Carter

Tudo bem, Sadie, você já falou demais. 

Onde paramos? Ah, sim, saindo em viagem.

Bom, e lá estávamos nós, finalmente indo de verdade. Papai havia conseguido um lindo carro, perfeito para nossa viagem. Era preto, e como Sadie já disse, era dividido em três compartimentos.

- Ah, pai, que modelo é esse? É muito legal, mas pelo estilo único eu diria que... - eu ia dizendo, quando a mal-educada da minha irmã interrompeu.

- Ah, Carter, para com isso. Ninguém quer ouvir nada sobre o que você acha desse carro. É bonito. E ponto final.

- Com licença, Sadie, mas eu pensei que pudesse falar o que eu... - é claro que aquilo teria virado uma briga mais rápido do que você pode estralar os dedos, mas Zia me cutucou e falou baixinho:

- Pare com isso. Não brigue agora. Lembra do que combinamos? 

Fiquei meio vermelho mas assenti.

Estabelecemo-nos todos no carro lindo, menos Sadie. Papai e mamãe obviamente iam na frente, com o papai dirigindo, e a mamãe de lado. Eu e Zia havíamos tomado a segunda parte do carro, e ocupado o espaço que sobrava nela. Eu me sentia meio mal por ter de deixar Sadie ir com Anúbis atrás. Ela era minha irmã,  e eu não queria que ela ficasse com aquele marmanjo, sozinha. Talvez estivesse exagerando, mas não queria que ela fosse.

Mas, haviam motivos que tornavam necessária a ida dela atrás. Um deles, era o fato de que Sadie estava com remorso por ter tratado Anúbis com tanta mágoa e rispidez. Eu não tinha exatamente certeza disso, mas eu conhecia a bastante a minha irmã. Só pela expressão do rosto dela, sabia que ela pretendia pedir desculpas.

E outro motivo é... O que eu havia 'combinado' com Zia. Nós havíamos decidido que usaríamos essa viagem para esclarecer mais nossa relação. Ai... eu nem sei como falar isso, mas eu e Zia já tínhamos 16 para 17 anos, e ambos sabíamos que precisaríamos    conversar sobre certos pontos da nossa relação. Era importante. Também queríamos conseguir mais intimidade, coisa que faltava em nosso namoro, mas tínhamos que conhecer os limites um do outro, antes de qualquer coisa.

Então, eu sabia que nessa viagem eu não poderia rebocar a Sadie atrás de mim para onde eu fosse, e a opção alternativa era ela passar muito tempo com Anúbis, provavelmente a viagem toda.

- Sadie, tem problema se nós fecharmos os vidros que separam as cabines? - os vidros eram pretos e a prova de som.

- Ah, é mesmo necessário? - era óbvio que Sadie não queria ter que enfrentar Anúbis, pedir desculpas.

Vi que Zia cochichou alguma coisa no ouvido dela, provavelmente convencendo ela de que precisávamos fechar o vidro. 

Incrível, mas Zia e Sadie estavam cada vez mais próximas. Não vou dizer que isso é legal. Minha namorada e minha irmã, tramando contra mim? Argh. 

Quando Zia conseguiu convencer Sadie, ela se virou e perguntou para mamãe e papai. Pensei ter visto eles trocarem um sorrisinho. Eles deixaram, e ela fechou.

- Ah... e então, Carter? - Zia olhou para mim sugestivamente.

Percebi que ela queria que eu tomasse uma iniciativa, e começasse a falar de assuntos difíceis. 

Fiquei muito nervoso. Eu não sabia o que falar. Parecia que essa conversa não deveria ser assim, tão premeditada.

Tomei uma decisão, e não fiquei mais nervoso.

- Zia, conversar assim, premeditadamente... Acho que não dá certo. Se você concordar, eu queria deixar as coisas desenrolarem mais um pouco, e então, conversamos quando aparecer a oportunidade perfeita.

Ela franziu a testa.

