A Linhagem Sagrada escrita por elleinthesky


Capítulo 4
Capítulo 3 - Abordada


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, mas é que eu nao sabia exatamente como terminar esse capítulo sem me intrometer no que acontecerá no próximo rs.
Vejo vocês lá embaixo (:



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/310324/chapter/4

Em mais um dos seus dias tediosos sozinha em casa, Amy decidiu pegar um livro e alguns "lanchinhos", colocou tudo dentro da mochila e foi para o Central Park. Parecia que havia eras desde a última que ela entrara no parque e ele estava muito diferente daquele parque em tons alaranjados que ela havia conhecido.

O livro escolhido para o passeio no parque foi As Crônicas de Nárnia, de C. S. Lewis. A mãe de Amy, Mary Ann, lia uma parte deste livro toda noite para ela antes de dormir; ela não se lembrava disso, mas seu pai sim. Ele dizia que ela tinha a voz tão doce que a menina sequer parecia prestar atenção em algo além da voz de sua mãe.

O Central estava lindo naquele dia e o céu estava tão azul quanto os olhos de Amy, além disso as copas das árvores estavam verdes e abarrotadas de vívidas folhas e também lindas flores de diversos formatos, cores e odores. A garota havia visto algumas fotos de como aquele parque ficava na primavera e ainda não conseguia acreditar que era o mesmo lugar onde estivera cerca de quatro meses antes, um lugar laranja e esquisito.

Ela estava completamente dispersa e desatenta ao que acontecia ao seu redor enquanto um jovem rapaz vinha em sua direção. Ela olhou de soslaio para ele e olhou ao redor para saber se a namorada dele estaria sentada perto dela. Com certeza ele tinha uma namorada, garotos bonitos como ele raramente estão solteiros. A não ser que ele fosse um chato, mas ela tendia a acreditar no lado bom das pessoas.

Então Amy se deu conta que na verdade ele estava vindo na direção dela, até porque não havia ninguém próximo o suficiente dela para que justificasse a direção que ele estava andando. Quando deu uma olhada melhor, ela percebeu que ele não se vestia como garotos comuns, na verdade ele estava em antigos trajes de guerra gregos com umas manchas avermelhadas que pareciam sangue. Ela achou que fosse um pouco real demais para ser mera fantasia.

Além do garoto com roupa ensangüentada, tinha também outra pessoa vindo em sua direção. Esse era mais esquisito, usava muletas não que isso seja um problema, claro que não e umas roupas um pouco largas demais. Ele aparentava ter trinta e poucos, quase quarenta anos e ainda se vestia como um adolescente. "Ai Deus, esses americanos e seus hábitos estranhos. Mas espera ai um minuto, aquilo são chifres? Credo, o menino tinha chifres. Será que foi traição de uma namorada?", pensou Amy, e deu uma risada.

– Você é Amelie Stuart, certo?

"Uau, a voz dele fazia jus à aparência. E esse sotaque maravilhoso e super familiar? Inglês, claro."

– Sim e não. Meu nome é Amelie mas não tenho o sobrenome Stuart.

– Sua mãe é Mary Ann Stuart? Sim ou não. - Disse o garoto fantasiado, arrogante.

– Pra quê você quer tanto saber?

– Responda de uma vez. - Esse garoto estava começando a tirar Amy do sério.

– E por que eu responderia? Eu nem te conheço, não sei seu nome, nunca te vi em toda a minha vida. De onde vem todo esse interesse em saber quem eu sou? Onde descobriu o nome da minha mãe? Você tá me espionando, seu pervertido? Nem tente me sequestrar, eu sei lutar ok? Aliás, sou muito boa nisso. - Essa última parte entrou pra seção de superblefes da garota. Lutar? Parecia até piada.

– Scott, a garota tem razão. Seja mais gentil com ela, não é sábio de sua parte impor sua vontade a uma dama. Veja só, ela aprecia clássicos. Uma verdadeira lady. - Disse o cara estranho das bengalas, reparando no livro que ela ainda segurava.

– Ta vendo, Scott, até seu amigo acha que você está se intrometendo um pouco demais na minha vida.

– Tudo bem, tudo bem. Meu nome é Scott Campbell, tenho dezoito anos e sou um semideus filho do deus grego Hermes. Este é Godfrey Woods, sátiro e protetor sênior do Acampamento Meio-sangue. Satisfeita?

