Após almoçarmos, ajudei Dylan a lavar a louça. Mia sentou (deitou) no sofá e foi assistir TV. Depois de um tempo, ela já estava dormindo.

- Deixa ela aí? – perguntei à ele.

- Não, eu vou levá-la pro quarto. – ele disse, pegando Mia pelo colo e levando-a até a segunda porta à esquerda.

Eu não sabia o que esperar do quarto dela. Talvez rosa, bonecas e bichinhos de pelúcia, alguma coisa pra alegrar aquela casa. Mas não fora isso que eu encontrei.

Encontrei um quarto que era escuro, e eu não sei que cor definir. Talvez fosse um cinza próximo ao preto, ou um azul que já estava sujo. Na verdade parecia que não era um quarto de uma garotinha alegre de 9 anos, e sim de uma adolescente revoltada de 14 ou de um adulto. Aquele parecia o meu quarto, só que mais vazio. Havia apenas uma cama de casal, um guarda-roupa e uma escrivaninha ao lado da cama.

A única coisa que eu achei que lembrava um pouco o quarto de Mel, foi uma boneca que estava em cima da cama e um porta retrato cor de rosa com a foto dos irmãos e dos pais, todos sorrindo, um pouco diferente do que é hoje.

Dylan cobriu-a e saímos de lá. Dylan sentou-se na poltrona da sala e eu no sofá.

- Dylan, aquele quarto é realmente da Mia? – perguntei. – Porque não parece ser de uma criança.

- Não, ele era dos nosso pais, mas não conseguimos mexer nele depois de... – ele olhou para o corredor pra ver se Mia estava vindo e então completou – Depois deles morrerem.

- Ah, certo. – falei. – Desculpa.

- Você se desculpa de mais Abby. – ele disse. – E não tem motivos para tal coisa.

- É que se eu estivesse no lugar de vocês, eu não gostaria de falar sobre os meus pais. – falei.

- Eu já superei... Sabe? Eu sinto falta deles, mas eles viajavam muito, mal ficavam conosco. Então eu já me acostumei um pouco. O Daniel que parece que não se importa muito.

- Verdade – concordei – O que ele tanto faz naquela floresta?

- Ele não diz. – falou Dylan.

- Nunca?

- Nunca.

Depois disso ficamos assistindo TV, até Mia acordar. Dylan ficou falando com Cloe no telefone e eu fiquei dando atenção pra Mia. Depois que acabou de conversar, Dylan falou:

- Mia, amanhã você tem aula, já arrumou suas coisas?

Aula? Espera, que dia é hoje? Dia 6, domingo... Amanhã as aulas começam.

- Dylan, você também tem aula? – perguntei só pra confirmar uma coisa.

- Sim, ainda tenho 16 anos, tenho que ir à aula.

- Então eu vou ficar sozinha. – murmurei pra mim mesma.

Droga. Eu odiava ficar sozinha, sentir que havia sido esquecida. Mas também não podia sair, as pessoas me viram na TV, com certeza me denunciariam.

                                               ****

No dia seguinte, acordei quando eram mais ou menos umas 8 horas. Dylan e Mia já haviam saído. Hoje era meu aniversário, eu já tinha 15 anos.

Cheguei na cozinha e encontrei Daniel sentado, comendo alguma coisa que estava em uma tigela branca. Acho que era cereal.

Sentei-me do lado dele e ele falou:

- Feliz aniversário.

- Como sabe? – perguntei.

- Dylan me disse, ele acabou de sair. – ele falou. – Deixaram isso pra você. – ele me entregou um papel.

Nele estava escrito assim:

Oi, Abby, desculpa não te dar os parabéns pessoalmente, mas nós tínhamos que ir. Mais tarde te damos o seu presente.

Dylan e Mia.

Sorri com aquilo. Eles mal me conheciam, não precisavam me dar nada, só de confiarem em mim já estava de bom tamanho. Agora eu só os veria no final da tarde.

- Droga. – falei baixinho. Pensei que Daniel não havia escutado, até ele me perguntar:

- Algum problema?

- Não nenhum. – respondi. Ele assentiu e já ia saindo quando eu falei – Onde você vai?

- Na floresta.

- Não, disso eu sei, mas vai fazer o que lá?

Ele olhou pra mim e ficou meio que pensando em alguma coisa. Então disse:

- Vai ficar sozinha hoje né?

- Sim. Por que?

- Arrume-se. Te esperarei lá fora – e depois saiu pela porta. Sorri e corri pra me arrumar.