O Último Pendragon escrita por JojoKaestle


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Here we go! Desculpem pela demora, mas é que estava meio enrolada e pás. Terminou que eu confundi os dias de postagem dessa fanfic e da história que tou escrevendo (sim eu não sei o que são duas semanas, sry) e tudo ficou meio bagunçado. Mas foi resolvido, espero.
Boa leitura!



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Quando desci da minha motocicleta soube que o dia não seria bom.

A campina estava cheia de tendas, que estavam fervilhando de pessoas. Jay deveria se sentir orgulhoso, porque tudo indicava que o festival seria um sucesso. O céu estava livre de nuvens e o ar pesava com a leve umidade pegajosa de um dia de verão. Meu relógio confirmou que estava terrivelmente atrasada, nove horas. Em uma hora começaria a justa e no fim da tarde teríamos os duelos que consagrariam o vencedor. Ou a vencedora. Pensei num misto de nervosismo e empolgação. Havia me atrasado por não ter sido acordada por Morgan, com quem tinha planejado ir. Isso não aconteceu e quando Jodie achara a minha inatividade suspeita me arrancou das cobertas. Meus cabelos ainda estavam molhados por causa do banho e sabia que precisaria evitar Jay a todo custo, porque não havia aparecido para ajudar nos últimos preparativos. Meu estômago roncava em protesto ao café da manhã pulado, mas foi o que deu para se fazer. Afastava uma abelha para longe do meu rosto quando os vi. Caminhando entre os estandes de caligrafia com penas e ervas medicinais. Pendurei o capacete de qualquer forma e andei em direção à dupla com passos apressados.

Vi a surpresa no rosto de Morgan e detectei um meio sorriso de culpa que quase me agradou, mas não o livraria do problema. Mordred estivera lhe contando algo e ao ver sua expressão seguiu seu olhar e me encontrou. Também sorriu, mas não durou muito.

- Pensei que tínhamos combinado que iríamos juntos. – falei em tom frio, ignorando o cumprimento de Mordred.

- Eu sei. Desculpa. Mas é que alguém – olhou para Mordred – resolveu o problema do transporte das tapeçarias, você sabe que nunca caberia no meu carro. Mo passou em casa muito cedo e achei que você preferiria dormir mais um pouco para estar pronta para esse dia agitado. – pousou a mão em meu ombro – Vamos Avina, não foi nada demais.

Sacudi sua mão para longe. “Vamos Avina, não foi nada demais.” Era uma das frases favoritas de lady Catherine quando eu me comportava fora dos padrões aos quais suas amigas estavam acostumadas. E isso doeu.

- Não foi nada demais. – concordei – Mas não te impediu de se esgueirar por aí.

A mudança de direcionamento fez Mordred erguer as sobrancelhas.

- Me esgueirar? – ele repetiu – Minhas roupas não parecem exatamente adequadas para esse tipo de aventura, não é?

Morgan riu, mas meu olhar o calou. Claro que não estava vestido para se comportar como deveria ser por dentro. Estava vestido impecavelmente e não se deu o trabalho de usar algum traje medieval como grande parte dos visitantes. Não. O grande Mordred Tabersman deveria ser bom demais para isso. Morgan com seus jeans desgastados, jaqueta de couro escura e óculos de sol quase parecia ofuscado. E quando Morgan é ofuscado por quem quer que seja algo está errado.

- Ela está apenas nervosa com o torneio. – meu irmão tentou me desculpar, mas seus olhos azuis brilhavam de humor.

- Não estou. – menti e me voltei para Mordred – Não gosto de você. Costumo ser sincera com as pessoas para que não criem uma imagem errada.

- Bom, isso é uma pena. Porque me simpatizei com você. – Mordred devolveu e se entreolhou com Morgan – Esse é um bom momento para contarmos?

- Contar o que? – quis saber e meus punhos se cerraram. Era algo involuntário, algo que surgia de dentro e que era difícil de controlar. Cuidado agora. Pensei. Cuidado com o que sair da sua boca ou empurrarei as palavras de volta.

Morgan deu de ombros, o que o outro rapaz entendeu como “sim”.

- Vou pegar seu irmão emprestado por alguns dias. Levá-lo para o campo, onde minha família possui propriedades. Nada tão exagerado quanto do que os Pendragon usufruem, é claro, mas ainda assim tem seu valor. Tem certo charme interiorano.

O ignorei completamente.

- Você não pode ir!

