Sangue Quente escrita por SakuraPink


Capítulo 3
Ravener




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Clary acordou com uma horrível dor de cabeça e um pouco de tontura, devia ser pelos acontecimentos da noite passada, não conseguira dormir nada bem devido a discussão com a mãe e agora, pra melhorar ainda mais as coisas, a mãe havia confiscado sua única espada serafim, é, como Simon gostava de dizer " Não há nada ruim q não possa piorar.".

Clary POV'S ON

Me levantei da cama e corri pelo quarto em busca de um remédio, depois de revirar os quatro cantos do meu armário consegui encontrar uns comprimidos e os tomei, depois tomei um banho e fui em direção a cozinha para tomar café.

Pelo que notei nada da minha mãe estar em casa, o que, a essa altura do campeonato não sei se é bom ou ruim. Ela pode ter saído pra fazer compras ou pode estar por aí planejando algum castigo sombrio pra mim, se bem que acho que confiscar minha única espada serafim já foi castigo o suficiente.

Tomei um copo de suco de laranja e comi uns bolinhos e depois de tomar um bom banho quente fui para o sofá da sala desenhar, estava sem nada pra fazer e tudo que eu não queria no momento era ficar pensando nas coisas da noite passada como o encontro com os caçadores das sombras, o surto louco da minha mãe ou pior ainda, o fato de eu ter perdido uma informação importante sobre o paradeiro de Valentim. 

Depois de muitas tentativas inúteis de desenho no sofá da sala, quando eu já estava prestes a procurar outra coisa pra fazer o telefone da sala tocou. Devia ser a minha mãe finalmente dando algum sinal de vida. Já era hora.

“É Clarissa Fray?” A voz do outro lado do telefone me soava familiar, apesar de eu não conseguir identificar imediatamente a quem pertencia.

Apertei o fio do telefone nervosamente ao redor de meu dedo.

“Siiim?”

“Oi, eu sou um dos desordeiros que estava carregando a faca que você encontrou na noite passada no Pandemonium? Eu temo que dei uma má impressão e esperava que você me desse a chance para fazer isso...”

“SIMON!” Segurei o telefone afastado da minha orelha enquanto ele rachava de rir. “Isso não é engraçado!”

“É claro que é. Você apenas não vê a graça.”

“Idiota” suspirei, me encostando contra a parede. “Você não estaria rindo se você estivesse aqui quando eu cheguei em casa ontem à noite.” Decidi contar em partes algo do que aconteceu noite passada, Simon não precisava saber os reais motivos da briga mas pelo menos eu podia desabafar em partes com ele e quem sabe assimme sentir um pouco melhor.

“Por que não?”

“Minha mãe. Ela não estava feliz quando nós chegamos tão tarde. Ela ficou fora de si. Foi uma bagunça.”

“O que? Não foi nossa culpa haver congestionamento!” Simon protestou. Ele era o mais jovem de três crianças e tinha um finamente afiado senso de injustiça familiar.

“Certo, bem, ela não viu por esse lado. Eu desapontei ela, Eu deixei ela mal, eu fiz ela ficar preocupada, blah, blah, blah. Eu estou banida da existência dela.” Eu disse, imitando precisamente a expressão da minha mãe com apenas uma ligeira pontada de culpa por estar omitindo a verdade pra Simon e por de certo modo ter decepcionado minha mãe. Eu odiava decepciona-la. 

“Então, você está de castigo?” Simon perguntou, um pouquinho mais alto. Eu podia ouvir o barulho de vozes atrás dele, pessoas falando uma com a outra.

“Eu não sei ainda,” disse. “Minha mãe saiu esta manhã provavelmente com Luke e  eles não voltaram ainda. A propósito, onde você está? No Eric?”

“Yeah. Nós só acabamos o ensaio.” Um címbalo bateu atrás de Simon me fazendo piscar. “Eric estará fazendo uma leitura de poesia no Java Jones hoje a noite.” Simon foi, nomeando uma cafeteria envolta da esquina da rua onde eu morava, que as vezes tinha música ao vivo à noite. “Toda a banda estará indo mostrar seu apoio. Quer vir?”

“Yeah, é claro.” pausei, enrolando o fio do telefone ansiosamente até me lembrar de um fato decisivo. “Espere,não.”

“Calem a boca caras, estão ouvindo?” Simon gritou, a diminuição de sua voz fazendo-me suspeitar que ele estava segurando o telefone longe da sua boca. Ele estava de volta no segundo depois, soando aborrecido. “Isso vai ser um sim ou um não?”

