha de quem és.- respondeu Kaien.

- Bem, como eu estava a dizer,- continuou Atsushi- A tua mãe teve de deixar-te porque, além de ter medo de atacar-te, tinha medo de depois de transformada deixar de ser quem era, ou alguma estupidez como essa.

Aquilo era demasiada informação para a minha cabeça, demasiada informação para um dia…

- E deixou-te no teu pai adoptivo, pedindo-lhe que te contasse uma história qualquer e que te educasse como se fosses sua filha.- acabou, finalmente, Kaien.

Estava tão perto de vomitar como de chorar.

Levantei-me. Agarrei no livro que tantos problemas tinha-me arranjado e dirigi-me à saída. Não iria derramar uma lágrima à frente daqueles homens nojentos e insensíveis.

Chamei um táxi e entrei.

Enquanto percorríamos o caminho até à academia, chorei até acalmar o meu coração.


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Notas finais do capítulo

Grandinho né? Agora vou descansar um pouco, deixar este assunto das fanfics enquanto os testes estiverem constantemente a pedir-me atenção. Mas prometo que assim que eles acabarem, colocarei dois ou três capítulos ao mesmo tempo.
Até lá