Depois de um tempo, as lágrimas cessaram. Eu estava realmente chorando na frente de alguém, algo que nunca fiz, nem na frente dos meus pais. Deve ser por que eu nunca senti confiança nas pessoas. Sou realmente como uma 7, desconfiada. Também deve ser porque nunca tive realmente amigos e os meus pais não interagiam muito comigo.

O dono do estabelecimento em que estávamos ligou a televisão. Primeiramente fez um barulho muito alto, quase como um estrondo. Depois ele foi passando de canal em canal, passando por filmes, desenhos, esportes, ... Até colocar em um jornal que sempre passa ao meio dia.

Olhei para a TV. A imagem era um pouco embaçada, mas era possível de se entender o que os âncoras e os repórteres diziam. Na verdade, eu não estava prestando atenção na TV. Não estava. Até ouvir o meu nome:

- A adolescente Abigail Dounavan, está desaparecida desde a semana passada, quando fugiu de uma instituição especial – Disse o primeiro âncora.

O que? Eu não fugi de uma instituição! Tá, eu fugi, mas eles queriam fazer testes comigo, diziam que eu era uma 7... E agora eu tenho certeza disso. Voltei meus olhos para a tela novamente.

- A adolescente, uma 7, precisa ser encontrada o mais rápido possível. – eles mostraram uma foto minha. Sorte que não havia quase ninguém no café, e ninguém estava prestando atenção no jornal. – A recompensa é de cem mil dólares.

Cem mil dólares. As palavras ecoaram na minha mente. Muita gente iria precisar desse dinheiro. Dylan olhou-me e me puxou para fora de lá.

- Entra no carro. – ele mandou.

- Dylan, eu posso explicar...

- Entre agora! – ele estava um pouco nervoso.

Entrei e ele também. Ele me deu óculos escuros e eu os coloquei. Depois ele cobriu minha cabeça com o capuz do casaco. Dylan discou um número no celular e ligou:

- Mia, desça, estou passando para te buscar. – ele disse à irmã. Ouvi-a protestar, mas Dylan não quis ouvir – Mia, agora!

A garotinha logo entendeu o irmão e em menos de cinco minutos estávamos esperando Mia na frente do condomínio. Quando ela abriu a porta do carro, nem terminou direito de colocar o cinto e Dylan acelerou.

- Abby, por favor, explique-se – ele disse – Eu sei que Mia sabe de tudo, então, por favor me conte também.

-Dylan, eu não fugi de uma instituição especial. Fugi de um hospital. Lá descobriram que eu era, além de uma 4, uma 7 também e...

- Eu já desconfiava – ele me interrompeu.

- E aí... Espera, o quê? – perguntei surpresa. – Como assim “já desconfiava”?

- A sua resistência é de uma 3, Abby. – ele disse. – Nenhum 4 teria conseguido pular de carro em carro em movimento.

- Mas você pensou que eu fosse uma 3.

- Não. Eu pensei: resistência de uma 3, características de uma 4, desconfiança de uma 7.

- Então você pensou que eu fosse esses três e nem pensou em me expulsar da sua casa? – perguntei.

Senti que Dylan encarou Mia pelo retrovisor. Depois eu a vi abaixar a cabeça e desviar o olhar.

- Eu senti que poderia nos ajudar. E estava certo. – ele disse e depois olhou para mim. Deu um leve sorriso e ligou o rádio.

“Ultimas notícias, parece que a adolescente desaparecida foi vista em uma cafeteria” – disse o cara do rádio. (qual é a obsessão deles?)

- Dylan, muda por favor. – pedi.

- Claro. – ele disse.

Quando ia mudar, ouvi o locutor dizer: “A mãe dela, Rose Dounavan, está no hospital, devido ao sumiço da filha...” Dylan desligou o rádio assim que viu minha reação.

Isso não pode ser verdade, não pode estar acontecendo. Minha mãe nunca parou em um hospital, pelo menos não que eu me lembre. Isso nao pode ser verdade.