– Semideus? Filho do deus Hermes? Sátiro? Vocês andam lendo muita mitologia, meus caros. - E Amy caiu na risada.

– O que há de tão engraçado, senhorita? - Perguntou o cara estranho, o sátiro.

– Essas coisas todas que vocês estão alegando não passam de mentiras. Não existem deuses gregos nem nenhuma outra criatura bizarra da mitologia, como os... sátiros.

– Ah, é mesmo? Então explique isso... - Godfrey-das-muletas se sentiu magoado, mas logo começou a tirar a calça.

– Ei, se você não parar com isso agora eu chamo a polícia. Eles não vão gostar nadinha de alguém que se despe em pleno Central Park. - Nem a ameaça de Amy fez com que o garoto parasse de tirar a calça.

– Isso parece alguma mentira para você? Ah, e nenhum humano comum realmente viu o que acabei de fazer. - Disse Godfrey, mostrando suas pernas e cascos de bode com um sorriso satisfeito no rosto.

– Ainda não me convenceu. Isso pode ser uma fantasia.

– Goddie, come logo um das suas latas de refrigerante pra ver se ela acredita.

– Você tem problemas? Mandá-lo comer uma lata de alumínio é maluquice.

– Na verdade, eu as acho deliciosas. Bem melhor que essa coisa que vocês comem, esses tais chocolates e hambúrgueres.

– Credo, vocês são loucos ou o quê?

– Essa sua colher parece apetitosa, posso?

– Meu Deus, é sério mesmo essa coisa de comer metal?

– Claro, eles são ótimos para o meu organismo. Não há vegetal que ofereça tanta vitamina pro meu corpinho esbelto quanto uma boa lata de refrigerantes.

– Corpinho esbelto? - Aquela gente era realmente estranha. Amy deu sua colher para Godfrey que deu uma mordida no cabo e fez uma cara satisfeita.

– Hm, prata. Que delícia. Faz tempo desde a última vez que comi algum metal tão puro, hoje em dia estão misturando a prata com alumínio para lucrarem mais. Os empresários nunca foram tão mão-de-vaca!

– Essa colher era parte de um faqueiro de mais de cinquenta anos, era dos meus avós. - Então Amy se deu conta que eles estavam se desviando do assunto, enrolando-a. - Tá bom, tá bom. Mas o que exatamente vocês querem comigo? Até agora eu não entendi a razão de vocês terem procurado por mim. Como sabem o nome de minha mãe? Como me acharam? Como sabem quem eu sou?

– Ah sim, claro. Bom, a senhorita prefere a versão completa ou resumida? - Perguntou o homem-bode.

– Eu quero que você me conte essa história toda, agora como irá faze-lo eu não quero saber. Só quero que conte, e agora de preferência.

– Vejo que optou pela versão resumida. Sua mãe, a bela Mary Ann Stuart... E ela era realmente bela, aqueles cabelos castanhos cheios de cachos, os grandes olhos azuis...

– HEY, FOCO! - Disse Amy, irritada; e estalou os dedos perto da face de Godfrey, como se o acordasse de um transe.

– Ah, sim, claro. Bom, sua mãe era uma semideusa maravilhosa. Zeus era seu pai e creio eu que ele próprio tinha muito orgulho de ter uma filha como Mary Ann. Ela era a única filha de Zeus naquela época, mas também era bastante inteligente, habilidosa, uma ótima guerreira. Apareceu no Acampamento quando tinha 14 anos, a própria mãe a levou até o portal de entrada onde eu esperava por ela; mas como a Sra. Mary Ann descobriu nossa localização, até hoje não fazemos ideia.

"Mary ficou conosco até os seus 21 anos de idade, até que ela disse que estava cansada de lutar para viver e decidiu se aposentar; ficamos todos tristes em perdê-la, é claro, porque além de ser uma das melhores semideusas que já tivemos desde que nos estabelecemos nos Estados Unidos, Mary era uma grande amiga. Mesmo com seu temperamento tipicamente tempestuoso, não tinha uma única pessoa ou criatura que não gostasse dela.

