Stargazer escrita por Alface


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

A história está se desenvolvendo de maneira devagar e os capítulos estão pequenos... ugh!
Espero melhorar isso com o tempo eheh
Mas aqui os personagens já começam a tomar forma. Não deixem de mandar reviews!



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– Você tem certeza de que não é um cantor profissional? – Alfred perguntou, surpreso.

– Sim. Cantar é apenas um hobbie para mim – Arthur sorriu.

Após a performance da noite passada, o americano já possuía dinheiro o suficiente para pagar o aluguel, e o estranho rejeitava sempre que Alfred tentasse oferecer-lhe metade do dinheiro ganho naquela noite.

– Eu não preciso. – o homem dizia, deixando o americano levemente com raiva.

– Meu nome é Alfred F. Jones. O seu?

– Arthur Kirkland.

– Então Arthur, me permita ao menos pagar algo para você comer em agradecimento por hoje!

E assim os dois foram parar em uma lanchonete suja ao final do centro comercial. Arthur não parecia nem um pouco incomodado com a sujeira do local, o que deixou o americano surpreso.

– Espero que não se importe em comer neste fim de poço. Não posso me dar ao luxo de gastar muito, estou devendo dois alugueis sabe.

– Não me importo nem um pouco, na verdade... – Arthur recusou o pequeno cardápio sujo que lhe foi oferecido por um atendente e apenas pediu “o de sempre” – Eu venho aqui todos os dias.

– Todos os dias? – Alfred não podia esconder seu olhar surpreso e soltou uma risada – Um filhinho de papai como você? Não acredito.

– Não sei qual sua definição de filhinho de papai... – Para a surpresa do americano, Arthur não parecia nem um pouco incomodado pela maneira que foi chamado -- ...Mas creio que eu e você entendemos muito bem a necessidade de guardar o pouco de dinheiro que recebemos.

Alfred não disse nada. Se ele precisa de dinheiro também, porque não aceitou metade dos lucros do dia de hoje? Alfred pensou. Suspirou e escolheu um sanduíche barato, devolvendo o cardápio logo depois. Aproveitou que Arthur parecia distraído olhando pela janela e prestou mais atenção na a figura em sua frente.

Sua pele era palidamente branca, como se fosse anêmico. Mas mesmo observada de longe, era possível perceber a maciez e o americano se pegou pensando como deveria ser a sensação de tocar seu rosto.

Suas roupas não pareciam ser caras, mas eram muito bem cuidadas, talvez até novas, e seus sapatos estavam engraxados em uma perfeição diária. Seus olhos eram verdes e penetrantes, e suas sobrancelhas levemente grossas. Seu nariz grande e curvado juntamente com seus dentes levemente tortos criava uma atmosfera até cômica se comparado com seu sotaque inglês. Parecia um estereótipo inglês saído de um livro infantil.

Talvez a única coisa fora do lugar fosse seu cabelo, de um loiro sujo e engrenhado de tal forma que parecia nunca ter sido penteado. Alfred não pôde evitar de, inconscientemente, passar a mão sobre seu próprio cabelo, que era de um loiro um pouco mais claro que o do outro e até bem cuidado, se comparado ao resto de sua aparência.

– Já terminou? – Arthur se virou levemente, franzindo o cenho – Ou quanto tempo mais vai continuar me encarando assim?

– Ah, desculpe-me – Alfred parecia levemente sem-graça. Apoiou seu cotovelo na mesa e a mão em sua bochecha, enquanto brincava com um canudinho com sua outra mão – Mas não é todo dia que aparece alguém me mandando tocar e ainda sem-vergonha o bastante para admitir desde o começo que não me daria nenhum trocado. Ah, e que me conseguisse descolar uma boa grana em uma só noite e no fim só aceitasse um jantar mixuruca neste lugar em troca.

O homem não pôde deixar de rir alto. Cruzou os braços em seu peito e olhou para o americano, com uma expressão brincalhona em seus olhos.

– Não é todo dia que vejo um pé-rapado com um grande talento musical que parece possuído por algum tipo de Deus da música enquanto toca violão. Sabia que tentei te chamar mais de uma vez enquanto tocava?

– Você não pode falar muito, não é mesmo? – Alfred se sorriu, lembrando-se da expressão facial de Arthur que parecia se alterar bastante durante a música enquanto seus olhos permaneciam fechados, quase como se estivesse sonhando.

