Lost Memory escrita por Dri Viana


Capítulo 7
Chapter Seven




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A expressão de choque que Sara viu estampada no rosto de cada um de seus amigos foi evidente e não podia ser diferente diante da gravidade da situação. Por longos segundos, a sala foi tomada por um silêncio que acabou por fim sendo quebrado por Catherine.

 

— Como isso aconteceu Sara?

 

A voz da loira saiu embargada ao se dirigir a esposa do amigo.

Da mesma forma que explicou logo mais cedo a Ecklie no laboratório, Sara fez agora com os amigos. Ela detalhou exatamente como se sucedeu a perda de memória de Grissom. Conforme ia explicando o que até agora para ela era um fato ainda inexplicável, Sara podia ver a consternação dos amigos de longa data ao saberem do ocorrido. Todos sem exceção demonstravam profunda tristeza e estarrecimento com o fato contado pela ex-colega de trabalho. Também pudera, quem não ficaria assim com uma notícia dessas?

Após acabar de relatar o que houve, a esposa de Grissom se calou esperando para ouvir o que seus amigos tinham a dizer sobre tal acontecimento. E outra vez foi Catherine quem tomou a dianteira e se pronunciou.

— Meus Deus, Sara! Como uma coisa dessas acontece tão repentinamente assim?

Tanto ela quanto os demais estavam meio sem acreditar que aquilo fosse possível.

— Eu lembro de que anteontem durante o turno, o Gil parecia tão bem, não é pessoal?

A loira encarou aos outros companheiros de trabalho, que assentiram confirmando o que ela acabava de dizer.

— Ele também estava bem quando chegou em casa, Cath. Conversou comigo sobre o caso que vocês trabalharam. Ele, as crianças e eu jantamos todos juntos e durante a refeição Gil nos disse que tinha conseguido arranjar suas férias pra daqui a cinco dias. Estava tudo perfeito!... Aí, quando foi de manhã... Ele já acordou não se lembrando de nada!... E é como se um pesadelo tivesse se instaurado na minha casa, na minha família.

Ela fez uma longa pausa para respirar e os outros que só ouviam o relato dela calados, se compadeceram da dor de sua amiga e do drama ocorrido com o chefe deles.

— Eu olho nos olhos do Gil e só vejo o vazio!... Não há um resquício daquele amor que ele demonstrava sentir por mim e por nossos filhos. Isso me dói tanto, vocês não fazem idéia.

Foi difícil para todos naquela sala não irem às lágrimas. Greg que estava ao lado de Sara vendo sua amiga tão vulnerável e com lágrimas caindo pelo rosto, não pensou duas vezes e lhe abraçou na tentativa de confortá-la e lhe passar força e acalmá-la também. Enquanto os outros se olhavam tristes, cabisbaixos e também com lágrimas nos olhos pela situação que se formava.

Quem imaginaria que uma coisa dessas fosse possível de acontecer. Uma pessoa vai dormir bem e acorda sem lembrar nada da sua vida? Estranho. Muito estranho!

Depois de uns instantes e com Sara mais calma, Jim quis saber da esposa do amigo como estava sendo o comportamento dele em casa com ela e os filhos.

— Distante. Frio. Ele desce só quando eu o chamo pra fazer as refeições, Jim. Depois disso, ele sobe para o quarto de hóspedes e passa o tempo todo enclausurado lá.

Todos se entreolharam achando estranho o fato de Grissom estar ficando no quarto de hóspedes, porém ninguém ousou questionar a esse respeito.

— Fora isso, ele está bem fisicamente?

— Sim, Warrick.

— Tem que levá-lo a um médico, Sara, pra saber o por quê aconteceu isso com o Grissom.

— Eu sei, Nick. Só não sei qual médico procurar ainda.

Tudo estava ainda tão recente, que ela sequer tinha parado para pensar qual médico poderia ajudar ou quem sabe até, explicar isso que aconteceu com seu marido, se caso houvesse uma explicação plausível para tal acontecimento.