"Ficamos completamente sem notícias da sua mãe por quase quatro anos, até que ela enviou uma mensagem de Íris para uma das antigas colegas de acampamento que ainda estava conosco. Mesmo tendo sido bastante breve, até hoje acredito que ela quis mostrar que ainda se importava conosco. Mary contou que tinha saído do país e conhecido um homem incrível, com quem se casou e teve uma filha chamada Amelie. Ela sentia saudades do acampamento e de como todos a tratavam como se fosse da família, mas a vida com seu esposo e filha era maravilhosa e ela não podia nem queria desistir de tudo."

– Depois disso tentaram localiza-la novamente porque precisávamos dela e de coisas que só ela sabia, mas nunca mais conseguimos localizar sua mãe. - Disse Scott.

– E ai você entra no nosso radar, era a chance perfeita.

– Achamos que encontrando você, nós a encontraríamos também. Então, onde está a sua mãe?

– Minha mãe? Em um cemitério em Northampton, na Inglaterra.

– Mas... Um cemitério? Que exótico. Ela está trabalhando lá? E deixou que viesse sozinha aos Estados Unidos?

– Não, ela está lá porque enterraram-na lá. Ela está morta!

– M-m-morta? Mary Ann está morta? Oh meus deuses, pelo Olimpo! - E Godfrey começou a chorar e gemer como um bode.

– Sentimos muito pela sua perda, que os deuses permitam que ela vá para os Elísios. Desculpe-me pela pergunta, mas há quanto tempo sua mãe nos deixou?

– Pelas minhas contas, não foi muito tempo desde a última vez que ela fez contato com vocês. Ela morreu alguns dias depois do meu aniversário de quatro anos de idade, perto de seu aniversário de trinta anos.

– Por que, meus deuses. POR QUÊ? Tão jovem, apenas trinta anos. - Godfrey ainda choramingava loucamente, Amy estava rezando para que ele não se jogasse no chão e começasse a se espernear como uma criança.

– Peço desculpas por ele, acho que deu pra perceber que ele não é muito bom com essa coisa de luto.

– Só espero que ele não dê um piti no meio do parque. - E ela vira-se para Godfrey, que agora estava agachado em posição fetal. - Ei, está tudo bem. Faz tempo que aconteceu e pra ser sincera eu nem tenho recordações da minha mãe, além das fotos que tenho.

– Tão triste, tão triste. Não se lembra da própria mãe!

– Bom, creio que você acabou de piorar as coisas de vez. - Disse Scott, escondendo o riso.

– Ao invés de zombar, você bem que podia me ajudar aqui. Falar é fácil, mas fazer algo para ele parar de chorar é um pouco complicado para você, não é?

– Tudo bem, eu vou ajudar. - Scott bufou, agachou ao lado do sátiro e pôs o braço sobre os ombros dele. - Ei amigão, não fica assim. Sei que é triste porque você gostava muito da srta. Stuart, mas tenho certeza que neste momento ela está nos Campos Elísios aproveitando o que quer que tenha lá. Todos sabemos que ela fez muito por todos nós e que uma hora precisaria descansar. Infelizmente ela não pôde viver o suficiente para ver a filha se transformar nesta bela moça - ele olhou para Amy de relance e ela estava ruborizada -, é realmente uma pena. Agora pense nela, acha mesmo que ela gostaria de ver seu velho e estimado amigo agachado e choramingando em pleno Central Park, onde passam algumas das mulheres mais bonitas deste país? - Amy olha ao redor e depois faz uma careta como se dissesse "Sério? Porque eu não estou vendo nenhuma". Ele sorri fracamente e volta-se para Godfrey - Vamos lá, temos uma missão a cumprir, lembra?

– Sim, a missão. Precisamos leva-la ao acampamento, senhorita Amelie. - Disse Godfrey levantando com tanta pressa que fez com que Amy e Scott, antes apoiados nele, caíssem sentados no chão. - O que ainda estão fazendo no chão? Vamos, levantem.

– Se não se lembra, foi você quem nos jogou no chão. - Disse Scott, revoltado.

– Eu não pedi que se apoiassem em mim. - Zombou Godfrey.

– Tá, mas eu não vou a lugar nenhum.

– Claro que vai, precisamos levá-la para um local seguro. É muito perigoso ficar por ai, alguma coisa pode atacá-la. E, convenhamos, você é um alvo muito fácil.

