Dançarina Das Marés escrita por A Garota do Capitão


Capítulo 39
Sonho Interrompido




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/307297/chapter/39

O sangue dos homens mortos na água começara a atrair tubarões, os quais nadavam próximos aos corpos. Tratei logo de subir a superfície, me afastando deles que estavam com o dorso arqueado e as barbatanas laterais abaixadas o que significava que atacariam caso eu me aproximasse mais. 

Eu já vira homens morrendo antes e isso nunca me importou muito, no entanto nunca vira uma morte provocada por mim. Apesar de saber que havia feito certo em me vingar de Richard algo me incomodava. Parecia que naquele momento eu havia me tornado pior do que já era. Uma coisa era negar auxílio para os marinheiros que tem seus navios naufragados, outra era puxá-los ao fundo.

Voltei até Carter e aproximei-me dele novamente, ainda com esses pensamentos na cabeça. 

-Eu o matei. -informei ainda um pouco atordoada pelo que havia feito com Richard. 

-Você fez bem. -Carter disse ainda com parte do corpo na água, segurando-se num pedaço dos destroços. O pirata percebeu minha expressão e com uma ternura não típica dele, chamou-me para perto -Venha cá. 

Aproximei-me do pirata que supreendentemente me deu um abraço carinhoso, antes de sussurrar;

-Você não fez nada de errado. É uma boa garota...

Dei um sorriso, fitando-o nos olhos. Ele retribuiu, antes de subitamente exclamar:

-Tá, agora chega de sentimentalismo ! 

Ri do seu jeito. 

-Vou tentar encontrar um bote ainda inteiro para você -o informei - Não é bom ficar na água no momento...

-Porque ? -ele perguntou-me 

-Talvez não seja a melhor hora para informar isso mas há tubarões aqui. Vários deles. -expliquei 

Carter se moveu incomodado sobre a tábua, tratando de colocar a parte do seu corpo que faltava para cima da mesma. 

-Não se preocupe, estão mais interessados nos corpos embaixo d'água, mas cuidado nunca é demais. -falei antes de lhe informar -Já volto. -me afastei em seguida começando a olhar por entre os destroços que não haviam afundado ainda.

Vi que quatro dos marujos sobreviventes tentavam soltar um dos botes inteiros que estava ainda preso em alguns cabos, juntamente com um segundo bote que havia sobrevivido intacto a explosão. Os homens faziam um esforço enorme na condição em que estavam para soltar uma das pequenas embarcações para si. 

Nenhum deles parecia ter algo cortante para partir a corda, o que dificultava ainda mais o trabalho.

-Aqui. -falei entregando a faca para um dos homens ao me aproximar. 

Ainda desconfiado ele a pegou, sem tirar os olhos de mim. 

-Quando soltarem os botes eu quero um. -pedi-lhes seriamente

-Sim, senhorita. -o pirata que pegara a faca assentiu com a cabeça, tratando-me respeitosamente.

Um vez com ela, ficou fácil de desprender os pequenos barcos. Como lhes pedi, me deram um deles e embarcaram no outro. 

-Obrigado. -o homem agradeceu, devolvendo-me a faca. 

-Fique com ela. -falei virando-me para me afastar. 

-Senhorita. -o pirata me chamou novamente. 

Quando voltei meu olhar para ele outra vez, o homem continuou sem saber ao certo escolher as palavras:

-Acho que vi tubarões na água...Sabe...Se quizer vir conosco...Nós não...

-Terei de recusar, da última vez que fui embora com piratas terminei acorrentada em uma cela num porão. E quanto aos tubarões, se eles se aproximarem do bote apenas deem algumas batidas na madeira que se afastarão. -os disse antes de me afastar empurrando o bote vazio em direção a Carter. 

Os demais piratas remaram na diração oposta e se foram, sumindo mais tarde no horizonte escuro da tarde que já se ia. 

