Ouço passos, a luz está acesa e sinto movimento no quarto. Sei que Pach chegou, mas parece que ainda não notou minha presença. Ele esta fazendo algo na cozinha, fora do meu campo de visão. De repente ele aparece andando de cabeça baixa e quando ergue os olhos pára abruptamente. Sinto-o a prender a respiração e piscar os olhos ao me ver e então segura melhor o copo em sua mão que quase deixa cair.

_A-Anjo?_ Solto uma gargalhada. Sei que não tenho muitos motivos para rir assim, mas não pude me conter. A cara de espanto dele foi hilária e nunca havia visto ele assim. Sempre tão destemido, misterioso, sensual. O que vejo na minha frente é um cara preocupando que acaba de se assustar com a visão da namorada perdida.

Ele nem me espera dizer nada. Coloca o copo na mesinha com rapidez extraordinária e vem me abraçar com força. É minha vez de me assustar. “Nunca mais faça isso Nora! Nunca mais”. Deus, ele me chamou de Nora!

_ Calma Pach, o que foi?_ Não tira o rosto da dobra do meu ombro. Ele adora fazer isso. _Estou bem, sei que estava me procurando, mas nada me aconteceu de ruim, eu juro.

_Sabe que podia ter acontecido algo ruim não sabe? Mais cedo ou mais tarde aqueles malditos nefilins vão espalhar o que você fez com Mão Negra e vão te caçar até os confins da Terra com um único propósito. Te destruir Nora!_ Sua voz é uma mistura de ira com medo. Essa combinação é perigosa.

Jamais considerei minha situação por esses ângulos. Chego rapidamente a conclusão de que estou mais perdida do que nunca. Não consigo dizer nada nem olhar pra ele. Se ele soubesse oque passei hoje não falaria comigo assim. Uma minúscula vontade de chorar se faz presente e eu a expulso rapidamente. “As coisas já estão ótimas demais pra eu dar uma de chorona.”

_Estava preocupado Anjo._Me da um único beijo longo como pedido de desculpas pela maneira agressiva com que falou comigo e me sinto melhor._ E você furou comigo hoje. Por onde esteve? Posso saber?_ Ele não esta fazendo essa pergunta como um marido ciumento. Ele deve estar querendo melhorar o clima. Há um toque de despreocupação em sua voz. Pergunto-me se é verdadeira.

_ Tive uma briga com Vee. Uma briga intencional. Pelo menos de minha parte. Quero me afastar dela._ Pach olha pra mim agora sério. Não preciso explicar minha atitude. Ele sabe. _ Depois ouvi um casal falando que a praia ia estar vazia e resolvi ir a Portland e dar uma espairecida. Só que acabei dormindo. Literalmente. Na verdade quase fui levada pela maré cheia. Inventei uma historia absurda pra minha mãe e ela caiu direitinho._ Dou um sorriso triste e ele me abraça.

_ Porque não me ligou?

_Sei lá, fiquei com medo que você insistisse pra eu ir pra casa. Queria vir pra cá._ Ele segura meu queixo e levanta- o delicadamente (exatamente como Elijia fez). Sinto um arrepio.

_Te dei a chave porque quero que venha pra cá quando precisar e sempre que quiser. Sabe que adoro estar com você Anjo.

_Eu sei._ Enterro a cabeça em seu peito._ Vou ter que espanar sua cama porque acho que esta cheia de areia._Digo rindo.

_ Faço isso enquanto você toma um banho. Vou pegar uma toalha.

O banheiro é tão escuro e aconchegante quanto o quarto de Pach. A ducha quente faz com que meus músculos, que até então estiveram tensos, relaxarem. Adorei usar o mesmo sabonete que Pach. Amo esse cheiro que é uma das armas de sedução que ele tem sobre mim e que nunca falha. Depois coloco a camiseta que Pach deixara pra mim. Há também um short, enorme por sinal, mas não o coloco. “Ele já me viu com roupas piores”.

_Esta com fome? _ Pergunta assim que saio do banheiro, não sem antes passar o olhar dos pés a cabeça_ Acho que não gostou do short_ Diz com um sorriso travesso.

Sorrio de volta e vamos pra cozinha. Ele prepara um chocolate quente e traz varias frutas geladinhas prometendo que fará um super café da manhã.

_Anjo? Esta bem mesmo?_Devo estar fazendo a mesma cara que fiz no restaurante quando Vee me chamou a atenção.

Vee...

_To sim. Mas to morta de sono. _digo com a voz dengosa. Estou convencendo todo mundo na lábia hoje. Mas não estou muito convencida de mim mesma. O sono começa a pesar minhas pálpebras.

_Tudo bem_ Seu sorriso me trás uma onda de tranquilidade. Ele me pega no colo como uma princesa. Estou derretida em seus braços quando ele coloca delicadamente na cama deitando atrás de mim. _Aah Anjo, acredite, vai ser difícil me concentrar no sono com você aqui. _ sussurra isso pressionado minha orelha com os lábios obviamente contendo o desejo.

_ Pois é_ Digo me virando pra ele. Ele estende a mão como travesseiro, me aconchego sentindo aquele tão conhecido cheiro de sabonete que eu adoro. Ele acaricia meus cabelos com o outro braço.

“Eu estou aqui Anjo”. Sinto uma fisgada no coração.

_Eu sei._Enterro novamente a cabeça em seu peito, agora pra esconder as lágrimas quentes nos meus olhos.

“Eu não lhe darei outra chance querida Nora. Esse é meu ultimo aviso.”