“Eu não sei.” mordi meu lábio. “Minha mãe ainda está com raiva pela noite passada. Eu não tenho certeza se eu posso encher mais ela pedindo por algum favor. Se eu estou indo entrar em apuros, não quero que seja por conta da péssima poesia de Eric.”

“Vamos lá, não é tão ruim,” Simon disse. Eric era seu vizinho da porta ao lado, e os dois conheciam um ao outro a maior parte de suas vidas. Eles não eram próximos do jeito que Simon e eu eramos, mas eles tinham formado uma banda de rock juntos no início do segundo ano, com os amigos de Eric, Matt e Kirk. Eles praticavam juntos fielmente na garagem dos pais de Erik toda semana.

“Por outro lado, isso não é um favor,” Simon adicionou “é uma crítica a poesia ao redor da quadra da sua casa. Isso não é como eu estar convidando você para uma orgia na Hoboken. Sua mãe pode vir se ela quiser.”

“ORGIA EM HOBOKEN!” Eu ouvi alguém, provavelmente Eric, gritar. Outro

cimbalo bateu. Imaginei minha mãe escutando Eric ler sua poesia, e estremeci por dentro.

“Eu não sei. Se todos vocês aparecerem aqui, eu acho que ela vai surtar.”

“Então eu vou sozinho. Eu te pego e nós podemos ir andando até lá juntos,

encontrar com o resto deles. Sua mãe não vai se importar. Ela me ama.”

Eu tive que rir. 

“Sinal do questionável gosto dela, se você me perguntar.”

“Ninguém perguntou.” Simon desligou, no meio dos gritos de sua banda.

“É Clarissa Fray?” A voz do outro lado do telefone soava familiar, apesar de nãoimediatamente identificável.

Voltei para a poltrona e tentei me concentrar de volta em meus desenhos enquanto ponderava se ia ou não com Simon. O som da fechadura da porta me trouxe de volta a realidade. finalmente minha mãe resolveu dar as caras.

A porta se abriu e Luke entrou carregando um monte de caixas de papelão do tipo que eram usadas para mudança, ele as colocou no chão e depois me olhou sorrindo.

"Hey Luke" eu o comprimentei " Onde está mamãe?"

"Estacionando o caminhão." ele disse enquanto colocava as caixas no chão e endireitava a coluna "Lembre-me mais uma vez porque esse prédio não tem elevadores?"

"Porque ele é velho e tem carácter" respondi rindo " pra que são essas caixas?"

" Sua mãe precisa empacotar umas coisas." foi tudo o que ele disse enquanto evitava olha pra mim. Ai tem mais do que ele está me contando definitivamente.

" Hummm" murmurei para não prolongar o assunto.

" Então sua mãe me contou sobre ontem a noite." ele começou casualmente como quem não quer nada.

"É claro que ela contou, mas não foi como ela disse" comecei tentando fazer com que pelo menos Luke entendesse a minha situação.

"E como você sabe que não foi se nem ao menos sabe o que ela me disse?!" Ele perguntou rindo.

"É porque ela sempre faz um drama muito maior do que realmente é a situação" disse um pouco irritada.

"Com ou sem drama o fato é que o que você fez ontem a noite foi muito perigoso e irresponsável Clary. Eu entendo como você devia estar se sentindo e no seu lugar talvez eu tivesse feito a mesma coisa mas, isso não muda o fato de que foi algo irresponsável de se fazer, se exibir assim para caçadores das sombras poderia acabar facilmente com o disfarce que eu e sua mãe estamos mantendo a anos pra você, eu sei que você está ansiosa por informações sobre Valentim mas nós obteremos elas no tempo certo. Tudo a seu tempo"

Antes que eu pudesse responder minha mãe entrou pela porta da frente carregando mais algumas caixas.

"Mãe pra que são essas caixas?" perguntei imediatamente.

Ela piscou os olhos nervosamente enquanto Luke o olhar de Luke vacilava entre nós duas. Hora em mim, hora em minha mãe.

"Isso é sobre a última noite?" perguntei ávida por uma explicação.

"Não" minha mãe respondeu rapidamente mas um pouco hesitante." Talvez um pouco, você não devia ter feito o que fez."

