Laila escrita por Solidão


Capítulo 12
XI


Notas iniciais do capítulo

Bem, galere, consegui chegar antes pra postar um capitulo mais cedo pra vocês! Espero que gostem ;)



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Laila suspirou e parou a cena, pela décima oitava vez (ela contou). Andou até onde Thiago estava, em passos firmes, e o olhou atentamente.

-Thiago, não – disse – Você está pulando a cena, em vez de vir até mim, você pula direto para a cena em que sai de casa!

O garoto fechou os olhos e fez aquela expressão de quem sabe que errou. A boca franzida, as maçãs do rosto erguidas e as sobrancelhas caídas. Bateu com a mão na testa.

-Que droga, Laila, eu sempre esqueço dessa cena! – disse.

Laila sentiu uma enorme vontade de revirar os olhos e praguejar em mil línguas sobre o maldito esquecimento do garoto, mas tinha mais preocupações em mente. Quer dizer, tinha outras preocupações que lhe ferviam a cabeça além das demais.

Por exemplo, Cíntia e Leila não apareceram naquele ensaio.

De novo.

Já era o oitavo ensaio que Laila promovia para fazer o grupo tentar decorar as falas e fazer uma peça decente e as duas estiveram presentes em somente três deles. Sendo que nem deram as caras nos dias que o grupo faria todo o livro, pela primeira – segunda, terceira, quinta, décima... – vez.

-Ok, vamos de novo – Laila disse e voltou para seu lugar, sentada no banco de cimento.

Luna e Serena correram para o outro lado do pátio, um lugar enorme e coberto pelo piso do primeiro andar da escola. Era um ótimo local para ensaios, já que a maioria dos alunos nunca passava por ali e havia um monte de bancos para apoiar as mochilas e papéis com falas e cenas. Em semanas de trabalhos, o famoso pátio chegava a ficar com uns cinco grupos de teatro ensaiando, ao mesmo tempo.

Renato, o loiro do violão, olhou para Laila, esperando pelo sinal que ela daria, para que ele entrasse em cena e baixou o papel.

Ela poderia não admitir – ou pensar naquele fato – mas Renato poderia ser, ou talvez fosse, o mais determinado dos garotos a fazer uma peça decente. Ele ensaiava e fora o primeiro dos meninos a decorar todas as suas falas. E olha que ele tinha tantas falas quanto Laila e Thiago, os quais eram os personagens principais da história.

Luna baixou o papel e Serena logo em seguida. As amigas também decoraram suas falas – pequenas e poucas – e sabiam de cor e salteado o que fazer durante os atos.

Laila olhou para Renato e piscou duas vezes. Era o sinal.

-Viúva, eu tenho um plano – Renato entrou em cena – Já sei como faremos para nos livrar daquele maldito Roque!

Laila arregalou os olhos, entrando na personagem, e virou de costas para Renato. Ela era viúva, apaixonada por Roque, e não gostaria de ver ou escutar qualquer coisa que o Sinhozinho dissesse sobre se livrar de seu amor.

-O que é? – perguntou numa vez temerosa.

-Levaremos o homem para o bordel da cidade – Renato disse. Sua voz estava um pouco mais rouca, mudada por causa do personagem – E lá a Madame vai empanturrar o homem de comida e bebida. Tanta bebida que ele vai esquecer o próprio nome!

Ela franziu a testa e tentou parecer desesperada. Pela expressão das amigas, estava conseguindo todos os efeitos que queria.

-E então...?

-Matamos ele! – Renato esbravejou, demonstrando total confiança em seu texto memorizado e em sua atuação – Os homens do Prefeito entrarão no bordel e acabarão com a vida desse Roque maldito, que deveria ter permanecido nos quintos dos infernos, onde era seu lugar.

Viúva, quero dizer, Laila virou para Renato, de braços cruzados, e pigarreou um pouco.

-Acha que é o certo, Sinhozinho?

-Como assim?

Desviou os olhos para baixo e umedeceu cautelosamente os lábios.

-Ah, acho que não precisamos matar Roque... Ele poderia sair em segurança da cidade... – murmurou.

Renato franziu a testa e arregalou os olhos ao mesmo tempo – o que lhe deu uma expressão bem raivosa – e andou pesadamente até Laila.

-Como é que é?!

-Não machuquem Roque, por favor! – ela implorou.

Renato segurou cuidadosamente os braços de Laila e a sacudiu uma vez. Empurrou levemente para o chão. As meninas, atrás da amiga, balançaram a cabeça, sabendo que ele não devia ter feito daquele jeito.

