Yabai De! escrita por Pockolli_sis


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

É aqui que finalmente podemos visualizar o objetivo que da forma à história! Afinal, do que é feita uma história senão de um objetivos e eventos aleatórios que circulam em volta dele, visando o atingir?
Desculpem-me o devaneio. 4:30 am, sabe. Achava que se não fosse escrever esse capítulo agora, não o escreveria nunca! Maria ficou muito absorta lendo Harry Potter antes da estréia do sexto filme que se esqueceu completamente! E, perdoem o jeito élfico-doméstico de falar. XDD Tive muita dificuldade para achar o erro em palavras como "séu" e entorná-las para "céu". (Ignore)
Esse capítulo ficou maior que os outros, e deveria ter ficado ainda maior! Mas eu preciso dormir, então deixo a cena que se segue para o próximo capítulo!
É muito importante, essa parte, para entender o que o Yuu é.
Have fun!



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Capítulo 3 – 

 

- Ei, Misaki-san. Quer dar uma volta na praia? Eu acompanho você até a sua casa, já tá tarde pra ficar fora.

Os dois adolescentes estavam acabando de guardar a louça usada na janta daquela noite quando o garoto fez a proposta.

- Ah, pode ser! Mas... já está tarde. – hesitou, olhando no relógio que vendo que já era mais de 10 da noite.

- Qual o problema? Eu já aproveito e te levo até em casa.

- Anh, tudo bem então... – sem graça, Eda Misaki aceitou.

Eles terminaram de arrumar a cozinha e seguiram para fora da casa. Natsurou guardou a chave cheia de guizos pendurados no bolso, e a cada passo que dava fazia barulho. Isso tirou algumas pequenas risadas da amiga.

- Você é mesmo barulhento, né Kohatsu-kun. Não conseguiria entrar em algum lugar sem ser notado mesmo se quisesse.

- E o que você quis dizer com esse “Mesmo se quisesse”, hein? – perguntou, fingindo-se ofendido.

Continuaram a caminhar até chegarem a uma estrada que margeava o começo da praia. O loiro pegou a mão da garota e sem nem ao menos perguntar nada, exclamou um “vamos!” e a puxou para pularem a pequena cerca que dividia a areia do asfalto.

Quando pararam de se movimentar estavam no meio da parte arenosa, bem perto de onde a maré alta quebrava suas ondas. O garoto soltou a mão de Misaki e olhou para o seu, um sorriso enorme.

- A lua está cheia hoje... – disse, apontando um enorme círculo prateado no céu.

- É... Realmente magnífica. Não é de se espantar que existam incontáveis lendas e mitos sobre ela. Parece tão imponente lá em cima. – a garota, que agora tinha os cabelos castanhos sendo bagunçados pela brisa marítima comentou brevemente, a voz vaga como se aquele satélite fosse algo inalcançável.

- Mitos e lendas? – Natsurou perguntou curioso, virando a cabeça para olhar Eda em seu lado esquerdo.

- É, desde coisas banais de como a lua cheia influência no nosso comportamento, como a grande incidência de crimes nessa fase, até coisas extraordinárias, como a maré alta, por exemplo.

- Tipo como, a maré alta? – confuso por pensar que a Lua influenciaria numa coisa de proporções tão enormes, indagou.

- Hm... Quando a Lua aparece, ela atrai os mares para ela... Sabe, por causa da gravidade... – ela pareceu pensar um pouco, olhando para cima – Talvez isso contribua para o equilíbrio do planeta também, não tenho certeza. Mas não é só isso. Várias culturas também relacionam a Lua e o Sol como deuses...

- Uau, Misaki-san. Você sabe tanta coisa! – impressionado, o loiro a mirava com os olhos marejados de admiração. – O que você sabe sobre as estrelas!?

