Eu estava sentada numa cadeira na frente de um espelho empoeirado no velho sótão , e o Anthony tinha ido chamar alguém que atendia pelo nome de Antônio. Celeste olhava para algumas coisas empilhadas com um olhar triste.

-Você se dá muito bem com Anthony. –Ela murmurou, a voz um pouco distante, e o olhar meio perdido em lembranças.

-Ele me lembra muito o meu irmão e eu sempre soube lidar com Lion. –Murmurei, também um pouco distraída.

-Sim, ele parece muito com Lion. O pai de Anthony também parece. –Ela falou, triste. –Vincent. –Ela falou, pegando um porta-retratos com um homem novo, aparentemente nos seus vinte e poucos. Ele parecia tanto com meu irmão quanto com Celeste.

-Anthony e Julian falaram alguma coisa sobre ele. –Falei, olhando para a foto. –Anthony não parecia muito feliz. –O sorriso desapareceu do seu rosto. –Desculpe, não era minha intenção fa....

-Meu filho é um homem ocupado. –Ela falou com um suspiro. –Mas ocupado do que eu gostaria. A mulher dele morreu quando Anthony era muito pequeno, e Vincent... Bem, ele nunca deu a atenção necessária a Anthony.

-Sinto muito. –Murmurei, desviando os olhos para meus pés.

-Sim, pois bem,- Ela falou, recompondo a postura e o sorriso. –eu agradeço por conversar com Anthony. Ele pode ser uma criança muito teimosa às vezes. Anthony é como o irmão mais novo que Julian nunca teve. Os dois cresceram com muito pouca atenção e muito poucos amigos...

-Meu irmão... –Falei, antes que eu pudesse segurar as palavras que escorregavam da minha boca. –Lion. Ele ainda está... ?–E então as palavras engasgaram na minha garganta.

-Está. –Ela falou, e eu concordei com a cabeça.

-Eu não quero vê-lo. –Sussurrei.

-Nem de longe? –Ela perguntou. Neguei com a cabeça, segurado as lágrimas que tentavam fugir dos meus olhos. Ela colocou a mão no meu ombro e não falou nada. Eu era grata pelo silêncio.

Anthony entrou, carregando um homem alto e com um cabelo AZUL!  Julian tinha entrado atrás de Anthony, fechou a porta e encostou do lado da porta fechada, com as mangas arregaçadas, e com a expressão irritada.

-Meu deus, seu cabelo é tão Vintage! –O homem com cabelo azul falou, batendo palminhas. –Tem certeza que quer mudar? –Parte do meu plano com a Celeste era mudar um pouco a minha aparência e meu estilo, já que aparentemente, eu chamava muita atenção por estar “Fora de moda”.

-Ele vai mexer no meu cabelo? –Perguntei assustada, enquanto Anthony corria e sentava no meu colo, fazendo a cadeira girar.

-Isso mesmo. –Ele respondeu, rindo.

-Não pense que você vai escapar, menino. –Celeste falou, olhando para Anthony. –Esse seu cabelo já está rebelde a tempo de mais.

-NÃO!!! –Ele falou, saltando da cadeira, quase me fazendo cair, e correndo até a porta–Não vou cortar o cabelo. VOCÊS VÃO TER ME AMARRAR NA CADEIRA! –E com essa frase, ele foi porta a fora, gargalhando.

-Julian, você quer fazer o favor? –Celeste pediu, rindo.

-EU VOU TE PEGAR, GAROTO! –Julian gritou rindo, tirando os sapatos e ficando só de meias, por algum motivo. Eu ouvi alguns gritos do Anthony e risadas ecoando, e alguns minutos Julian voltou com o pequeno debaixo do braço. Literalmente! –Peguei.

-Muito obrigada. –Celeste falou, olhando para Anthony que se debatia inutilmente.

-Que injusto. –Murmurei rindo. –Você é muito mais forte que ele. –Recebi um olhando frio de Julian, o distraindo por um minuto. Tempo o suficiente para o pequeno conseguir, miraculosamente, se soltar dos braços dele e correr para o meu.

-Por favor, não deixa ele cortar meu cabelo. –Ele pediu, me olhando com enormes olhos verdes, apontando para o homem que mexia numa escova.

-Anthony, o cabelo dele é azul. –Falei um pouco assustada, fazendo eles rirem.

-Eu te disse que as pessoas tinham cabelos de cores estranhas. –Ele respondeu. –Você tinha que ver o cabelo da Loreta. É uma parte rosa choque e outra parte azul claro. –Ele fez uma careta e depois caiu na risada de novo.

-Eu não quero meu cabelo rosa não. –Choraminguei.