Morgan sorriu em resposta. Não era um sorriso “você está me constrangendo”, mas um confortante e isso quase me fez chorar. Eu não gostava de Mordred, não sentira algo assim por ninguém antes. Era uma antipatia quase inata e seus olhos cinzentos escondiam suas intenções de uma forma que me frustrava terrivelmente. Poderia estar levando Morgan de encontro a uma câmera de tortura ou dos melhores dias daquele verão, o que era igualmente ruim. Eu o queria longe do meu irmão. O queria longe da minha família.

- Vão ser só alguns dias meu amor. Não te deixarei a mercê do nosso lar desestruturado por muito tempo. Mas Mo mencionou algo sobre lago cristalino e pontos de pesca, você sabe como tenho uma queda por paisagens do interior. São ótimas para fazer brotarem inspirações.

- Quando viajam?

- Se seu irmão conseguir organizar a mala, amanhã.

- Não estou falando com você.

- Morgan, eu tenho a sensação de que sua irmã não foi muito com a minha cara.

Morgan suspirou.

- Você não tem um torneio para ganhar ou algo do tipo?

 Percebi que não seria daquela forma que passaria minha mensagem. Dei meu melhor sorriso de conciliação e até pousei a mão sobre o braço de Mordred por dois segundos para que Morgan percebesse como estava sendo amigável.

- Você tem razão. Vamos colocar dessa forma – falei e olhei para o rapaz sem charme interiorano – Se não devolver meu irmão inteiro, arranco sua cabeça.

Bati em seu ombro ainda sorrindo e fui em direção aos estábulos sem esperar uma resposta.

Mas sabia que Mordred havia entendido. Sua expressão havia se fechado com surpresa e a havia corrigido para um sorriso ao notar o olhar de Morgan. Meu irmão achara tudo engraçado. Como sempre. Nosso relacionamento era inteiramente baseado em tratamentos pouco carinhosos, a não ser nos momentos em que importava, e seu humor era mergulhado em sarcasmo e ironia. Então veria a minha ameaça como brincadeira, mas eu havia mantido contato visual suficiente para ter certeza que minha mensagem chegara ao destinatário correto.  

O festival estava realmente bonito. Um grupo de músicos tocava em um palco de madeira improvisado, onde Jay dera início ao festival uma hora atrás. Havia muitas crianças acompanhadas por suas famílias, o que me fez pensar em Gwynn. Algumas pessoas formavam uma fila diante da tenda azul-marinha recoberta de estrelas que todos haviam ajudado a costurar alguns dias antes. Era a da vidente e me perguntei se não seria razoável me consultar mais tarde. Com todas as coisas sobrenaturais acontecendo e todo o mais.

Smoca não estava sozinho na baia. Leon e Dianne acabavam de colocar o tecido decorado com um dragão dourado (Morgan era o culpado, achara que nossa ancestralidade finalmente seria útil) sobre as costas do garanhão que ergueu a cabeça ao ouvir minha voz.

- Estou muito atrasada?

Leon levantou os olhos.

- Não muito. Não graças a você, é claro.

- Dormi demais. – murmurei, reprimindo um bocejo e substituindo Dianne no trabalho de afagar a crina de Smoca – Vocês estão aqui há tempo?

- Chegamos no momento em que o homenzinho com tique nervoso deu sua palestra. – respondeu Daiene – Quase caí no sono.

- Não foi tão ruim assim.

- Sim, foi. E você só não percebeu por estar servindo de ponto de apoio para eu me encostar.

- Parece que todos vieram acompanhados. – tentei soar o mais apática possível.

- O que aconteceu? – quis saber Dianne, me lembrando de como conseguia ver através de qualquer mentira que tentava contar. Por mais inofensiva que fosse.

- Nada. – retruquei rapidamente e acariciei o pescoço de Smoca – Obrigada por ajeitarem o campeão, não teria tempo para deixá-lo pronto.

- Dianne queria trançar flores na crina dele. – dedurou Leon.

- Sim e o pequeno Smoca não ficou muito animado, ficou? – o garanhão virou as orelhas para trás – Bem, suponho que deva se contentar em ser um vencedor e não um vencedor fabuloso.

Duvidava que Smoca precisasse de qualquer massagem de ego e o beijei na região macia do focinho antes de sair.

- Já que demorou tanto – gritou Leon atrás de mim – Arranjei alguém para lhe ajudar com a armadura.

- Eu consigo colocar tudo sozinha.

- Em meia hora. – ele lembrou – Você tem vinte minutos.

Leon só participaria da fase de combate, o que significava que não seríamos adversários na justa. E no sorteio feito pela organização havíamos caído em chaves diferentes, ou seja, só nos enfrentaríamos caso chegássemos ao duelo final. O que me motivava ainda mais, porque finalmente provaríamos quem era a melhor. A melhor. Ainda ria da pequena piada pessoal quando os primeiros competidores entraram no meu campo de visão.