"Diga logo a ela Jocelyn" Luke disse

Minha mãe soltou um suspiro e então finalmente falou. "Nós estamos saindo de férias"

Então era isso? tudo isso apenas porque ela estava saindo de férias?

"É só isso? Eu não entendi porque então toda enrolação só porque você está saindo de férias?!"

“Eu não acho que você entendeu. Eu queria dizer que todos nós estamos saindo de férias. Os três de nós, você, eu e Luke. Estamos indo para fazenda.”

“Oh.” Eu olhou para Luke, mas ele tinha seus braços cruzados sobre seu peito e estava olhando lá fora da janela, seu queixo estava apertado. Eu tentei imaginar o que estava chateando ele. Ele amava a velha fazenda no norte do estado de Nova York - ele tinha comprado e restaurado ela, há dez anos atrás, e ele ia lá sempre que podia. “Por quanto tempo?”

“Pelo resto do verão,” Jocelyn disse. “Eu comprei as caixas para o caso de você precisar empacotar alguns livros, material de pintura...”

“Pelo resto do verão?” Eu sentei ereta com indignação. “Eu não posso fazer isso, mãe. Eu tenho planos - Simon e eu estaremos indo para uma festa de volta à escola, e eu tenho um monte de reuniões com meu grupo de arte, dez ou mais aulas de Tisch.”

“Eu sinto muito sobre o Tisch. Mas as outras coisas podem ser canceladas. Simon irá entender, e também seu grupo de arte.”

“Mas eu paguei por aquelas aulas de arte! Eu economizei o ano todo! Você prometeu.” Eu girei, tornando para Luke. “Fala pra ela! Fala pra ela que não é justo!”

“Ela é sua mãe. É a decisão dela.”

“Eu não saquei.” Eu voltei a olhar para minha mãe. “Por quê?”

“Eu tenho que partir, Clary,” Jocelyn disse, os cantos de sua boca tremendo. “Eu preciso de paz, de quietude, da pintura. E dinheiro está apertado agora...”

"Então venda mais algumas das jóias que você tem, é o que você sempre faz" Disse exasperada.

Minha mãe se encolheu. “Isso dificilmente é justo.”

“Olha, vá se você quiser ir. Eu não me importo. Eu vou ficar aqui sem você. Eu posso trabalhar, eu posso conseguir um emprego na Starbucks ou coisa assim. Simon disse que eles estão sempre contratando. Sou velha o suficiente para cuidar de mim mesma...”

“Não!” A violência na voz da minha mãe me fez pular. “Eu vou pagar você por suas aulas de arte, Clary. Mas você vai conosco. E isso não é opcional. Você é muito jovem para ficar aqui por conta própria. Algo pode acontecer.”

"O que poderia acontecer mãe? Você está me escondendo algo?" finalmente eu estava começando a entender as coisas.

Minha mãe não teve tempo de responder pois quando estava prestes a abrir a boca o barulho de vidro quebrado chamou sua atenção, ambas olhamos para ver o que tinha sido. Luke tinha derrubado uma das fotos emolduradas da parede. Ele estava visivelmente chateado.

"estou indo embora." foi tudo que ele disse antes de sair porta a fora.

"Espere." Minha mãe gritou enquanto corria atrás dele pelas escadas.

Fui logo atrás tentando parecer silenciosa. Se eles estavam me escondendo algo eu iria descobrir de um jeito ou de outro.

Tudo que consegui escutar eram apenas sussurros. "Bane,” minha mãe estava dizendo. “Eu tenho chamado ele e chamando-o pelas últimas três semanas. Seu correio de voz dizia que ele está na Tanzânia. O que eu deveria fazer?”

Espera um minuto. Se antes eu tinha alguma dúvida de eles estavam me escondendo algo agora eu havia obtido a confirmação disso. Ela estava falando de Magnus Bane. O Alto Bruxo do Brooklyn. Definitivamente havia algo rolando, e era algo de muito errado ou então minha mãe não chamaria por ele.

“Jocelyn.” Luke balançou a cabeça. “Você não pode continuar assim para sempre.”

“Mas Clary...”

“Não é Jonathan,” Luke assobiou. “Você nunca mais foi a mesma desde o que aconteceu, mas Clary não é Jonathan.”

O que meu irmão tinha a ver com isso?

“Não posso simplesmente deixá-la em casa, não deixá-la sair. Ela não se encontrar com ele.”

“Claro que ela não vai!” Luke pareceu realmente irritado. “Ela não é um animal de estimação, ela é uma adolescente. Quase uma adulta.”