Carter subiu a bordo da pequena embarcação, e quando já iria ajudar-me a embarcar na mesma eu neguei. 

-Não. Eu não irei com você. -falei fitando-o triste

-O que ? -o pirata perguntou confuso 

-Esse é o meu lugar. Já tive provas mais que suficientes que ficar próxima aos homens não é o meu destino...

-Mas você...vai ficar sozinha. Sozinha nesse oceano. -Carter disse preocupado. 

Vi em seus olhos que ele não queria que eu partisse, no entanto era algo que eu sentia que devia fazer por mais assustador e doloroso que fosse. 

-Eu sei, e era disso que eu sempre tive medo, mas agora eu não tenho mais... -respondi, antes de tocar seu rosto- Você é um bom homem Carter, não deixe ninguém dizer o contrário. 

-Não queria que você fosse. -o pirata disse 

-Pense nisso tudo como se fosse um sonho, e que agora chegou a hora de acordar. Você deve voltar para o seu mundo e eu para o meu. Quem sabe um dia as marés nos façam nos encontrar de novo...

-Eu não tirarei os olhos do oceano... -Carter disse fitando-me com um sorriso triste. Apoiei-me no bote, aproximando-me do pirata e lhe dando um beijo no rosto. 

Afastei-me em seguida, mergulhando novamente. No fundo da minha alma eu sabia que Carter ficaria bem, ele era forte e dava a impressão de que nada podia vencê-lo, quem sabe, talvez realmente nada pudesse mesmo. No entanto, eu sentia que ainda faltava algo para fazer por ele. O pirata embarcara com Richard para conseguir sua parte do tesouro e abriu mão disso, na realidade eu nunca havia perguntado o que ele havia planejado fazer com todo o ouro, porém não importava. Ele merecia sua parte. 

Revirei os destroços á procura de parte do ouro que eu havia recuperado antes para Richard. Ele deveria estar ali em algum lugar. Após algum tempo, encontrei o baú quebrado com as moedas e jóias espalhadas no leito marinho. 

A lua já havia surgido no céu, iluminando o mar e a água, tornando possível uma boa vizibilidade para mim que recolhia tudo de valor que encontrei. Enquanto ao mesmo tempo, próximo a mim tubarões devoravam os corpos dos marujos. Tentei fazer tudo o mais rápido que podia, usando um pedaço grande de pano da vela como uma trouxa para armazenar tudo. 

Quando voltei a superfície, vi que o pirata em seu bote já havia adormecido, rendendo-se a exaustão. Não o acordei, apenas em silêncio coloquei a trouxa improvisada repleta de jóias e moedas de ouro dentro do bote. 

Sorri uma última vez para ele, antes da maré suave começar impulsionar o bote para longe.  

Submergi novamente, nadando para a direção oposta e afastando-me dos restos do navio e do bote de Carter que agora se afastava para um ponto no horizonte iluminado pela lua. 

Infelizmente não pude ver sua expressão ao acordar e ver toda aquela fortuna, mas mesmo assim, posso imaginar como era e rir do espanto dele mesmo assim. E quem sabe, talvez fosse usar aquilo tudo para mudar de vida e se tornar um rico proprietário de terras, um mercador ou quem sabe um almirante...De qualquer forma, mesmo se o pirata não fizer nada disso e gastar tudo aquilo em um dia só em bebidas e regalias, eu não me arrependeria de ter lhe dado. 

Nadei a noite toda e só parei para descansar após várias horas ao encontrar um recife seguro para ficar. Adormeci sobre algumas algas que formavam um tapete macio. 

Aquela noite sonhei com Jasper, que estávamos juntos novamente e nos encontrávamos em uma praia de areia branca e água cristalina. Quando despertei na manhã seguinte incomodada com alguns raios de sol penetrando na água, demorei alguns segundos para localizar onde estava. 

Uma tristeza me abateu e uma saudade repentina do pirata me invadiu. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!