Estavam um tanto intimidadores com suas armaduras resplandecentes a luz do sol. Alguns estavam com os elmos debaixo do braço, outros tinham seus rostos encobertos pelas viseiras. Um dos elmos tinha um rabo de crina de cavalo no topo, também vi algumas plumas. Uma onda de orgulho percorreu meu corpo. Eram seis cavaleiros ao todo e cada um tinha sua armadura e cota de malha, que talvez não dessem tanta proteção quanto suas irmãs medievais ofereciam, mas pareciam bastante reais. E de certa forma o eram, porque tinham sido feitas por peças de metal trabalhadas durante muitas semanas em oficinas de ferreiro. E se algumas placas pareciam meio tortas ou tinham calombos em alguns lugares, isso em nada diminuiria a atração.

Porque era isso que tudo aquilo era, afinal. Um pequeno show, uma demonstração. Tentava me convencer daquilo e diminuir meu espírito competitivo quando afastei a aba da tenda de preparações onde meus equipamentos estavam guardados.

Estava vazia. Bem, quase vazia.

- Conheço você?- perguntei à figura magricela que segurava minha cota de malha.

O rapaz se virou para mim e abriu um grande sorriso. Um pedaço de pano estava preso em sua mão, parecia tê-lo surpreendido enquanto polia os aros de metal.

- Não vejo como poderia. – ele respondeu – Meu nome é George e você está atrasada.

- Meu nome é Avina, se é que se importa. – comentei enquanto tirava a jaqueta, me deixando apenas em t-shirts e leggins – Sabe como colocar uma armadura, George?

- Ousaria dizer que estou mais que familiarizado com o assunto.

Em pouco tempo havia enfiado a cota de malha sobre minha cabeça com agilidade.

- Está muito dentro do personagem. – o observei pegando a peça que cobriria meu tronco – Quero dizer, com essas roupas. O cachecol é um toque inesperado no verão.

- O que posso dizer, gosto de estar impecável.

Trabalhava sem me olhar, mas suas mãos encontravam as peças corretas em movimentos tão automatizados que tive dificuldades em imaginá-lo usando o celular ou entrando em um carro. Suas orelhas eram um tanto grandes, quase de abano e eram apenas acentuadas com o corte. O cabelo era escuro, tão escuro quanto piche.

- Como é seu nome mesmo? – quis saber, tentando olhar para seu rosto. Havia algo estranhamente familiar naquele rapaz. Algo que não conseguia apontar com precisão. Talvez se conseguisse ver melhor seu rosto...

- George. – ele repetiu, amarrando as manoplas com dedos ligeiros.

- Já serviu como pajem em algum outro festival George?

- Receio que não tenho tido tal prazer ultimamente.

- Então como sabe tanto sobre armaduras? – perguntei, observando-o trabalhar.

- Eu... – ele começou e não parecia saber como prosseguir – Eu leio.

- Você lê?

- Muito.

Fiquei em silêncio. Aquilo não era uma resposta aceitável. Eu havia devorado qualquer livro sobre armaduras ou armas de combate em que pude pôr as mãos, mas a forma como lidava com as peças, sabendo o pequeno detalhe, o pequeno jeito para encaixar tudo de uma forma que ficasse perfeita...

- Tem certeza que não te conheço?

George estava com meu elmo debaixo do braço. Todo o processo de me enfiar dentro das peças deveria ter durado menos de dez minutos. Algum tipo de recorde.

- Eu acho que me lembraria de um nariz tão grande.

- Ei, ei! – chamei – Cuidado com as palavras, nós não somos amigos.

- Não, não somos.

Aproximou-se para colocar o elmo sobre a minha cabeça. E eu deveria ter tirado-o de suas mãos e me encarregado da tarefa, mas aquela foi a primeira vez em que realmente olhou para mim.

Fechei a mão sobre seu antebraço, impedindo-o de continuar. Encarei aqueles olhos. Olhos azuis, grandes e tão profundos que tive medo de me perder. De cair.

- Você mentiu. – conclui – Eu conheço você. 


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Notas finais do capítulo

Queria pôr todo o festival em um capítulo, mas acabou que não deu. Espero não ter escrito tudo muito mal, porque todo o trabalho foi feito em menos de três horas D: (sim, eu preciso de bem mais que isso para que saia algo razoável).
Mas acho que os acontecimentos compensam a falta de ah, descrições. Q q 6 acham?

beijoos e quem não comentar vai junto com morgan e mordred na viagem campestre ^^



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