Amnésia escrita por Silvia Moura


Capítulo 8
Capítulo 8




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Loki estava sentado no sofá, tentando fazer a lembrança repentina voltar. Sua cabeça doía horrores. A água escorria de seu cabelo para suas costas e peito, e daí para o sofá, mas Silvia não se importava. Ela estava sentada ao lado dele, segurando sua mão firmemente, e ele a segurava de volta.

– Tem algo importante acontecendo, eu sei que tem. Foi tão estranho, Silvia... por um momento muito pequeno pareceu que eu lembrava de tudo, mas no instante seguinte eu não sabia de mais nada. Que droga! – ele bate a mão fechada no joelho.

– Calma. Ficar nervoso não vai adiantar, não é assim. Você está começando a lembrar, sua mente quer voltar, Loki. Se acalme. O quer que esteja acontecendo, vai ser resolvido. Nós vamos resolver isso, está bem? Juntos.

Ele pousa seus enigmáticos olhos verdes nos olhos castanhos escuros de Silvia e, exausto, se recosta no sofá com um suspiro pesado. Silvia percebe o desespero ao vê-lo fechar os olhos com uma expressão sofrida, uma expressão que não combinava em nada com o belo rosto que ele possuía. Ela passa os dedos entre os cabelos molhados de Loki, tentando acalmá-lo.

– Eu não sei por que deixei esse cabelo crescer desse jeito – ele fala, de olhos fechados, ansioso por esquecer a maldita dor de cabeça.

– Não gosta do seu cabelo?

– Não.

– Quer que eu corte, pra você?

– Poderia fazer isso?

– Se você quiser.

– Eu quero!

– Então cortarei depois do café da manhã. Aqui, vista essa bermuda que separei pra você e essa camisa – ela coloca a muda de roupas no colo dele.

– Combinado. Vou me vestir. Desculpe, eu molhei tudo aqui.

– Relaxe. Vai secar logo.

Ele se levanta, segurando a toalha na cintura e ruma para o banheiro com a muda de roupas. Instantes depois, ele está de volta e Silvia lhe aponta uma cadeira. Ela percebe que ele não faz caretas de dor quanto se move, seu ferimento estava quase todo curado. Isso a intrigava.

– Que foi? – ele percebe que ela não tira os olhos dele.

– Nada. Desculpe – ela ruboriza levemente.

– Você ficou um pouco vermelha. Não quis intimidá-la.

– Tudo bem – ela baixou o olhar.

Ele ri.

– Você cozinha muito bem – ele diz, pegando mais uma colherada do cereal com leite.

– Que bom que gostou. Eu não sabia o que fazer pra você, então fiz um pouco de tudo.

– Obrigado. Posso comer o... como é mesmo? Bacon?

– Isso. Pode sim, fique à vontade.

Ele se serve de bacon e ovos. O aroma que sobe às suas narinas o faz hesitar por uns segundos. Ele conhecia aquele cheiro. Temeroso, ele pega uma garfada. Quase que instantaneamente se sente tonto e a dor de cabeça volta. Ele geme e engole o bacon com dificuldade. Silvia se levanta e fica ao lado dele.

– De novo. Aconteceu de novo. Eu já senti esse gosto antes, eu sei. É um dos meus sabores favoritos, com certeza absoluta!

– Você está se lembrando, Loki. Está conseguindo.

– Porco assado... mel... frutas! Muitas frutas. Uvas, principalmente. Uma mesa grande, cheia dessas coisas... – ele falava, como se vizualizasse cada um dos alimentos.

– Prove essas panquecas com mel. Veja se fazem você lembrar de algo – ela põe uma garfada na boca dele e o efeito é instantâneo.

– Sim, mel, com certeza. Mas parece que eu o conhecia de maneira mais líquida... Como se fosse misturado com água, sei lá.

– Não sei dizer, não conheço nenhuma bebida assim. Mas isso é ótimo, você está conseguindo. Termine de comer, precisa se alimentar, vamos. Se sentir qualquer coisa me diga.

– Certo.

Mas não houve mais nada além dessas certezas recém-adquiridas. Comida era uma arma poderosa para fazê-lo se lembrar de tudo. Silvia o observava atentamente. Ele tinha o cenho franzido, o olhar longe, perdido numa busca interminável por suas lembranças, sua respiração era pesada. Ele passava a mão pelos cabelos, penteados para trás, desesperado. Ele tentava, tentava de novo e mais uma vez, mas quando parecia que chegaria a algum lugar, perdia o caminho e tinha que voltar do início.


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