“Se nós fomos para fora da cidade...”

“Fale com ela, Jocelyn.” A voz de Luke estava firme. “Eu quero dizer isso.” Ele chegou a maçaneta.

A porta voou aberta. Minha mãe deu um pequeno grito.

“Jesus!” Luke exclamou.

“Realmente, sou só eu,” Simon disse. “Embora eu tenha sido informado que semelhança é surpreendente.” Ele acenou para mim da porta. “Está pronta?”

Minha mãe puxou a mão dela afastando de sua boca. “Simon, você estava escutando?”

Simon piscou. “Não, eu apenas cheguei aqui.” Ele olhou para o rosto pálido da minha mãe e então para a careta de Luke. “Tem alguma coisa errada. Eu devo ir?”

“Não se incomode,” disse Luke. “Eu penso que nós terminamos aqui.” Ele empurrou passando por Simon, descendo com barulho pelas escadas em um passo rápido. Lá em baixo, a porta da frente bateu com força.

Simon indeciso na porta, olhando incerto. “Eu posso voltar mais tarde,” disse ele. “Sério. Não seria um problema.”

“Isso pode...,” Minha mãe começou, mas eu já estava em pé.

“Esquece isso, Simon. Nós estamos saindo,”eu disse, agarrando minha bolsa de um gancho junto à porta. Eu a lancei sobre o ombro, olhando para minha mãe. “Te vejo mais tarde, mãe.”

“Clary, você não acha que devemos falar sobre isso?” ela perguntou.

“Nós vamos ter todo o tempo para falar enquanto nós estivermos de ‘férias’” Eu disse venenosamente, e tive a satisfação de ver minha mãe recuar. “Não espere,” eu adicionou, e, segurando o braço de Simon, meio que carreguei ele para porta da frente.

Depois de ter visto todo o drama familiar Simon parecia decidido a me distrair, ele até se ofereceu pra me levar pra comer em um pequeno restaurante mexicano da esquina mas eu definitivamente não estava com humor pra falar sobre o ocorrido. Tudo que eu queria era ir logo pro Java Jones e não pensar sobre isso.

Quando chegamos no Java Jones o lugar estava lotado, haviam pessoas em todos os lugares mas por sorte Simon e eu encontramos uma mesinha no fundo ao lado de uma garota loira com um top cor de laranja, absorvida em mexer seu iPod. Ótimo, assim Eric não teria chance de nos achar para perguntar como sua poesia estava.

Eu me sentei em uma cadeira enquanto Simon foi buscar os cafés. A garota loira se inclinou para o lado e me tocou no ombro.

"“Me desculpe.” Eu a olhei com surpresa. “Ele é seu namorado?” a garota perguntou.

Segui a linha de olhar dela, já preparada para perguntar de quem ela estava falando, quando notei que ela falava de Simon.

Ele estava andando em direção a nós, seu rosto fechado em concentração como se ele tentasse não derrubar nada dos seus copos de isopor; “Uh, não,” Eu disse. “Ele é um amigo meu.”

A garota ficou radiante. “Ele é tão fofo. Ele tem namorada?”

Hesitei por um segundo mais longo antes de responder. “Não.”

A garota olhou com suspeita. “Ele é gay?”

Fui poupada de responder esta com a volta de Simon. A loira sentou de volta precipitadamente enquanto arrumava os copos na mesa e atirava a si mesma próxima a mim.

“Odeio quando eles acabam com as canecas. Essas coisas estão quentes.” Ele soprou seus dedos e fez uma careta.Eu tentei esconder o sorriso enquanto olhava para ele. Normalmente eu nunca pensava se Simon era bonito ou não. Ele tinha lindos olhos escuros, eu supus, e ele tinha encorpado mais durante o ano ou coisa assim. Com o corte de cabelo certo...

“Você está me encarando,” Simon disse. “Porque você está me encarando? Tem alguma coisa no meu rosto?”

Eu tenho que dizer a ele, entretanto parte de mim estava estranhamente relutante. Eu seria uma má amiga se eu não dissesse.

“Não olhe agora, mas aquela garota loira lá acha você uma gracinha,”sussurrei.

Os olhos de Simon fitaram a lateral para cravar na garota, que estava industriosamente estudando uma edição do Shonen Jump.

“A garota com um top laranja?” Eu concordei. Simon olhou com dúvida. “O que te fez pensar assim?”

