Lost Memory escrita por Dri Viana


Capítulo 5
Chapter Five




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/305884/chapter/5

Pela primeira vez naquele dia, ela conseguiu esboçar um sorriso ao ter ouvir aquelas palavras do marido. Podia sentir a verdade implícita nelas e isso era bom. Ouvir de Grissom que ele ainda acredita e confia nela, mesmo não se recordando da esposa, já era um começo pra mulher.

Aquele pouco tempo em que estavam vivenciando aquela situação foi o bastante para ela ter mais certeza ainda do quanto amava Grissom e que por esse amor iria até o fim do mundo para ajudar seu amado a superar isso que estava passando. E se por algum motivo, esse problema dele não tivesse como ser revertido e ele ficasse sem suas lembranças para sempre, ela não o deixaria, ficaria a seu lado e lutaria para reconquistar o amor dele de novo.

 

****

— Comam meus amores!

Sara pediu aos filhos vendo que eles não haviam tocado em nada da comida em seus pratos.

Estavam apenas os três a mesa, pois Grissom ficou no quarto e não quis sair de lá para almoçar. O homem alegou que não tinha fome, mas a verdade é que ele tinha medo de sair do cômodo onde estava.

— Eu estou sem fome mãe.

Jully fez uma careta e empurrou o prato de comida.

— Eu também estou, mamãe!

O pequeno Matt imitou a irmã mais velha.

— Não podem ficar sem comer nada, vai fazer mal a vocês. Comam só um pouquinho, por favor. Estou pedindo pra vocês!

A mulher empurrou o prato de volta para os dois filhos.

Jully e Matt se entreolharam para em seguida atenderam ao pedido da mãe e devagar foram comendo a refeição posta em seus pratos.

O silêncio na mesa era enorme e só era quebrado vez outra pelo som dos talheres, quando batiam nos pratos.

Aquela, sem dúvida, foi a primeira vez que durante uma refeição na casa Grissom nenhuma palavra foi proferida enquanto estavam a mesa.

Enquanto Sara e os filhos estavam almoçando, Grissom havia se enclausurado no quarto dele e de Sara.

Sentado no chão do quarto com as costas apoiadas a lateral da cama e tendo a sua frente um chão repleto de fotos espalhadas, Grissom tentava em vão achar algo que o levasse a lembrar de alguma coisa, a mínima que fosse.

De maneira cuidadosa, o homem pôs-se a olhar de novo todas as fotografias que havia tirado dos álbuns, que se encontravam dentro da caixa que Sara havia lhe mostrado logo mais cedo.

Foi com calma que ele reviu as fotos de seu casamento onde se via claramente a felicidade estampada em seu rosto e no de Sara. Depois viu fotos das duas vezes em que a esposa ficou grávida. Vieram então fotos do nascimento dos filhos e também do crescimento deles. Férias. Passeios. Viagens. Festas em família. Com os amigos. Outras dele só com Sara ou só com os filhos. E muitas tantas mais. Sentia uma dor dentro de si ao ver que tudo, absolutamente tudo aquilo, todos aqueles momentos felizes e todos aqueles rostos ali eternizados em fotos, haviam sido apagados de sua cabeça.

Seus olhos cor de mar se fecharam e aquela vontade de deixar cair as lágrimas que tanto segurava, veio com uma força descomunal que foi inevitável continuar segurando-as mais. E outra vez, ele chorou naquele dia e naquele quarto. Chorou por tudo que havia perdido com aquela maldita amnésia repentina; chorou por medo de ficar assim para sempre; chorou pela tristeza que estava causando a seus filhos e a sua esposa ao não lembrar - se deles; chorou de raiva, desespero, angústia; chorou até conseguir colocar para fora toda aquela dor que sentia dentro de seu peito; chorou por longos e intermináveis minutos; chorou feito um garoto assustado que tem medo do monstro malvado que vem lhe assombrar de madrugada; chorou e chorou...

 

****

— Mãe como vão ser as coisas agora com o pai assim?

Jully enxugava as louças do almoço enquanto Sara as lavava. Só estavam as duas na cozinha já que Matt se encontrava na sala vendo TV como a mãe havia pedido que ele fizesse, para tentar distraí-lo um pouco.

Sara ficou calada por uns segundos após a pergunta que a filha havia lhe feito, mas depois respondeu sinceramente.