O inglês não falou mais nada.

Os pedidos chegaram e ambos comeram. Alfred parecia devorar a comida enquanto Arthur comia com classe e calma. O americano ainda acreditava que o outro fosse um filhinho de papai.

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– Ah! Aquele sanduíche estava uma delícia!

Alfred sorria, colocando suas mãos em sua nuca. O inglês deu de ombros e continuou a andar. Voltaram novamente para a comercial e depois de cinco minutos andando em silêncio, Alfred parou.

– Eu moro logo ali – Apontou para um prédio que parecia que ia desmoronar a qualquer segundo – E você?

– Moro mais para frente. – disse secamente – Nos despedimos aqui, então.

– É, eu acho que sim.

Alfred sorriu. Arthur arriscou um sorriso de canto. Ambos estenderam as mãos e se despediram, e o americano se pôs a andar logo depois. De costas, estendeu a mão como um último adeus para aquele homem estranho.

Abriu a porta da pensão, ainda imerso em pensamentos. Subiu a escada e como sempre, o barulho infernal que ela fazia denunciou sua chegada. Abriu a porta de seu quarto, ouvindo um remexer no quarto em frente ao seu. Aquele pertencia à Wang Yao.

– Alfred? – o chinês murmurou em um inglês precário – Ah, estamos jantando aqui. Não quer se juntar a nós?

– Ah, obrigado! Mas já jantei.

E adentrou no quarto sem mais detalhes.

O chinês franziu o cenho e fechou a porta novamente. Seu quarto era entupido de tralhas e produtos importados, nos quais eram sua fonte de renda. Era um vendedor ambulante, mas que sabia negociar muito bem e tinha talento para ganhar dinheiro. Sentou-se no chão, ao lado de Ivan e Francis, que comiam com gosto o risoto que Yao havia preparado.

– Que estranho... Não estou acostumado a ouvir o Alfred recusando comida.

Francis abaixou seu prato, suspirando.

– Esse menino... Fica trabalhando até tarde e depois não come. Vai acabar morrendo deste jeito.

– Huh? O que vocês querem dizer? – Ivan estava sempre sorrindo, era um mistério para todos o que se passava em sua mente. Riu divertidamente e falou como se fosse o óbvio a se saber – Vocês não ficaram sabendo? Ele ganhou um bom dinheiro hoje enquanto tocava!

– Aiyah... Eu sequer me atrevo a perguntar como você sabe disso.

– Ganhou muito dinheiro? Tem certeza? – Francis indagou. Ivan balançou a cabeça em sinal positivo e tornou a devorar a comida. – Hm... Será que finalmente ele vai subir na vida? Talvez seja um bom sinal.

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Em seu quarto, Alfred se jogou em sua cama malcheirosa e suspirou. Nunca pensou que seria capaz de ganhar tanto dinheiro enquanto tocava violão e só por um dia!

Talvez, se formasse uma dupla com Arthur, tivesse alguma chance de melhorar sua carreira. Mas o inglês parecia nem um pouco interessado no dinheiro que ganharam. Talvez porque ele considerasse aquilo só um hobbie?

Rolou para o lado e deu de cara com um espelho quebrado que possuía pendurado na parede do quarto. Viu refletido seu cabelo liso e de um loiro médio, seus olhos azuis que pareciam brilhar na escuridão do quarto e seu rosto. Viu uma pequena mancha de sujeira em sua bochecha e tratou de limpá-la logo com o dedo, se lembrando das palavras do inglês.

Não é todo dia que vejo um pé-rapado com um grande talento musical!”

Então ele achava que o americano possuía um grande talento musical? Sorriu ao lembrar-se daquilo. Ser elogiado por sua música era realmente muito bom.

O resto da sentença pareceu atingi-lo como um raio de repente e se viu no espelho mais uma vez. Franziu o cenho enquanto observava suas roupas e os três buracos que seu casaco possuía na frente. Virou seu rosto para o outro lado e se cobriu com o lençol. Antes de cair no sono, murmurou para si mesmo:

– Pé rapado é uma ova... Quem aquele homem mimado acha que é...

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Pela manhã do dia seguinte, estava inspirado. Antes de Francis sair para o trabalho, Alfred pediu seu kit de costura emprestado, e mostrou os furos em seu casaco.