Diga a ele. Vá em frente, diga a ele

Eu abri a boca para responder mas, fui interrompida por um estouro em resposta. Eu pisquei e cobri as orelhas enquanto Eric, no palco, lutava com seu microfone.

“Nos desculpe por isso, gente!” ele gritou, “Tudo bem, eu sou Eric, a este é o meu amigo Matt na percussão. O meu primeiro poema se chama ‘Sem título’.”

Ele comprimiu seu rosto com se estivesse com dor e choramingou pelo microfone. “Venha, minha fanática foice. Minha nefasta força motriz. Espalhe cada protuberância com zelo árido!”

Simon deslizou em sua cadeira. “Por favor, não diga a ninguém que eu conheço ele.”

Tive que dar uma risada. “Quem utiliza a palavra força motriz? perguntei.

“Eric,” Simon disse horrivelmente. “E todos os seus poemas tem geratriz neles.”

“Bombástica em meu tormento!” Eric lamentou. “Agonia incha dentro!”

“Pode apostar que sim,” Eu disse. E deslizei para o lado do banco de Simon. “À propósito, sobre a garota que acha você bonitinho...”

“Isso não importa, por agora,” Simon disse. Eu pisquei para ele com surpresa. “Tem uma coisa que eu precisava falar com você.”

“Furious Mole não é um bom nome para uma banda,” eu disse imediatamente.

“Não isso,” Simon disse.

"Então o que é?" perguntei curiosa.

"Eu gosto de alguém." Simon disse.Ele parecia vagamente esverdeado, como da vez quando ele quebrou seu tornozelo jogando futebol no parque e teve que sair mancando para casa. Eu me perguntei o que na terra sobre estar gostando de alguém poderia possivelmente dar a ele esse tanto de ansiedade.

“Então, quem é ela?” perguntei.

E estava prestes a perguntar mais quando ouvi alguém tossir atrás de mim. Era o tipo ridículo de tosse que alguém fazia quando estava tentando não rir. Virei ao redor.

Sentando sobre um desbotado sofá verde a poucos metros de distância estava Jace. Ele usava as mesmas roupas escuras que ele tinha na noite anterior no clube. Seus braços estavam nus e coberto com fracas linhas brancas como antigas cicatrizes. Runas. Seus punhos envolvidos com largos braceletes de metal; eu podia ver a protuberância do cabo de uma faca no lado esquerdo. Ele estava olhando direto para mim, o canto de sua estreita boca curvado em diversão.

“O que é?” Simon seguiu o meu olhar, mas era óbvio pela expressão em seu rosto que ele não podia ver Jace.

Mas eu podia.

Eu encarei Jace enquanto pensava nele,e ele levantou sua mão esquerda para acenar para mim. Um anel brilhou em seu longo dedo. Provavelmente o anel de sua família. Ele ficou em seus pés e começou a andar, despreocupadamente, em direção a porta. Meus lábios se abriram em surpresa. Ele estava saindo? simplesmente assim?

Senti Simon tocar meu braço enquanto perguntava se estava tudo bem mas tudo que conseguir sussurrar em resposta foi um apressado "Eu tenho que ir" enquanto eu saía correndo pelas portas de entradas.

Corri para as portas de entrada na esperança de conseguir fugir e chegar em casa logo, não podia correr o risco de ser pega por um caçador das sombras a essa altura do campeonato mas assim que saí pelas portas dei de cara com Jace apoiado de maneira relaxada contra a parede.

Ele olhou com surpresa quando as portas da cafeteria se fecharam atrás de mim. No fim do crepúsculo, seu cabelo parecia cobre dourado. “A poesia do seu amigo é terrível,” ele disse.

" O que?" perguntei surpresa, pega fora de guarda.

“Eu disse que a poesia era terrível. Aquilo parece como se ele come-se um dicionário e começasse a vomitar as palavras aleatoriamente.”

“Eu não me importo com a poesia de Eric.” Eu estava furiosa. “Eu preciso saber do porque você está me seguindo?” resolvi agir como se não soubesse de nada e tentar tirar o máximo de informações possíveis dele antes de ter que fazer alguma coisa.

“Quem disse que eu estava seguindo você?”

“Boa tentativa. E você estava escutando também. então acho melhor você ir me dizendo o que você quer comigo."

" Muito esperta garotinha."

“Eu te disse antes, me nome não é garotinha,” eu disse entre dentes. “É Clary.”