— Eu não sei, Jully!

A mulher suspirou com pesar e tristeza.

— O que está acontecendo é tão inacreditável que ainda não sei como vai ser agora, filha.

— Eu ainda não consigo entender como o pai vai dormir e acordar desmemoriado desse jeito?

— Nem eu, filha!

Aquilo realmente estava difícil de entender, por mais que houvesse uma explicação lógica.

— E o trabalho dele como vai ficar?

— Daqui a pouco vou ligar para o laboratório para avisar que ele não vai trabalhar hoje. E amanhã, vou lá explicar ao chefe do seu pai a situação em que ele se encontra e pedir que antecipem as férias dele esperando que essa amnésia se cure antes que as férias terminem.

— Vai avisar a madrinha?

Catherine assim como os demais também precisavam ser informados daquilo que houve. E Sara tinha quase certeza de que o pessoal ia levar um susto tão grande quanto ela com o que ocorreu com Grissom.

— Depois que ligar para o laboratório ligo pra Catherine. Mas não pretendo contar nada ainda. Acho mais prudente pedir que ela e os outros venham aqui amanhã à tarde e aí, conto o que está acontecendo. Uma coisa dessas não se fala por telefone.

As duas acabaram o que faziam e Sara pediu à filha que fosse a sala dar uma olhada no irmão, enquanto ela ia só acabar de arrumar umas coisas ali e depois se juntaria à eles. A garota então foi à sala e encontrou seu irmãozinho sentado no sofá segurando uma nave espacial, que o pai havia lhe dado no último Natal. A carinha de Matt era triste e ele mal prestava atenção em seu desenho preferido que passava na TV.

Jully devagar se aproximou e sentou-se ao lado do garotinho.

— Ei, não fica assim!

Ela passou a mão pelos cabelinhos finos e encaracolados dele, atraindo a atenção de Matt.

— Jully o papai vai ficar sem lembrar da gente pra sempre?

Sua pergunta saiu em um fio de voz que deu dó de ouvir. Se para ela que era uma adolescente e entendia mais a situação, já estava sendo complicado aquilo, imagina para o seu irmão que era apenas uma criança.

— Claro que não, astronauta! Vai ver como logo, logo, o pai vai lembrar da gente. Mas temos que ajudá-lo como a mamãe disse lá no quarto tá legal?

Ele apenas assentiu em resposta.

— Agora vem cá!

A adolescente o chamou para que ele se sentasse em seu colo e ele veio feito um gatinho manhoso. Os dois irmãos apesar da diferença de idade se davam muito bem e dificilmente brigavam ou ficavam implicando um com o outro.

Jully por ser a mais velha tinha um cuidado e carinho enorme pelo irmão caçula e vice-versa. Essa relação harmoniosa deles era motivo de orgulho para os pais, pois geralmente irmãos com a diferença de idade que eles tinham, tendiam na maioria das vezes, a viver brigando e se estranhando, o que  não acontecia com os irmãos Grissom.

— Não fica triste, tá? Ele vai lembrar da mamãe, de mim e de você, o astronauta dele!

Da porta da cozinha Sara observava à cena dos dois filhos com olhos cheios de água. Se não fosse aqueles dois ali para lhe manter firme diante do que houve, ela provavelmente já teria se desesperado muito mais do que tinha acontecido. Por eles estava tentando se manter lúcida e forte.

Algumas horas mais tarde Sara ligou para o laboratório a fim de falar com Ecklei, o diretor do laboratório onde seu marido trabalha. Assim que a ligação foi transferida para a sala do homem, a morena lhe avisou que Grissom não iria trabalhar naquela noite, porque motivos de saúde. Conrad quis saber mais detalhes sobre isso, mas Sara achou por bem não contar por telefone. Ela disse que amanhã iria ao laboratório para conversar com Ecklei e lhe contar pessoalmente qual era o problema de saúde que Grissom tinha, já que era algo um pouco delicado de se contar por telefone. O homem ficou intrigado com aquilo e afirmou que a esperaria amanhã. Após isso, eles se despediram e desligaram.

 

****

Faltavam poucos minutos para o turno começar e na sala de descanso Nick, Greg e Warrick esperavam por Grissom e Catherine que estranhamente não haviam dado as caras por ali. Alguns instantes mais de espera, e o trio viu a loira aparecer na sala com uma expressão nada boa.