— Cath, você podia falar com o Robbins. Ele é médico e também amigo do Gil. Com certeza, deve ter ótimos amigos também médicos, que possa indicar pra Sara levar o Gil.

— Claro, Jim. Vou falar hoje mesmo com ele, pode deixar.

O capitão se levantou de onde estava e foi até Sara se agachando em frente a ela, depois segurou suas mãos.

— Nós vamos ajudar você com esse velho marujo, viu? Não se preocupe que não está sozinha nisso querida, não é pessoal?

— Com certeza, Jim! Vai dar tudo certo, Sarinha, vai ver!

Greg foi o primeiro a se pronunciar enquanto passava o braço por sobre o ombro da amiga para lhe beijar o rosto, fazendo Sara dar um sorriso tímido por seu carinho e as palavras de apoio.

— Greg tem razão. E como Jim acabou de dizer estamos aqui com você, Sara.

Nick foi outro que na mesma hora demonstrou apoio a amiga enquanto apertava de forma fraca a mão de Sara.

— No que for preciso, Sara, você pode contar conosco.

Agora era a vez de Warrick reforçar as palavras ditas pelos outros.

— Grissom sempre disse que somos mais que uma equipe, que somos uma família. E agora é hora dessa família ajudá-lo como tantas vezes ele já nos ajudou antes.

Por fim foi Catherine quem se juntou aos outros com esse seu discurso de apoio.

Emocionada com aquelas demonstrações de apoio, amizade e carinho dos amigos, Sara os agradeceu pelas palavras de conforto. 

Por mais uma hora o grupo ainda permaneceu na casa de Sara conversando com ela, que ainda revelou a eles sobre a reação dos filhos quando souberam do ocorrido com o pai e também como eles estavam tentando lidar com essa nova situação de Grissom.

Em meio a conversa alguém levantou a questão de como ficariam as coisas no laboratório e até na vida do supervisor daqui para frente. E em como todos eles poderiam ajudá-lo a tentar se lembrar das coisas. Por hora ninguém ainda sabia ao certo a resposta, mas todos concordaram que iam ajudar da melhor que fosse!

Depois de um tempo antes de irem, eles pediram a Sara se ela não podia chamar Grissom para vim vê-lo. Havia a esperança neles de quem sabe, numa remota possibilidade, haver um lampejo de lembrança e Grissom se lembrar de algum deles. Sara achou pouco provável que seu marido lembrasse de um deles, posto que já havia lhe mostrado fotos deles, e na ocasião Grissom não se lembrou de nenhum dos amigos. Mas vai que ao vê-los "ao vivo", ele não recorde de algo. Era uma esperança e não custava nada tentar.

A mulher subiu para ir chamar o marido, porém ao entrar no quarto de hóspedes encontrou Gil dormindo. Tal fato chamou a atenção de Sara, pois ela percebeu que desde quando acordou desmemoriado, Grissom  vinha dormindo bem mais do que antes.

Será que isso tinha alguma coisa relação com seu atual estado? Perguntaria ao médico assim que fosse a um com o marido.

Saindo do quarto, Sara retornou à sala onde seus amigos aguardavam por ela e Grissom.

— Ele esta dormindo, gente.

— Poxa que pena! Queria vê-lo!

— Todos nós queríamos, Cath. Mas oportunidades não faltarão.

— Eu sei, Warrick.

— Bem, pessoal acho melhor nós irmos, porque daqui a pouco começa o turno de vocês e o meu também.

Jim se pronunciou pondo-se de pé. Os demais o imitaram. Greg, Nick e Warrick deram cada um, um abraço em Sara e lhe disseram novas palavras de apoio e força. Logo após o trio foi a vez de Jim:

— Tente ficar calma. Sei que é difícil, mas tente manter-se calma. E tenha fé que tudo vai se resolver o mais rápido possível. Vai ver como logo o cabeça dura do seu marido recupera a memória.

O capitão e Sara trocaram um abraço demorado.

