Perseus escrita por Constantin Rousseau


Capítulo 1
"PROMETHEUS"




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/308318/chapter/1

No mesmo dia, pois, em que o oferecerdes, e no dia seguinte, se comerá;

mas o que sobejar até o terceiro dia será queimado no fogo.

Levítico, 19:6

– - - - ─▪▪▪─ - - - ─▪▪▪─ - - ───▪▪▪─── ─▪▪▪─ - - - ─▪▪▪─ - - - - - -

— Conhece a história de Prometheus?

A pergunta pegou o rapaz de surpresa, e ele ergueu os olhos para encará-la. A morena uniu as sobrancelhas ao notar a confusão expressada pelos orbes mais verdes que os mares. Havia algo de estranho na forma como o encarava, com os lábios ligeiramente comprimidos, e a tatuagem de lua minguante em seu pescoço nunca chamou tanto a atenção de Percy como naquele momento. Parecia haver um leve brilho prateado na pele, e ele atribuía isso a todo o caos que se propagava por sua mente, porque era definitivamente loucura demais para um só dia.

— Sim. — murmurou, um pouco atordoado, e, logo em seguida, sacudiu a cabeça. — O que tem a ver?

Foi a primeira vez em que ele a viu sorrir de verdade, expondo os dentes brancos em duas fileiras perfeitinhas. Não era feliz, e, ainda assim, continuava sendo o sorriso mais bonito que Jackson já havia visto em toda a vida, perdendo apenas para o de sua mãe. E a garota se aproximou, fazendo-o recuar até que suas costas se chocassem contra a parede, engolindo em seco.

Entre o prazer originário e a realidade terrena existe uma ruptura, — ela citou num tom vago, sem parecer notar o ligeiro nervosismo que percorreu o corpo do jovem — um fogo perdido que será para sempre um lugar de fome e de mal-estar*.

Percy observou, de olhos arregalados, quando ela esticou a mão com a palma voltada para cima, e as primeiras fagulhas começaram a saltar. Em poucos segundos, uma chama azul parecia brincar por entre os dedos pálidos da moça, que manteve os olhos celestiais fixados na dança etérea da mesma, que perdurou por longos minutos.

Quando o fogo se extinguiu, a morena o encarou seriamente.

Isso significa ser um Amaldiçoado: carregar o fardo de um deus.

Como se não bastasse aquilo, Thalia Grace ainda acrescentou, num tom duro que não expressava toda a compaixão que sentia por ele naquele momento, ao notar o choque:

— Você faz parte do grupo agora. Bem-vindo ao lar, Perseu.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

*BRANDÃO, Junito, Dicionário Mítico-Etimológico, Vol. II, Vozes:
Petrópolis, 1992, p. 328-329.