“Eu sei,” ele disse. “Lindo nome. Como a erva, clary sage. Nos velhos tempos as pessoas pensavam que comendo suas sementes elas poderiam ver a tribo das fadas. Você sabia disso?”

" Dá pra você ir direto ao ponto e parar de enrolação?" perguntei irritada.

“Você parece ser um mundano como qualquer outro mundano, mas você pode me ver. Isso é um enigma.” ele disse.

“O que é um mundano?” perguntei. Se ele achava que eu era uma, iria deixa-lo acreditar. quem sabe assim eu conseguisse escapar ilesa, voltar para casa e avisar a minha mãe sobre isso.

“Alguém do mundo humano. Alguém como você.”

“Mas você é humano.” Eu disse. Vamos ver até onde esse caçadorzinho das sombras petulante, arrogante, idiota, super gato, gostoso e sexy e foco Clarissa, foco. Não se deixe enganar pelo charme dele.

“Eu sou,” ele disse. “Mas eu não sou como você.” Não havia nenhum defensiva em seu tom. Ele soava como se ele não se importasse se eu acreditava ou não. 

“Você pensa que é melhor. É por isso que você estava rindo de nós.” Se ele soubesse quem eu sou de verdade e de quem sou filha aposto que não estaria rindo.

“Eu estava rindo de você porque declarações de amor me divertem, especialmente quando não são correspondidas,” ele disse. “E porque Simon é o mais mundano dos mundanos que eu já encontrei. E porque Hodge acha que você pode ser perigosa, mas se você for, você certamente não sabe disso.”

“Eu sou perigosa?” Tentei soar o mais indignada e convincente possível. “Eu vi você matar alguém na última noite." Talvez ele soubesse mais do que estava falando.

“Eu posso ser um assassino,” Jace disse, “mas eu sei quem eu sou. Você pode dizer o mesmo?”

“Eu sou apenas um ser humano comum, do jeito como você disse. Quem é Hodge?” Eu sabia quem ele era, ou pelo menos desconfiava.

Minha mãe sempre evitou falar sobre os tempos em que fez parte do Ciclo, ela dizia que isso a trazia memória ruins mas, ela e Luke já haviam me contado o suficiente sobre isso para que eu soubesse o nome dos membros e Hodge era um deles. É claro que sempre podia ser outra pessoa com o mesmo nome mas, depois de ouvir sobre Valentim na boate e encontrar um caçador das sombras no Java Jones as chances de esse Hodge ser o mesmo do ciclo eram bem altas.

“Meu tutor. E eu não seria tão rápido para marcar a mim mesmo como comum, se eu fosse você.” Ele se inclinou para frente. “Deixe-me ver sua mão direita.” 

Eu sabia o que ele estaria buscando em minha mão, uma runa, a maioria das crianças ganhava uma durante seu treinamento para melhorar as habilidades em combate e com as armas mas, no meu caso foi diferente, minha mãe nunca deixou que eu fosse marcada, não até que eu tivesse completado a maioridade e pra isso faltava muito ainda.

“Minha mão direita?” Clary repetiu e ele concordou. “Se eu te mostrar minha mão, você vai me deixar em paz?” Eu tinha que dar um jeito de me livrar dele logo antes que ele começasse a fazer muitas perguntas e nesse momento essa era a única coisa que consegui inventar.

“Certamente.” Sua voz tinha uma ponta de divertimento.

Ele tomou minha mão na dele e a virou. “Nada” Ele soou quase desapontado. “Você não é canhota, é?” 

“Não. Por quê?” Tinha que manter o papal de mundana idiota.

Ele soltou minha mão com um encolher de ombros. “A maioria das crianças caçadoras de sombras são marcadas em suas mãos direitas ou esquerda, se elas são canhotas como eu sou - então elas ainda são jovens. É uma runa permanente que dá uma extra habilidade com armas.”

“Você é maluco.” Exclamei, se eu queria parecer uma mundana tinha que agir como uma.

“Eu sabia que você tinha a Visão, pelo menos.” Ele olhou para o céu e exclamou como se não tivesse escutado nada do que eu disse. “Esta quase completamente escuro. Nós temos que ir.”

“Nós? Eu pensei que você ia me deixar em paz.” Merda, não posso me dar ao luxo de ir a lugar nenhum com ele, tenho que dar um jeito de sair disso antes que eu me ferre mais do que me ferrei.