— Obrigada, Jim!

Ela lhe agradeceu assim que desfizeram o abraço.

Catherine também deu um abraço e lhe sussurrou:

— Força, minha amiga. Qualquer coisa me liga que venho na mesma hora. E não se preocupe que hoje mesmo falo com o Al e amanhã de manhã, quando sair do laboratório trago o nome do médico pra você, está bem?

— Sim, Cath! Obrigada!

Assim que seus amigos se foram, Sara fechou a porta e encostou-se à ela fechando os olhos. Ouvir todas aquelas palavras de conforto dos amigos lhe deu uma carga de força extra, além de lhe fazer ver o quão bem quistos seu marido e ela eram pelos amigos e o quanto podia contar com cada um dos velhos companheiros de trabalho.

Sentiu como se um peso tivesse saído de cima de seus ombros ao dividir aquela situação toda com o pessoal. Ela e Grissom eram pessoas sortudas por terem amigos tão especiais, verdadeiros e prestativos quanto àqueles cinco que haviam saído de sua casa.

 

......

Shirley já havia ido e os quatro moradores da casa jantavam no mais absoluto silêncio e isso já incomodava. Então para quebrar aquele silêncio, Sara resolveu comentar com o marido sobre as visitas que recebeu mais cedo em casa.

— Gil, os nossos amigos que trabalham com você no laboratório estiveram aqui mais cedo. Eles queriam ter te visto, só que você estava dormindo e não tive coragem de chamá-lo.

Ele não fez qualquer comentário a respeito e Sara pode ver o pouco caso que Grissom fez daquela informação que ela lhe deu. Resolveu ignorar isso e não chamar a atenção dele, pois os filhos estavam a mesa também.

— Eu contei ao pessoal sobre o que aconteceu com você.

— Por que fez isso?

Grissom a encarou com uma expressão séria, pois não tinha gostado nada dela ter contado aos "outros" sobre seu estado.

— Eles mereciam saber. Além de seus amigos trabalham com você no laboratório. Iam achar estranho que de uma hora para a outra você deixou de ir ao trabalho, sendo que suas férias seriam só daqui a cinco dias.

Ela explicou com paciência.

— Só que eu não quero que ninguém saiba o que me aconteceu. Não quero que fiquem me olhando com cara de pena. Pensando: "olha lá... pobre desmemoriado!"

O tom debochado com o qual ele falou, fez Sara lançar um olhar para os filhos que prestavam atenção na conversa dos pais. Para não falar besteira na frente deles, ela perguntou se os dois já tinham terminado. Ao ter a confirmação deles, Sara então pediu a Jully que subisse com Matt e ambos fossem escovar os dentes e ficassem em seus quartos, que ela já ia lá com eles.

Não querendo ficar sozinho no seu quarto, pois estava com medo, Matt pediu a mãe se podia ficar no quarto de Jully. Sara consentiu e assim os dois irmãos saíram da cozinha deixando os pais a sós.

O olhar de Sara se fixou em Grissom de uma forma que até então ele não tinha visto. Ela parecia com raiva.

E estava mesmo!

— De onde tirou que todos sentem pena desse seu estado Grissom? Por acaso demonstramos isso em algum momento?

Mais do que nunca sua raiva ficou aparente para o marido. E ela estava com total razão de sentir raiva. Grissom encasquetou com isso de pena.

Estupefato com aquela reação raivosa da esposa, Grissom apenas murmurou um "não" de cabeça baixa.

— Então pode me explicar o por quê diabos acha isso?

— Vocês me tratam cheio de dedos e me olham com pesar.

— Você está imaginando coisas!... Te tratamos muito bem, ao contrário, de você que nos ignora e vive preso só naquele bendito quarto.

Aquele distanciamento que ele vinha tendo da família machucava Sara. Se Grissom continuasse com aquele comportamento ficava difícil de ajudá-lo, já que ele não dava abertura de aproximação para a família.