- Bom... eu não sei tanta coisa assim... – encabulada, ela recolheu uma mecha da franja que voava rebelde para trás de sua orelha – Sei algumas constelações... e, que existem vários tipos de estrelas e que dependendo das suas cores são quentes ou frias... e que aquela estrela ali – disse, apontando para uma estrela aleatória no céu – pode já estar morta, mas a distância entre ela e nós é tão enorme que aquele brilho que estamos vendo demorou tanto tempo pra chegar até aqui, e é de quando ela ainda estava viva.

- Ué, estrelas morrem? – como se fosse a coisa mais absurda do mundo, ele perguntou.

- Ora, mas é lógico! Morrem e nascem a toda hora! – rindo do espanto do amigo, ela apontou mais um punhado de estrelas no céu – consegue enxergar? Aquele que parece a forma de um dragão?

- .... – espremendo os olhos, na tentativa frustrada de enxergar alguma coisa, a única relação que o menino Kohatsu encontrara naquela região entre as estrelas foi que todas brilhavam.

Notando que o amigo não conseguia encontrar sentido algum naquele céu estrelado, ela apontou para outro lado, perguntando se ele não conseguia encontrar a figura de um leão.

- Não tem nada ali! Como, um leão? – gritou, indignado.

- É lógico que tem, é só usar a imaginação.

Logo ele desistiu de procurar qualquer coisa, sua cabeça já estava começando a doer. Estava começando a achar que Misaki era um pouquinho pirada.

Estava completamente noite, mas toda a luz que recebiam da gigante e prateada lua, junto com todas as estrelas presentes, eram suficientes para iluminar os dois perfeitamente – embora com um ligeiro aspecto azulado.

Parara de observar o céu para olhar a garota ao seu lado. Reparou que ela fitava o horizonte, e não as estrelas.

- Ei, Misaki-san...

- Hn...?

E, mesmo que ele a tivesse, chamado, não disse nada. Não sabia por que, mas não conseguia pronunciar nada. Quer dizer, nunca tinha acontecido com ele; sempre tinha alguma coisa a dizer, mesmo sendo a mais inútil que poderia existir.

Olharam-se por um breve instante, até que Eda pareceu perceber o que se passava e concluiu que tinham que voltar antes que entardecesse mais. Natsurou concordou com a idéia.

Saíram sorridentes da praia, comentando sobre como já sentiam falta da escola, e o que estavam fazendo e o que aspiravam para o resto verão.

- E eu realmente não queria ficar trabalhando pra aquela psicopata da Buchou, às vezes da medo, sabe? Quando ela grita. – um arrepio percorreu-lhe a espinha ao comentar de sua chefe.

- Mas por que Kohatsu-kun trabalha lá então? – uma expressão preocupada invadiu o rosto de Misaki.

- Ah, é uma longa história... digamos que eu devo algumas coisas pra ela. Quer dizer, você me conhece, sabe como eu era quando era menor... – explicou, sem graça, com uma gota surgindo da cabeça.

Já estavam em frente a casa dos Eda, uma casa em tons cremes e tijolinhos acinzentado, com um simpático mini-jardim em frente. Imaginava que aquelas arvorezinhas poderiam ser mais verdes quando iluminadas pelo sol.

- Então... Boa noite, Kohatsu-kun. – postando-se a frente da porta da casa, a garota sorriu e fez uma pequena curvatura.

- Ah, é. Esqueci de dizer, mas... “Kohatsu-kun” é muito formal – o menino reclamou. – pode me chamar pelo nome. – completou, com um sorriso de orelha a orelha.

- Hn.. Então.. Boa noite, Na..Natsurou-kun... Obrigada pelo jantar e... Por me trazer até em casa...

Nem percebendo que ela parecia no mínimo envergonhada, e talvez corada – não se sabia, apenas à luz do luar – ele respondeu, tomando a liberdade por chamá-la de outro modo:

- Que é isso, Misaki-chan. Obrigada você pelo jantar, você que salvou minha vida!

- Então... Vejo o Koha-... erm, Natsurou-kun amanhã na Kudamono-ya(1)? – esperançosa, ela perguntou antes de se virar para entrar em casa.

