Destinos Cruzados escrita por Fran Carvalho


Capítulo 11
Grandes segredos, Pequenos infartos




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Estacionei o carro na garagem, girei a chave e suspirei. Pedi a Deus baixinho que me tirasse aquele cansaço e estresse que me corroía nas veias, sem piedade. Até quando trabalhar tanto? Abri a porta, vi a TV ligada e pacotes de chocolates e outras bobagens jogadas na sala. Estava prestes a gritar sobre isso e a porta aberta, quando ouvi sons de alguém passando mal no banheiro.  A porta do banheiro estava destrancada, e Lohana segurava os cabelos loiros com uma das mãos e com a outra, segurava a testa. A pele já branca estava tão pálida que parecia que eu via um fantasma na minha frente. - O que foi, filha - pergunte, preocupada. - Acho que foi algo que comi, mãe - gemeu Lohana com os olhos marejados.
Assenti, preocupada. Mil pensamentos passaram pela minha cabeça. Lohana. Everton. Namoro. Sexo.
Ai-meu-Deus!
- Você tá grávida! - gritei, desesperada - Depois de tudo o que te contei, tudo o que soube que passei engravidando cedo, você engravida com a mesma idade, Lohana Silva!
Lohana me olhou como se eu fosse louca, de olhos arregalados e confusos. Depois revirou os olhos.
- Não, mãe - explicou - Eu ainda sou virgem.
Não gostei do ainda.
Fiquei mais calma e mais pensamentos voaram pela minha mente estressada. Comida exagerada. Obsessão por magreza. Inveja de Emily. Vômito.
Ai, meu Deus, meu Deus!
Respirei fundo.
- Lohana - perguntei, tão baixo, que quase sussurrava, o coração batendo forte e acelerado - O que foi que você fez?
Ela me olhou como se não entendesse o que eu queria dizer?
- Do que você tá falando? - perguntou.
- Você comeu aquilo tudo pra vomitar, Lohana? - eu tremia tanto que minhas pernas pareciam bambus e uma gota de suor rolava pela minha testa.
Lohana sentou no vaso, puxou a descarga e desabou num choro sentido e desesperador. Eu desabei sentada no chão do banheiro, sentido o choro preso na garganta e as pernas mais bambas que nunca.
- Filha - gemi, com voz chorosa e trêmula - Precisava disso?
Ela sequer levantou a cabeça pra me olhar nos olhos.
- Eu não aguentava mais, mãe - ela chorava tanto que eu mal entendia o que ela falava - Ver as pessoas sempre me comparando, me criticando, me punindo - soltou um soluço - Eu tava desesperada, não sabia o que fazer, e passei a fazer isso, como se fosse possível tirar tudo que sentia dentro de mim, tirando a comida do estômago.
Suspirei tão profundamente que quase parei de respirar. Finalmente lágrimas brotaram dos meus olhos, e invadiram meu rosto como nunca. Eu não costumava chorar na frente dos meu filhos. Tentava mostrar pra eles uma mulher forte e equilibrada, pra que eles confiassem e visse segurança em mim. Finalmente percebia que todos os meus esforços pra dar tudo o que eles queriam de nada adiantou. Se eu tivesse estado ao lado dela, escutando ou dando meu ombro pra que chorasse.
Mas eu apenas trabalhava e lhe dava presentes. Me senti tão inútil que pensei que talvez fosse melhor se eu nunca os tivesse criado. Se tivesse deixado as crianças com minha mãe como ela queria, aos catorze anos. Porque eu não pude ajudar minha única filha?
Como se pra negar as minhas últimas palavras, Emily entrou correndo pelo corredor, aos prantos e parou na porta do banheiro, olhando a cena decadente em que me encontrava.
- O que aconteceu? - perguntou, depois viu Lohana e pareceu entender tudo - Ah.
Claro, então até ela já sabia.
- O que foi, Emily ? - perguntei a respeito do choro dela - Não me diga que você também...
- Não! - alertou antes que eu terminasse a frase - Minha única culpa nessa história toda é julgar antes de saber a verdade.
- O que foi então? - perguntei.
- Priscila morreu, os meninos ficaram desesperados, aos prantos, e Everton se injetou e está teve uma overdose, ele tá morrendo!
Lohana desmaiou ao meu lado. Talvez de fraqueza. Talvez de susto pela notícia. Me ergui e fiz o máximo que pude pra me tornar a mulher forte de sempre. Meus dois filhos precisavam de mim. Os dois.
- Quem é Priscila, Emy? - perguntei o mais calma que consegui com aquelas informações confusas - Explique tudo isso direito, por favor.
Enquanto ela respirava pra começar a contar a história toda, eu peguei minha filha no colo e a coloquei no sofá. Olhei seu corpo inerte, só movimentado pela respiração. Só então percebi que Lohana estava uns bons 8 quilos mais magra, e quase alcançara Emily. Todo esse sacrifício por um garoto drogado. Será, mesmo, meu Deus?
Emily sentou na poltrona, antes de começar.
- Lohana está forçando o vômito, mas acho que isso você já sabe - ela olhou a amiga e suspirou - Everton começou a injetar bomba pra se tornar o cara perfeito pra Lohana, mas acho que ele não sabia que ela fazia o mesmo por ela - apontou a garota desmaiada - Quando Douglas soube disso, não só soube que o melhor amigo sofria bullying na escola quando criança por ser gordinho, como agora sofria por ser magro demais.
Silêncio total, só pelo som das três respirações, enquanto eu ouvia a história com atenção exagerada.
- Douglas quis ajudar e não só encorajou Everton a pedir a irmã em namoro, como levou o amigo a um hospital de câncer e lá os dois conheceram diversas crianças, entre eles, a pequena Priscila.
Ela começou a chorar, e sua voz saiu tão fina que parecia uma criança.
- Priscila tinha só 4 anos, sabe, dona Jusci - ela chorava compulsivamente - Deus não precisava fazer isso com ela, era só um anjinho, só uma criança inocente!
Mordi o lábio, pensando em tudo que meu filho e Everton deviam estar passando agora.
- Eles se apegaram muito nessa menina, ela tinha leucemia e Douglas passou a doar sangue quase todos os dias, pra ela. Elas gostavam dela como uma filha ou uma irmã mais nova. Eu a conheci a uma semana e já me apaixonei tanto por ela que...
E não conseguiu terminar, tamanha a dor que sentia pela morte da criança.
Respirei fundo, com todas aquelas novas informações que eu nem notara tentei me manter forte.
- Onde eles estão agora?
Ela respirou profundamente antes de responder.
- No hospital, provavelmente - ela explicou - Estávamos na casa de Everton e os pais deles o levaram, desesperados. Douglas pediu que viesse dar a noticia a Lohana.
Assenti. Tinha muito o que entender ainda.

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