— Você não interage conosco e nem conversa com seus filhos. Matt sente sua falta assim como Jully e eu.

Ela se levantou da cadeira e comunicou que havia perdido o apetite. Desse modo, começou a recolher as louças do jantar para lavar e guardar.

Grissom ficou em silêncio observando-a. Sabia que a tinha irritado, pois era bem evidente isso. Porém não era esta sua intenção.

— Quer que eu te ajude?

Ele se disponibilizou após ficar um par de segundos em silêncio e ver a esposa começar a lavar a louça.

— Não precisa. Pode voltar lá para o mausoléu do seu quarto, Gilbert. Não é lá que você se sente melhor, longe de nós. Então vá pra lá.

— Não é isso. Me desculpe, olha...

— Chega de desculpas, Grissom!

Mais irritada ainda Sara virou-se para olhar para o marido.

— Eu não aguento mais toda hora você me pedindo desculpa por isso, por aquilo. Chega!... Vai para o seu quarto e me deixe sozinha, por favor!

Ela pediu lutando para não chorar, algo que vinha fazendo bastante desde ontem, quando esse pesadelo de amnésia começou.

— Tudo bem, eu já vou. Não queria te aborrecer.

Sentindo-se a pior pessoa por estar fazendo mal a alguém que só queria  lhe ajudar, Grissom que já havia terminado sua refeição, levantou da cadeira e foi embora da cozinha deixando Sara sozinha ali.

A mulher caminhou até a cadeira antes ocupada pelo marido e sentou-se nela. Segurou as lágrimas para não chorar mais outra vez.

Por mais esforço e paciência que tivesse, às vezes era difícil não deixar vir a raiva de ver que Grissom parecia não estar nem aí para ela e os filhos. E com isso, ela acabou perdendo as estribeiras.

Antes de ser mãe, Sara era mais propensa a perder as estribeiras com mais facilidade e pior ainda do que foi agora. Mas depois da maternidade isso mudou. Os filhos lhe deram mais controle e paciência nos seus ímpetos. Contudo, aquele problema do marido veio para lhe tirar um pouco dos eixos e testar seus ânimos.

Entrando em seu quarto e se acomodando a ponta da cama, Grissom se pôs a pensar em cada coisa que Sara tinha acabado de despejar em cima dele. Era notória a frustração e raiva da parte de sua esposa por conta dele vir agindo distante assim com ela e os filhos. Não era sua culpa se ele não conseguia agir diferente com a família. Eles simplesmente eram desconhecidos para ele e assim, não sabia como se aproximar, como falar ou como agir com eles. Se sentia um estranho ali com aquela mulher e aquelas crianças! Mesmo que digam que aquela é sua família, para Grissom, a esposa e os filhos são meros ESTRANHOS. Mas pombas, eles não são!... Eles são sua FAMÍLIA!

Após acabar de arrumar a cozinha, porque não gostava de deixar tudo sujo para quando Shirley chegasse de manhã para trabalhar, Sara subiu ao quarto de Jully. Ficou um longo período na companhia dos filhos.

Assim que Matt dormiu no quarto da irmã, Sara o levou para o quarto do pequeno. Deu um beijo em sua testa e saiu do quarto. Retornou ao quarto da filha mais velha apenas para lhe dar boa noite e seguiu para seu próprio quarto. Tomou um banho relaxante, se enxugou e vestiu sua camisola. A peça era a que Grissom mais adorava ver nela.

“Adoro quando você veste essa camisola. Ela te deixa ainda mais linda e sexy do que já é, querida.”

Quase sempre após ele dizer isso, eles acabavam fazendo amor.

Sara se deitou na cama e suspirou ao recordar de tal fato. Por enquanto só teria lembranças de momentos como esses com Grissom.

Se questionou até onde aquela situação iria. Quantas noites mais teria que dormir sozinha naquela cama enorme, que tinha o cheiro impregnado do seu amado (desmemoriado) marido?


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Notas finais do capítulo

BjS e Ate !!