- É lógico! Se eu faltar um dia, é capaz daquela doida ir me procurar em casa só pra me castigar! – disse, fazendo menção de que iria ser decapitado.

Ao dizer isso, acenou brevemente e saiu andando pela rua deserta, satisfeito consigo mesmo. Fizera uma noite agradável, e não sabia se fora por causa da presença da amiga ou se era pela constante brisa salgada que vinha do mar e do céu encharcado de estrelas.

Chegou em casa, e após constatar que sua mãe já chegara e que não teria de enfrentar um sermão por estar fora tão tarde da noite porque ela já pegara no sono no sofá mesmo, ele se aconchegou em sua própria cama e mergulhou num sono quase instantâneo.

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Uma dor de cabeça o assolava. Arrependia-se de ter adormecido no chão porque seu corpo todo doía.

Acordado há quase duas horas, estava sem vontade alguma de se levantar. Tateou o chão frio de tatami(2) a procura de seu celular. Na verdade arrastara-se o chão inteiro do quarto para tatear, sem a mínima vontade de se levantar. Encontrou o aparelho azul-turquesa em cima de sua cama, que por ventura decidira explorar apenas com a mão direita.

Abriu o celular e se deparou com uma enorme tela amarela. E não foi o relógio enorme em letras negritadas apontando que já era mais de 10 da manhã que lhe chamou atenção. Mas foi justamente aquele amarelo-canário que invadia sua visão e quase a cegava, desacostumada com a luz do protetor de tela que escolhera para seu mobile.

Amarelo... Loiro... Garoto insuportável que trabalhava em um lugar que vendia FRUTAS.

Levantou em um salto, satisfeito com o que o seu cérebro de designer acabara de aprontar. Mas é claro! Era só arranjar um jeito de convencer aquele nativo oxigenado passar várias horas trabalhando ao seu lado. O garoto devia ser uma enciclopédia ambulante sobre frutas, e ia lhe servir como um ‘Google’ portátil enquanto estivesse sem computador! E ainda por cima poderia ser a cobaia!

A única coisa que preocupava Yuu era que aquele menino podia vir a ser muito irritante se viesse novamente com aquela história de “ladrão de uvinhas”. Mas talvez pudesse dar um jeito nisso. Talvez, com algum molde...

Sempre conseguia o que queria então isso não iria ser problema.

Levantou-se em um salto só e correu para o armário, e enquanto se vestia ocorriam-lhe várias idéias úteis. Quando vestia uma calça jeans acinzentada que lhe colava perfeitamente ao corpo, pensou o quanto o moleque gostava do seu avô. Enquanto se enrolava – em seu pescoço, logicamente - em uma pequena echarpe xadrez, lembrou de que ele aparentava ser hiperativo, e que pessoas assim geralmente eram prestativas. Escovava os dentes em seu banheiro particular quando lhe passou pela cabeça que ele era mais um habitante local para se relacionar e fingir para o avô que estava se dando bem com as pessoas.

Saiu quase se esquecendo de calçar os sapatos na entrada, e ignorando completamente as perguntas do avô para onde iria.

Entrou no sei kei car(3) que alugara para sua estadia em Okinawa, e desceu até a praia. Não levou nem 3 minutos para completar o percurso – ignorando o fato de que se alguém estivesse no banco do passageiro já teria tido um ataque cardíaco – e estacionou em frente à Kudamono-ya, há esta hora com algumas oba-chans entrando e saindo.

Fechou o carro com o alarme escandaloso – que assustara algumas das distraídas senhoras que passavam – e entrou sorrateiro da loja.

Encontrou uma moça que aparentava estar no auge da segunda década de sua vida. Tinha cabelos roxos, um pouco longos na frente e arrepiados atrás. Atendia as clientes com um enorme sorriso no rosto, como se conhecesse cada uma pelo nome.

Hanashiro Yuu aproximou-se no balcão, e quando teve a oportunidade, começou a conversar como se não quisesse nada com a moça dos cabelos roxos.