Laila livrou-se das mãos de Renato e parou a cena.

-Renato! Você tem que me sacudir! – segurou os braços finos dele – Entendeu, me sacudir forte! Você está com raiva de mim, entendeu? – e sacudiu o garoto.

Thiago caiu na gargalhada, sentado nos bancos de cimento, e quando percebeu o olhar de todos – as três garotas, Renato, Viriato e Alberto – calou-se.

-Desculpa, desculpa.

A inspetora chegou, pedindo que todos fossem embora. Já eram duas horas da tarde e os alunos deveriam ir para suas casas. Sendo assim, todos pegaram suas mochilas e papéis e se encaminharam para a saída. Luna e Serena ficaram para trás, conversando qualquer coisa que Laila não conseguiu ouvir, Viriato começou a puxar assunto com Renato e Alberto praticamente correu para a saída.

Thiago se postou ao lado de Laila.

-Então... Você vai fazer alguma coisa domingo? – ele perguntou.

Laila sentiu aquele nó em seu estômago novamente e tentou respirar fundo.

-Não – ela respondeu.

-Ah, eu estava pensando se a gente não podia ir ao cinema, o que acha? – o garoto a convidou educadamente. Ela pôde perceber que a conversa entre Luna e Serena havia terminado.

Provavelmente estão tentando ouvir o que eu e Thiago estamos conversando..., Laila pensou.

Engoliu em seco, em seguida. Sair com Thiago? E justamente para um cinema? Ora essa, ela sabia muito bem o que ele gostaria de fazer no cinema. E não era assistir ao filme! E... Por um estranho instante, ela pensou que nunca iria ao cinema para beijar Thiago.

Ela não sentia a mínima vontade de beijar Thiago. Nem em peça e nem de verdade.

Molhou os lábios, levemente, e pensou numa resposta adequada.

-Eu tenho que ver com a minha mãe ainda, ‘tá bom?

Thiago sorriu. Provavelmente achou que aquilo fosse um ‘sim’. Já na porta de saída, ele acenou para os outros e atravessou a rua, para sua casa.

Luna e Serena implicaram com Laila.

-Se deu bem, Laila, se deu bem? – elas riram.

A garota cerrou os olhos.

-Eu não tenho nada com Thiago!

-Mas ele gosta de você – Serena disse, com um sorriso bobo na boca – Ou vai me dizer que não percebeu? Todo mundo já notou, Laila, ele gosta mesmo de você!

Luna assentiu, confirmando o que a amiga dizia.

-É, mas eu não gosto dele, e não posso fazer nada contra isso – deu de ombros e disse qualquer coisa sobre ir para casa correndo.

Despediu-se das amigas e foi para o ponto de ônibus. Naquela tarde, Luna iria para o médico e precisava ir ao outro ponto, do outro lado da rua. A garota chegou a pensar que aquilo era bom, pois queria pensar sobre aquela história maluca de Thiago.

Será que ele gostava mesmo dela? Não. Laila não era o tipo de garota que fazia os outros gostarem dela.

Eu sou esquisita, baixa, tenho um nariz grande e sou tímida. A única coisa que presta em mim são meus olhos, cinzentos que ficam bem clarinhos de vez em quando, quase prateados, pensou. É. Por que alguém iria gostar de uma menina como ela?

Fez sinal para o ônibus, desejando chegar logo em casa, e resolveu tirar aqueles pensamentos da cabeça.

Ela duvidada que Thiago gostasse dela, duvidava mesmo. E, por isso, ia começar a passar mais tempo com o garoto, ouvindo músicas, conversando sobre motos e jogos de videogame e tirando a ideia doida de beijar Luna da cabeça.

Aquilo era errado. Ela não podia sentir vontade de beijar Luna, NÃO podia. Além de achar aquela ideia de beijar meninas completamente... Fora do normal, Laila não podia sentir aquilo pela melhor amiga.

Aquilo era definitivamente errado.

Muito errado.

Suspirou e passou pela roleta. Era melhor tirar aquelas ideias da cabeça e começar a tentar pensar mais em Thiago, mesmo que ele fosse muito feio e estranho.

Bem, pelo menos ela não pensava mais tanto assim em Luna e sua boca.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam?

O próximo capitulo meio que começa a definir as coisas para o final "desse ano", do primeiro ano do Ensino Médio de Laila.

Até o próximo ;)