— Cath que cara é essa?

— Ai, Nick, aconteceu alguma coisa séria com o Grissom.

— Por que acha isso loira?

— Ecklie me disse que Grissom não vem hoje por motivos de saúde. E quando vinha pra cá, Sara me ligou muita estranha pedindo pra amanhã a tarde todos nós incluindo o Jim, irmos à casa dela, porque ela quer conversar conosco sobre o Grissom. Eu pedi pra ela adiantar algo dessa conversa, mas ela não quis. Alegou que por telefone não contaria nada. Isso não é estranho?

Os três se olharam e concordaram com a loira.

— Será que o Grissom sofreu algum acidente?

Greg supôs.

— Não, isso não foi. Porque perguntei a ela pelo Grissom e ela me disse que ele estava no quarto deles.

— Bom, então o que deve ser?

— Pelo tom de voz que a Sara estava no telefone é algo sério, muito sério, Warrick!

Um silêncio se fez entre os peritos, cada um tentava supor em pensamento o que teria acontecido com o chefe, mas as suposições não chegavam nem perto do que realmente havia acontecido. Após o breve instante de silêncio, Catherine dividiu os casos da noite e cada um foi trabalhar sem deixar de pensar no que Sara queria conversar com eles.

Na casa Grissom as risadas outrora tão comuns ali, foram substituídas pelo silêncio quase sepulcral. Já passava um pouco das nove da noite e Grissom continuava sem sair do quarto, havia passado o dia inteiro ali. Enquanto isso, Sara colocava Matt pra dormir, pois já tinha passado da hora do menino ir dormir e amanhã ele tinha de ir à escolhinha. Como o menino era muito manhoso para acordar, sempre dormia cedo pra acordar cedo, mas hoje com aquela confusão de Grissom, ele havia passado do horário de dormir.

— Mamãe, você fica aqui até eu dormir?

O pequeno pediu se ajeitando na cama agarrado ao seu travesseiro que carregava pequenos desenhos de lua, enquanto Sara ajeitava as cobertas em cima do menino. Ao ouvir o pedido do filho, ela o olhou e viu que seus olhinhos azuis estavam tão tristes que sentiu um aperto no peito de vê-los assim. Acabou de cobrir Matt e sentou-se ao seu lado, e acariciou seu rostinho.

— Vou ficar aqui, está bem?

Ele concordou, balançando a cabeça de maneira positiva.

— Agora feche os olhinhos e durma, meu amor!

Assim ele fez e instantes depois já dormia profundamente. Sara lhe deu um beijo na testa e antes de sair do quarto desligou a luz e acendeu a luminária com desenhos de estrelas, pra que seu quarto não ficasse totalmente no escuro, pois o pequeno tinha medo de dormir no escuro.

Depois de sair do cômodo  de Matt, a mãe resolveu dar uma passada no quarto da filha.  Encontrou a adolescente sentada na cama pensativa e com um olhar distante numa expressão idêntica a que Grissom várias vezes ficava. Jully estava tão compenetrada no que pensava, que nem viu a mãe entrar, só percebeu sua presença ali quando ela chamou seu nome.

— Te assustei?

— Não!

— No que estava pensando?

Ela sentou-se ao lado da filha na cama.

A garota a olhou e depois desviou o olhar da mãe.

— No papai.

Jully respondeu, baixando um pouco a cabeça.

— Tenho...

A adolescente parou de falar. Suas mãos mexiam nervosas.

Sara podia ver a dificuldade da filha em falar. Apesar de se parecer fisicamente muito com a mãe, Jully havia herdado totalmente a personalidade de Grissom e também sua dificuldade em se expressar com palavras.

Após um respiro fundo, a garota completou sua fala.

— ...Tenho medo que ele fique assim pra sempre!

Ela lhou para a mãe, que se mantinha calada para deixar a filha pôr para fora o que sentia.

— Eu disse ao Matt que o pai ia lembrar da gente, mas tenho medo que isso não aconteça, mãe.

Sara colocou um travesseiro em sua perna e fez sinal pra que a filha deitasse a cabeça ali. E enquanto começava a acariciar os cabelos castanhos da filha, Sara começou a falar com ela.

— Confesso a você que também tenho esse mesmo medo, filha. Só que temos que pensar positivo. Seu pai vai lembrar, vai ver! Não tenha medo está bem?

— Tá!