“Eu menti,” Jace disse sem uma centelha de vergonha. “Hodge disse que tenho que trazê-la ao Instituto comigo. Ele quer falar com você.”

Será que eles sabem algo mais sobre mim? não é possível que saibam, minha mãe e Luke trabalharam bem em se manter fora de vista por todo esse tempo mas, se eles não sabem não posso dar a chance de que descubram algo. Tenho que sair daqui e tem que ser agora.

Cruzei seus braços sobre meu peito. “E se eu não quiser ver ele?”

“Problema seu. Você pode vir por bem ou por mau.”

“Você está ameaçando seqüestrar-me?” Definitivamente é isso que ele está fazendo, calculei mentalmente as chances de conseguir derruba-lo no beco e sair correndo pra casa sendo que sou menor que ele, nãopossuo runas e muito menos armas. É, as chances não estavam muito boas.

“Se você quer olhar isso desse modo,” Jace disse, “sim.”

Eu estava prestes a dizer-lhe umas bocas e boas quando meu celular começou a tocar na minha bolsa.

“Vá em frente e atenda isso se você quiser,” Jace disse generosamente.

Meu telefone parou de tocar e então começou de novo insistentemente. Olhei o número e o reconhecí antes de atender. Era minha mãe. Mas que momento oportúnuo pra me ligar em?!

“Mãe?”

“Ah, Clary. Ah, graças a Deus.” Alarme correu por todo meu corpo. Minha mãe parecia totalmente em pânico e isso não era normal dela. Talvez ela estivesse preocupada por eu ter saído sem avisar com Simon. Internamente rezei para que fosse só isso.“Me escute...”

“Está tudo bem, mãe. Eu estou bem. Eu estou a caminho de casa...”

“Não!” Terror fragmentava a voz apressada de Jocelyn. “Não venha para casa! Você está me entendendo, Clary? Não se atreva a vir para casa. Vá para casa de Simon. Vá direto para casa de Simon e fique lá até que eu possa...” Um barulho no fundo interrompeu ela: o som era de alguma coisa caindo, estilhaçando, algo pesado acertando o chão... Tinha alguma coisa de errada, muuito errada mesmo.

“Mãe” gritei ao telefone. “Mãe, você está bem?”

Um estridente e alto barulho veio pelo telefone. A voz da minha mãe atravessou a estática. “Apenas me prometa que você não virá para casa. Vá para a de Simon e ligue para Luke - diga a ele para ele me encontrar...”

Suas palavras foram abafadas por uma queda pesada como um desmoronamento de madeira.

“Quem achou você? Mãe você chamou ajuda? Você...”

Minha pergunta frenética foi cortada por um ruído que eu jamais esqueceria - um duro, resvalado ruído, seguido de um golpe surdo. Eu ouviu minha mãe puxar um forte suspiro antes de falar, sua voz misteriosamente calma: “Eu te amo, Clary.” O telefone ficou mudo.

“Mãe!”gritei ao telefone. “Mãe, você está aí?” Fim da chamada, a tela dizia. Mas por que ela desligaria assim? 

“Clary” Jace disse. Foi a primeira vez que eu tinha ouvido ele dizer o meu nome. “O que houve?”

Eu o ignorei enquanto apertava febrilmente o botão que ligava para o número de minha casa e rezava para que minha mãe atendesse e falasse que estava tudo bem.Não havia resposta exceto um duplo sinal de ocupado.

Pânico e horror preencheram minhas veias diante da suspeita que tinha se abatido sobre mim nesse instante, entendimento acima de tuso. Só podia ser Valentim, era ele, por isso sua mãe queria se mudar, por isso ela estava escondendo algo. Era ele, ele tinha voltado. Voltado por mim e por ela e agora eu não estava lá pra ajuda-la. Caí de joelhos estupefada e o telefone voou das minhas mãos caindo dentro de uma poça d'ágia. Quando o alcancei a tela tinha uma rachadura imensa e ele parecia quebrado mas isso não me impediu de continuar torturando o pobre celular.

“Pare com isso.” Ele me antou sob mus pés, a mão dele segurando meu pulso. “Alguma coisa aconteceu?”

“Me dá o seu telefone,” eu disse, pegando o retangular metal preto fora do bolso de sua camisa. “Eu tenho que...”

“Isso não é um telefone,” Jace disse, não fazendo nenhum movimento para pegá-lo de volta. “Isso é um sensor. Você não será capaz de utilizá-lo.”