- Yo. – cumprimentou-a.

- Ah, oi...

Foi como se aquela mesma mulher que tivesse ameaçado Kohatsu Natsurou na véspera não existisse. Agora o seu rosto estava iluminado, mostrando uma moça feliz e alheia ao mal do mundo. Quer dizer, era a beleza dos Hanashiro que a estava ofuscando. Mesmo seu avô, velho caduco, já havia sido o mais belos dos jovens de Okinawa-jima, vagando pelo Japão a procura de moças para galantear.

- Eu estava passando aqui em frente, e não pude deixar de reparar no ofuscante púrpura do seu cabelo. Parece que ele me chamou, sabe?

- Ah, é mesmo...? – totalmente corada, Arashi-Buchou enrolava uma das grandes mechas que adornavam suas bochechas com o dedo indicador. Com certeza estava cega com aquela visão, aquele sonho de homem de cabelos chocolate, e olhos hipnotizadoramente verdes lhe dando atenção, e elogiando seus cabelos.

- É, como não... E, agora, observando bem, esse seus olhos castanhos lhe caem muito bem. – continuou Yuu. Estava satisfeito, e rindo por dentro. É lógico que por fora continuava a exibir um sorriso digno de um príncipe. – Estava pensando se a senhorita não gostaria de algum dia ir ao aquário comigo? Eu estou de passagem pela ilha, e procurava alguém pra me fazer companhia... aceita?

Quase não conseguia responder.

- Ah, eu adoraria...! – respondeu, abobalhada, após alguns segundos de retardamento.

- Oh, e me desculpe pela grosseria! Esqueci de me apresentar! – disse, fazendo cara de quem se esquecera de desligar o gás do fogão em casa antes de sair – Hanashiro Yuu, muito prazer. – Apresentou-se, curvando-se um tantinho, ainda encostado no balcão, e sem desfazer o contato visual.

- Higa Arashi, o prazer é todo meu – falou, e pareceu toda encantada quando ele ergueu sua mão e beijou suas costas levemente. Em sua opinião, sentir o toque dos lábios daquele pedaço de mal caminho em sua pele levou-a ao paraíso por um segundo. Quase esqueceu de que ele continuava em pé, a sua frente.

E como se novamente não quisesse nada, perguntou brevemente:

- Hm.. outro dia eu vim aqui, e tinha um garoto de pele bem morena, com os cabelos todos loiros. – um infelicidade não te encontrar logo da primeira vez que vim aqui, não é? - você tem idéia de onde ele poderia estar?

- Ah... Natsurou? – a mulher mudou o tom de voz ao citar tal nome. Parecia desanimada que o assunto chegara àquele menino.

- Hm, acho que sim. Ele trabalha aqui com você?

- Não, não – negou com veemência aquela possibilidade – ele trabalha PARA mim. Ele me deve alguns favores, aquele moleque.

- Oh, sério...? É que... então, como seu pupilo, imagino que ele seria muito útil para mim. Estou em um trabalho, e preciso de alguma ajuda. Será que você se importaria se eu o pegasse emprestado por esse verão? – sem pestanejar, Yuu fora direto ao ponto. Vendo que a mulher estava completamente aos seus pés, não existia necessidade de mais enrolação. Pelo tom de voz que ela usara ao falar o nome dele, imaginava que fosse um fardo, que ela o tinha nas palmas da mão também.

Parecia que ela estava escaneando bem a situação. Continuar com Natsurou trabalhando como um escravo para ela ou perdoá-lo de suas dívidas e deixá-lo ir por um homem magnífico daqueles, qual seria?

Decidiu que ficaria com o homem.

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Notas finais do capítulo

Glossário:
1. Kudamono-Ya: literalmente, loja de frutas. É o nome da quitanda.
2. Tatami: Aquele chão lá que os japones colocam. Parecem tábuas.
3. Kei Car: Carros usados popularmente no Japão por ocuparem pouco espaço e por seus impostos serem baixos.

Obrigada por lerem! x3
Maria



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