- Essa é uma ideia ótima, Carter, mas eu também já havia pensado em algo parecido. O que queria é... - dava para ver que ela estava chateada e meio confusa.- Ah, esquece.

Ela então, foi para o outro lado, e percebi que eu tinha sido um idiota.

Não deveríamos conversar. Pelo menos, não com palavras. Idiota, idiota, idiota. Carter, Carter, Carter.

Pensei em gaguejar e pedir desculpas a Zia. Pensei em ficar calado, na minha, e torcer para ela perceber que eu era um idiota que a amava, e ela tinha que perdoar minhas idiotices.

Então eu pensei: "NÃO" Não vou fazer papel de bobo, não de novo, pensei. 

Me virei para Zia, e passei um braço pela cintura dela, e com o outro, apoiei sua cabeça.

- Car... Carter! O que você está fazendo, pelo amor dos deuses? - mas então, ela teve que parar. Cobri sua boca com a minha.

Acho que eu estava afogado em hormônios naquela hora. Deve ter sido a primeira vez que aquilo acontecia, e eu fiquei feliz porque era Zia que estava ali.

Ninguém acreditaria que até aquele dia eu e Zia nunca havíamos trocado um beijo de verdade, daqueles que tiram o fôlego da gente. Nós estávamos precisando daquilo.

Ela, já acostumada a beijos de meia-tigela, deve ter ficado muito surpresa quando eu abri a boca e, com a língua, contornei os lábios dela.

Estávamos vibrando.

Ela abriu a boca dela também, e nossas línguas se entrelaçaram, como uma dança, mas sem a suavidade. Era apenas... um fogo. Sua mãos estavam em meu peito, não me empurrando, mas sentindo o calor nele. As minhas estavam, ainda em sua cintura e a outra entrelaçada em seus cabelos. Perfeitos.Como eu pude deixar passar oportunidades de fazer isso?

E nós passamos vários segundos assim, mas faltou ar. Na hora, o impulso natural de humano já caminhou minha boca para o pescoço dela, e a cabeça dela, também, acredito, por instinto, jogou-se para trás para me dar o espaço necessário para continuar ali. 

Mas, um sino tocou na minha cabeça. Será que deveríamos fazer qualquer coisa além do beijo, até mesmo uma... hã, um abraço maior que isso, sem antes termos conversado?

Não. Eu precisava respeitar Zia, eu sabia que os nossos corpos eram sagrados, e que não deveríamos fazer nada demais enquanto não conversássemos. 

A um milímetro de beijar seu pescoço, a um segundo de perder o controle e voltar a agarrá-la sem interrupção, eu suspirei.

Acalme-se, Carter. Controle, controle.

Foi precisa muita força de vontade para não beijá-la. Muita mesmo. Era isso que minha mente, meu corpo, meu coração e minha alma queriam, mesmo que isso pareça clichê e bobo.

Mas, por fim, consegui.

Suspirei, e apoiei as costas de Zia com as duas mãos. 

Ela, que estava de olhos fechados, abriu-os repentinamente. Meu corpo se encheu de um orgulho ancestral de ver minha parceira alegre, feliz e satisfeita. Ao contrário do que pensei que ela estaria, aliás. Achei que estaria chateada por eu ter parado repentinamente de beijá-la.

Mas, não. Havia compreensão também em seus olhos.

- Ah, Carter... isso foi maravilhoso. Nun... nunca, em tanto tempo de vida, eu senti nada tão essencialmente bom. - Ela parecia extremamente feliz.

Sorri e a abracei.

- Então somos dois. Desculpe se fui idiota e não fiz isso logo.

- Que nada, Carter. Foi o tempo certo. E logo vamos ter muitas repetições.

- Com certeza!

Ela riu de minha animação. 

- Com certeza... -Ela sorriu, e entrelaçou nossos dedos. Sentamos abraçados, e cada um pensando sobre aquela linda revelação. Ou beijo. Ou agarração. Ah, Pense como você quiser. 

LEIAM, POR FAVOR, AS NOTAS FINAIS. SÃO IMPORTANTES.