-Relaxe querida, eu não vou mudar a cor do seu cabelo, apesar de que se a gente pintasse de loiro e fizesse umas mechas roxas... –Arregalei os olhos. LOIRA COM MEXAS ROXAS, ESSE HOMEM É LOUCO? Ele riu. –Mas eu não vou fazer isso. E o senhorito, não acha que esses cabelos rebeldes ai não precisam de um trato não?

-Não. Eu gosto deles assim. –Anthony falou, mostrando a língua.

-Se você diz... –o homem deu ombros, pegando uma escova. –Fique quietinha, que eu sei o que eu estou fazendo. –Ele falou, olhando pra mim. –Eu juro pra você que não vou mudar a cor do seu cabelo.

Concordei com a cabeça, fechando os olhos nos meus braços enquanto a escova passava pelo meu cabelo.

-Julian! –Anthony falou, pulando do meu colo e eu ouvi seus passos pelo sótão, mas não abri os olhos. Ele murmurou alguma coisa para o Julian, que resmungou e depois saiu, voltando um minuto depois. Anthony voltou para o meu braço quando uma música agradável começou a tocar.

Apertei os braços em volta do pequeno quando eu senti a tesoura abrindo e fechando no meu cabelo, que eu tinha levado ANOS para deixar daquele jeito. Se meu cabelo fosse liso, o que ele definitivamente não é, ele passaria da linha da cintura, mas como ele é armado, ele fica bem mais curto.

Depois de mais de meia hora de puxa e repuxa o barulho do secador de cabelos e a escova pararam.

-Pode olhar. –O homem falou.

-Whoa. O que você fez com o meu cabelo?–Murmurei. Meus cabelos, graças a Deus, ainda vermelhos cor de fogo, estavam lisos, como disse o Anthony “feito macarrão que acabou de sair da panela”, caindo pelas minhas costas. Eu estava outra pessoa, quase irreconhecível. Acho que essa era a ideia.

-Só deixei um pouco mais moderno.

-Eu falei que parece macarrão. –Anthony falou, mas eu acho que ele não estava insultando, por que ele complementou com. –Ficou bonito.

-Ficou lindo. –O homem concordou, com um sorriso.

-Obrigada Antônio. –Celeste murmurou.

-Foi um prazer, vossa majestade. –Ele falou, fazendo uma reverencia. –Você... –Ele apontou para o Anthony. –Não me escapa por muito tempo.

-Vamos ver sobre isso. –O pequeno respondeu, rindo.

-Aqui tem uma roupa que eu acho que é do seu tamanho. Eu peguei um vestido por que acho que você não se sentiria muito confortável de calça. –Celeste falou, me entregando um vestido azul bebê. Agradeci com a cabeça. Eu realmente não ia me sentir muito bem de calça. –Vem Anthony.

-Por que? –Ele perguntou, girando a cadeira mais uma vez.

-Pra ela trocar de roupa. –Celeste falou. –Anda menino. –O pequeno levantou contrariado, saindo com Celeste e Julian, que estava ainda quieto, com os braços cruzados.

Tirei o vestido que pinica, deixando de lado perto das roupas do baile que eu tinha encontrado mais cedo e coloquei o vestido. Ele era curto, batendo no meio das minhas coxas, mas ficou bem em mim.

 Alguém bateu na porta alguns minutos depois, e eu murmurei um “entra”. Anthony entrou saltitando, e veio parar do meu lado.

-Gostei. –Foi tudo que ele falou quando ele olhou pra mim.

-É, eu também, eu acho. –Eu ia ter que me acostumar com o cabelo caindo reto nas costas.

-ANTHONY! –Celeste esbravejou.

-Eu bati na porta. –Ele falou, fazendo uma carinha fofa. Celeste olhou pra mim, e eu concordei com a cabeça, querendo dizer “Tudo bem”. Julian entrou logo atrás de Celeste assumindo a mesma posição de antes, parado do lado da porta fechada, com os braços cruzados.

-Agora a gente só precisa de uma ideia pra quem você seria. –Celeste murmurou. –E eu já tenho uma.

-Pode falar. –Anthony falou, animado, me puxando para sentar do lado dele no chão. Sentei de pernas de chinês, e ele pulou para o meu colo.

-Não quero nem ver a reação. –Celeste murmurou, e eu percebei que eu não ia gostar da ideia. –Então, nós não vamos poder sair por ai sem saber de onde você veio. –Ela começou.- Eu pensei em te apresentar como uma prima, mas isso não daria certo, por que as famílias são pesquisadas e tudo mais.

-Ok. –Murmurei. Onde ela ia chegar?

-Então, depois de pensar bastante, eu cheguei a uma ideia, que vai funcionar.

-A ideia seria? Fala logo vó! –Anthony falou, pulando animado. Celeste hesitou por um momento.

-A ideia seria apresentar a Alicia como namorada do Julian.

-COMO É?