A garota respondeu de olhos fechados.

Por minutos que Sara não soube precisar quantos, ela ficou ali acariciando os cabelos da filha. A garota acabou dormindo com o carinho feito pela mãe. Devagar pra não acordar Jully, Sara se levantou e cobriu a filha, beijou sua testa para depois sair do quarto da adolescente, porém permaneceu escorada a porta do cômodo da garota até criar coragem de ir para seu próprio quarto.

Longos minutos depois, a mulher já se dirigia ao seu cômodo. Entrou com cuidado nele, pois estava escuro. Ligou a luz e acabou encontrando Grissom deitado na cama dormindo serenamente. Aproximou-se dele e viu um papel sob sua mão direita, que repousava sobre o peito. Bem devagar conseguiu tirar o papel do marido sem acordá-lo e pode ver o que ele segurava. Tratava-se de uma foto deles dois com os filhos. Ela se lembrava perfeitamente quando tiraram aquela foto. Foi há duas semanas, quando Grissom estava de folga e eles tinham ido ao cinema do shopping com os filhos. Uma moça que vendia chaveiros personalizados com fotos se aproximou deles e perguntou se não queriam tirar uma foto da família deles para colocar num chaveiro. Grissom aceitou de pronto e eles tiraram a foto. O supervisor gostou tanto da foto que perguntou se a moça não podia imprimi-la em um tamanho maior e adiantou que pagaria pela fotografia. A moça disse que faria isso, porém ele não precisava pagar nada já que havia encomendado quatro chaveiros. Desse modo à foto sairia como um presente à ele. E assim, eles saíram com a fotografia e os quatro chaveiros com a mesma foto.

Sara pegou a foto e guardou-a na caixa juntamente com as demais espalhadas pela cama. Depois de arrumar e guardar no closet a caixa, a mulher foi até o banheiro anexo ao quarto a fim de tomar um banho. Quando retornou do banheiro já de banho tomado e vestida, encontrou Grissom acordado e sentado na cama.

— Como se sente?

— Ainda confuso e sem lembrar de nada.

Ela só o olhou e não conseguiu dizer nada. Um pequeno silêncio se fez entre eles. Naquele instante eles pareciam até dois estranhos ao invés de marido e mulher. Coube a Grissom romper o silêncio entre eles. Meio sem jeito o homem perguntou se ela dormia ali.

— Claro, Grissom.

— Eu também durmo aqui?

— Sim. Esse é o nosso quarto.

Ele engoliu a seco e se levantou da cama, pois não pretendia dormir na companhia de Sara. Sua esposa agora era uma estranha pra ele e não se sentiria a vontade dividindo a cama com uma estranha, mesmo ela não sendo isso.

— Será que não teria outro quarto pra eu dormir?

Sara franziu a testa com aquela pergunta dele.

— Outro quarto por quê?

— Me desculpe, mas não vou me sentir bem dormindo com você.

Sara quase quis chorar ao ouvir aquilo de seu marido. Contudo respirou fundo e segurou as lágrimas.

— Nunca pensei que fosse ouvir de você que não se sentiria bem em dormir comigo.

Sua voz saiu um tanto magoada e Grissom percebeu.

— Perdão, mas você é uma estranha pra mim e...

— Tudo bem, Grissom!

Ela interrompeu a explicação dele.

— No fim do corredor tem o quarto de hóspede pode dormir lá.

Ela pegou um lençol e um travesseiro da cama e estendeu ao marido. Ainda sem jeito com aquela situação, ele pegou o que ela lhe estendeu.

— Boa noite, Grissom!

Sara lhe disse já se ajeitando na cama.

— Quando sair desligue a luz, por favor!

Ele apenas murmurou um tímido “boa noite” enquanto via a esposa se virar de situação pars ele na cama. Então desligou a luz como Sara havia pedido. Saiu do quarto e minutos depois estava deitado na cama do quarto de hóspedes.

Em seu quarto, Sara se mexia inquieta na cama, que parecia tão enorme e fria sem Grissom ali. O sono custava a vir e ela se virava de um lado para o outro na tentativa de achar uma posição pra dormir. Olhou para o teto e se perguntou até onde aquela situação iria. Depois de longos minutos ela conseguiu pegar no sono.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

É a coisa tá complicada pra familia Grissom.
Espero q tenham gostado do cap.
Bjs e ate o proximo