– Alvo fácil? Não mesmo, eu não sou semideusa nem nada. Além do mais, quem me garante que vocês não querem me raptar? - Disse Amy, presunçosa.

– Se quiséssemos, já teríamos feito isso há muito tempo.

– E eu não gastaria minhas lágrimas à toa.

– Nos dê um voto de confiança.

– Não sei não, vocês são muito esquisitos. Você sem as calças e com essas pernas de bode como se fosse a coisa mais normal do mundo - disse ela para o sátiro, e virou-se para Scott - e você com essa... fantasia estranha de guerreiro grego. Me pergunto porque as pessoas não estão comentando.

– Eles não se dão conta do que está realmente acontecendo, a Névoa faz isso. Para eles, estamos todos devidamente vestidos e conversando cordialmente. Não é maravilhoso?

– Névoa, é? O que mais você sabe sobre ela?

– Você não estranhou quando eu falei que era a Névoa. É impressão minha ou você sabe exatamente o que ela é? - Scott pode não ter percebido, mas com essa pergunta ele encurralou Amy de uma forma que ele não fazia ideia.

– É que na verdade eu já ouvi falar sobre a tal Névoa, vi em algum lugar que monstros a utilizam para atormentar humanos sem que eles os vejam. Eu acho a maior baboseira e ainda tem gente que acredita, fazer o quê? - Essa foi a primeira vez que assistir documentários patéticos sobre intervenção demoníaca serviu para algo.

– Enfim, a Névoa é como uma cortina mágica que encobre tudo o que os humanos não precisam saber que existe. Muitos ficariam aterrorizados com o que podemos ver.

– Como vocês tem certeza que eu posso ver através da tal Névoa?

– Você consegue ver os cascos do Godfrey, isso já é suficiente.

– Pode até ser, mas continuo não querendo ir a lugar nenhum.

– É mais seguro pra você, eu juro que não vamos arrancar seus órgãos ou coisa do tipo. A não ser que você esteja no "lado negro da força", ai nós teremos que arrancar os seus órgãos. - E Scott sorriu maliciosamente para Amy; ele poderia até ser bonito, mas aquele sorriso a fez lembrar-se daqueles vilões de filme que estão sempre te olhando como se dissessem "é agora que eu te mato?".

– De uma coisa eu tenho certeza, do lado negro é que não estou.

– Então, ótimo. Agora vamos, quero chegar a tempo para o jantar se não se importa.

– Preciso passar em casa antes.

– Pra fazer o que exatamente? - Perguntou Godfrey.

– Preciso dizer ao meu pai onde estou indo e por qual motivo.

– É perigoso e, de qualquer forma, ele não pode entrar no acampamento.

– Como assim, é alguma política rígida anti-adultos? - Disse Amy, sarcasticamente.

– Antes fosse - disse Scott -, mas é que somente aqueles que possuem sangue semideus ou criaturas benignas podem ultrapassar o portal de entrada.

– Que criaturas benignas são essas?

– Sátiros, ninfas, náiades. Só a galera do bem. - Disse Scott, e sorriu.

– O papo está ótimo mas se quisermos chegar para o jantar, precisamos nos apressar.

– Eu já aceitei ir com vocês, completos estranhos, a um lugar o qual nunca ouvi falar em toda minha vida. Por favor, sem pressão.

– Quem disse que estou te apressando ou pressionando, mocinha? - Disse Godfrey, enquanto caminhava em direção a saída do Central Park.

– Relaxa, ele não é sempre assim. - Disse Scott a Amy, alto o suficiente para que ela escutasse e baixo o suficiente para que não chegasse aos ouvidos de Godfrey.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bom, tomara que a demora tenha valido a pena.
O que acharam desse capítulo? Se eu errei alguma coisa em gramática ou ortografia, sintam-se a vontade pra me corrigir ok?
2 bjs procêis
NOTA (03/01/2013): Só vi agora que com a migração do Word pra cá alguns travessões e hífens sumiram, mas já consertei.
NOTA (05/01/2013): Mudei a cor dos cabelos da Mary Ann (mãe da Amy) por causa da atriz que "visualizei" sendo ela.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Linhagem Sagrada" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.