– Hm... Creio que se você costurar isso aí vai ficar estranho. Seria melhor ter um tecido por baixo onde você pudesse emendar com os buracos, para não puxar demais e deixa-lo com um volume estranho nesta parte. Isso seria até mais engraçado de se ver do que os buracos em si...

Depois disso, Alfred se jogou em sua cama, frustrado.

Não sabia o porquê, mas as palavras do inglês pareciam ter-lhe afetado bastante. Talvez porque nunca tivesse sido chamado daquela forma por alguém tão bem vestido antes (Os moradores da pensão o chamavam assim o tempo todo, mas não possuíam moral alguma para chama-lo assim, então Alfred só os ignorava). Ele era pobre, mas não chegava a tanto. Possuía outras roupas, mas aquele casaco e aquela blusa eram seus favoritos, não podia evitar. E as outras calças que possuía não tinham tantos bolsos quanto gostaria.

Guardou o dinheiro do aluguel em uma carteira separada, que deixou escondida no guarda-roupa. Pegou o resto do dinheiro e o enfiou no bolso, determinado a comprar alguma coisa que melhorasse sua aparência.

Foi até uma loja de roupas local, que era famosa por suas promoções e peças horríveis. Deu uma rápida olhada por entre as roupas, finalmente suspirando e deixando o local, andando sem rumo pela comercial. Lembrou-se porque tinha tão poucas roupas. Não possuía talento e muito menos paciência alguma para se focar em algo tão banal quanto criar a impressão de algo que não era. Não foi justamente por isso que saiu da casa de seus pais?

Decidiu voltar para a pensão e tocar um pouco de violão para se acalmar.

Pegou-se tocando a mesma melodia da noite anterior várias vezes seguidas e por fim xingou alto, jogando seu violão para o lado. Quem era aquele tal de Arthur afinal?

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Passaram-se alguns dias. Alfred não era alguém que se importava com datas, então não sabia ao certo quanto tempo havia se passado. Ouviu uma batida na porta e a abriu, dando de cara com Francis. Entregou o dinheiro do aluguel daquele mês e se desculpou.

– Sei que estou devendo a do mês passado. Tenho quase o dinheiro todo, apenas espere até o fim de semana ok?

Francis suspirou e bagunçou o cabelo do outro. Alfred entendeu isso como um sim.

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Decidiu ir mais cedo para o centro, em busca do dinheiro que faltava. Se pudesse escolher, é claro que preferia tocar à noite, mas não tinha escolha.

Sentou-se em seu lugar habitual e olhou ao redor. Àquela hora do dia tudo era mais calmo, e Alfred não gostava disso. Depositou a boina no lugar de sempre e começou a tocar. Viu alguns jovens parando para olhar, algumas mães acompanhadas de seus filhos, mas nenhum dinheiro. Ganhou algumas moedas de um senhor que disse ter sido músico quando era mais jovem e uma nota de cinco dólares de uma perua que mais parecia interessada em sua aparência. Alfred sorriu sem jeito e voltou a tocar, tentando ignorar em qual direção os olhos da mulher estavam focados.

E assim, a noite chegou. Sua mão doía um pouco, mas nada que não estivesse acostumado. Abriu um grande sorriso ao ver a lua, brilhando majestosamente no céu.

– Finalmente está aí... Agora sim eu posso tocar.

Fechou os olhos e deixou que a música tomasse conta de si.

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Já era meia-noite quando voltava para a pensão. Havia se saído melhor do que pensara. Sorriu e deu um beijo em seu violão, o segurando sobre seu ombro. Cantarolava uma melodia que havia escutado há pouco tempo em um carro que havia passado por ali com o som alto, quando ouviu um barulho atrás de si. Diminuiu seus passos e prendeu a respiração, atento ao seu redor.

– Quem está aí? -- Virou-se, com o violão em mãos, pronto para se defender caso fosse necessário.

– Sou eu.

Deixou que seu corpo se acalmasse da tensão que havia acabado de presenciar, pois havia reconhecido aquela voz.

Esperou que um homem baixo, de cabelos engrenhados saísse das sombras e se postasse em sua frente. Viu uma grande roxo em sua bochecha e franziu o cenho. O que estava acontecendo?

– Será que eu posso passar a noite em seu apartamento hoje? – Arthur perguntou, sem fazer questão de esconder do americano o terror claro que estava encrostado em sua voz.

Alfred se sentia paralisado e não pôde fazer nada a não ser permitir.


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Notas finais do capítulo

o:



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