“Mas eu preciso chamar o Luke!”

“Me diga o que aconteceu primeiro.” Eu tentei puxar meu pulso de volta inutilmente. “Eu posso te ajudar.”

A raiva me inundou. Raiva de mim por não estar lá pela minha mãe, raiva de Valentim por tudo que ele já fez e raiva de Jace por estar me segurando agora. Sem seguer pensar duas vezes, golpeei seu rosto com as unas, arranhando suas bochechas. Ele liberou o aperto em meus pulsos o suficiente para que eu pudesse sair correndo dalí.

Quando cheguei na rua, girei ao redor, esperando ver Jace em meus calcanhares mas o beco estava fazio. Sem olhar para trás eu corri para salvar minha mãe. Ela precisava de mim.

Quando finalmente cheguei no antigo prédio a noite já havia caído, quente e impiedosa. O prédio estava silencioso e exalava uma impressão assustadora e agourente. Frio correu pela minha espinha. Subi as escadas rapidamente sem olhar para trás, os corredores estavam fazios e o ar exalava um leve cheiro e enxofre. Dêmonios imaginei.

Quando cheguei ao apartamento a porta estava destrancada o que aumentou ainda mais meu pânico.

Dentro do apartamento as luzes estavam ligadas, todas as lâmpadas, tudo tornou-se pleno de luminosidade. O brilho golpeava meus olhos.

As chaves de minha mãe e sua bolsa de mão estavam em cima da mesa de centro. 

"Mãe?" chamei.“Mãe, eu estou em casa.”

Não houve nenhuma resposta. Eu fui para a sala de estar. Ambas as janelas

estavam abertas, a área das cortinas de gaze branca sopravam como irrequietos fantasmas. Só quando o vento parou, as cortinas se assentaram fazendo-me ver que as almofadas foram arrancadas do sofá e espalhadas ao redor da sala. Algumas foram arrancadas longitudinalmente, as entranhas de algodão se espalhando no chão. A estante de livros havia sido derrubada, seu conteúdo disperso. A banqueta do piano posicionada no seu lado, aberta escancarada como uma ferida, os adorados livros de música da minha mãe botados pra fora.

O mais apavorante era as pinturas. Cada uma tinha sido cortada de sua moldura e rasgado em tiras, que estavam espalhadas pelo chão. Isso deveria ter sido feito com uma faca - tela era quase impossível de se rasgar com as mãos. As molduras vazias pareciam ossos secos. Senti um grito se elevando em meu peito: “Mãe!” gritei. “Onde você está? Mamãe!”

Eu não a chamava de mamãe desde que tinha 8 anos.

Fui para a cozinha mas lá também estava vazio.

Eu fui até a porta do quarto de minha mãe agora. Por um momento ali pareceu como se aquele quarto, tivesse sido deixado intocado. A colcha florida feita à mão estava dobrada cuidadosamente sobre o edredom. O meu próprio rosto sorrindo de volta para mim acima da mesa de cabeceira, cinco anos de idade, a lacuna dos dentes sorrindo emoldurado por um cabelo ruivo. Um súbito soluço subiu ao meu peito. Mãe, chorei por dentro, o que aconteceu com você?

Um silêncio me respondeu. Não, não um silêncio. Um ruído atravessou o aposento arrepiando os cabelos da minha nuca.

Olhei para trás e então me deparei com aquilo me encarando. Eu nunca havia realmente enfrentado um demônio antes, havia sido treinada minha vida inteira por Luke e minha mãe mas na teoria era bem mais fácil do que na prática. Eu não tinha muitas chances, eu não tinha uma arma e também não tinha runas muito menos uma estela.

O pânico me dominou. Pânico pelo que aconteceria comigo e pelo que talvez tivesse acontecido com minha mãe. Um guincho se soltou da minha garganta. Eu cambaleei para trás, tropecei e caí, enquanto a criatura se aproximou de mim.


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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gente desculpem a demora. Ando muuito ocupada com colégio e estudos e esse cap foi grande então deu um pouco de trabalho. Desculpem qualquer erro é q não deu tempo de revisar td. Prometo q o próximo posto domingo bonitinho e revisado.
P.s o que vcs achariam se o Jace tivesse um parente Herondale vivo? alguém além da Imogen. Alguém ligado diretamente a ele de uma maneira incrível.
Me digam o q vcs acham da ideia.